Marxismo: Práxis, Classes Sociais e Transformação
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A Visão Marxista do Homem Social
A especificidade do pensamento de Marx, em contraste com todas as filosofias que haviam abordado a ação humana de forma central até o século XIX, é considerar o homem como um ser social fundamental. O homem não é nada fora da sociedade, e seu valor como indivíduo reside na sua capacidade de se organizar como classe social e, enquanto classe, promover mudanças, ou seja, transformar o mundo.
Marxismo vs. Idealismo Contemplativo
A abordagem marxista opõe-se abertamente à linha de pensamento idealista contemplativa, que havia dominado o pensamento ocidental e, especialmente, a filosofia alemã, desde Platão. Hegel, por exemplo, havia defendido a doutrina dos grandes homens (apenas alguns indivíduos são responsáveis pelo progresso e pela mudança histórica) e a ideia de que a história é realmente um movimento do Espírito até reencontrar-se a si mesmo. Nesse ideal, não havia espaço para os produtos materiais da sociedade, e muito menos para o papel ativo daqueles realmente responsáveis pela produção material: os trabalhadores.
A Filosofia da Práxis em Marx
Praxis (do grego para "prática" ou "ação") refere-se originalmente à dimensão ética do ser humano. A filosofia da práxis (como foi tradicionalmente entendida: o campo da ética e dos valores morais) opunha-se à filosofia teórica (epistemologia, do conhecimento). Kant, por exemplo, distingue claramente as duas áreas no estudo dos seres humanos. Marx irá destacar a dimensão prática do homem, não apenas reduzindo o estudo aos valores morais (ética), mas ampliando-o para incluir o resultado da ação humana na natureza, ou seja, o resultado objetivo do trabalho dos seres humanos.
Ação Humana como Força Transformadora
A mudança fundamental que Marx irá promover na filosofia da práxis é a compreensão da ação humana como ação transformadora. A natureza humana é essencialmente uma força material capaz de transformar a realidade e produzir mudanças.
Classes Sociais e a Revolução Proletária
Essa força é capaz de impulsionar as sociedades a novos patamares de progresso. Mas o poder de transformação não pode ser concebido de forma alguma sob uma perspectiva única. É uma força social; portanto, é imperativo considerar a análise das classes sociais como a força verdadeiramente revolucionária e transformadora. Se em um momento foi a burguesia, agora, diz Marx, é a vez do proletariado, impulsionando a revolução proletária rumo ao COMUNISMO.
Marxismo: Filosofia da Práxis e Transformação
Assim, Marx escreve em seu livro Teses sobre Feuerbach, XI, que até então "os filósofos apenas interpretaram o mundo de diversas maneiras; a questão, porém, é transformá-lo." Esta é a verdadeira afirmação do marxismo como uma filosofia da práxis. O marxismo não é apresentado apenas como uma interpretação ou um sistema de pensamento capaz de compreender as sociedades e sua evolução: ele pretende ser um instrumento de mudança, um meio de transformação social rumo a uma sociedade mais igualitária e justa: o comunismo. O Manifesto Comunista é, na verdade, um panfleto, uma chamada aos trabalhadores para se organizarem em classe social, a tomarem consciência (consciência de classe) de sua condição de exploração e a realizarem uma revolução mundial para acabar com a era burguesa. Essa é a essência da transformação. Nem mais, nem menos.
A Práxis como Motor da História
A visão marxista é, portanto, que a vida social é essencialmente "práxis" transformadora. No mesmo livro sobre Feuerbach, Marx reafirma essa ideia. Isso significa que, em última análise, são as ações humanas, e não os pensamentos, que movem e transformam a história, impulsionando-a para a frente. Nem mesmo poucos "grandes homens" são o motor da história, nem as ideias como tal. A verdadeira força capaz de transformar determinadas condições sociais e torná-las diferentes é o trabalho social, o trabalho das classes produtivas, aquelas que têm o trabalho como sua única forma de vida.
Práxis e Materialismo Histórico
No cerne da filosofia da práxis, pode-se vislumbrar um dos conceitos fundamentais do materialismo histórico, ou seja, que a infraestrutura (ou conjunto de fatores que explicam a produção material da sociedade) determina e molda as relações sociais e a superestrutura.