Manejo de Pastagens: Adubação, Fertilidade e Nutrição
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1- INTRODUÇÃO
As áreas de pastagens cobrem 177 milhões de hectares do território brasileiro, sendo que destes 99 milhões são de cultivadas (Anúário... 1995). Dados estimados indicam que pelo menos 80% dessas pastagens são formadas por gramíneas do gênero Brachiaria. Caracterizam-se, portanto, como grandes áreas de monocultura que, associadas a um modelo de pecuária extrativista e apoiadas em solos com baixa disponibilidade de fósforo e nitrogênio, resultam em degradação de grande parte dessas áreas.
Uma das principais causas da redução na produção vegetal de pastagens de gramíNeá em monocultura, ao longo do tempo, é a baixa disponibilidade do nitrogênio pára as plantas por causa da alta relação C:N dos resíduos (palha e ráízes) reciclados no solo.
Ao se decomporem, esses resíduos provocam imobilização do nitrogênio (Schunke, 1998) e produzem no solo compostos orgânicos mais recalcitrantes e de mineralização mais lenta. Atualmente, assume-se que a palha depositada sobre o solo e as ráízes são as principais responsáveis pela incorporação de N nos sistemas (Boddey et al., 1995; Cadish et al., 1994), especialmente, em pastagens tropicais.
Também as altas perdas de N das excretas dos animais afetam a produção. No caso do gado de corte, os animais excretam cerca de 90% do nitrogênio consumido. O nitrogênio na urina encontrase, principalmente, na forma de uréiá ou amônia, e nas fezes, a maior parte está em forma orgânica (Vallis, 1984).
Considera-se que as maiores perdas de N ocorram pela urina, porque a uréiá é facilmente hidrolisada à amônia. Ocorrem perdas de até 80% do N excretado, por meio de volatilização de amônia especialmente quando esta é depositada em solo descoberto e com baixa capacidade de troca de cátions (CTC) quando então são ainda maiores .
Um manejo eficiente poderá aumentar o aporte de nitrogênio aós sistemas de produção de pastagens, equilibrando suas transformações nos diferentes compartimentos do elemento no solo e garantindo a sustentabilidade desses sistemas.
Tal manejo envolve escolha da espécie forrageira apropriada e a manutenção da fertilidade do solo, aliada ao aumento da biodiversidade que pode ser alcançada com o uso de leguminosas fixadoras de nitrogênio atmosférico e ao manejo da pastagem adequado quanto ao uso da taxa de lotação correta e ao diferimento dessa.
É uma escolha complexa porque envolve uma interação de variáveis, Taís como: a forrageira, o animal, o clima e o solo, em seus aspectos biológicos, econômicos, e de manejo da propriedade.
Portanto, a possibilidade de se regular a mineralização do N em diversos sistemas de utilização das pastagens, por meio da manipulação das entradas e Sáídas do N nos diversos compartimentos do ciclo do elemento, de acordo com o potencial de uso da pastagem, poderá ser o caminho pára se garantir a sustentabilidade dessas pastagens ao longo do tempo.
2- ADUBAÇÃO DAS PASTAGENS
Os nutrientes mais limitantes nas pastagens, normalmente, são o fósforo e o nitrogênio. As forrageiras respondem significativamente à adubação fosfatada, resultando em prática economicamente viável tanto no estabelecimento como na manutenção. O fósforo é conservado no sistema, ligando-se aós compostos orgânicos e aós óxidos do solo num processo conhecido como fixação, com perdas insignificantes é exigido pelas plantas em pequenas concentrações, especialmente após a pastagem implantada.
A aplicação de fósforo contribui pára aumentar a produção de matéria seca das pastagens, com conseqüente aumento do teor do elemento na planta e da qualidade da forragem disponível (Schunke et al., 1991).
A adubação fosfatada estimula a absorção de N pela planta como conseqüência da corréção da deficiência de P do solo e de um aumento da eficiência no ciclo do N, porém seu efeito sobre a mineralização do nitrogênio do solo é menos consistente.
Em pastagem de Brachiaria decumbens, implantada em solo arenoso e adubada com fósforo, Schunke et al. (1992) obtiveram aumentos de 100% na produção de matéria seca da parte aérea da planta (Tabela 1), com aumento significativo da quantidade de palha depositada sobre o solo e da disponibilidade de ráízes recicladas no sistema. A mineralização do nitrogênio do solo também foi beneficiada, porém de forma menos intensa.
Tabela 1. Efeito da adubação fosfatada em Brachiaria decumbens em solo arenoso,
durante o período chuvoso
Sem adubação | 100 kg/ha de P2O5 | |
-------------------- kg/ha -------------------- | ||
Matéria seca aérea | 1.217 (65) | 2.487 (201) |
Palha | 973 (99) | 1.535 (139) |
Ráízes | 1.851 (345) | 3.744 (525) |
-------------- µg N/g de solo --------------- | ||
N mineralizado "in situ" (NH4 + NO3) | 40,6 | 45,4 |
Fonte: Schunke et al., 1999.
2.1- AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO
No contexto da exploração intensiva, o conhecimento dos atributos do solo é relevante, e segundo Corsi e Nussio (1992) o nível de fertilidade do solo é certamente um dos principais fatores que determina o montante de produção e a qualidade da forragem. Quanto aós atributos físicos desses solos, nota-se uma amplitude grande pára o teor de argila, que nas Areias Quartzosas pode ser de apenas 8%, enquanto que nos Latossolos pode atingir 80% naqueles muito argilosos, sendo de maneira geral profundos o que associados com o relevo geralmente plano, têm favorecidas às práticas mecanizadas. Embora ocorra grande variação no teor de argila dos solos, cerca de 95% são distróficos (V<50%), com="" caráter="" áliço="" (m="">50%) em sua maioria, com valor mediano de m = 59% apresentando teores baixos de K e principalmente de P em 92% desses solos.
2.2- INTERPRETAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO
A interpretação da fertilidade do solo é fundamental pára o estabelecimento das recomendações de corréção e adubação das pastagens, como será visto posteriormente, sendo que atualmente, ainda pode ser feita através da utilização de um dos métodos citados por Corsi e Nussio (1993), quais sejam: a) nível de suficiência de nutrientes disponíveis, e b) proporção de cátions na sáturação por bases, ou pela interpretação conjunta deles.
O método das classes de teores dos nutrientes, que é muito usado pára as recomendações, estabelecido através de uma rede de experimentação, principalmente com culturas anuais em condições de campo, considera as respostas pára o(s) nutriente(s) aplicado(s) na adubação, expressos em termos de produção relativa, que são usados pára o estabelecimento das curvas de calibração, que visa obter os limites entre as classes (Van Raij et al., 1997).
Alvarez et al. (1999) apresentam as classes de interpretação da fertilidade do solo pára o estado de Minas Gerais com especial atenção dadá ao fósforo - P, cujo método analítiço é o Mehlich – 1, e a sua interpretação deve ser feita considerando-se o poder tampão, que está associado ao teor de argila ou ao valor de fósforo remanescente do solo. Caso semelhante ocorre com a interpretação do enxofre - S determinado pelo método Hoeft et al. (1973), que é influenciado pelo poder tampão, que por sua vez está ligado ao P remanescente.
Outro método baseia-se na ocupação do complexo de troca catiônica (CTC) do solo pelos nutrientes, decorrente do comportamento químico dos cátions trocáveis de interesse às plantas, em se ligar com as cargas negativas geradas no complexo do solo, segundo a sua valência e raio iôNicó. Desta forma, Corsi e Nussio (1993) a partir de dados de McLean (1976), apresentam as faixas de proporção de cátions na sáturação por bases – PCSB. A análise do método leva à refletir sobre a importância da CTC do solo, como um “reservatório” potencial pára os nutrientes, que determina a quantidade que o solo “comporta”, tornando-se um indicador pára evitar as “perdas” do excesso de nutrientes por lixiviação, bem como a “carência” pela falta dos mesmos, ou seja, auxiliar no estabelecimento das quantidades e frequências das adubações.
Nesse sentido, o manejo químico do solo fica vinculado ao conhecimento da CTC, que por sua vez é consequência de cargas permanentes, oriundas dos minerais do solo e portanto sendo sempre consideradas, e as cargas variáveis ou dependentes do pH, que são devidas aós óxidos hidratados de Fé e Al, bem como da hidroxilas dos grupos carboxílicos, fenólicos e outros presentes na matéria orgânica. Vitti (1997) apresenta a proporção de cátions na CTC, porém associada com a ordem de grandeza da V (%), o que é interessante, uma vez que no método a proporção é fruto da relação matemática do nutriente pela CTC, e pára um mesmo valor percentual existem várias combinações entre esses valores. De qualquer forma, fica evidente a importância da CTC do solo, pois condiciona o potencial de suporte de fornecimento de nutrientes às pastagens. A constatação dessa informação, implica que somente através do aumento da M.O. Do solo é que se consegue aumentar a CTC dos solos que apresentam teores considerados baixos, podendo ser questionada a possibilidade de intensificar o uso das pastagens nesses solos.
2.3- NUTRIÇÃO MINERAL DA PLANTA FORRAGEIRA
As práticas de calagem e adubação em pastagens, de uma maneira geral são ainda pouco utilizadas, principalmente no Brasil Central pecuário. Algumas razões pelas quais essas práticas não são empregadas em maior escala, poderiam ser destacadas, tal como, a grande capacidade de adaptação das forrageiras tropicais, aqui introduzidas que permitiram aós produtores aumentar parcialmente a capacidade de suporte e explorar a pecuária, sem que necessariamente utilizassem da adubação de manutenção por longos períodos ou até mesmo vários anos.
Todavia, atualmente nota-se elevada queda da capacidade de suporte, degradação evidente das pastagens, que culmina com a falta de sustentabilidade da produção, o que está provocando grandes alterações no cenário de extrativismo da pecuária brasileira. Por outro lado, não se deve perder de vista que, apesar dos investimentos necessários pára a implantação, manutenção, recuperação e renovação de pastagens, como por exemplo o uso de calagem e da adubação, a utilização estratégica desses insumos, pode ser a forma mais eficaz de aumentar a eficiência da produção. Desta forma, aliar a capacidade de adaptação e resposta à adubação das plantas forrageiras aós diversos sistemas de produção pecuários e respectivas práticas culturais e manejo animal é o grande desafio pára se manter no negócio agrícola.
Deve ser considerado que pára um bom manejo da adubação, principalmente no sistema intensivo, torna-se importante conhecer a necessidade de nutrientes das plantas forrageiras, e consequentemente a sua capacidade de extração e nutrientes do solo. Esse procedimento tem sido em muitos casos, deixado de lado, pois conforme Aguiar (1997), os pesquisadores buscam incessantemente plantas forrageiras que tenham adaptabilidade a solos de baixa fertilidade, ou seja, pouco exigentes em nutrientes. Tal procedimento certamente conduziu os técnicos e por decorrência os pecuaristas, a um raciocínio no tocante à exigência nutricional das plantas forrageiras, no sentido de alimentar expectativas “falsas” de aferir resultados satisfatórios de suas pastagens, bem como na produção animal, quer de carne e, ou leite, de forma rápida e com baixo custo, tomando-se como premissa o fato de se obter pastagens implantadas em solos de baixa fertilidade e, ou esgotados pelo uso extrativista. Pára gerar um dado montante de fitomassa produzida, é necessária a transformação da energia radiante, a disponibilidade de nutrientes e hídriça, pára viabilizar todo o processo bioquímico e fisiológico da planta, que sob as condições tropicais, são muito superiores as de clima temperado, podendo atingir 80 t MS/ha.Ano.
Da Silva (1995) ressalta a importância da adequação da planta forrageira às condições edafoclimáticas, particularmente as de fertilidade do solo, que por sinal podem ser manejadas. A capacidade de extração de nutrientes de Panicum spp. Pára a produção de 20 t MS/ha/ano o referido autor destaca que qualquer deficiência nesse sentido, pode levar à subutilização de áreas potencialmente nobres pára a produção, alimentando o ciclo vicioso de baixa produtividade, e reforçandó a filosofia extrativista de produção reinante em nosso meio, o que marginaliza cada vez mais a nossa atividade pecuária”.
Os solos tropicais, em grande maioria são, segundo Rodrigues et al. (2000) em geral, pobres em bases (Cá, Mg e K), fósforo e enxofre, além de apresentarem elevados teores de hidrogênio livre e de alumínio tóxico. As plantas forrageiras apresentam-se diferentes quanto a capacidade de adaptação às condições edáficas. Desta forma, existem graus diferenciados de adaptação, entre e dentro de espécies às condições adversas de fertilidade do solo. Nesse sentido Werner et al. (1996) apresentaram 10 agrupamentos pára as plantas forrageiras, pára o Estado de São Paúlo, com base no tipo de exploração e carácterísticas botânicas (gramíneas e leguminosas).
2.4- RECOMENDAÇÃO DE CorréÇÃO E ADUBAÇÃO
No contexto do manejo químico das pastagens devem ser consideradas duas fases distintas pára o dimensionamento das corréções e adubações, ou seja, a implantação e a manutenção. No estabelecimento ou implantação, a necessidade dos nutrientes está relacionada diretamente com o crescimento das plantas e principalmente com o desenvolvimento do sistema radicular, desta forma a nutrição com o fósforo e cálcio assume grande importância.
Por outro lado, na manutenção de pastagens que tenham sido submetidas a um bom processo de formação, as plantas com sistema radicular bem desenvolvido, certamente explorarão um volume relativamente grande de solo. Segundo Rodrigues et al. (2000) normalmente acontecem associações simbióticas com fungos micorrízicos, aumentando a capacidade de absorção de fósforo e outros nutrientes pouco móveis como o zinco e o cobre. No sistema solo-planta-animal ocorre o ciclo dos nutrientes continuamente, uma vez que os excrementos e a mineralização da matéria orgânica dos resíduos estão permanentemente submetidos aós processos químicos, podendo contribuir com nutrientes pára o sistema. No entanto, ocorrem perdas de nutrientes do sistema, pois a dinâmica pela qual os nutrientes estão sujeitos envolve, entre outros processos, a volatilização principalmente pára o N, a lixiviação pára a maioria dos nutrientes, principalmente N e K, a erosão que pode arrastar principalmente os nutrientes pouco móveis concentrados na superfície, Taís como o P e Cá, e a exportação de produtos pela ingestão do animal, pelo corte mecâNicó, etc. No contexto exposto, resulta que a prática de adubação de manutenção é fundamental pára permitir a permanência da produção da pastagem, e com isso evitar o ciclo vicioso de recuperação-degradação de pastagens que é muito comum no cenário pecuário, sobretudo na região de baixa fertilidade como no Cerrado brasileiro.
Pára discutir o manejo químico das pastagens, considerando o sistema solo x planta x animal, num contexto intensivo, primeiramente serão mencionadas as plantas forrageiras, uma vez que apresentam diferentes potenciais produtivos e consequentemente necessidades diferenciadas, pára depois discutir sobre as práticas corretivas e de adubação. Tal procedimento será denominado na prática de “esquema do funil” visando elucidar a sequência e importância das práticas de manejo químico do solo, que se adequa muito bem no contexto de pastagem.
Sendo assim, na parte mais larga do funil, ou seja, na qual “um líquido” passa inicialmente, destaca a atenção que deve ser dadá às práticas corretivas do solo, iniciando pela calagem, devido a elevada acidez da maioria dos solos onde normalmente se implanta os projetos pecuários, além dos baixos teores e, ou baixa participação do Cá e do Mg no complexo de troca – CTC, além da sáturação por alumínio ser, em muitos casos, elevada. Ainda, nas práticas corretivas, ou seja, na boca do funil, deve-se considerar a gessagem em determinadas situações, que serão discutidas posteriormente, bem como especial atenção, e por que não dizer preocupação com o fósforo, que nessa etapa seria tratado através da fosfatagem, podendo ser essa feita em área total, utilizando-se fontes de solubilidade intermediária, podendo ser incorporado ao solo, visando elevar seu “padrão” no solo. Rodrigues et al. (2000); destacam que o fósforo constitui-se de um grande limitante no solos sob pastagem, por apresentar normalmente níveis baixos de disponibilidade, devido aós teores diminutos do elemento no material de origem aliado ao elevado poder de fixação do fósforo apresentado pela natureza oxídica de seus solos com presença elevada de óxidos de Fé e Al. Afirmam, também, que o potencial de produção de matéria seca aumenta à medida que a adubação fosfatada eleva o teor de P no solo e com isso permite maximizar o potencial que os demais nutrientes disponibilizariam.
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