Lesões Inflamatórias Periapicais: Diagnóstico, Tipos e Evolução
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Lesões Inflamatórias Associadas ao Órgão Dentário
Pericementite Apical
Implica no envolvimento inflamatório inicial das estruturas imediatamente adjacentes ao cemento da região apical. Nas primeiras 24 a 48 horas, não ocorre destruição tecidual significante nem a formação de exsudato purulento.
Pericementite Apical Aguda
A pericementite apical aguda tem duração média de 2 a 3 dias. Quando a origem é traumática, não necessariamente ocorre necrose pulpar. Fator fundamental para o diagnóstico: estabelecer relação causa-efeito.
Aspectos Clínicos:
- Dor pulsátil e localizada (toque e percussão vertical)
- Discreta extrusão dentária
- Sensação de “dente crescido”
- Aumento de mobilidade
Aspectos Radiográficos:
- Espessamento do espaço periodontal
- Continuidade da lâmina dura
Após 24 a 72 horas, podem ocorrer 3 possibilidades:
- Eliminação da causa por tratamento ou caráter transitório da agressão: reparo
- Destruições focais mínimas na região do coto periodontal: pericementite apical crônica
- Formação de exsudato purulento: abscesso dentoalveolar agudo.
Pericementite Apical Crônica
A associação de dados clínicos e radiográficos com a anamnese e relação causa-efeito propiciará um diagnóstico seguro de pericementite apical crônica.
- Aguda: Alta sintomatologia
- Crônica: Baixa sintomatologia
Na evolução do quadro para pericementite apical crônica, pode-se observar:
- Manutenção da situação quanto às condições locais e à virulência da microbiota
- Reagudecimento do processo
- Gradativa organização de leucócitos mononucleares em torno da fonte antigênica, resultando em granuloma focal
- Reparo periapical (remoção da causa)
Abscesso Dentoalveolar
O diagnóstico definitivo de abscesso dentoalveolar agudo ou crônico deve ser dado a partir da associação do exame clínico com a análise radiográfica (nunca isoladamente). O termo "agudo" ou "crônico" à frente de abscesso dentoalveolar refere-se às características clínicas apenas, pois, microscopicamente, a definição de um quadro agudo já está explicitada no próprio termo "abscesso".
A quase totalidade dos abscessos dentoalveolares é resultante da evolução da cárie dentária para necrose pulpar, com posterior envolvimento periapical pelas bactérias e suas toxinas. Ocorre destruição bacteriana, tecidual e leucocitária. As microáreas de digestão tecidual, associadas ao exsudato prévio, constituirão os microabscessos (abscesso dentoalveolar agudo).
Fases Evolutivas Clínicas
Fase Inicial:
Corresponde ao estágio de localização periapical.
Fase em Evolução:
Envolve os estágios de difusão intraóssea da coleção purulenta, seguindo-se a localização subperiosteal e o padrão flegmonoso de inflamação de tecidos moles.
Fase Evoluída:
Estágio de abscesso subcutâneo ou submucoso e o de fistulização do processo.
Características Radiográficas
Fase Aguda:
- Espessamento apical do espaço periodontal
- Interrupção da lâmina dura alveolar
- Ausência de reabsorções dentárias
- Reabsorção óssea inicial não forma imagem radiográfica
Fase Crônica:
- Área de reabsorção óssea difusa (difícil delimitação)
- Presença de reabsorções dentárias
- Perda da continuidade da cortical óssea alveolar
Abscesso Dentoalveolar Crônico
A cronificação do abscesso dentoalveolar ocorre com a instalação da fístula, resultando em:
- Diminuição do acúmulo de bactérias e seus produtos
- Diminuição da sintomatologia
- Ausência de sensibilidade à percussão vertical
- Necrose pulpar
Granuloma Apical
O granuloma caracteriza-se por uma assembleia de macrófagos e células derivadas, associadas ou não a células linfoides (granuloma do tipo corpo estranho).
Quando o granuloma consegue eliminar o agente agressor por ação de suas células e substâncias, ou com a ajuda de medicamentos, sua tendência natural consiste na substituição gradativa de sua estrutura por tecido de granulação e consequente reparo da área.
Aspectos Clínicos:
- Diagnóstico casual em exames de rotina
- Processo crônico com lenta evolução e longa duração
- Ausência de sintomatologia
Aspectos Radiográficos:
- Lesão radiolúcida de até 1 cm de diâmetro
- Rarefação óssea bem definida por tênue linha radiopaca descontínua
- Pode ocorrer reabsorção radicular
Lesões periapicais crônicas com diâmetro superior a 1 cm podem já não ser mais granulomas apicais. À medida que aumenta o tamanho da lesão, aumenta a possibilidade de ser uma lesão cística. Métodos alternativos para o diagnóstico diferencial incluem:
- Injeção de contraste
- Análise de material aspirado
- Eletroforese
Cisto Periodontal Apical
A origem do cisto periodontal apical está no granuloma apical, ou mais especificamente em seu componente epitelial derivado dos restos epiteliais de Malassez. No interior do granuloma apical, o cisto periodontal apical se estabelece a partir da formação de uma cavidade patológica revestida por epitélio, com conteúdo líquido, pastoso, semissólido ou mesmo sólido.
Aspectos Clínicos:
- A maior parte é assintomática (diagnóstico em exames de rotina)
- Primeira manifestação clínica: deslocamento de dentes vizinhos
- Crescimento lento. Em maiores dimensões, expande a cortical óssea
- Quando a cortical óssea se rompe, apresenta consistência mole com resiliência marcante (consistência flutuante)
- Dor espontânea, crescimento rápido e exsudação indicam inflamação bacteriana secundária
- No diagnóstico clínico-radiográfico, a presença de necrose pulpar é fundamental
Aspectos Radiográficos:
- Imagem radiográfica clássica: rarefação óssea bem definida, limitada por linha radiopaca contínua (esclerose óssea)
- Contorno arredondado, podendo ser modificado ao se aproximar de dentes adjacentes ou outras estruturas
- Continuidade da cortical óssea alveolar (lâmina dura) com a linha radiopaca que circunscreve o cisto periodontal apical (rompimento em caso de infecção secundária)
- Grande importância do tamanho da lesão para o diagnóstico
Osteomielite Esclerosante Crônica Focal
Inflamação óssea crônica focal com neoformação óssea endostal periapical ou perirradicular, de origem inflamatória (necrose pulpar ou infecção crônica de baixa intensidade). É indolor, com evolução lenta, e não causa expansão óssea nem deslocamento dentário.
Osteomielite de Garré
Inflamação de origem odontogênica, que atinge o osso alveolar e se estende ao tecido conjuntivo das cavidades medulares e ao periósteo. Ocorre neoformação óssea periostal localizada e em camadas superpostas.
Evoluções das Periapicopatias Inflamatórias
- Reparação após tratamento cirúrgico e endodôntico
- Manutenção do quadro clínico e radiográfico indefinidamente
- Reagudecimento: abscesso dentoalveolar agudo secundário
Evoluções Inflamatórias:
- Osteomielite supurativa aguda
- Osteomielite supurativa crônica
Transformações Neoplásicas Benignas:
- Ameloblastoma
- Queratocisto Odontogênico
Transformações Neoplásicas Malignas:
- Carcinoma de Células Escamosas Intraósseo Primário Derivado de Cistos Odontogênicos
- Carcinoma Odontogênico de Células Claras