Marx e Hobbes: Materialismo, Práxis e a Origem do Estado
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Karl Marx: A Filosofia da Práxis e o Materialismo Dialético
Marx estabelece uma conexão intrínseca entre o marxismo e a vida real. Por um lado, ele reduz as teorias idealistas e as aspirações utópicas do socialismo, confrontando-as com os limites reais e concretos impostos pela análise da nova sociedade industrial. Marx renuncia à filosofia pura (teoria) para estudar filosoficamente a situação econômica, com o objetivo de transformá-la através da ação política. Sobre estas bases, o marxismo concebe a filosofia não como uma especulação teórica, nem como uma prática moral, mas sim como uma filosofia da práxis.
O Conceito de Materialismo
Para definir o materialismo, Marx recorre ao conceito de teologia da criação, que questiona se o mundo foi criado por Deus ou se é eterno. A solução para este problema divide os filósofos em dois grupos:
- Idealistas: Afirmam que Deus é o criador do mundo.
- Materialistas: Argumentam que a matéria é eterna.
Existem pelo menos dois tipos de materialismo, segundo o conceito de matéria:
- Materialismo Metafísico: Acredita que a matéria é uma massa inerte, fixa e imóvel.
- Materialismo Dialético: É o marxismo. Afirma que a matéria possui movimento em si mesma.
A Divisão de Classes e a Alienação
O princípio da divisão entre a burguesia e o proletariado é um produto do processo de produção industrial. Anteriormente, o trabalho era realizado através de uma série de atos individuais; agora, é realizado por uma série de eventos sociais, e as máquinas utilizadas no processo requerem trabalho coletivo, não individual.
Os tipos de alienação, segundo Marx, são:
- Alienação Econômica: É fundamental no marxismo, de onde derivam todos os outros tipos.
- Alienação Filosófica: Consiste na ilusão de tentar interpretar ou contemplar a realidade para além da práxis, ou seja, para além das condições reais e materiais da existência humana.
- Alienação Política: Consiste em assumir que o Estado representa a conciliação de interesses, quando é, na realidade, um instrumento de repressão da classe dominante.
- Alienação Religiosa: Consiste em projetar um Deus imaginário com atributos que só pertencem ao homem. O homem se perde na ilusão de um mundo social transcendente.
- Alienação Social: Projeta o conflito de classes no nível irreal de uma sociedade harmoniosa, escondendo a realidade da luta de classes, que não é acidental, mas constitutiva.
Práxis e Crítica ao Materialismo Passivo
Segundo Marx, a práxis é o lugar onde o homem deve demonstrar a verdade. A questão de saber se o pensamento humano possui uma verdade objetiva não é teórica, mas prática. Em sua crítica ao materialismo do século XVIII, que via o homem como resultado de circunstâncias e condições históricas específicas, Marx argumenta que esse materialismo é passivo e suas consequências práticas são a divisão da sociedade em duas partes.
Thomas Hobbes: Racionalismo, Materialismo e o Leviatã
Hobbes é um filósofo racionalista e materialista. Para ele, a política é uma ciência. Ele propõe decompor a sociedade em seus elementos e, em seguida, recompô-los em um todo lógico e sistemático. O método da ciência é aplicado, neste caso, à vida social.
A Natureza Humana e o Estado de Natureza
A natureza humana consiste em dois elementos que determinam os problemas políticos em Hobbes: a razão e as paixões.
A igualdade natural dos homens: A natureza fez os homens tão iguais em suas faculdades físicas e mentais que, dada a escassez de bens que todos anseiam, o resultado é a competição. Assim, a igualdade (das forças em competição) leva à incerteza e à insegurança. É necessário distinguir várias etapas na história do poder:
- O Estado de Natureza: É a condição hipotética em que os homens viveriam se não houvesse um poder como o Estado. O homem natural, como um corpo, tende a afirmar-se, resultando no conflito de todos contra todos.
- A Sociedade Civil: Para Hobbes, existe a lei natural e as leis naturais.
A Lei Natural e a Auto-Preservação
A lei natural está relacionada com a auto-preservação. Hobbes define-a como a liberdade de cada um usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua natureza, ou seja, sua própria vida.
A Lei Natural é "um preceito ou regra geral, descoberta pela razão e que proíbe, por um lado, fazer o que pode destruir a vida ou prejudicar os seus meios de preservação, e, em segundo lugar, parar de fazer o que pode preservar a melhor vida possível."
As duas primeiras leis naturais consistem, para Hobbes, em buscar a paz e defender-se por todos os meios possíveis para alcançá-la.
O Estado e a Soberania Absoluta
O Estado é uma pessoa: Uma multidão se torna uma pessoa quando é representada por um único homem ou pessoa, desde que seja com o consentimento de cada um em particular que a compõem.
Hobbes criticou a divisão de poderes e apoia fortemente a teoria da soberania absoluta. O soberano não tem limite exterior ao seu poder. Contudo, ele é extremamente racional e, portanto, não tem poder para fazer o que quiser, pelo menos no que tange à soberania questionável.
A principal limitação da soberania é a razão e, em alguns aspectos, a consciência profissional do soberano. Não seria razoável que o soberano não buscasse os interesses de seu povo. Hobbes justifica o absolutismo com argumentos utilitaristas. Seu pensamento é essencialmente individualista. A base do absolutismo é o direito do indivíduo à auto-preservação. O indivíduo atinge o desenvolvimento mais perfeito no estado autoritário. Sua concepção política articula-se em sua ontologia e é diretamente inspirada pela nova física e seu mecanismo.