Karl Marx: Pensamento e Materialismo Histórico

Classificado em Ciências Sociais

Escrito em em português com um tamanho de 7,34 KB.

Karl Marx (1818-1883): Descrição do Pensamento

Ponto de Partida: O Ser Humano Natural e Social

O pensamento de Marx resulta de uma atitude crítica fundamentada na realidade econômica (capitalismo industrial), política (liberalismo) e social (burguesia/proletariado) em meados do século XIX. Marx foca no homem real e concreto. Concorda com a filosofia hegeliana idealista que a história se move de forma racional, mas a compreende a partir de uma concepção materialista. O motor da mudança é o ser humano, e deve-se partir de uma análise concreta do que é o homem.

O homem é um ser com necessidades, sendo as primeiras aquelas que dizem respeito à sua própria existência (comida, roupa, etc.). Descobre-se como um sujeito com forças vitais que pode usar para tirar o que precisa para viver. Essa atividade é o trabalho, ou atividade produtiva. Para entender o que é o homem, devem ser analisadas as condições em que ele opera. O trabalho é essencial.

Além disso, o homem vive em comunidade. Não existe o homem sozinho, isolado na natureza. Nascemos entre seres humanos e nos relacionamos com eles. Então, o que determina o homem em cada momento histórico vem da análise dessa relação dual:

  • Atividade produtiva: como o homem se relaciona com a natureza através do trabalho.
  • Atividade social: como o homem se relaciona com outros homens.

Ambos os aspectos foram diferentes em diferentes grupos humanos e mudaram ao longo do tempo.

Crítica à Filosofia Idealista e à Alienação

Marx denuncia a filosofia idealista porque ela tenta entender o que aconteceu na história como necessário e racional. O filósofo não deve ser passivo, mas deve transformar o mundo, porque este é muito injusto.

A sociedade burguesa capitalista aliena o trabalhador, que é tratado como um objeto, reificado. A alienação experimentada pelo homem é o resultado de:

  1. Alienação filosófica: uma filosofia conivente com a injustiça (idealismo e ideologia).
  2. Alienação religiosa: a religião a serviço do poder (cristianismo).
  3. Alienação jurídica e política: uma manipulação interessada das leis e da política (estado liberal).
  4. Alienação socioeconômica: um sistema econômico que leva à desigualdade (capitalismo).

Materialismo Histórico e a Práxis Revolucionária

Contra tudo isso deve-se lutar. Marx pretende unir teoria e prática para construir um mundo racional. Esse é o objetivo do materialismo histórico. Essa transformação radical é conseguida através da práxis revolucionária. Antes de analisar a sociedade, é preciso mudá-la.

Cada sociedade particular, num dado momento de seu desenvolvimento histórico, é chamada de "formação econômica e social". Esta formação é constituída por dois elementos:

  1. Estrutura econômica ou modo de produção:
    • Forças produtivas: elementos humanos (trabalhadores) ou materiais (máquinas, ferramentas, etc.) envolvidos no processo de produção.
    • Relações de produção: condições econômicas que estabelecem os homens no processo de produção (apropriação, distribuição, consumo, comércio). São diferentes em cada época.
  2. Superestrutura ideológica: elementos não econômicos da sociedade (política, lei, moral, religião, filosofia e arte) que se especificam nas ideias e instituições (governo, parlamento, partidos políticos, igrejas, organizações educacionais, etc.).

A estrutura econômica determina a superestrutura ideológica. As ideias dominantes são as da classe econômica dominante. Se a base econômica muda, as ideias mudam.

A Luta de Classes e a Revolução Socialista

As relações de produção tendem a permanecer inalteradas, enquanto as forças produtivas evoluem, transformando as primeiras em um obstáculo. Quando essa situação ocorre, surge a necessidade de uma "revolução social".

Marx concebe a história como mudança, onde a realidade acontece em uma dialética (cada momento supera o anterior). Para Marx, a mudança ocorre na estrutura econômica, nas contradições que são geradas no modo de produção.

Embora, historicamente, existam quatro etapas, Marx se interessa em estudar o modo de produção capitalista burguês. A análise dialética permeia a própria estrutura social, que consiste em duas classes com interesses opostos: a burguesia e o proletariado.

Classe social é entendida como um grupo humano que mantém condições específicas sobre os meios de produção. Sob o capitalismo, os donos desses meios são os burgueses, e os não proprietários são os trabalhadores, que possuem apenas sua força de trabalho. No modo de produção capitalista, um explora o outro, formando a "consciência de classe".

A Mais-Valia e a Exploração Capitalista

O objetivo da economia capitalista é a acumulação constante de capital, ou seja, o enriquecimento contínuo dos proprietários dos meios de produção. Isso é conseguido através da produção de mercadorias para venda no mercado, obtendo um benefício em troca. Essas mercadorias estão necessariamente ligadas ao trabalho humano necessário para produzi-las.

Quando um produto aparece no mercado, o capitalista incorpora o valor de uso e o valor de troca. O valor de troca inclui o valor de uso dos bens e o valor do trabalho que o trabalhador precisou para produzir e que o capitalista comprou pagando um salário.

O valor de troca de uma mercadoria varia de acordo com a lei da oferta e da procura. O objetivo do proprietário é acumular capital através da troca de benefícios, obtendo-o por meio da apropriação de uma parte do valor gerado pelo trabalhador. Se o salário fosse idêntico ao montante do valor que o trabalhador coloca nos bens, não haveria benefício. Portanto, o capitalista fica com a "mais-valia", ou aumento no valor das mercadorias, que é a causa do seu enriquecimento progressivo. Esta é, entre outras, a injustiça inerente ao sistema de produção capitalista, que estabelece uma apropriação imoral, até mesmo juridicamente, da exploração econômica.

A Ditadura do Proletariado e o Comunismo

Contra essa injustiça, a moralidade marxista propõe a práxis revolucionária, que luta para alcançar a emancipação humana, a liberdade e abolir todas as distinções de classe.

  1. O primeiro passo é a conquista do poder pelo proletariado para expropriar o capital da burguesia. Esta etapa será realizada pela força, porque a classe capitalista utilizou o Estado para defender seus privilégios. Com o poder, a ditadura do proletariado é necessária para realizar a expropriação do capital, a abolição das leis anteriores, o confisco da riqueza burguesa, a socialização dos meios de produção e a imposição de novas regras de organização da vida. É um estado socialista.
  2. Alcançado o primeiro objetivo, ocorrerá o desaparecimento da classe exploradora e, portanto, do antagonismo, o motor da luta de classes. O Estado proletário perderá seu caráter político para se tornar um administrador dos bens da sociedade, um Estado comunista.

Entradas relacionadas: