Marxismo: Materialismo Histórico, Ideologia e Luta de Classes

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Materialismo Histórico: A Visão de Marx

A Doutrina Materialista e a Realidade

A doutrina materialista afirma que toda a matéria é a causa última da realidade.

O Homem como Protagonista da História

No materialismo histórico, a História, de acordo com Marx, entende que o homem não é um objeto ao qual as coisas acontecem, mas um protagonista de sua vida e história. E a história é determinada pelas relações econômicas de produção, que, por sua vez, são determinadas pelos meios de produção.

As relações de produção são estabelecidas entre os proprietários dos meios de produção e os produtores diretos (trabalhadores ou proletários) em um processo de produção. A história e a evolução são o resultado da luta de classes, que leva à mudança dos modos de produção. Estes são a maneira de produzir bens materiais, de acordo com as diferentes sociedades:

  • 1º) Comunismo Primitivo: Posse coletiva da propriedade.
  • 2º) Escravidão: Dominação e submissão, onde o escravo é o instrumento principal.
  • 3º) Feudalismo: O senhor feudal é proprietário da terra, e o servo é o agente de trabalho.
  • 4º) Capitalismo: O capitalista é dono dos meios de produção e da força de trabalho desenvolvida pelo trabalhador.
  • 5º) Socialismo: Propriedade coletiva dos meios de produção.

Ideologia: Falsa Consciência e Controle

O marxismo argumenta que a ideologia é um conjunto de ideias, um produto social que se expressa na linguagem e tem um sentido essencialmente negativo: uma falsa autoconsciência, ou seja, acreditar que os pensamentos, ideias e crenças dos seres humanos vêm da mente por causa de uma atividade intelectual livre e autônoma. De acordo com Marx, ocorre o contrário: as ideias e crenças de todos os tipos (ideologia) são o resultado das relações de produção, ou seja, a economia é a realidade material que determina o pensamento, e não vice-versa.

Qualquer ideologia, em vez de refletir a realidade, tende a desfigurá-la, e por isso é uma falsa consciência. Assim, como a ideologia (ou superestrutura) é dependente da economia (ou infraestrutura), quem controla a economia controla a ideologia. Mas, como na sociedade capitalista é a burguesia que exerce o controle econômico, ela também exerce o controle ideológico, que é a ferramenta perfeita para esconder a verdade para a manipulação e a perpetuação do poder pelas classes dominantes.

Infraestrutura e Superestrutura

A Infraestrutura é o conjunto de elementos materiais que são essenciais para o funcionamento e a evolução de uma sociedade, e nada mais é do que a economia. A Superestrutura, no entanto, é o conjunto de ideias e crenças sociais, políticas, religiosas, jurídicas, filosóficas, etc., através das quais se tenta organizar todas as relações humanas, defendendo a ordem das organizações sociais e econômicas.

A estrutura econômica é a base e o fundamento das relações sociais. No entanto, na estrutura econômica podem ser distinguidos dois elementos: as forças produtivas e as relações de produção. As primeiras são os meios, instrumentos e a própria atividade humana através dos quais os indivíduos se envolvem na produção. A segunda é a relação estabelecida entre os proprietários dos meios de produção e os produtores diretos. As relações de produção dão origem a diferentes modos de produção: primitivo, escravo, feudal, capitalista...

Em cada modo de produção, um tipo diferente de relações é estabelecido. No capitalismo, o capitalista toma posse das forças produtivas (instalações, máquinas e outros meios) e, através do salário, também assume a força de trabalho do operário.

Economia Política Marxista e Luta de Classes

Valor de Uso, Valor de Troca e Mercadoria

Marx distingue entre valor de uso e valor de troca. O valor de uso é o que a coisa vale em si ou em relação à satisfação das necessidades humanas (isto é, o valor de uso da água é o seu uso para matar a sede ou extinguir um incêndio). O valor de troca, chamado de mercadoria, é o que impõe a lei da oferta e da procura, determinando os preços.

Ao longo da história, os valores de uso não foram anulados, mas foram substituídos pelos valores de troca (objetos, animais e seres humanos, bem como suas atividades, são valorizados pelo seu preço de mercado). O próprio trabalhador é considerado uma mercadoria.

A Mais-Valia e a Injustiça Capitalista

O trabalho do operário gera um excedente para os capitalistas, que é o lucro obtido a partir do trabalho de cada trabalhador. Este lucro é o que resta depois de subtrair o custo (salário) do valor do que foi produzido, sendo este valor sempre muito maior do que o salário. Em outras palavras, o trabalhador produz mais do que o seu salário custa, gerando um rendimento (mais-valia).

A Luta de Classes como Motor da História

Marx acredita que esta situação não é justa. Somente através da atividade revolucionária, a economia burguesa passará a ser uma economia socialista e esta, por sua vez, levará a uma economia comunista. O motor é a luta de classes. As classes dominantes sujeitam e exploram as classes mais baixas, mas estas, ao se tornarem conscientes de sua situação, organizam-se e lutam para sair de seu estado de opressão. A passagem de uma estrutura econômica para outra resulta da luta contra a opressão.

Com o triunfo do capitalismo liberal, a rivalidade ocorre entre os grandes capitalistas (proprietários dos meios de produção) e os proletários submetidos. Mas a economia capitalista, para seu próprio desenvolvimento, é uma guerra de todos contra todos. Não apenas os trabalhadores têm interesses opostos aos dos capitalistas, mas os próprios capitalistas competem entre si. Algo semelhante acontece com o proletariado: a abundância de mão de obra tende a baixar o preço dos salários e, além disso, um trabalhador pode ser facilmente substituído por outro.

A Crise do Capitalismo e a Revolução

Esta rivalidade de todos contra todos é inerente ao sistema: o capitalista precisa explorar o trabalhador para produzir mercadorias mais baratas e combater a concorrência de outros capitalistas. Caso contrário, não conseguirá obter superávit suficiente para manter e expandir seus negócios, levando à ruína e à proletarização. Assim, o número de proletários está crescendo e os salários cairão. Os meios de produção serão cada vez mais concentrados em poucos capitalistas.

Chegará um momento em que, devido à massa abundante de trabalhadores e à falta de trabalho, o salário será tão baixo que não cobrirá sequer as necessidades alimentares mínimas dos proletários. Marx acredita que o proletariado se tornará consciente de sua verdadeira situação e se unirá para acabar com a opressão, provocando assim a crise do capitalismo. Isso levará à expropriação dos expropriadores, e a erradicação do capitalismo será substituída pelo socialismo, que consiste basicamente na abolição da propriedade privada dos meios de produção, que passarão a pertencer aos trabalhadores. Este domínio dos trabalhadores será assegurado pela ditadura do proletariado.

Do Socialismo ao Comunismo: A Sociedade Final

Após a revolução, e consumado o triunfo dos trabalhadores, a divisão de classes desaparecerá e todos os seres humanos formarão uma fraternidade internacional, através da qual a injustiça será eliminada. A sociedade socialista não é o ponto final. É verdade que nela será abolida a propriedade privada dos meios de produção, a exploração desaparecerá e o valor de troca será substituído pelo valor de uso. Mas é apenas uma etapa intermediária em que a sociedade preparará os novos valores.

A etapa final será uma sociedade comunista, onde os seres humanos trabalharão livremente, não haverá excedente (mais-valia), o valor de troca desaparecerá e o valor de uso será estabelecido, regido pelo princípio: a cada um segundo suas necessidades, que sempre poderão ser atendidas facilmente.

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