Locke vs. Marx: Propriedade Privada, Estado e Alienação
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3) Relação do sujeito com uma outra posição filosófica: Locke
Locke é um dos primeiros representantes do liberalismo político no sistema econômico, defendendo a intervenção mínima na economia, a propriedade privada dos meios de produção e o sistema político parlamentar.
Dominando precisamente o sistema capitalista, a cristalização das ideias do liberalismo e da economia política clássica serão objeto de crítica de Marx. Em contraposição a esta sociedade, Marx defende a sociedade comunista sem classes, onde não há propriedade privada dos meios de produção, mas a propriedade coletiva dos mesmos.
Locke parte de um estado hipotético de natureza, no âmbito das teorias de contrato social, para estabelecer uma série de direitos naturais estabelecidos por Deus, incluindo o direito à propriedade privada. Parece que Locke não pensava na possibilidade de acumulação ilimitada de propriedade, mas na América do seu tempo, onde havia terra para todos e se podia aproveitar a terra "misturada" com o seu trabalho. No entanto, mais tarde, o capitalismo gerou uma grande divisão entre proprietários capitalistas da indústria e os proletários, que têm apenas o trabalho deles para vender. Marx rejeita a existência da propriedade privada, considerando-a o resultado da exploração através da maximização da mais-valia. Além disso, contrariamente ao estado hipotético de natureza de Locke e à criação do Estado, Marx apresenta uma visão histórica do homem e da sociedade, acreditando estabelecer a ciência do materialismo histórico, apontando modos de produção, do comunismo primitivo, como fases de desenvolvimento da produção social da vida.
Contra a concepção de Locke da lei natural (uma série de direitos naturais prescritos por Deus, a propriedade, por exemplo), para Marx, a essência humana é a produção. Ao haver propriedade privada dos meios de produção, a alienação econômica ocorre com relação ao produto (reificação do homem), com respeito à atividade produtiva e com respeito a outros homens, como eles se relacionam em termos de produtos trocados e o que eles possuem (fetichismo da mercadoria).
Se para Locke Deus é o fundamento da lei natural e a causa primária da realidade, para Marx, em seu ateísmo, religião e crença em Deus são o ópio do povo, criando alienação religiosa, estendendo a ideia de que a felicidade está no passado, servindo como uma forma ideológica que justifica a injustiça social e serve como uma barreira para a revolução social.
Com relação ao Estado, Locke considera que o objetivo deve ser assegurar o gozo dos direitos naturais em uma atmosfera de segurança e liberdade. Perde legitimidade se for opressivo ou impedir o gozo destes direitos naturais. Para Marx, o Estado está mergulhado na alienação, mesmo que funcione através de outras instituições da vida social. Desde o início, por lei, legalmente estabelece o direito à propriedade privada (cuja apreciação tem de ser uma das finalidades que o Estado deve proteger, segundo Locke), legitimando, assim, a exploração de um pelo outro. Ele vem para todos, mas por meio de alienação e violência legal defende os interesses do capital legítimo.
Esse estado parlamentar que Locke defende é o Estado burguês que Marx acredita que deve ser derrubado pela revolução social, que institui a ditadura do proletariado e, em seguida, procede a uma sociedade sem classes, eliminando o Estado burguês e os direitos que legitimam a propriedade privada.