Os Maias: Episódios Marcantes e a Crítica à Sociedade
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Os Maias: Análise de Episódios Chave
Passeio Final: O Simbolismo da Decadência em Lisboa
Após o regresso a Lisboa, dez anos após o desfecho da intriga, Carlos faz com Ega uma romagem simbólica. Passam pelo Largo de Camões, seguindo pelo Chiado, pela Avenida, e em seguida pelo Rossio, até chegarem finalmente ao Ramalhete. Este passeio é profundamente simbólico: tudo está, na sua essência, como há dez anos, no entanto, a degradação de Lisboa e de Portugal havia-se acentuado. Todo o ambiente é marcado pela ociosidade, estagnação, o aspeto sombrio das pessoas e a incapacidade de desenvolvimento da mentalidade portuguesa, que em dez anos não progrediu significativamente.
Os espaços percorridos por Carlos e Ega estão carregados de conotações históricas e ideológicas:
- A estátua de Camões, triste, simboliza o passado glorioso da epopeia portuguesa e da sua força vital no tempo dos Descobrimentos, que agora se encontra envolvida num ambiente de estagnação absoluta.
- O Ramalhete, em concreto as suas ruínas, simboliza um tempo de decadência e o fracasso da restauração. As tentativas de restauração e recuperação fracassadas representam Portugal e uma sociedade portuguesa atingidos pelo abandono e pela destruição.
- A parte antiga da cidade simboliza a perda de autenticidade nacional, destruída pelo presente afrancesado e decadente.
A exclamação de Ega, «Falhamos a vida, menino!», revela que o percurso do ser humano é determinado por causas que lhe são totalmente alheias. Assim, Carlos estabelece a sua teoria de vida, a teoria que ele deduzira da sua experiência e que agora o governava: era o fatalismo muçulmano, o fatalismo muçulmano de nada desejar e nada recear, baseado na desistência de lutar e na aceitação tranquila de tudo.
Jantar no Hotel Central: A Crítica Social Lisboeta
É o primeiro grande contacto de Carlos com a sociedade lisboeta. Num jantar organizado por Ega, que reúne um grupo de amigos – Alencar, Dâmaso, Craft, Cohen, entre outros – discutem-se temas como:
- A Literatura e crítica literária (o realismo, representado por Ega, versus o ultrarromantismo, representado por Alencar).
- A decadência nacional.
- A situação financeira do país.
- A mentalidade retrógrada da sociedade portuguesa.
A decadência moral e a hipocrisia da sociedade lisboeta têm neste jantar o cenário ideal, uma vez que Ega o organizou para homenagear o banqueiro Jacob Cohen, de cuja esposa era amante. Carlos vê pela primeira vez Maria Eduarda.
A Corrida de Cavalos no Hipódromo: A Futilidade da Sociedade
Através deste episódio, é-nos dada uma visão caricatural da sociedade lisboeta, criticando-se uma imitação inadequada de modas estrangeiras que dão a este evento um ar de provincianismo snob. É o retrato de uma sociedade lisboeta que vive de aparências: postiça, plástica, artificial, evidenciando a mentalidade e o comportamento de uma burguesia tacanha, ignorante e provinciana. Carlos procura Maria Eduarda no Aterro. Viria a conhecê-la na Rua de São Francisco após receber um convite para a sua casa.