Kant vs. Mill: Moral, Felicidade e Críticas
Classificado em Filosofia e Ética
Escrito em em português com um tamanho de 4,21 KB
A moral de Kant não nos mostra o caminho para a felicidade, mas sim o de abnegação, sacrifício e esforço para nos tornarmos dignos dela. Para Mill, o homem tem o direito de ser feliz, e a sociedade deve garantir os meios para que ele atinja seus fins. Pelo contrário, para Kant, a felicidade é um prêmio que "reivindica" o mérito moral; é algo que se recebe com o tempo e como resultado de ter perseverado com tenacidade na vida. Somente em outra vida, virtude e felicidade, que compõem o bem supremo, seriam conciliadas; nesta vida, opõem-se e são opções incompatíveis.
Críticas a Kant e Mill
Por outro lado, Mill e Kant chegam por caminhos diferentes a posições morais semelhantes e, portanto, as críticas que recebem também são similares:
- Negação da Universalidade: Não se pode defender Kant por estabelecer uma lei moral universal. Este é um postulado que a experiência não pode demonstrar. Similarmente, J. Stuart Mill, ao apresentar uma concepção da natureza humana e do processo histórico, também propõe algo que carece de demonstração empírica e que a experiência não parece suportar. Kant, ao estabelecer a moralidade a partir de um "transcendente", condena o domínio do hipotético. Mill, ao considerar que a felicidade geral seria o fim para o qual todos tenderiam se fôssemos indivíduos moralmente desenvolvidos, também baseia a moral em algo que transcende a esfera da experiência racional.
- Formalismo Kantiano e Resolução de Conflitos: A moralidade kantiana é formal e não estabelece uma hierarquia de valores para resolver diversas situações — e, portanto, é universal e necessária. Contudo, por essa mesma razão, não é eficaz para resolver conflitos morais "reais". No utilitarismo de Mill, ao estabelecer que os prazeres são qualitativa e quantitativamente diferentes, o cálculo e a comparação das consequências para resolver certos conflitos morais tornam-se, em muitos casos, extremamente difíceis.
Análise Comparativa: Utilitarismo de Mill e Ética Kantiana
- Fundamento da Moral: Kant, como os racionalistas, considerava inerente à razão — à razão prática — a capacidade de distinguir entre o bem e o mal. Mill, seguindo Hume, acredita que os princípios morais nunca podem ser justificados racionalmente, mas são justificados em consonância com os desejos humanos.
- Valor da Ação Moral: Para Kant, a ética é puramente da intenção — agir livremente, em respeito à lei moral, e não por desejos ou inclinações. O valor moral da ação não reside no fim a ser alcançado, mas na máxima, o princípio que determina a ação. Um indivíduo age moralmente quando é determinado a agir por respeito à lei moral — e não pelo objetivo inicial que o moveria à ação, nem pela utilidade ou satisfação que essa ação possa trazer, caso a vontade fosse sempre determinada pela razão. Para os utilitaristas, no entanto, os motivos não são importantes, apenas as consequências. Não se pode ver ou medir os motivos das pessoas, mas sim as consequências de suas ações. O utilitarismo é também conhecido como "consequencialismo".
- Obrigação Moral e Regras: Por isso, Kant defende nossa obrigação de obedecer sempre à lei moral ou aos seus requisitos, por mais incômodos ou prejudiciais que sejam. Mill argumenta que devemos seguir as regras morais estabelecidas (utilitarismo de regras), sem esquecer que são generalizações que podem ser quebradas em casos excepcionais, pois são vinculativas, mas não princípios de conduta absolutos. Ao contrário da ética deontológica de Kant, onde a norma é incontestável, Mill considera que não somos escravos das normas, apesar de utilizarmos o legado moral da humanidade. Haverá casos excepcionais que exigirão alterações, melhorias ou mesmo a suspensão de algumas normas, em resposta a considerações utilitárias.
- Natureza da Moralidade: Mill acredita que a moralidade deve ser pragmática, levando em conta a felicidade e a realização humana. Para Kant, a moralidade deve ser pura e estar acima dos desejos humanos.