Maturação de Linfócitos B e Classes de Imunoglobulinas

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Maturação dos Linfócitos B na Medula Óssea

A maturação ocorre na Medula Óssea (MO), sendo independente de antigénio nas primeiras fases, para gerar células maduras com IgM membranar (mIgM) e IgD membranar (mIgD). A origem reside em progenitores linfoides que expressam moléculas de adesão (ICAMs), como VLA-4 e VCAM-1.

  • Célula Progenitora: Expressa c-kit e CD45. A interação da célula Pro-B (que expressa CD10, CD19, Rag 1 e 2, e TdT) com o estroma da medula, estimulada por IL-7, leva ao arranjo da cadeia pesada μ (miu). Forma-se a cadeia μ citoplasmática e as pseudo-cadeias leves.
  • Célula Precursora (Pré-B): Apresenta as mesmas características, exceto pela ausência de TdT, e ocorre o arranjo das cadeias leves.

O desenvolvimento do BCR (Recetor de Célula B) envolve:

  • O complexo Igα/Igβ é expresso nas células Pro-B.
  • O pré-BCR é expresso nas células Pré-B e tem um papel potencial na indução do arranjo das cadeias leves.
  • O BCR funcional estimula o arranjo nas células Pro-B para que se tornem Pré-B.

As Células B imaturas possuem cadeias leves rearranjadas que se juntam ao Igα e Igβ e à cadeia pesada, cessando a expressão dos Rags e outras proteínas de recombinação. As células B maduras exprimem IgG e IgM membranar e MHC II.

Estrutura e Funções Gerais das Imunoglobulinas

As Imunoglobulinas são compostas por duas cadeias polipeptídicas:

  • Cadeias Leves (L): 2 formas (kappa (κ) e lambda (λ)).
  • Cadeias Pesadas (H): 5 classes (α, δ, γ, ε e μ).

As Regiões Determinantes de Complementaridade (CDRs) são 3 segmentos hipervariáveis em cada tipo de cadeia. A Região de Charneira, localizada entre Fab e Fc (entre CH1 e CH2), permite a ação independente dos dois locais de ligação ao antigénio devido à maior flexibilidade.

Funcionalmente, as imunoglobulinas atuam como:

  • Anticorpos secretados.
  • Recetores de membrana de linfócito B.
  • Ativação do complemento (principalmente por IgM ou IgG).
  • Opsonização específica.
  • Toxicidade mediada por células dependente de anticorpos (ADCC).

Classes de Imunoglobulinas e Suas Características

IgM

Corresponde a 10% das imunoglobulinas. Possui estrutura pentamérica ligada por pontes dissulfeto e pela cadeia J. É o Anticorpo (Atc) de fase aguda e está presente na superfície dos linfócitos B na forma monomérica.

IgA

Corresponde a 15–20%. Possui cadeia pesada α. Oferece proteção viral ou bacteriana. Contém um componente secretor que protege de enzimas hidrolíticas. Possui cadeia J e forma mono ou dimérica.

IgG

Corresponde a 80%. É a única que atravessa a placenta e está distribuída por todos os compartimentos extracelulares. É o principal anticorpo da resposta secundária. Participa na ativação do complemento e na fagocitose por ligação a macrófagos.

IgE

Possui cadeia ε (épsilon). Está presente na membrana de superfície de basófilos e mastócitos. É crucial na imunidade ativa contra parasitas helmintos, atraindo eosinófilos.

IgD

Presente na superfície de muitos linfócitos, provavelmente atuando como recetor antigénico.

Manifestações Clínicas de Imunodeficiência Primária

Os sintomas geralmente aparecem após os 6 meses de idade, coincidindo com a perda dos anticorpos maternos. Estes sintomas podem estar associados à Imunodeficiência Comum Variável (IVC):

  • Infeções Recorrentes ou Persistentes: Afetam as vias aéreas superiores e inferiores (otites, sinusites, bronquite, pneumonia), frequentemente devidas a organismos capsulados (p. ex., S. pneumoniae, H. influenzae B, Moraxella sp; menos frequentemente, S. aureus, Neisseria, Pseudomonas, Salmonella, Campylobacter, Ureaplasma, Mycoplasma).
  • Lesão de Órgãos Alvo: Incluindo bronquiectasias e abcessos, que levam à morbilidade e podem conduzir à morte.
  • Infeções Virais: A maioria está controlada, embora algumas possam ser devastadoras (p. ex., poliomielite devida a vacina atenuada, Hepatite C, Meningoencefalite crónica induzida por enterovírus).
  • Infeções Oportunistas: Infeções protozoárias com Giardia lamblia e fúngicas com Pneumocystis jirovecii.
  • Exame Físico: Atraso do crescimento estaturo-ponderal, perda de peso, aumento ou ausência dos gânglios linfáticos, clubbing (dedos em baqueta).
  • Comorbilidades: Autoimunidade e doenças linfoproliferativas na Imunodeficiência Comum Variável.

Avaliação Diagnóstica

  • Testes Iniciais: Leucograma, Doseamento de Imunoglobulinas (IgA, IgG, IgM).
  • Avaliação de Linfócitos B: Citometria de fluxo para avaliação do número de linfócitos B (CD19, CD20).
  • Avaliação Complementar da Resposta de Anticorpos:
    1. Timo-independentes: Através de antigénios dos grupos sanguíneos ABO ou da resposta a vacinas polissacarídeas (p. ex., anti-pneumocócicos ou anti-Haemophilus influenzae B).
    2. Timo-dependentes: Através da avaliação da resposta de anticorpos após a vacinação com antigénios proteicos (p. ex., anti-tetânica).

Opções Terapêuticas

  • Terapêutica Antibiótica: Tratamento precoce e agressivo das infeções.
  • Profilaxia Antibiótica: Em alguns casos.
  • Substituição de Imunoglobulinas: Pode ser intravenosa (exige deslocação ao hospital) ou subcutânea (pode ser efetuada em casa). Em ambos os casos, a indicação é manter níveis estáveis de imunoglobulinas.

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