Mente, Genética e Desenvolvimento: Conceitos Chave

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A Teoria de António Damásio: Mente, Cérebro e Emoções

António Damásio procura compreender a mente a partir do funcionamento do cérebro. Rejeita o dualismo corpo-mente, afirmando que a mente é uma produção do cérebro. Para Damásio, são os nossos cinco sentidos que dão a conhecer o mundo exterior através de processos de ativação nervosa. As emoções são padrões de ativação nervosa que correspondem a estados do nosso mundo interior. Por exemplo, se vemos aproximar-se um cão com ar feroz, esta imagem ativa o sistema nervoso, aumentando o ritmo cardíaco e acelerando a respiração. As emoções são, portanto, representações cognitivas de estados corporais. Este é um dos mecanismos que leva Damásio a encarar o organismo como uma totalidade em constante interação com os meios exterior e interior: o corpo, o cérebro e a mente agem em conjunto.

O estudo de caso de Phineas Gage constitui uma abordagem inovadora, na medida em que combina os testemunhos do passado com as mais modernas tecnologias. Damásio, através de técnicas de imagiologia cerebral, procurou reconstituir as lesões cerebrais de Gage, relacionando-as com os dados da autópsia e outros registos históricos. Estudam-se, sobretudo, os danos neurológicos nos sistemas emocionais, comparando o funcionamento de cérebros saudáveis com o de cérebros lesionados. É a partir do estudo aprofundado destes casos e com base em experiências que Damásio elabora a sua teoria.

Conceitos Fundamentais em Biologia e Desenvolvimento

Cromossoma

Os cromossomas são estruturas filamentares encontradas no núcleo das células eucarióticas, especialmente visíveis durante a divisão celular. São constituídos principalmente por ADN (ácido desoxirribonucleico) densamente empacotado com proteínas (principalmente histonas). Os cromossomas constituem o suporte físico dos genes e são responsáveis pela organização, replicação e transmissão da informação hereditária de uma geração para a seguinte.

ADN (Ácido Desoxirribonucleico)

O Ácido Desoxirribonucleico (ADN) é uma molécula longa e complexa, com uma estrutura característica em dupla hélice (semelhante a uma escada de corda torcida). Contém a informação genética essencial para o desenvolvimento, funcionamento, crescimento e reprodução de todos os organismos vivos conhecidos e muitos vírus. O ADN é formado por longas cadeias de subunidades chamadas nucleótidos. Cada nucleótido é composto por um grupo fosfato, um açúcar (desoxirribose) e uma de quatro bases azotadas (nitrogenadas):

  • Adenina (A)
  • Timina (T)
  • Citosina (C)
  • Guanina (G)

A sequência específica destas bases ao longo da cadeia de ADN constitui o código genético, que determina as características hereditárias.

Gene

Um gene é um segmento específico de ADN (ou ARN, em alguns vírus) localizado num cromossoma, que serve como unidade fundamental da hereditariedade. Contém a informação (código genético) necessária para a síntese de uma molécula funcional, geralmente uma proteína, ou para regular a expressão de outros genes. Os genes influenciam as características hereditárias de um organismo, como a cor dos olhos, a altura ou a predisposição para certas condições. Um organismo possui muitos genes, que em conjunto formam o seu genoma e determinam as suas características.

Um gene é dito dominante quando a sua característica (ou o traço que ele codifica) se manifesta no fenótipo mesmo que esteja presente em apenas uma cópia (alelo) herdada de um dos progenitores. Um gene é recessivo quando a sua característica só se manifesta se estiver presente em duas cópias idênticas (alelos), uma herdada de cada progenitor.

Existem também genes de desenvolvimento (ou genes reguladores), que controlam a atividade de outros genes, orquestrando o complexo processo de construção e desenvolvimento do organismo desde a fase embrionária. São cruciais para compreender a evolução das espécies (filogénese) e o desenvolvimento individual (ontogénese).

Genótipo

O genótipo é a constituição genética completa de um indivíduo, ou seja, o conjunto de todos os genes (e suas variantes, os alelos) herdados dos seus progenitores. O genótipo representa o potencial genético de um organismo, que pode ou não ser totalmente expresso no seu fenótipo, dependendo da interação com fatores ambientais e da regulação génica.

Fenótipo

O fenótipo é o conjunto de todas as características observáveis de um indivíduo. Estas incluem características físicas (anatómicas, morfológicas), fisiológicas, bioquímicas e comportamentais. O fenótipo resulta da complexa interação entre o genótipo do indivíduo e o meio ambiente (incluindo fatores internos e externos) ao longo do seu desenvolvimento. Corresponde à expressão do genótipo, modulada por influências ambientais e epigenéticas.

Programa Genético

Programa Genético Aberto

Refere-se a um tipo de dotação genética que confere maior plasticidade e adaptabilidade ao organismo ao longo da sua vida, sendo menos determinista quanto aos resultados do desenvolvimento. No ser humano, o programa genético é considerado marcadamente aberto. Isto significa que, embora a nossa herança biológica defina certas predisposições e etapas maturacionais (ex: puberdade), o desenvolvimento individual é amplamente moldado pela aprendizagem, pela experiência e pela interação com um ambiente sociocultural complexo. Esta abertura é fundamental para a diversidade e complexidade do comportamento humano e para a capacidade de adaptação a diferentes contextos.

Programa Genético Fechado

Refere-se a um tipo de dotação genética que determina de forma mais rígida e previsível o desenvolvimento e os comportamentos de uma espécie. Há pouca margem para a influência ambiental ou para a aprendizagem modificar significativamente os traços ou comportamentos programados. Este tipo de programa é mais comum em espécies com comportamentos instintivos complexos e pouco variáveis de indivíduo para indivíduo, garantindo a execução de comportamentos essenciais à sobrevivência e reprodução em ambientes estáveis.

Teorias do Desenvolvimento Ontogenético

Epigénese

A Teoria da Epigénese (ou epigenetismo) postula que o desenvolvimento de um organismo não é a simples expansão de estruturas pré-formadas no gâmeta (ovo ou espermatozoide). Pelo contrário, o desenvolvimento é um processo construtivo e dinâmico, caracterizado por crescimento, diferenciação celular progressiva e morfogénese (formação de estruturas e órgãos complexos a partir de formas mais simples). Este processo resulta da interação contínua e recíproca entre o material genético (genoma) e múltiplos fatores ambientais (internos e externos) ao longo do tempo.

Preformismo

O Preformismo foi uma teoria biológica antiga (predominante nos séculos XVII e XVIII) que defendia que o organismo já se encontrava completamente formado, em miniatura (designado homúnculo), dentro do gâmeta (seja o óvulo – ovistas – ou o espermatozoide – espermistas). O desenvolvimento embrionário consistiria apenas no crescimento dessa miniatura pré-existente. Esta teoria enfatizava a determinação puramente genética do desenvolvimento, minimizando ou ignorando o papel da diferenciação celular, da interação com o ambiente e dos processos construtivos e de auto-organização que caracterizam a epigénese.

Ontogénese e Filogénese

Ontogénese

A ontogénese (ou ontogenia) designa o processo de desenvolvimento de um organismo individual ao longo de toda a sua vida, desde a sua origem (geralmente a fertilização do óvulo, formando o zigoto) até à maturidade e, eventualmente, à morte. Envolve todas as transformações estruturais, funcionais e comportamentais que ocorrem durante o ciclo de vida do indivíduo, resultantes da interação entre o seu genótipo e o ambiente.

Filogénese

A filogénese (ou filogenia) refere-se à história evolutiva de uma espécie ou de um grupo taxonómico de espécies relacionadas (uma linhagem). É o estudo das relações de parentesco evolutivo entre os seres vivos e dos processos biológicos (como mutação, seleção natural, deriva genética, especiação) que explicam a origem, a diversificação e as transformações das linhagens ao longo do tempo geológico. A filogénese traça a árvore da vida, mostrando como as diferentes espécies evoluíram a partir de ancestrais comuns.

Tipos de Hereditariedade

A hereditariedade é a transmissão de características genéticas dos progenitores para a sua descendência, através dos genes. Distinguem-se principalmente dois tipos:

  • Hereditariedade Específica: Refere-se à transmissão da informação genética que é comum e partilhada por todos os indivíduos de uma mesma espécie. Esta herança determina as características gerais da espécie, como a morfologia básica (ex: em humanos, ter dois braços, um cérebro com determinada estrutura), os processos fisiológicos fundamentais e alguns padrões comportamentais inatos. Garante a identidade e a continuidade da espécie.
  • Hereditariedade Individual: Refere-se à transmissão da combinação única de alelos (variantes de genes) que cada indivíduo herda dos seus progenitores. Esta informação genética é responsável pelas características particulares que distinguem um indivíduo de todos os outros membros da sua espécie (ex: cor específica dos olhos, tipo de cabelo, altura, certas predisposições temperamentais ou para doenças). É o que confere a singularidade biológica a cada ser vivo.

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