Métodos de Avaliação de Investimentos: Payback e VPL

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Métodos de Avaliação Econômica de Investimentos

Técnicas de Orçamento de Capital

Quando as empresas concluem o desenvolvimento dos fluxos de caixa, elas obtêm condições de saber se o projeto é aceitável ou realizam a classificação de acordo com os objetivos e metas que têm para o projeto. Há várias técnicas que podem ser empregadas para realizar esta análise, sendo que as abordagens mais comuns envolvem a integração de procedimentos, os quais têm por objetivo verificar o valor do dinheiro no tempo, “considerações quanto a risco e retorno e conceitos de avaliação para selecionar investimento/projetos de capital condizentes com os objetivos da empresa de maximizar a riqueza dos proprietários” (Gitman, Zottolo).

As ferramentas e métodos usados no orçamento de capital concentram-se na comparação entre investimento e retorno, ou entre rendimentos e custos associados a um ativo de longo prazo.

A seguir, apresentam-se algumas das principais ferramentas de avaliação de orçamento de capital:

  • VPL (Valor Presente Líquido): Trata da diferença entre seu valor de mercado e seu custo.
  • TIR (Taxa Interna de Retorno): Taxa de desconto que iguala o VPL estimado de um projeto a zero no momento 0.
  • Payback: Período de payback é o prazo necessário para que os fluxos de caixa de um investimento se igualem ao seu custo.

Período de Payback

Definição

“O método de payback é uma ferramenta simples, fácil e direta, que estima o prazo necessário para se recuperar o investimento realizado” (Bruni, Famá, 2007).

O payback pode ser calculado de duas formas:

  • Payback Simples: Não considera o custo de capital da empresa.
  • Payback Descontado: Considera o custo de capital da empresa.

Gitman (2010) afirma que payback é o tempo necessário para que a empresa recupere o investimento inicial do projeto, calculado a partir das entradas de caixa.

No caso de uma anuidade, o período de payback pode ser encontrado dividindo-se o investimento inicial pela entrada anual de caixa.

(Se as entradas líquidas forem uniformes, bastará dividir o investimento inicial pelas entradas anuais de caixa (Braga, 1996)).

No caso de uma série mista de entradas de caixa, as entradas anuais precisam ser acumuladas até a recuperação do investimento inicial.

(Quando as entradas anuais forem desiguais, estas deverão ser acumuladas até atingir o valor do investimento, apurando-se o prazo de retorno (Braga, 1995)).

De acordo com Braga (1995), quanto mais amplo for o horizonte de tempo considerado, maior será o grau de incerteza nas previsões. Deste modo, propostas de investimentos com tempo menor apresentam melhor liquidez e, consequentemente, menor risco.

Critérios de Decisão

Quando usamos o período de payback para tomar decisões de aceitação/rejeição, aplicam-se os seguintes critérios:

  • Se o período de payback for menor que o período máximo aceitável para a recuperação do investimento, o projeto é aceito.
  • Se o período de payback for maior do que o período máximo aceitável para recuperação do investimento, o projeto é rejeitado.

Obs.: A duração do período máximo de payback é definida pela direção da empresa.

Payback Simples

Para obter o payback simples de um projeto, basta verificar o tempo necessário para que o saldo do investimento (soma dos fluxos de caixa colocados e gerados pelo investimento) seja igual a zero. Como o payback simples não considera o custo de capital, a soma do saldo do investimento pode ser feita com base nos valores nominais (nas datas futuras) (Bruni, Famá, 2007).

Na concepção de grandes investimentos, quanto maior o tempo de retorno (payback) do capital investido, maior o risco de perda.

Projetos que recuperam o capital investido mais cedo podem ser considerados mais atraentes, visto que todas as receitas obtidas após esse período no tempo podem ser consideradas como lucro.

Exemplo 1: Payback Simples (Fluxos Uniformes)

Determinada construtora estuda a possibilidade de compra de um novo equipamento. Os gastos associados à aquisição estão estimados em R$ 70.000,00 e os fluxos de caixa incrementais projetados estão estimados em R$ 20.000,00 por ano ao longo de 7 anos. O valor residual do equipamento é considerado nulo. O prazo de retorno do capital para que este projeto seja aceito deve ser inferior ou igual a 5 anos.

Verifique o prazo de retorno do projeto e se a empresa deve realizar o investimento.

AnoFluxo de CaixaSaldo Acumulado
0(70.000,00)(70.000,00)
120.000,00(50.000,00)
220.000,00(30.000,00)
320.000,00(10.000,00)
420.000,0010.000,00
520.000,0030.000,00
620.000,0050.000,00
720.000,0070.000,00

Cálculo: Payback = 3 anos + (Valor Faltante / Fluxo do Ano Seguinte) = 3 + (10.000,00 / 20.000,00) = 3 + 0,5 = 3,5 anos.

Decisão: Como 3,5 anos é inferior a 5 anos, o projeto deve ser aceito.

Exemplo 2: Payback Simples (Fluxos Mistos)

Determinada indústria de polpas deseja adquirir um novo equipamento para ampliar a produção. Os gastos associados à aquisição estão estimados em R$ 90.000,00, e os fluxos de caixa estão dispostos conforme tabela apresentada a seguir. O valor residual do equipamento é considerado nulo. O prazo de retorno do capital para que este projeto seja aceito deve ser igual ou inferior a 2 anos e 8 meses.

Verifique o prazo de retorno do projeto e se a empresa deve realizar o investimento.

AnoFluxo de CaixaSaldo Acumulado
0(90.000,00)(90.000,00)
140.000,00(50.000,00)
240.000,00(10.000,00)
350.000,0040.000,00

Cálculo:

  • Payback = 2 anos + (Valor Faltante / Fluxo do Ano Seguinte)
  • Payback = 2 + (10.000,00 / 50.000,00)
  • Payback = 2 + 0,2 = 2,2 anos

Conversão para meses e dias:

  • Meses = 0,2 * 12 = 2,4 meses
  • Dias = 0,4 * 30 = 12 dias

Resultado: 2 anos, 2 meses e 12 dias.

Decisão: O prazo máximo aceitável é 2 anos e 8 meses. Como 2 anos, 2 meses e 12 dias é inferior a 2 anos e 8 meses, o projeto deve ser aceito.

Payback Descontado

É um aperfeiçoamento do payback simples (tradicional), em que os fluxos de caixa recebem tratamento financeiro e são trazidos a valor presente utilizando uma taxa de retorno (custo de capital) para se descobrir o seu valor presente. Assim, evitando-se distorções com a questão do valor do dinheiro no tempo, a qualidade dos resultados e a tomada de decisão assertiva podem ser consideravelmente aumentadas.

Obs.: Quando o custo do capital é considerado na análise, o método do payback passa a ser payback descontado (Bruni, Famá, 2007).

Principais Vantagens

  • Seu valor pode ser interpretado como o prazo de recuperação do capital investido, remunerado de acordo com o custo de capital do projeto. Valores obtidos além da data do payback descontado contribuirão com os lucros.
  • Pode ser interpretado também como um ponto de equilíbrio. Enquanto o método payback simples representaria um ponto de equilíbrio contábil, o método de payback descontado representaria um ponto de equilíbrio financeiro.

Desvantagens

  • O método do payback descontado não considera todos os fluxos de caixa do projeto (apenas até a recuperação do investimento): existe uma tendência de aceitação de projetos mais curtos com menor rentabilidade em detrimento de projetos mais longos e rentáveis.
  • O método do payback descontado não é uma medida de rentabilidade do investimento; mede apenas o prazo necessário para a recuperação do capital investido, remunerado de acordo com o custo de capital.

Exemplo 1: Payback Descontado

Calcule o payback descontado considerando um capital inicial de R$ 400,00 a um custo de capital de 15% a.a. Deve ser considerado ainda um fluxo de caixa com entradas de R$ 200,00 ao longo de 3 anos.

AnoFluxo de CaixaFluxo de Caixa Descontado (15%)Saldo do Investimento Acumulado
0(400,00)(400,00)(400,00)
1200,00173,91(226,09)
2200,00151,23(74,86)
3200,00131,5056,64

Cálculo do Fluxo de Caixa Descontado (Exemplo Ano 1):

VP = FV / (1 + i)^n
VP = 200 / (1 + 0,15)^1 = 173,91

Cálculo do Payback Descontado:

  • Payback Desc. = 2 anos + (Valor Faltante / Fluxo Descontado do Ano Seguinte)
  • Payback Desc. = 2 + (74,86 / 131,50)
  • Payback Desc. = 2 + 0,569 = 2,57 anos (aproximadamente)

Conversão para meses e dias:

  • Meses = 0,57 * 12 = 6,84 meses
  • Dias = 0,84 * 30 = 25,2 dias

Resultado: 2 anos, 6 meses e 25 dias (aproximadamente).


Exercícios - Payback

01- A área financeira de uma grande companhia recebeu do departamento técnico-operacional um novo projeto de investimento, com as seguintes características:

Valor do InvestimentoFluxo de Caixa
Ano 1Ano 2Ano 3Ano 4Ano 5
1.000.000,00340.000,00300.000,00200.000,00500.000,00600.000,00

Admitindo única e exclusivamente as informações recebidas para analisar o prazo de retorno do investimento pelo período do payback simples, qual o tempo em anos, meses e dias do projeto?

02- A viabilidade de um projeto depende do investimento inicial e dos benefícios sucessivos de entrada ao longo de um período de tempo. Considerando um investimento inicial de 600 mil reais, sendo as entradas apresentadas no quadro abaixo e um custo de capital de 10% a.a., é possível avaliar o projeto. Calcule o payback simples e descontado para o projeto em anos e meses.

AnoFluxo de Caixa
0R$ (600.000,00)
1R$ 200.000,00
2R$ 100.000,00
3R$ 200.000,00
4R$ 250.000,00
5R$ 80.000,00
6R$ 100.000,00

03- A Cia. Pantanal S/A está estudando duas alternativas de investimento, com as características abaixo. Sabe-se que o custo de capital do projeto A é de 6% a.a., e do projeto B 4% a.a. Dessa forma, calcule o período de payback descontado de ambos os projetos em anos e meses.

ProjetosValor do InvestimentoFluxo de Caixa
Ano 1Ano 2Ano 3Ano 4
A3.000.000,00600.000,00800.000,001.500.000,001.800.000,00
B5.000.000,002.000.000,002.500.000,001.500.000,001.800.000,00

04- Uma empresa realizou um investimento inicial no valor de R$ 100 mil, projetando-se um retorno de R$ 20 mil em cada um dos 6 anos, exceto no segundo ano, onde se projeta um prejuízo de R$ 5 mil. De posse dessas informações, calcule o período de payback simples para o investimento.

Valor Presente Líquido (VPL)

O método de Valor Presente Líquido (VPL) tem como finalidade medir, em termos de valor presente, o impacto dos fluxos de caixa futuros associados a um projeto ou uma alternativa de investimento. Ou seja, mede o valor presente dos fluxos de caixa gerados pelo projeto ao longo de sua vida útil, descontados a uma taxa apropriada, e subtrai o investimento inicial. Como o próprio nome já revela, Valor Presente Líquido ou Valor Atual Líquido resulta da soma algébrica de todos os fluxos de caixa trazidos para a data zero.

Em caso de projetos de investimento, onde é feito um desembolso inicial com objetivo do recebimento de uma série de fluxos de caixa futuros, ele representa o valor presente líquido desses recebimentos menos o investimento inicial.

Desta forma, é possível afirmar que o VPL é o valor presente dos fluxos de caixa futuros descontados a uma taxa de juros apropriada (custo de capital), menos o valor do investimento inicial. O VPL é um método de avaliação de investimento que se baseia na estimativa (previsão) dos fluxos de caixa futuros.

Para a utilização do VPL, a empresa inicialmente deve definir uma Taxa Mínima de Atratividade (TMA) sobre o capital investido.

Taxa Mínima de Atratividade (TMA): É a taxa mínima que uma proposta de investimento deverá produzir para ser considerada atraente. A TMA é um parâmetro subjetivo e espelha a política de investimento da empresa.

Este parâmetro é definido em função do grau de risco do investimento, disponibilidade do capital, do custo para a possível obtenção desse capital, entre outros.

Em linhas gerais, o VPL é utilizado para calcular a atratividade de um investimento, dando subsídio para a decisão entre diversos projetos que possam estar no radar de interesses da organização.

O VPL é importante ferramenta também para encontrar projetos ou alternativas de investimento que tragam mais retorno para seus investidores. Seu cálculo reflete as diferenças entre o consumo presente e o consumo futuro, e considera também as incertezas dos fluxos de caixa futuros.

Critério de Decisão

  • VPL >= 0: Projeto economicamente viável, ou seja, o projeto proporcionará, na pior das hipóteses, retorno igual ao custo de capital exigido sobre o desembolso feito. Projeto pode ser aceito.
  • VPL < 0: Projeto economicamente inviável. Deve ser rejeitado.

Obs.: Na condição de termos vários projetos mutuamente exclusivos possíveis para o mesmo capital, deve ser escolhido aquele que apresenta maior VPL, pois é o que apresenta maior rentabilidade financeira líquida em termos absolutos.

Cálculo do VPL

O VPL possui o mesmo mecanismo de cálculo do valor presente, contudo, deve-se subtrair o investimento inicial (geralmente na data zero) da soma dos valores presentes dos fluxos de caixa futuros.

Fórmula:

VPL = Σ [ FCt / (1 + i)^t ] - Investimento Inicial

Onde:

  • VPL = Valor Presente Líquido
  • FCt = Fluxo de Caixa no período t
  • i = Taxa Mínima de Atratividade (TMA) ou Custo de Capital
  • t = Período de tempo (de 1 até n)
  • n = Vida útil do projeto em períodos
  • Investimento Inicial = Desembolso na data zero

Exemplo 1: Cálculo do VPL

Uma empresa estuda a possibilidade de reformar uma máquina. A reforma está orçada em R$ 200.000,00 e dará uma sobrevida de 5 anos ao equipamento, proporcionando uma diminuição dos custos operacionais (ou seja, uma entrada de caixa relativa) na ordem de R$ 75.000,00 ao ano. Considerando o custo de capital de 15% ao ano, analise a viabilidade econômica da reforma do equipamento usando o VPL.

Cálculo:

VPL = [75.000/(1+0,15)^1] + [75.000/(1+0,15)^2] + [75.000/(1+0,15)^3] + [75.000/(1+0,15)^4] + [75.000/(1+0,15)^5] – 200.000
VPL = 65.217,39 + 56.710,77 + 49.313,71 + 42.881,49 + 37.288,25 – 200.000
VPL = 251.411,61 – 200.000
VPL = 51.411,61

Resultado: O VPL é positivo (R$ 51.411,61), portanto, o projeto é economicamente viável.

Cálculo na HP 12C:

f CLEAR FIN
200000 CHS g CF0  (Investimento inicial)
75000 g CFj     (Fluxo de caixa anual)
5 g Nj          (Número de vezes que o fluxo se repete)
15 i            (Taxa de desconto)
f NPV           (Calcula o VPL)

Resultado na HP 12C: 51,411.62 (pode variar ligeiramente devido a arredondamentos)

Vantagens do VPL

  • Leva em conta o valor do dinheiro no tempo.
  • Leva em conta o custo de capital da empresa (TMA) e o risco associado aos fluxos.
  • Pode ser aplicado a qualquer padrão de fluxo de caixa (uniforme ou misto).
  • Mede diretamente a adição de valor ao patrimônio da empresa.

Desvantagens do VPL

  • Exige conhecimento de diversos parâmetros, principalmente no que tange a uma precisa estimativa dos fluxos de caixa futuros que serão utilizados para análise.
  • Exige muita atenção e critério na definição da TMA, que será utilizada como parâmetro de desconto.
  • Pode ser mais complexo de calcular e explicar do que o payback simples.

Exemplo 2: Cálculo do VPL (Fluxos Mistos)

Uma indústria está com intenção de adquirir um equipamento ainda neste ano (considerado ano 0), no valor de R$ 55.000,00, que deverá proporcionar receitas a partir do ano 1, conforme tabela a seguir:

  • Ano 1: R$ 15.500,00
  • Ano 2: R$ 18.800,00
  • Ano 3: R$ 17.200,00
  • Ano 4: R$ 17.200,00
  • Ano 5: R$ 17.200,00
  • Ano 6: R$ 13.500,00

Sabe-se que o valor residual estimado de revenda do equipamento no final do ano 6 é de R$ 9.000,00 (que deve ser somado ao fluxo de caixa do último ano) e que a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) é de 21% ao ano. Calcule o VPL.

Fluxo de Caixa Ano 6 = Receita + Valor Residual = 13.500 + 9.000 = R$ 22.500,00

Cálculo na HP 12C:

f CLEAR FIN
55000 CHS g CF0
15500 g CFj
18800 g CFj
17200 g CFj
17200 g CFj
17200 g CFj
22500 g CFj
21 i
f NPV

Resultado: VPL = 2.183,98

Decisão: Como o VPL é positivo, o projeto é economicamente viável.

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