### A Linguagem Poética e Simbólica em *A Casa de Bernarda Alba*

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Lorca explorou a cultura do teatro tanto em verso quanto em prosa, embora suas duas primeiras obras tenham sido em prosa. Sua escrita, inicialmente inteiramente em versos, gradualmente reduziu o uso do verso, que se concentrava particularmente em momentos intensos, como intervenções do coro ou o canto de canções folclóricas tradicionais, criando um clima dramático. Finalmente, em A Casa de Bernarda Alba, a escrita é quase inteiramente em prosa.

A intenção de Lorca nesta obra era criar um teatro realista. Ele buscava retratar não apenas uma história dramática crível, mas também a Espanha rural da época: a vida no campo, as tarefas, o trabalho doméstico, as tradições... No entanto, o realismo é transcendido por um significado simbólico que vai além da realidade, transformando a peça em uma tragédia universal: o confronto entre Bernarda e Adela é o conflito trágico entre a ordem universal, a autoridade e a liberdade, o desejo. O simbolismo que permeia a obra, uma hipérbole poética, adiciona a possibilidade de usar situações extremas como gatilhos para dimensões clássicas da tragédia.

Podemos, portanto, falar de um "realismo poético" ou "realismo simbólico". Lorca funde o gosto popular (gírias, provérbios, ditados) com a respiração lírica (metáforas, símbolos, hipérboles, comparações, imagens sensoriais). Lorca representa a simbiose, característica da Geração de 27, entre a tradição e a vanguarda.

A Casa de Bernarda Alba é um exemplo notável do realismo poético ou "teatro simbólico" de Lorca, onde se fundem o realismo, o simbolismo, a tradição e a vanguarda. É uma obra realista com voos poéticos, com uma linguagem sugestiva e rica, marcada por uma tensão dramática e réplicas ágeis.

A linguagem poética da peça está repleta de conotações sensoriais. Lorca é especialmente proficiente no uso de comparações, metáforas e personificações poéticas. Suas imagens são metáforas muito vívidas (``para apagar este fogo que me pegou pelas pernas e boca'', ``Deixe-me quebrar este peito como uma romã de amargura''), e suas comparações tendem à hipérbole. Muitas dessas metáforas e comparações derivam da sabedoria e da tradição da vida no campo.

Lorca utiliza uma fusão perfeita da linguagem popular, provérbios e ditados, como ``o céu tem estrelas como punhos'' e ``agulha e linha para as mulheres, chicote e mula para o homem''.

O realismo poético se funde com a variedade de registros linguísticos que Lorca utiliza na obra: expressões coloquiais, insultos, ameaças e maldições, gírias camponesas. Essa linguagem é utilizada por Poncia e a empregada. A linguagem mais culta e poética é utilizada por Alba.

O realismo, corporificado na poesia que funde a linguagem popular, torna-se universal graças ao simbolismo. O simbolismo de Lorca é extremamente rico: a morte, o rio da vida, o erotismo, a fertilidade, a água, a sede, os desejos, a liberdade do mar, o poder opressor de Bernarda, o calor da opressão; a brancura das paredes da casa representa o conceito de ``decência'' imposto pela sociedade; o cavalo simboliza o garanhão (Pepe el Romano) em correspondência com ``a mula sem domar'' (Adela). O suicídio de Adela simboliza o sacrifício de uma mulher sujeita à repressão moral, social e física, e a loucura de Maria Josefa é uma forma de escapar dessa pressão.

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