Manifesto de Primo de Rivera: Análise e Contexto Histórico

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Manifesto de Primo de Rivera

Classificação

O manifesto do general Miguel Primo de Rivera, Capitão Geral da Catalunha em 1923, surge em um contexto de repressão ao ativismo trabalhista em Barcelona desde 1917. O texto, expositivo e argumentativo, foi divulgado à nação por meio de anúncio na imprensa de Barcelona em 13 de setembro de 1923. Nele, o autor expõe seus planos, com foco em questões políticas e na resolução do conflito marroquino.

Análise

O Manifesto de Primo de Rivera apresenta duas partes distintas. Primeiramente, expõe as razões da revolta de forma incontestável. Em seguida, lança um alerta velado contra opositores à iniciativa, visando obter o máximo de adesões possível.

Contexto Histórico

O golpe de 13 de setembro de 1923 pôs fim à crise do sistema da Restauração, incapaz de solucionar os problemas do país. Desde 1917, o sistema não conseguia resolver a questão da guerra no Marrocos, questionada por sindicatos, nacionalistas periféricos e forças políticas fora do turnismo de liberais e conservadores. A instabilidade se manifestava em ataques armados em Barcelona, mobilização camponesa na Andaluzia desde 1918, e greves como a do Canadá em 1919. O exército via a necessidade de uma "regeneração" do país por meio de um regime militar temporário. A Lei de Jurisdições (1906) e o florescimento das Juntas Militares (1917) aumentaram a influência política dos militares. O próprio rei Alfonso XIII apoiou o golpe.

Revisão das Ideias

O texto revela as motivações e objetivos da insurreição. O primeiro parágrafo ataca a "velha política" e justifica a desobediência às leis em nome da salvação nacional. Critica a "miséria e imoralidade" dos políticos e identifica o desastre de 1898 como o início da crise. O objetivo era erradicar o despotismo, regenerar a vida pública e combater a corrupção do turnismo. A instabilidade política dificultava a formação de maiorias parlamentares e governos estáveis. Primo de Rivera propunha um governo de "homens" representativos da "moral e doutrina", com ênfase na moralização. Os termos "rebelião" e "domar" aludem às dificuldades com os governos e à defesa dos interesses de chefes e oficiais contra o Ministério da Guerra.

A promessa de revisão e punição das irregularidades do passado, especialmente as relacionadas à guerra do Marrocos e ao desastre de Annual, não se concretizou. A comissão do general Picasso investigou as responsabilidades militares, mas o golpe interrompeu o processo. A tentativa de revisão e punição das irregularidades foi arquivada em 1924. O texto apela à "legitimidade" imposta pelo "povo saudável", sem especificar como combateria o banditismo, a intriga política e o problema do Marrocos.

A ditadura de Primo de Rivera teve duas fases: o Diretório civil e a ditadura militar. Suas tentativas de erradicar o caciquismo, dar autonomia aos municípios, realinhar o espectro político com a União Patriótica e criar um novo sistema constitucional fracassaram. Economicamente, a ditadura adotou uma política protecionista que impulsionou o desenvolvimento material, com investimentos em infraestrutura e educação. No entanto, a dívida pública hipotecou o país. A criação da Organização Corporativa Nacional em 1926, inspirada no fascismo, teve resultados parciais. Os monopólios estatais em setores como telefonia geraram mudanças na vida dos espanhóis. O equilíbrio político fragilizou-se, com o isolamento do regime e o surgimento de oposições. Após a perda do apoio do exército, Primo de Rivera renunciou. O governo de Berenger não conseguiu reverter as mudanças da ditadura, e o período de 15 meses até abril de 1931 pavimentou o caminho para a Segunda República.

Conclusão e Extensão

A principal consequência da revolta foi o estabelecimento de um Diretório militar. As primeiras ações do novo governo focaram na remodelação dos organismos públicos, especialmente o governo local, com o objetivo de acabar com o caciquismo. Economicamente, a ditadura adotou uma política protecionista que, juntamente com o contexto econômico favorável dos anos 1920, impulsionou o desenvolvimento material. No entanto, a dívida pública aumentou. A criação da Organização Corporativa Nacional em 1926 buscou controlar a economia através de um sistema sindicalista vertical. A ditadura estabeleceu monopólios estatais, gerando mudanças na vida dos espanhóis. O regime, isolado e contestado, perdeu o apoio do exército e Primo de Rivera renunciou. O governo seguinte não conseguiu reverter as mudanças, e o período de 15 meses até abril de 1931 levou à Segunda República.

Bibliografia

CARR, Raymond. História da Espanha. Barcelona: Península, 2001.
PEREZ, Joseph. História da Espanha. Barcelona: Crítica, 2003.

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