Métodos Científicos: Conceito, Tipos e Aplicações

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Conceito de Método

É o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. Não há ciência sem o emprego de métodos científicos.

Desenvolvimento Histórico do Método

O desenvolvimento histórico do método de pesquisa, de acordo com Lakatos & Marconi:

Somente no século XVI é que se iniciou uma linha de pensamento que propunha encontrar um conhecimento embasado em maiores garantias, na procura do real. Não se buscam mais as causas absolutas ou a natureza íntima das coisas; ao contrário, procuram-se compreender as relações entre elas, assim como a explicação dos acontecimentos, através da observação científica aliada ao raciocínio (1995, p. 41).

Etapas do Método Científico

O Método Científico é a teoria da investigação e alcança seus objetivos de forma científica quando cumpre ou se propõe a cumprir as seguintes etapas:

  • Descobrimento do problema;
  • Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema;
  • Tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados;
  • Invenção de novas ideias ou de novos dados empíricos (hipóteses, teorias ou técnicas que prometem resolver o problema);
  • Obtenção de uma solução (exata ou aproximada) com auxílio do instrumental conceitual ou empírico;
  • Investigação das consequências da solução obtida;
  • Prova (comprovação) da solução;
  • Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta.

Método Indutivo

Indução é um processo mental que, partindo de dados particulares suficientemente constatados, infere uma verdade geral ou universal contida nas partes examinadas.

O objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que as premissas nas quais se basearam. Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provavelmente verdadeira, mas não necessariamente verdadeira. A conclusão encerra informação que não estava, nem implicitamente, nas premissas. A marca da indução é a argumentação.

Leis, Regras e Fases do Método Indutivo

A indução realiza-se em três etapas ou fases:

  1. Observação dos fenômenos: finalidade de descobrir as causas.
  2. Descoberta da relação entre eles: através da comparação, descobrir se a relação é constante.
  3. Generalização da relação: generaliza-se a relação encontrada entre os fatos.

Para que não haja equívocos no trabalho de indução, impõem-se três etapas:

  • Evitar confusão entre o acidental e o essencial;
  • Evitar aproximações entre fenômenos e fatos diferentes onde a semelhança é acidental;
  • Não perder de vista o aspecto quantitativo dos fatos ou fenômenos.

Essas etapas repousam no determinismo observado na natureza, segundo o qual nas mesmas circunstâncias produzem os mesmos efeitos e, o que é frequentemente verdadeiro, torna-se verdadeiro para todo o fato ou fenômeno, universalmente.

Justificativa da Indução

A utilização da indução leva à formulação de duas perguntas:

  1. Qual a justificativa para as inferências indutivas? Resposta: Temos expectativas e acreditamos que exista certa regularidade nas coisas, e, por esse motivo, o futuro será como o passado.
  2. Qual a justificativa para a crença de que o futuro será como o passado? Resposta: São, principalmente, as observações feitas no passado.

Formas de Indução

Completa ou Formal
Induz todos os casos, sendo que cada um dos elementos inferiores é comprovado pela experiência. Não leva a novos conhecimentos, por isso não tem influência para o progresso da ciência.
Incompleta ou Científica
Fundamenta-se na causa ou na lei que rege o fenômeno ou fato, constatada em um número significativo de casos, mas não em todos eles. Os casos devem ser provados e experimentados suficientemente para que sejam afirmados legitimamente os dados, e é necessário analisar e descartar a possibilidade de variações provocadas por circunstâncias acidentais.

A força indutiva dos argumentos por enumeração justifica-se nos princípios de que: quanto maior a amostra, maior a força indutiva do argumento; e quanto mais representativa a amostra, maior a força indutiva do argumento.

A amostra insuficiente e a amostra tendenciosa são casos que interferem na legitimidade da força indutiva, pois dados insuficientes e amostras não representativas da população não sustentam um argumento.

Método Dedutivo

Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira. Toda a informação ou conteúdo fatual da conclusão já estava, pelo menos implicitamente, nas premissas. A marca da dedução é a observação. Tem por objetivo explicar o conteúdo das premissas.

Dentre os argumentos dedutivos está o argumento condicional válido que, em suas duas vertentes, inclui:

  • O modus ponens: que é a afirmação do antecedente, onde a primeira premissa é um enunciado condicional e a segunda coloca o antecedente desse mesmo condicional, concluindo que é então consequente da primeira premissa;
  • E o modus tollens: que é a negação do consequente, onde o fato de que a primeira premissa é um condicional, sendo a segunda uma negação do consequente desse mesmo condicional.

Método Hipotético-Dedutivo

A ciência começa e termina com problemas.

Etapas segundo Karl Popper

  1. Surgimento do problema: surge de conflitos ante expectativas e teorias existentes;
  2. Conjecturas: novas teorias, solução proposta, dedução de consequências na forma de proposições passíveis de teste;
  3. Tentativa de Falseamento: eliminação de erros, tentativas de refutação, entre outros meios, pela observação e experimentação.

Etapas segundo Mario Bunge

  1. Colocação do problema:
    • Reconhecimento dos fatos – seleção dos fatos relevantes.
    • Descoberta do problema – identificação de incoerências.
    • Formulação do problema – redução do problema a um núcleo significativo com condições de resolução.
  2. Construção de um modelo teórico:
    • Seleção dos fatores pertinentes – invenção de suposições plausíveis e pertinentes.
    • Invenção das hipóteses centrais e das suposições auxiliares – proposta de um conjunto de suposições que sejam concernentes a supostos nexos entre as variáveis.
  3. Dedução de consequências particulares:
    • Procura de suportes racionais – dedução de consequências particulares que possam ter sido verificadas.
    • Procura de suportes empíricos – elaboração de predições ou retrodições tendo por base o modelo teórico e dados empíricos.
  4. Testes das hipóteses:
    • Esboço da prova – determinação e planejamento das operações instrumentais.
    • Execução da prova – realização das operações planejadas e nova coleta de dados.
    • Elaboração dos dados – classificação, análise e outros entre os dados empíricos coletados.
    • Inferência da conclusão – interpretação dos dados coletados.
  5. Adição ou introdução das conclusões na teoria:
    • Comparação das conclusões com as predições e retrodições – contraste dos resultados da prova com consequências deduzidas do modelo teórico.
    • Reajuste do modelo – eventual correção do modelo.
    • Sugestões para trabalhos posteriores – procura dos erros ou na teoria ou nos procedimentos empíricos ou confirmação.

Método Dialético

Compreende um conjunto de processos onde as coisas não estão acabadas, mas sim em constante e ininterrupta mudança e em progressivo desenvolvimento. O fim de um processo é sempre o início de outro.

Leis Propostas do Método Dialético

  1. Ação Recíproca, Unidade Polar ou Tudo se Relaciona: É a interdependência, ou seja, nenhum fenômeno pode ser compreendido quando analisado isoladamente, pois, não importa em que domínio ele ocorre, pode ser convertido num contrassenso quando considerado fora das condições que o cercam.
  2. Mudança Dialética, Negação da Negação ou Tudo se Transforma: Se todas as coisas se movem, se transformam, se desenvolvem, significa que constituem processos. Toda extinção das coisas é relativa, limitada, mas seu desenvolvimento, transformação ou evolução é absoluto. A negação da negação tem algo positivo, sendo negação e afirmação noções polares. A negação da afirmação implica negação, mas a negação da negação implica afirmação. Uma dupla negação em dialética resulta numa nova coisa, engendrando novas coisas ou propriedades. Como lei do pensamento, assume a seguinte forma:
    • O ponto de partida é a tese (proposição positiva);
    • Essa proposição se nega ou se transforma em sua contrária – a antítese (segunda fase do processo);
    • Quando a antítese é, por sua vez, negada, obtém-se a síntese (terceira proposição), que é a negação da tese e da antítese, mas por intermédio de uma proposição positiva superior – a obtida por meio de dupla negação.
  3. Passagem da Quantidade à Qualidade ou Mudança Qualitativa: Analisa a mudança contínua, lenta e descontínua, através de saltos. Em certos graus de mudança quantitativa, produz-se, subitamente, uma conversão qualitativa. Denomina-se mudança quantitativa o simples aumento ou diminuição de quantidade. A mudança qualitativa seria a passagem de uma qualidade ou de um estado para outro.
  4. Interpretação dos Contrários, Contradição ou Luta dos Contrários: Todos têm um lado negativo e um lado positivo, um passado e um futuro, elementos que desaparecem e elementos que se desenvolvem. A luta desses contrários é o conteúdo interno do processo de desenvolvimento, da conversão das mudanças quantitativas em mudanças qualitativas. Destacam-se as características:
    • A contradição é interna: toda realidade é movimento e não há movimento que não seja consequência de uma luta de contrários, de sua contradição interna.
    • A contradição é inovadora: é necessário frisar que a contradição é a luta entre os contrários e onde há contradição há a presença do novo.
    • Unidade dos contrários: a contradição encerra dois termos que se opõem e, para isso, é preciso que seja uma unidade, a unidade dos contrários que é condicionada, temporária, passageira e relativa.

Métodos Específicos das Ciências Sociais

O Método e os Métodos

Situam-se em níveis claramente distintos. Na tentativa de fazer distinção entre os termos, pode-se dizer que o método de abordagem caracteriza-se por uma abordagem mais ampla. Temos então o método de abordagem discriminado por:

  • Método Indutivo
  • Método Dedutivo
  • Método Hipotético-Dedutivo
  • Método Dialético

Os métodos de procedimento seriam etapas mais concretas da investigação, com finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos e menos abstratas.

Método Histórico

Consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje. É o conjunto de técnicas para descrever os acontecimentos históricos ocorridos e registrados através de pesquisa de fontes disponíveis.

Método Comparativo

Permite analisar o dado concreto, deduzindo do mesmo os elementos constantes, abstratos e gerais. É usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento. É empregado em estudos de largo alcance e de setores concretos, assim como para estudos qualitativos e quantitativos.

Método Monográfico

Consiste em abranger o conjunto das atividades de um grupo social particular (como um grupo indígena, por exemplo), estudando a vida do grupo na sua unidade concreta, evitando a prematura dissociação de seus elementos.

Método Tipológico

Apresenta semelhanças com o método comparativo. Ao comparar fenômenos sociais complexos, o pesquisador cria tipos e modelos ideais, constituídos a partir da análise de aspectos essenciais do fenômeno. A característica do tipo ideal é não existir na realidade, mas servir de modelo para a análise e compreensão dos casos concretos. Só podem ser objeto do método tipológico os fenômenos que se prestam a uma divisão, a uma dicotomia do tipo e não tipo.

Método Funcionalista

Estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema organizado de atividades. Considera, de um lado, a sociedade como estrutura complexa de grupos e indivíduos, reunidos numa trama de ações e reações sociais; de outro, como um sistema de instituições correlacionadas entre si, agindo e reagindo umas em relação às outras. Envolve a afirmação dogmática da interação funcional de toda a sociedade, onde cada parte tem uma função específica a desempenhar no todo.

Método Estruturalista

Caminha do concreto para o abstrato e vice-versa, dispondo, na segunda etapa, de um modelo para analisar a realidade concreta dos diversos fenômenos. Parte da investigação de um fenômeno concreto, eleva-se a seguir ao nível do abstrato, por intermédio da constituição de um modelo que represente o objeto de estudo, retornando por fim ao concreto, dessa vez como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social.

Método Etnográfico

Diz respeito a aspectos culturais. É um modo de investigar naturalista, baseado na observação, descritivo, contextual, que combina o ponto de vista do observador interno com o externo e descreve e interpreta a cultura. Seus processos de investigação incluem:

  • Manter e desenvolver uma relação com as pessoas geradoras de dados;
  • Empregar uma variedade de técnicas para coletar o maior número de dados;
  • Permanecer no campo tempo suficiente para assegurar uma interpretação correta dos fatos e discriminar o que é regular e/ou irregular;
  • Utilizar teorias e conhecimentos para guiar e informar as observações coletadas.

Método Clínico

Utilizado tanto sob aspecto qualitativo quanto quantitativo, pode incluir intenção, significado, valores, etc. Características:

  • Relação íntima entre o clínico e o sujeito;
  • Emprego de uma série de dados ou sinais.

A flexibilidade do método clínico depende da capacidade do pesquisador nas condições fundamentais de apoio teórico e domínio do contexto.

Métodos e Quadros de Referência

Os métodos de procedimento muitas vezes são usados em conjunto, com a finalidade de obter vários enfoques do objeto de estudo. Pode-se desenvolver um estudo dispondo do uso concomitante de diversos métodos.

Quadros de referência utilizam o método de abordagem e os métodos de procedimento em conjunto para estudo de um fenômeno.

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