Língua e Gramática: Da Norma à Compreensão Dinâmica
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Em oposição a essa postura, as concepções monológicas de língua, provenientes de outras correntes da linguística, acreditam que a língua tem uma autonomia independente dos contextos e interlocutores: como se a língua estivesse representada por um conjunto fechado de regras e normas; como se a escrita e a leitura fossem apenas técnicas de codificação e decodificação das letras e palavras; como se a língua existisse concreta e legitimamente apenas na competência dos bons falantes e escritores; como se os significados da língua fossem estáveis, não podendo variar conforme o tempo, as regiões e os dialetos.
Sabendo que as concepções monológicas fortaleceram a ideia de um ideal de língua (a norma culta), dando origem a práticas de discriminação linguística e, ao mesmo tempo, justificando o ensino centrado na gramática normativa, a concepção de Bakhtin contribuiu para o respeito às diversas formas de manifestação e para uma renovação no ensino da língua na escola. Mais do que estudar as normas da ortografia, gramática e sintaxe (como, de fato, insistiam muitos de nossos professores), o ensino que hoje se apregoa é o de reflexão sobre a língua e sobre as suas formas de manifestação.
Superando a mera codificação das letras e aplicação de regras, podemos dizer que a escrita se constrói com base no conhecimento de mundo (como afirmava Paulo Freire), no entendimento sobre o tema, na capacidade de relacionar informações e de organizar as ideias conforme os propósitos e interlocutores previstos. Nas palavras de Geraldi (professor da UNICAMP), a escrita depende de um “o que dizer”, “para quem dizer”, “por que dizer” e “como dizer”.
Da mesma forma, a leitura, para além da mera decodificação, depende de um processo ativo de construção e reconstrução de sentidos. Para isso, várias estratégias fazem parte das competências de leitura:
- Reconhecer a língua e os gêneros;
- Antecipar informações;
- Buscar sentidos;
- Relacionar as informações internas do texto;
- Relacionar as informações do texto com outros textos circulantes na sociedade;
- Relacionar o texto com saberes prévios;
- Procurar informações específicas em um livro ou em um texto.
Concepções de Gramática
Quando se fala em gramática, costumamos relacionar o termo com o conjunto de regras da língua, como é o caso das gramáticas escolares, que, geralmente, buscam ensinar os padrões de correção linguística conforme a norma culta (a gramática normativa). Existe uma tensão entre o ensino dessa gramática (que pretende impor regras, definindo critérios de certo e errado para a fala e a escrita) e a língua viva e dinâmica, que se apresenta com muito mais flexibilidade no cotidiano das pessoas.
Ao pretender ensinar (ou impor) a norma culta como a única forma correta de manifestação, muitos professores acabaram discriminando os modos de manifestação de seus alunos, julgando-os pela sua origem social e geográfica. Em oposição, quando os professores compreendem a legitimidade dos falares, eles podem respeitar seus alunos e até ensinar a norma culta como uma manifestação possível e desejável em certos contextos. Por isso, vale a pena situar as diferentes compreensões de gramática:
2.1 Gramática Normativa
Conjunto de normas e regras da língua com o objetivo de determinar o certo e o errado, prescrevendo uma forma correta de escrever.
2.2 Gramática Descritiva
Descrição do modo como as pessoas (ou grupo de pessoas) falam sem a pretensão de estabelecer um padrão de certo ou errado.
2.3 Gramática Internalizada
Conjunto de normas e regras espontaneamente assimiladas pelas pessoas que aprendem a falar, garantindo um certo padrão e regularidade no modo de expressão.