Modelos de Sistema Turístico: Leiper e Ciclo de Vida de Butler
Classificado em Geografia
Escrito em em
português com um tamanho de 7,33 KB
O Sistema Turístico Segundo Neil Leiper
Neil Leiper (1990), no seu modelo de sistema turístico baseado no comportamento da oferta e da procura, estabelece uma base de três elementos orientadores, constituindo um modelo interpretativo do sistema.
Elementos Geográficos do Sistema
O primeiro elemento é a presença do componente geográfico, caracterizado por:
- Região Emissora de Turistas: O local de origem dos viajantes.
- Região Recetora de Turistas: O destino turístico.
- Vias de Trânsito: As rotas que ligam a origem ao destino.
Região Emissora de Turistas
A Região Emissora de Turistas representa o mercado gerador da procura para o turismo, significando um impulso de estímulo e de motivação para as viagens. É a partir deste local que o turista procura informações, faz reservas e parte.
Destino Turístico (Região Recetora)
O Destino Turístico é a razão de ser do turismo, onde uma série de atrativos especiais se distinguem do quotidiano pela sua importância cultural, histórica ou natural. Esta força de atratividade incentiva a procura pela viagem na região emissora. É no destino que ocorrem as inovações no turismo, como o desenvolvimento de novos produtos e a apresentação de novas experiências, fazendo com que seja o local “onde ocorrem as consequências mais visíveis e impressionantes do sistema”.
Este núcleo recetor é um território que acolhe e atrai turistas, contendo as infraestruturas necessárias para os acomodar, prestar cuidados, capital humano qualificado, e que conta ainda com a população residente. É na região de destino que todo o impacto do turismo será sentido e que as estratégias de planeamento e de gestão serão implementadas.
Vias de Trânsito
As Vias de Trânsito correspondem à interface entre a região de origem e a de destino, a chamada rota de deslocamento, que é necessária e inevitável para chegar à região de destino (ex.: meios de transporte, vias de ligação, terminais). A região de trânsito não se limita ao curto período de tempo de uma viagem, mas inclui também pontos intermediários que podem ser visitados durante o trajeto. Neste intervalo, o turista sente que deixou a sua casa, mas ainda não chegou ao local que escolheu visitar.
Contexto e Dinâmica do Sistema
Estes três elementos são contornados pelo ambiente social, económico, cultural, tecnológico, político e religioso. As suas dinâmicas, expandidas ou retraídas tanto no núcleo emissor quanto no recetor, desencadeiam impactos na cadeia produtiva. O sistema é simples, aplicável, interdisciplinar, flexível e destaca a inter-relação entre os vários elementos, desde a indústria turística (setores primário, secundário e terciário) até ao turista, o epicentro do sistema.
O Ciclo de Vida do Destino Turístico de Butler
De acordo com o conceito de ciclo de vida do destino turístico enunciado por Butler (1980), todo o destino turístico atravessa um ciclo de vida composto por várias fases. Cada estágio pode ser associado a um impacto específico: económico, ecológico e sociocultural.
Fases do Ciclo de Vida
1. Exploração
Durante a fase de exploração, o destino é descoberto por viajantes independentes que chegam em número muito reduzido e se adaptam às condições locais. Não existem ainda instalações turísticas dedicadas.
- O contacto entre residentes e viajantes é mutuamente satisfatório.
- Não ocorre perturbação na sociedade local.
- O sistema económico local não sofre alterações.
2. Envolvimento
Nesta fase, a população local percebe que o turismo pode ser benéfico, principalmente do ponto de vista financeiro, e surgem iniciativas locais para a construção de instalações e alojamentos. O número de visitantes aumenta e os viajantes independentes são gradualmente substituídos pelos exploradores. Os benefícios económicos com o turismo podem ser relativamente grandes, pois a saída de recursos económicos do local é pequena.
3. Desenvolvimento
A fase de desenvolvimento é aquela em que o local se afirma como destino turístico. A população local percebe as oportunidades para um avanço e crescimento da indústria. Os investidores demonstram interesse em construir instalações próximas das atrações turísticas, o que nem sempre se alinha com uma política de proteção ambiental. O desenvolvimento causa uma rápida taxa de crescimento no turismo de massa, o que acarreta problemas de capacidade de carga.
4. Consolidação
Quando o destino atinge a fase de consolidação, as instalações e os alojamentos são satisfatórios para receber um fluxo constante de turismo de massa. O destino torna-se um produto divulgado por operadores turísticos nacionais e internacionais. Em termos económicos, tanto a entrada como a saída de dinheiro podem ser consideráveis. No entanto, os interesses dos turistas podem contribuir para a conservação natural e cultural, manter os atrativos e fortalecer a identidade social da comunidade local.
Nesta fase, não é necessariamente a taxa de crescimento que causa problemas, mas sim o grande número de turistas. Eles podem causar problemas de congestionamento, saturação de infraestruturas (água, esgoto, energia) e descaracterização de eventos culturais locais. O grande número de turistas pode também causar danos significativos ao meio ambiente.
5. Estagnação
O número de turistas é alto, mas a taxa de crescimento é baixa. Nesta etapa, o número massivo de turistas chega em pacotes padronizados, esperando encontrar o conforto do seu local de origem. Outra característica é a separação entre os turistas e a população recetora, o que pode provocar uma imagem estereotipada entre ambos. Os benefícios económicos podem decrescer, pois o dinheiro sai da localidade com mais facilidade, uma vez que o controlo está nas mãos de entidades externas.
6. Declínio ou Rejuvenescimento
Declínio: Ocorre quando o destino não consegue renovar a sua imagem. O número de turistas decresce. Os investidores deslocam-se para outros locais, usando o destino em declínio apenas para a retirada de recursos financeiros sem reinvestimento local.
Rejuvenescimento: Em alternativa, o destino tenta reposicionar-se no mercado turístico. Procura novas alternativas, oferece novos produtos que diferem da oferta anterior e procura atrair um novo público-alvo.
Elementos Fundamentais do Modelo de Butler
O modelo de Butler apresenta oito elementos fundamentais: dinamismo ou mudança, processo, capacidade ou limites de crescimento, gatilhos (fatores que provocam mudanças no destino), gestão, visão de longo prazo no planeamento, componente social e aplicabilidade universal.