Marcadores Somáticos: A Revolução de Damásio na Relação Mente-Corpo

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A Perspetiva de Damásio sobre Emoção e Cognição

Segundo António Damásio, os estímulos externos que afetam o corpo são chamados emoção. A ideia é que os estímulos da realidade que afetam o corpo, ou seja, as emoções, deixam a sua marca no lobo pré-frontal do cérebro. O que é importante para Damásio é que as emoções que impactam o cérebro constituem uma base de memória, por exemplo, uma memória de frio, sendo este um marcador somático. A emoção é um estado somático. A cognição é considerada um estado mental, enquanto a emoção é um estado somático. Para Damásio, a emoção pode ser entendida como um estímulo.

A conceção clássica de que a mente processa estímulos, onde a mente é a instância superior, dá sentido aos estímulos. Na perspetiva da ciência cognitiva, os marcadores somáticos são instâncias tanto do corpo quanto da mente. Para Damásio, a tomada de decisões depende não apenas da cognição (da mente), mas também dos estados somáticos da emoção. Pacientes com lesões cerebrais, por exemplo, podem ter dificuldade em tomar decisões devido à dificuldade de acesso aos marcadores somáticos, que representam uma realidade corporal crucial para a tomada de decisões.

A Hipótese dos Marcadores Somáticos e o Não-Dualismo

A memória somática, entendida como uma memória do corpo, representa uma verdadeira revolução. A perspetiva não-dualista da ciência cognitiva hoje, no que diz respeito à relação corpo-mente, é particularmente expressa na Hipótese dos Marcadores Somáticos. Esta perspetiva não representa uma rutura pura e simples com a ideia de que mente e corpo interagem em processos cognitivos e somáticos. O corpo tem memória própria que não é apenas cognitiva. Existe uma interação e justaposição entre o cognitivo e o somático. A memória é tanto cognitiva quanto sente, lidando com estímulos e as respostas a esses estímulos, que Damásio chama de emoção.

O "Erro de Descartes" e a Tradição Dualista

Descartes, inserido numa tradição que via a mente como superior ao corpo, não errou ao dar-lhe uma lógica de método científico; se houve um erro, não foi exclusivamente dele. O problema da expressão "Erro de Descartes" reside em duas razões principais:

  • Por um lado, Descartes insere-se numa longa tradição dualista sobre a mente e o corpo.
  • Ele, contudo, foi um dos primeiros a questionar esse dualismo, ao sugerir que, embora a mente fosse superior ao corpo, ambos existiam no mesmo mundo.

A ciência moderna, no que diz respeito à mente, é pós-metafísica, mas continuou a perpetuar, de outras formas, uma visão dualista sobre a superioridade da razão em relação ao corpo e aos seus estímulos, onde a mente processa superiormente os estímulos que o corpo sente. Já não se trata, portanto, de um dualismo metafísico puro. Posto isto, pode-se argumentar que todos erraram, não apenas Descartes, ao pensar "Penso, logo existo" em vez de "Existo, logo penso".

"Existo, Logo Penso": A Visão Pós-Dualista de Damásio

A célebre ideia de Damásio, "Existo, logo penso", reflete a conceção da interatividade entre mente e corpo que define a existência e permite a vida cognitiva. No caso particular dos Marcadores Somáticos, esta é uma justaposição cognitivo-somática, vista como uma perspetiva pós-dualista.

A Evolução da Psicologia e a Relação Corpo-Mente

A sequência histórica da psicologia revela uma fase pré-científica, onde o passado ainda se faz presente. Somos, de facto, um corpo com uma mente e uma mente com um corpo. Tanto a psicologia pré-científica quanto a moderna exploraram a complexa relação entre corpo e mente.

Mudança de Paradigma e Expansão da Identidade da Psicologia

Esta trajetória histórica representa uma significativa mudança de paradigma, uma verdadeira mutação. Observa-se um crescente desenvolvimento da psicologia em conjunto com outras disciplinas, o que permitiu à psicologia expandir e consolidar a sua identidade.

O Papel Terapêutico e Interdisciplinar da Psicologia Moderna

A psicologia continua a manter a sua essencial relação terapêutica com o indivíduo. Mantém uma identidade profissional sólida, promovendo um reencontro do indivíduo consigo mesmo e com a sua mente. É cada vez mais sinergética, atuando em diversas áreas da vida das pessoas, compreendendo os problemas pelos quais cada indivíduo passa. Trabalha de forma interdisciplinar, auxiliando a pessoa a reencontrar-se e a integrar as suas experiências.

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