Memorial do Convento: Resumo e Análise Detalhada

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Capítulo I Anúncio da ida de D. João V ao quarto da rainha. Desejo de D. Maria Ana: satisfazer o desejo do rei de ter um herdeiro para o reino. Passatempo do rei: construção, em miniatura, da Basílica de S. Pedro de Roma. Premonição de um franciscano: o rei terá um filho se erguer um convento franciscano em Mafra. Promessa do rei: mandar construir um convento se a rainha lhe der um filho no prazo de um ano. Chegada do Rei ao quarto da rainha, decidido a ver cumprida a promessa feita a Frei António de S. José.

Capítulo II Referência a milagres franciscanos que auguram a promessa real: história de Frei Miguel da Anunciação (o corpo que não corrompia e os milagres); história de Sto. António (seus milagres e castigos); os precedentes franciscanos. Visão crítica do narrador face às promessas e milagres dos franciscanos: o mundo marcado por excesso de riqueza e extrema pobreza.

Capítulo III Reflexões sobre Lisboa: condições de vida; visão abjeta da cidade no Entrudo; crítica a hábitos religiosos, à procissão da penitência, à Quaresma. O estado de gravidez da rainha (da condição de mulher comum à sua infinita religiosidade). O sonho da rainha com o cunhado (tópico da traição).

Capítulo IV Apresentação de Baltasar Mateus: Sete-Sóis, 26 anos, natural de Mafra, maneta à esquerda, na sequência da Batalha de Jerez de los Caballeros (Espanha). Estada em Évora, onde pede esmola para pagar um gancho de ferro e poder substituir a mão. Percurso até Lisboa, onde vive muitas dificuldades. Indecisão de Baltasar: regressar a Mafra ou dirigir-se ao Terreiro do Paço (Lisboa) e pedir dinheiro pela mutilação na guerra. Encontro de Baltasar Sete-Sóis com um amigo, antigo soldado: João Elvas. Referências ao crime na cidade lisboeta e ao Limoeiro.

Capítulo V Fragilidade de D. Maria Ana, com a gravidez e com a morte do seu irmão José (imperador da Áustria). Apresentação de Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda (Sete Luas) - condenada ao degredo (Angola), por ter visões e revelações. Espetáculo do auto de fé assistido por Blimunda, na companhia do padre Bartolomeu Lourenço. Proximidade de Baltasar Mateus (Sete-Sóis), que trava conhecimento com Blimunda assim que esta lhe pergunta o nome. Paixão de Baltasar pelos olhos de Blimunda. União de Bartolomeu Lourenço, Blimunda e Baltasar, após o auto de fé, tendo o ex-soldado acompanhado o padre e Blimunda a casa desta, onde comeram uma sopa. Apresentação de Blimunda como vidente (quando está em jejum vê as pessoas por dentro). Consumação do amor de Baltasar e Blimunda (19 anos, virgem), com esta a prometer que nunca o olhará por dentro.

Capítulo VII Trabalho de Baltasar num açougue. Evolução da gravidez da rainha, tendo o rei de se contentar com uma menina. Rendição das frotas portuguesas do Brasil aos franceses. Visita de Baltasar e Blimunda à zona enfeitada para o batismo da princesa, estando aquele mais cansado do que habitualmente, por carregar tanta carne para o evento. Morte do frade que formulou a promessa real; fidelidade de D. João V à promessa.

Capítulo VIII Relação amorosa de Baltasar e Blimunda. Procura de Baltasar a propósito do misterioso acordar de Blimunda: esta conta-lhe que, em jejum, consegue ver o interior das pessoas; daí comer o pão ao acordar para não ver o interior de Baltasar. Indicação de Blimunda, a Baltasar, acerca do seu dom: vê o interior dos outros e vê a nova gravidez da rainha. Falha na obtenção da tença pedida ao Paço para Baltasar e despedimento do local onde este trabalhava (açougue). Nascimento do segundo filho do rei, o infante D. Pedro. Deslocação de El-rei a Mafra, para escolher a localização do convento (um alto a que chamam Vela).

Capítulo IX Auxílio de Baltasar ao padre Lourenço na construção da passarola, tendo-lhe este dado a chave da quinta do duque de Aveiro, onde se encontra a máquina de voar. Visita de Baltasar à quinta, acompanhado de Blimunda. Inspeção de Blimunda, em jejum, à máquina em construção para descobrir as suas fragilidades. Atribuição, pelo Padre B. Lourenço, dos apelidos de Sete-Sóis e Sete-Luas, respetivamente, a Baltasar e a Blimunda (ele vê às claras e ela vê às escuras). Deslocação do Padre à Holanda, para aprender com os alquimistas a fazer descer o éter das nuvens (necessário para fazer voar a passarola). Realização de novo auto de fé, mas Baltasar e Blimunda permanecem em S. Sebastião da Pedreira. Partida de Baltasar e Blimunda para Mafra e do padre para a Holanda, ficando aqueles responsáveis pela passarola. Ida à tourada, antes de Baltasar e Blimunda partirem de Lisboa.

Capítulo X Visita de Baltasar à família, com apresentação de Blimunda e explicação da perda da mão. Vivência conjunta e harmoniosa na família de Baltasar. Venda das terras do pai de Baltasar, por causa da construção do convento. Trabalho procurado por Baltasar. Comparação entre a morte e o funeral do filho de dois anos da irmã de Baltasar e a morte do infante D. Pedro. Nova gravidez da rainha, desta vez do futuro rei. Comparação dos encontros de Baltasar com Blimunda e do rei com a rainha. A frequência dos desmaios do rei e a preocupação da rainha. O desejo de D. Francisco, irmão do rei, casar com a rainha, à morte deste.

Capítulo XI Regresso de Bartolomeu Lourenço da Holanda, passados três anos, e o abandono da abegoaria (quinta de S. Sebastião da Pedreira). Constatação do padre de que Baltasar cuidara da passarola, conforme lhe havia pedido. Deslocação a Coimbra, passando por Mafra para saber de Baltasar e Blimunda. Reflexão sobre o papel que cada um tem na construção do futuro, não estando este apenas nas mãos de Deus. Atribuição de bênção a quem a pede, deparando o padre, no caminho para Mafra, com trabalhadores (comparados a formigas). Conversa do Padre com um pároco, ficando a saber que Baltasar e Blimunda casaram e onde vivem. Visita do padre ao casal de amigos e conversa sobre a passarola. Bartolomeu Lourenço na casa do padre Francisco Gonçalves, a pernoitar. Encontro de Blimunda e Baltasar com padre B. Lourenço, de manhã muito cedo, quando ela ainda está em jejum. Apresentação, a Baltasar e Blimunda, do resultado de aprendizagem do Padre na Holanda: o éter que fará voar a passarola vive dentro das pessoas (não é a alma dos mortos, mas a vontade dos vivos). Pedido de auxílio do Padre a Blimunda: ver a vontade dos homens (esta consegue ver a vontade do padre) e colhê-la num frasco. Deslocação de Bartolomeu Lourenço a Coimbra para aprofundar os seus estudos e se tornar doutor. Ida de Blimunda e Baltasar para Lisboa: ela, para recolher as vontades; ele, para construir a passarola.

Capítulo XIII Verificação de Baltasar relativamente ao estado enferrujado da máquina, seguida dos arranjos necessários e da construção de uma forja enquanto o padre não chega. Chegada do padre, dizendo a Blimunda que serão necessárias, pelo menos, duas mil vontades para a passarola voar (tendo ela apenas recolhido cerca de trinta). Conselho do Padre para que Blimunda recolha vontades na procissão do Corpo de Deus. Regresso do Padre a Coimbra para concluir os seus estudos. Trabalho de Baltasar e Blimunda na máquina, durante o inverno e a primavera, e chegada, por vezes, do padre com esferas de âmbar amarelo (que guardava numa arca). Perspetivas de a procissão do Corpo de Deus ser diferente do normal. Perda da capacidade visionária de Blimunda, com a chegada da lua nova. Saída da procissão (8 de junho de 1719) - só no dia seguinte, com a mudança da lua, Blimunda recupera o seu poder.

Capítulo XIV Regresso do Padre Bartolomeu Lourenço de Coimbra, doutor em cânones. Novo estatuto do padre: fidalgo capelão do rei, vivendo nas varandas do Terreiro do Paço. Relação do padre com o rei: este apoia a aventura da passarola, exprimindo o desejo de voar nela. Lição de música (cravo) da infanta D. Maria Bárbara (8 anos), sendo o seu professor o maestro Domenico Scarlatti. Conversa do padre com Scarlatti, depois da lição. Audição, em toda a Lisboa, de Scarlatti a tocar cravo, em privado. Scarlatti em S. Sebastião da Pedreira, a convite de Bartolomeu Lourenço (após dez anos de Baltasar e Blimunda terem entrado na quinta). Apresentação a Scarlatti do casal e da máquina de voar. Convite a Scarlatti para visitar a quinta sempre que quiser. Ensaio do sermão de Bartolomeu Lourenço para o Corpo de Deus (tema: Et ego in illo).

Capítulo XV Censura do sermão de Bartolomeu Lourenço por um consultor do Santo Ofício. S. Sebastião da Pedreira recebe o cravo de Scarlatti. Vontade de Scarlatti voar na passarola e tocar no céu. Ida de Baltasar e Blimunda a Lisboa (dominada pela peste), à procura de vontades. Doença estranha de Blimunda, após a recolha de duas mil vontades. Apoio de Baltasar e recuperação de Blimunda após audição da música de Scarlatti. Encontro do casal com o padre Bartolomeu Lourenço. Remorsos de Bartolomeu Lourenço por ter colocado Blimunda em perigo de vida. Vontade de Bartolomeu Lourenço informar o rei de que a máquina está pronta, não sem a experimentar primeiro.

Capítulo XVI Reflexão sobre o valor da justiça. Morte de D. Miguel, irmão do rei, devido a naufrágio. Necessidade de o Rei devolver a quinta de S. Sebastião da Pedreira ao Duque de Aveiro, após anos de discussão na Justiça. Vontade do Padre experimentar a máquina para, depois, a apresentar ao rei. Receio do Padre face ao Santo Ofício: o voo entendido como arte demoníaca. Fuga do Padre, procurado pela Inquisição, na passarola. Destruição da abegoaria para a passarola poder voar. Voo da máquina com o Padre, Baltasar e Blimunda e descrição de Lisboa vista do céu. Abandono do cravo num poço da quinta para Scarlatti não ser perseguido pelo Santo Ofício. Perseguição de Bartolomeu Lourenço pela Inquisição. Divisão de tarefas na passarola e preocupação do Padre: se faltar o vento a passarola começa a cair e o mesmo acontecerá quando o sol se puser. Visão de Mafra a partir do céu: a obra do convento, o mar. Ceticismo dos habitantes que veem a passarola nos céus. Descida e pouso da passarola numa espécie de serra, com a chegada da noite. Tentativa de destruição da passarola, por Bartolomeu Lourenço (fogo), mas Baltasar e Blimunda impedem-no. Fuga do padre e camuflagem da máquina com ramos das moitas, na serra do Barregudo. Chegada de Baltasar e Blimunda, dois dias depois, a Mafra, fingindo que vêm de Lisboa. Procissão em Mafra em honra do Espírito Santo, que sobrevoou as obras da basílica (na perspetiva dos habitantes).

Capítulo XVII Trabalho procurado por Baltasar e Álvaro Diogo com a hipótese de ele trabalhar nas obras do convento. Baltasar na Ilha da Madeira, local de alojamento para os trabalhadores do convento. Descrição da vida nas barracas de madeira (mais de 200 homens que não são de Mafra). Verificação do atraso das obras (feita por Baltasar) - motivos: chuva e transporte dos materiais dificultam o avanço. Notícias de um terramoto em Lisboa. Regresso de Baltasar ao Monte Junto, onde se encontra a passarola. Visita de Scarlatti ao convento e encontro com Blimunda, sendo esta informada de que Bartolomeu de Gusmão morreu em Toledo, no dia do terramoto.

Capítulo XVIII Enumeração dos bens do Império de D. João V. Enumeração dos bens comprados para a construção do convento. Realização de uma missa numa capela situada entre o local do futuro convento e a Ilha da Madeira. Apresentação dos trabalhadores do convento e apresentação de Baltasar Mateus (já com 40 anos).

Capítulo XIX Os trabalhos de transporte de pedra-mãe (Benedictione). Mudança de serviço no trabalho de Baltasar: dos carros de mão à junta de bois. Notícia da necessidade de ir a Pero Pinheiro buscar uma pedra enorme (Benedictione). Trabalho dos homens em época de calor e descrição da pedra. Ferimento de um homem (perda do pé) no transporte da pedra (Nau da Índia). Narrativa de Manuel Milho (história de uma rainha e de um ermitão). Segundo dia do transporte da pedra e retoma da narrativa de Manuel Milho. Chegada a Cheleiros e morte de Francisco Marques (atropelado pelo carro que transporta a pedra) bem como de dois bois. Velório do corpo do trabalhador. Manuel Milho retoma a narrativa. Missa e sermão de domingo. Final da história narrada por Manuel Milho. Chegada da pedra ao local da Basílica, após oito dias de percurso.

Capítulo XX Regresso de Baltasar, na primavera, ao Monte Junto, depois de seis ou sete tentativas. Companhia de Blimunda, passados três anos da descida da passarola, nesse regresso. Confidência de Baltasar ao pai: o destino da sua viagem e o voo na passarola. Renovação da passarola graças à limpeza feita por Baltasar e Blimunda. Descida do casal a Mafra, localidade infestada por doenças venéreas. Morte do pai de Baltasar.

Capítulo XXI Auxílio desmotivado da Infanta D. Maria e do Infante D. José na construção da Basílica de S. Pedro (brinquedo de D. João V). Encomenda de D. João V ao arquiteto Ludovice para construir uma basílica como a de S. Pedro na corte portuguesa. Desencorajamento de Ludovice, convencendo o rei a construir um convento maior em Mafra. Conversa de D. João V com o guarda-livros sobre as finanças portuguesas e preparativos para o aumento da construção do convento em Mafra. Intimação de um maior número de trabalhadores para cumprimento da vontade real. O rei e o medo da morte (que o possa impedir de ver a obra final). Vontade de D. João V em sagrar a basílica no dia do seu aniversário, daí a dois anos (22/10/1730). Chegada de um maior número de trabalhadores a Mafra (500).

Capítulo XXII Casamento da Infanta Maria Bárbara com o príncipe D. Fernando de Castela e casamento do príncipe D. José com Mariana Vitória. Participação de João Elvas no cortejo real para encontro dos príncipes casadoiros. Partida do rei para Vendas Novas. Percurso do rei na direção de Montemor. Trabalho de João Elvas no arranjo das ruas, após chuva torrencial, para que o carro da rainha e da princesa possa prosseguir para Montemor. Esforço dos homens para tirar o carro da rainha de um atoleiro. João Elvas recorda o companheiro Baltasar Mateus junto de Julião Mau-Tempo. Conversa destes e a suspeita de que Baltasar voou com Bartolomeu de Gusmão. Tempo chuvoso no percurso de Montemor a Évora. Lembrança da princesa de que desconhece o convento que se está a erguer em favor do seu nascimento, depois de ver homens presos a serem enviados para trabalhar em Mafra. Encontro do rei com a rainha e os infantes em Évora. Cortejo real dirigido para Elvas, oito dias após a partida de Lisboa para troca das princesas peninsulares. Reis de Espanha em Badajoz. Chegada do rei, da rainha e dos infantes ao Caia, a 19 de janeiro. Cerimónia da troca das princesas peninsulares.

Capítulo XXIII Cortejo de estátuas de santos em Fanhões. Deslocação de noviços para Mafra nas vésperas de sagração do convento. Chegada dos noviços. Regresso de Baltasar a casa depois do trabalho. Ida de Baltasar e Blimunda ao local onde se encontram as estátuas. Apreensão de Blimunda ao saber que passados seis meses Baltasar vai ver a passarola. O casal no círculo das estátuas e reflexão sobre a vida e a morte. Despedida amorosa de Baltasar e Blimunda na barraca do quintal. Chegada de Baltasar à Serra do Barregudo. Entrada de Baltasar na passarola, seguida da queda deste e do voo da máquina.

Capítulo XXIV Espera de Blimunda e posterior busca de Baltasar. Entrada do rei em Mafra. Grito de Blimunda ao chegar ao Monte Junto, depois de descobrir que a passarola não se encontrava no local habitual. Encontro de Blimunda com um frade dominicano que a convida a recolher-se numa ruínas junto ao convento. Tentativa de violação de Blimunda pelo frade e morte deste com o espigão que ela lhe enterra entre as costelas. Blimunda faz o caminho de regresso a casa. A ansiedade de Blimunda depois de duas noites sem dormir. Final das festividades do dia, em Mafra. Informação de Álvaro Diogo sobre quem está para chegar a Mafra. Dia do aniversário do rei e da sagração da basílica. Cortejo assistido por Inês Antónia e Álvaro Diogo, acompanhados por Blimunda. Bênção do patriarca na Benedictione. Final do primeiro dos oito dias de sagração e saída de Blimunda para procurar Baltasar.

Capítulo XXV Procura de Baltasar por Blimunda ao longo de nove anos. Apelido de Blimunda: a voadora. Identificação de Blimunda com a terra onde ela permaneceu por largo tempo a ajudar os que dela se socorriam: Olhos de Água. Passagem de Blimunda por Mafra e tomada de conhecimento da morte de Álvaro Diogo. Sétima passagem desta por Lisboa. Encontro de Blimunda (em jejum) com Baltasar, que está a ser queimado num auto de fé, junto com António José da Silva (O Judeu), em 1739. Recolha da vontade de Baltasar por Blimunda.

MEMORIAL DO CONVENTO

Romance histórico, social e de espaço que articula o plano da história com o plano do fantástico e da ficção.

O título sugere memórias de um passado delimitado pela construção do convento de Mafra e memórias do que de grandioso e trágico tem o símbolo do país.

Intriga à Blimunda imprime à ação uma dinâmica com espiritualidade, ternura e amor.

A relação entre Baltasar e Blimunda transgride todos os códigos.

Narrador + Personagens à análise crítica

Contextualização: D.João V é aclamado rei em 1707, durante a Guerra da Sucessão de Espanha. A obra passa-se no Reinado de D. João V, séc. XVIII, época de luxo e grandeza. D. João V é influenciado pelos diplomatas, intelectuais e estrangeirados. Constrói o convento em Mafra por querer ultrapassar a grandeza do escorial de Madrid e para celebrar o nascimento do seu primeiro filho ( a princesa Maria Bárbara). A Inquisição ocupa-se com a ordem religiosa e moral e as suas vítimas são: cristãos-novos, judeus, hereges, feiticeiros, intelectuais.

Memorial do Convento à narrativa histórica (30 anos da história portuguesa) entrelaçando acontecimentos e personagens verídicos com seres fictícios.

Como ROMANCE HISTÓRICO, oferece-nos: uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa da época, a sumptuosidade da corte, a exploração dos operários, referências à Guerra da Sucessão, autos de fé, construção do convento, construção da passarola pelo Padre Bartolomeu de Gusmão.

Como ROMANCE SOCIAL, é crónica de costumes.

Como ROMANCE DE INTERVENÇÃO, pois apresenta-nos a história repressiva portuguesa.

Saramago propõe um repensar da história portuguesa, através da ficção e com a sua palavra reveladora à mensagem ética.

2 linhas condutoras da ação: construção do convento de Mafra e relação entre Baltasar e Blimunda.

AÇÃO PRINCIPAL à Construção do convento de Mafra: reinvenção da história pela ficção; entrelaçamento de dados históricos com a promessa de D. João V e o sofrimento do povo que trabalhou no convento; situação económica do País; autos de fé; construção da passarola.

ESPAÇOS PRIVILEGIADOS: Lisboa à Terreiro do Paço, S. Sebastião da Pedreira, Rossio; Mafra à Pero Pinheiro, Vela, Torres Vedras, Monte Junto.

OUTROS ESPAÇOS: Jerez de los Caballeros, Montemor, Évora, Elvas, Coimbra, Holanda, Áustria.

Lisboa à cidade que contém em si ricos e pobres
Alentejo à permite conhecer a miséria que o povo passava
Mafra à deu trabalho a muita gente, mas socialmente, destruiu famílias e criou marginalização

TEMPO: as referências temporais são escassas, ou apresentam-se por dedução. As analepses são pouco significativas. A data de 1711, tempo cronológico do início da ação, não surge explícita na obra, mas facilmente se deduz.

NARRAÇÃO: Saramago rejeita a omnipotência do narrador, voz crítica. A voz narrativa controla a ação, as motivações e pensamentos das personagens, mas faz também as suas reflexões e juízos de valor. Os discursos facilmente passam da história à ficção. (Segundo Sartre, estamos perante um narrador privilegiado, com poder de ubiquidade (está dentro da consciência de cada personagem, mas também sabe o antes e o depois)).

CARGA SIMBÓLICA: sugere as memórias evocativas do passado e, além disso, remete para o mítico e misterioso à ao lado da história da construção do convento, surge o fantástico erudito e popular.

MEMORIAL (memórias de uma época - construção do convento, inquisição, passarola, ...) do CONVENTO (construção do convento de Mafra)

PERSONAGENS:

D. João V - Rei de Portugal, rico e poderoso, preocupado com a falta de descendentes, promete levantar convento em Mafra se tiver filhos da rainha

Baltasar Sete-Sóis - maneta, chega a Lx como pedinte, conhece Blimunda, ajuda na construção da passarola, morre num auto de fé

Blimunda Sete-Luas - capacidades de vidente, vê entranhas e vontades, ajuda na construção da passarola, partilha a sua vida com Baltasar, o seu poder permite curar ou criar. Saramago consegue dotá-la de forças latentes e extraordinárias, que permitem ao povo a sobrevivência, mesmo quando as forças da repressão atingem requintes de sadismo.

Padre Bartolomeu de Gusmão - evita a Inquisição devido à amizade com o Rei, apoiado por Baltasar, Blimunda e Scarlatti, morre em Toledo.

O Povo - construiu o convento em Mafra, à custa de muitos sacrifícios e até mesmo algumas mortes. Definido pelo seu trabalho e miséria física e moral, surge como o verdadeiro obreiro da realização do sonho de D. João V.

CRITICA: ironia e sarcasmo à opulência do rei e alguns nobres, ao adultério e corrupção, à Inquisição.

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