Léxico do Castelhano: Formação, Influências e Tipos
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1. O Léxico do Castelhano: Nível Léxico-Semântico
A unidade de nível lexical é o lexema, a base da palavra. Os lexemas são monemas significativos. Portanto, além da Lexicologia (que incide sobre o inventário e classificação das unidades lexicais de uma língua, e o desenvolvimento de dicionários), a Semântica (preocupa-se com o estudo do significado dos itens ou grupos de unidades lexicais) é fundamental. Por isso, é comum falar do nível semântico-lexical da língua, visto que o estudo de um nível está ligado ao estudo do outro.
2. A Formação do Léxico do Castelhano
O Castelhano deriva do Latim, mas a formação do seu léxico inclui influências de outras línguas. As palavras de empréstimo são termos de outros idiomas incorporados ao nosso. O léxico de uma língua é um conjunto aberto, constantemente renovado. Por isso, o dicionário deve ser modificado para acomodar neologismos (novas palavras) e eliminar termos que caem em desuso (arcaísmos).
2.1. Período Pré-Romano (Substrato)
Antes da chegada dos Romanos à Península Ibérica em 218 a.C., esta era habitada por vários povos. As suas diferentes línguas constituíram o substrato linguístico da Península, o alicerce sobre o qual o Latim se estabeleceu.
Podemos identificar quatro grandes áreas: Tartéssio (sul), Ibérico (leste), Celta (oeste e centro da península) e Cântabro-Pirenaica (norte). A língua desses povos, com exceção do Basco, desapareceu sob o domínio do Latim, mas deixou a sua marca em poucas palavras que ainda sobrevivem.
O Basco é a única língua não românica da Península que resistiu ao avanço do Latim.
2.2. Os Romanos (Superstrato)
A partir de 218 a.C., iniciou-se a romanização da Península Ibérica, culminando em 19 a.C. Este processo não ocorreu simultaneamente nem com igual intensidade em toda a Península. O leste e o sul romanizaram-se mais cedo; o oeste e o norte, mais lentamente e com menor intensidade.
Os colonos, na sua maioria soldados, não falavam o Latim Clássico, mas sim o Latim Vulgar, uma variedade com menor escolaridade. O Latim Vulgar deu origem às várias línguas românicas.
2.3. A Influência Germânica
Embora as invasões iniciais tenham ocorrido antes, é no século V, coincidindo com a queda do Império Romano, que os povos germânicos (Visigodos) terminam o período romano. Esta nova era contribuiu para a evolução distinta do Latim nas línguas românicas da Península. A influência germânica, contudo, limitou-se principalmente ao léxico e à onomástica (nomes próprios).
2.4. A Influência Muçulmana (Arabismos)
Em 711, os Mouros chegaram à Espanha e ocuparam quase toda a Península. Os Cristãos refugiaram-se no norte. Com a dispersão, as diferenças linguísticas aumentaram em cada área.
A Península dividiu-se em duas áreas principais:
- O Norte: Onde se estabeleceram os Cristãos que resistiram à ocupação árabe, e onde surgiram o Galego-Português, o Leonês, o Castelhano e o Navarro-Aragonês. O Basco permaneceu vivo, apesar da influência dos povos invasores.
- A Região Sul: Dominada pelos Árabes, onde se falava Árabe e o dialeto Moçárabe (modo de vida linguístico hispânico em território árabe).
À medida que a Reconquista avançava (processo que visava reconquistar os territórios dominados pelos árabes), o Moçárabe e o Árabe desapareceram, e o Castelhano estendeu-se para o sul.
O Árabe é a segunda língua, depois do Latim, que mais contribuiu para a formação do léxico do Castelhano. Muitas palavras de origem árabe começam com al-. Isto ocorre porque o artigo árabe "al" perdeu o seu valor original e se tornou parte do radical. Palavras terminadas em -i (sufixo presente na formação de gentílicos) também têm origem árabe.
No século X, os povos árabes atingiram o seu período de maior influência e poder na Península. O centro cultural e político neste momento era Córdova. Após a morte de Almançor e o desaparecimento do Califado de Córdova em 1031, a Reconquista avançou progressivamente para o sul.
3. A Expansão do Castelhano e Novas Influências
No avanço da Reconquista, os reinos de Castela e Aragão ganharam particular importância. O Castelhano começou a ganhar prestígio e território.
3.1. Galicismos (Influência Francesa)
Entre os séculos X e XIII, a influência francesa no Castelhano e na literatura da época foi muito importante. As causas são variadas, mas o Caminho Francês para Santiago de Compostela e a chegada de franceses para auxiliar na Reconquista são os fatores mais notáveis. Muitos Galicismos foram incorporados ao Espanhol neste período.
3.2. Helenismos (Influência Grega)
A partir do século XIII, graças ao trabalho de Afonso X, o Sábio, o Castelhano tornou-se a língua usual de qualquer declaração escrita. Com a criação da Escola de Tradutores de Toledo, o Castelhano impôs-se como língua de cultura, traduzindo as principais obras escritas em Árabe ou Hebraico. Isto implicou a necessidade de criar uma ortografia estável e desenvolver o vocabulário técnico e científico. Neste momento, introduziram-se Latinismos, Helenismos e Arabismos. A maioria dos Helenismos relaciona-se com a ciência e a cultura.
3.3. Italianismos
No século XIV e início do século XV, ocorreu a introdução da Renascença Italiana na Península. Dante, Petrarca e Boccaccio são os autores cuja influência marcou o estilo dos poetas espanhóis. O Renascimento caracterizou-se pela admiração e interesse pela antiguidade clássica. Por isso, traduziram-se textos greco-romanos para o Castelhano e imitaram-se as suas construções latinas. Os Cultismos também apareceram nesta época. A influência italiana é evidente nos Italianismos que surgiram nos séculos XV e XVI.
3.4. Americanismos
No final do século XV, em 1492, ocorreram eventos importantes:
- Publicação da Gramática da Língua Castelhana, por Antonio de Nebrija.
- Fim da Reconquista (tomada de Granada, o último reduto árabe).
- Descoberta da América.
Estes eventos levaram à conversão do Castelhano em Espanhol, a língua de um estado cada vez mais poderoso. Com a conquista das Américas, o Castelhano estendeu-se por este continente e incorporou muitas palavras das línguas indígenas faladas na América antes da chegada de Colombo e dos colonos, conhecidas como Americanismos.
3.5. A Consolidação do Castelhano
Após esta enxurrada de influências e empréstimos lexicais, o Castelhano alcançou a estabilidade necessária. A criação, em 1713, da Real Academia Espanhola (RAE) contribuiu para a consolidação definitiva da língua.
Marcos importantes da RAE:
- 1739: Publicação do Diccionario de Autoridades.
- 1771: Publicação da primeira gramática da RAE.
Atualmente, a RAE trabalha em conjunto com as vinte academias de língua espanhola para o desenvolvimento de novos dicionários e gramáticas.
4. Tipos de Palavras na Evolução do Latim
O Latim é a principal língua que contribui para a formação do léxico do Castelhano. Na evolução do Latim para o Castelhano, encontramos várias soluções possíveis: Palavras Patrimoniais, Cultismos e Semicultismos.
4.1. Palavras Patrimoniais
Estas palavras derivam do Latim e evoluíram de acordo com as alterações fonéticas ocorridas ao longo da história. A maioria do vocabulário espanhol é composta por palavras patrimoniais, que vieram do Latim Vulgar, usado quase exclusivamente na linguagem oral.
4.2. Cultismos
São palavras que evoluíram pouco e, por isso, quase sempre mantiveram a forma original latina, sendo apenas ligeiramente modificadas para se adequarem à fonética da língua espanhola. Os Cultismos são abundantes na linguagem científica, mas também são encontrados noutras áreas.
4.3. Semicultismos
A meio caminho entre as palavras patrimoniais e os cultismos, os semicultismos são palavras mais antigas que os cultismos, mas menos evoluídas que as patrimoniais. Foram transmitidas oralmente, mas foram influenciadas pela linguagem da Igreja ou da administração e não completaram o seu desenvolvimento fonético.
4.4. Parelhas (Dobradas)
Ocorre uma parelha (ou palavra dobrada) quando da mesma palavra latina (ou seja, da mesma etimologia) derivam uma palavra patrimonial e um cultismo. Na maioria dos casos, o cultismo expressa uma realidade mais abstrata ou superior, e a palavra patrimonial, uma realidade mais concreta.
4.5. Latinismos
Algumas palavras e expressões latinas sobreviveram até hoje sem qualquer alteração na sua forma original. São os Latinismos.
4.6. Neologismos
As palavras, novos significados e expressões que são criados numa língua são chamados Neologismos. Os procedimentos para a criação de neologismos são:
- Derivação (adicionando sufixos ou prefixos).
- Composição.
- Expressões sintagmáticas.
- Abreviaturas e siglas.
- Palavras estrangeiras (atualmente, principalmente do Inglês).
4.7. Estrangeirismos
Quando uma palavra de outra língua é introduzida, as soluções são geralmente duas: a adaptação ao Espanhol ou o simples uso do Estrangeirismo. A primeira é preferida quando o termo estrangeiro suporta fácil adaptação fonética. Em contraste, quando a fonética é difícil de adaptar, a palavra estrangeira é frequentemente mantida na sua forma original.
Muitas vezes, o uso de estrangeirismos não se justifica na nossa língua, pois existe uma ou mais palavras com o mesmo significado. Mas noutras ocasiões, eles surgem pela necessidade de se referir a novas realidades ou simplesmente diferentes.