Mídia, Sociedade e Notícias na Era Digital: Uma Análise
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1. Mídia e Tecnologia como Ambiente Ubíquo
- Ubíquos, invasivos, invisíveis (Deuze, Jansson).
- "Life in Media" (Deuze, 2023): vivemos dentro do ambiente midiático.
2. Ondas de Midiatização: Da Imprensa à Datificação
- Mecanização (1450-1800): Imprensa de Gutenberg, difusão do conhecimento.
- Eletrificação (1800-1950): Rádio, cinema, TV, simultaneidade.
- Digitalização (1950-): Internet, computadores, convergência midiática.
- Datificação (2000-): Big Data, vigilância, capitalismo de dados.
3. Processos de Integração Midiática na Sociedade
- Extensão, Substituição, Fusão, Acomodação (Schulz).
- Exemplo: Smartphones estendem a comunicação; redes sociais substituem espaços públicos.
4. O Sistema Hipermidiático de Carlón
- Mídia de Massas: Verticais, profissionais.
- Mídia Social: Horizontais, participativos.
- Mídia Individual: Fechados, pessoais, encriptados.
5. Lógica da Circulação Hipermidiática
- Conteúdos são remediados (Bolter & Grusin).
- A circulação reinterpreta mensagens.
6. Transformações no Jornalismo Digital
- Pré-digital: Autoridade epistêmica.
- Digital: Produção circular, "networked gatekeeping".
7. Desinteresse na Informação e Consumo de Notícias
- Jovens evitam notícias, preferem influenciadores.
- Notícias vistas como negativas, repetitivas ou irrelevantes.
8. Tipos de Consumidor de Notícias (Flamingo)
- Heritage News Consumer: Tradicional, pouco envolvimento.
- Dedicated News Devotee: Envolvimento alto.
- Passive News Absorber: Redes sociais, entretenimento.
- Proactive News Lover: Consumo amplo, cético, superficial.
Síntese: Desafios da Sociedade Hipermidiática
- Sociedade hipermidiática, múltiplas epistemologias.
- Crise da autoridade jornalística.
- Cultura de vigilância e datificação.
1. The Unacknowledged Revolution – Elizabeth Eisenstein
Contexto
- Estudo fundamental sobre o impacto da imprensa na cultura europeia moderna.
- Eisenstein defende que os historiadores negligenciam o verdadeiro alcance da revolução provocada pela impressão.
Pontos principais
- A imprensa reorganizou os modos de produção e disseminação do conhecimento.
- Apesar de os historiadores beneficiarem da imprensa, raramente a consideram como tema central.
- Transformação epistêmica: normalização dos textos, reprodução massiva e estabilização do saber.
- A impressão facilita a crítica textual, a comparação e o pensamento analítico.
- Ferramenta de revolução: condição essencial para o surgimento da ciência moderna, da Reforma e do Iluminismo.
- Invisibilização historiográfica: os efeitos estruturais da imprensa continuam ausentes do cânone histórico.
2. Specters of Causality – Florian Sprenger
Contexto
- Análise histórica e filosófica sobre as experiências com eletricidade no século XVIII.
- Foco nos aspectos estéticos, perceptivos e epistêmicos da mediação elétrica.
Pontos principais
- “Espectros da causalidade”: forças que só se tornam perceptíveis através dos seus efeitos visuais e físicos.
- A estética das experiências elétricas tornava o invisível momentaneamente visível.
- Desafios experimentais: como medir a velocidade de algo invisível?
- Dilema da instantaneidade: a eletricidade coloca em causa o intervalo entre causa e efeito.
- A eletricidade antecipa os debates contemporâneos sobre mediação, redes e sincronia global.
- Ciência como encenação sensorial: os laboratórios eram espaços de performance e espetáculo.
3. Dealing with Digital Intermediaries – Nielsen & Ganter
Contexto
- Estudo de caso sobre as relações entre órgãos de comunicação social e plataformas digitais como Google e Facebook.
Pontos principais
- Relação ambivalente: ganhos operacionais a curto prazo versus riscos estratégicos a longo prazo.
- Relação assimétrica: as plataformas definem as regras e os editores tentam adaptar-se.
- FOMO institucional (“medo de ficar de fora”): leva a mídia a cooperar com plataformas, mesmo sem controle.
- Perda de autonomia editorial: os algoritmos selecionam o que é visível, não os jornalistas.
- Ciclo de dependência: quanto mais a mídia se adapta, mais se sujeita às lógicas das plataformas.
4. The Diverse Domains of Quantified Selves – Deborah Lupton
Contexto
- Investigação sociológica sobre práticas de automonitorização e vigilância digital.
Pontos principais
- “Autorrastreamento” como prática de construção do eu através de dados.
- Cinco modos principais:
- Privado: Iniciativa individual para controle pessoal.
- Comunitário: Partilha voluntária de dados em redes e fóruns.
- Induzido: Motivado por aplicações ou sistemas digitais.
- Imposto: Exigido por entidades externas (seguros, empregadores).
- Explorado: Utilização não autorizada dos dados por terceiros.
- Questões éticas: consentimento, privacidade e reutilização de dados.
- Biopolítica: o corpo torna-se objeto de governança algorítmica.
5. Symmetrifying Smart Home – Sungyong Ahn
Contexto
- Leitura teórica da casa inteligente (smart home) como espaço moldado por dispositivos e algoritmos.
Pontos principais
- A casa é pensada como um espaço topológico: continuamente reconfigurado por sensores e rotinas digitais.
- “Simetria” topológica: dispositivos podem funcionar em qualquer posição, mas são ativados consoante os hábitos do utilizador.
- “Ontopoder” (ontopower): o poder de prever e agir antes que o utilizador reaja conscientemente.
- IoT como regime de governamentalidade invisível e preditiva.
- O cotidiano passa a ser orientado por previsões algorítmicas: da hora de acordar à preparação do jantar.
6. The Digital Transformation of Knowledge Order
Contexto
- Proposta de modelo para compreender como a digitalização reorganiza a estrutura do conhecimento.
Pontos principais
- Quatro dimensões analíticas da crise epistêmica:
- Tecnológica: Mediação por algoritmos e plataformas.
- Epistêmica: Fragmentação da autoridade do conhecimento.
- Institucional: Perda de credibilidade de universidades, ciência e imprensa.
- Subjetiva: Polarização afetiva e desinformação.
- Cultura da atenção: o que atrai cliques ou partilhas passa a ser percebido como verdadeiro.
- Assimetria entre produção científica e circulação digital de conhecimento.
7. Media, Knowledge and Trust – Peter Dahlgren
Contexto
- Análise teórica da crise democrática causada pela desconfiança e erosão das condições de saber partilhado.
Pontos principais
- Democracia em crise devido à perda de confiança nos meios de comunicação.
- “Cultura cívica” em colapso: sem confiança e sem um consenso mínimo sobre o que é conhecimento, o debate público torna-se inviável.
- A emoção sobrepõe-se à razão como critério de validação.
- Plataformas criam bolhas epistêmicas e reforçam divisões ideológicas.
- Apelo à ação: urge reconstruir a ligação entre cidadania e epistemologia.
8. What Feels Like News? – Swart & Broersma
Contexto
- Estudo sobre como os jovens identificam e legitimam o que consideram ser “notícia” no Instagram.
Pontos principais
- A forma como algo é apresentado (visual, estilo, emoção) influencia se é percebido como “notícia”.
- Emoções e identificação pessoal moldam o consumo informativo.
- Fronteiras tênues entre entretenimento, opinião e informação.
- “Estruturas de sentimento” (Williams): valores e afetos partilhados influenciam a definição do que é relevante.
- A confiança depende do emissor e da autenticidade percebida, não do estatuto institucional.
9. Avoiding the News to Participate in Society
Contexto
- Estudo longitudinal realizado nos Países Baixos durante a pandemia.
Pontos principais
- Evitar notícias pode ser uma escolha ativa de proteção psicológica.
- Razões para a evasão: negatividade, sobrecarga informativa e ansiedade.
- Substituição por práticas cívicas diretas: voluntariado, ações comunitárias, diálogo interpessoal.
- Forma de resistência: rejeição dos modelos informativos convencionais.
- Participação cívica não depende da exposição constante às notícias formais.
10. Conceptualising the Newsfluencer – Edward Hurcombe
Contexto
- Proposta conceitual do “newsfluencer”: produtores de conteúdo noticioso híbrido entre jornalismo e cultura digital.
Pontos principais
- Operam em plataformas como TikTok, YouTube, Twitch, Substack.
- Integram jornalismo com modelos econômicos próprios da cultura de criadores.
- Valorização da autenticidade e da relação com a audiência.
- “Jornalismo relacional”: interação constante, tom pessoal e estilo emocional.
- Dilema ético: proximidade e informalidade podem enfraquecer critérios de imparcialidade e rigor informativo.