Monitoramento Nutricional e de Saúde da População Brasileira

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Introdução

Inquéritos populacionais são um tipo de estudo epidemiológico utilizado para obtenção de informações sobre o processo saúde-doença na população.

  • Os estudos que incluem variáveis antropométricas e de consumo alimentar são relevantes para a avaliação e o monitoramento das condições de saúde, alimentação e nutrição da população.
  • Os resultados desses estudos constituem evidências científicas sólidas para a definição de prioridades internacionais, nacionais e regionais, bem como para a tomada de decisão política.

Principais Inquéritos Alimentares e Nutricionais de Base Nacional

  • Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF) - 1974/75
  • Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN) – 1989
  • Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) - 1987, 1995, 2002/03, 2008/09
  • Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) - 1996 e 2006
  • Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE)
  • Vigilância dos Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) - Anual, desde 2006.

Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF) - 1974/75

Primeiro inquérito nacional com informações acerca do consumo alimentar e estado nutricional dos brasileiros. Pesquisa desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Metodologia ENDEF

  • Avaliou 55 mil domicílios, totalizando 267.446 pessoas.
  • Objetivo: Avaliar as condições de vida e a situação nutricional da população.
  • Realizou pesagem direta de alimentos durante sete dias consecutivos das principais refeições.
  • Avaliação antropométrica de Peso (kg), Altura (cm) e Perímetro do Braço (cm).
  • Entrevista por meio de questionário preenchido pelo próprio pesquisador.
  • Coleta de dados socioeconômicos (Sexo, Idade, Composição Familiar, Emprego e Renda).
  • Não avaliou as áreas rurais do Norte e Centro-Oeste.
  • Deu origem à primeira tabela de composição de alimentos.

Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN) - 1989

Estudo complementar ao ENDEF, realizado pelo IBGE em 1989.

  • Objetivo: Descrever o estado nutricional da população brasileira, além de caracterizar as condições de saúde e a estrutura socioeconômica nos domicílios.

Metodologia PNSN

  • A metodologia foi semelhante à do ENDEF, porém não incluiu a avaliação do consumo alimentar.
  • Duração de 3 meses.
  • Entrevista a 17.920 famílias, totalizando 62 mil pessoas.
  • Em média, 450 pesquisadores trabalharam na pesquisa.
  • Exclusão de aldeias indígenas.
  • Avaliação dos dados antropométricos para o estado nutricional da população.

Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)

Metodologia POF

  • Tempo: Doze meses (com registro de 7 dias consecutivos).
  • Aspectos estudados: Sexo, idade, peso e altura (somente nas POFs 2002 e 2008), aquisição domiciliar de alimentos.
  • Instrumentos de coleta: Cadernetas e questionários denominados de POFs 1, 2, 3, 4, 5, 6 (e 7 na POF 2008-2009).

Avaliação do Estado Nutricional da População Adulta

A avaliação levou em consideração os seguintes parâmetros: déficit de peso, sobrepeso e obesidade, utilizando o Índice de Massa Corporal (IMC) da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Nota: Admite-se cerca de 5% de IMC < 18,5 como normal, de acordo com a proporção de pessoas constitucionalmente magras (World Health Organization, 1995).

Resultados ENDEF e PNSN

Na década de 70, o quadro nutricional da maioria das famílias era de desnutrição, devido à falta de acesso aos alimentos, decorrente do baixo poder aquisitivo de milhões de brasileiros. O problema de acesso era agravado por fatores como:

  • Condições inadequadas de saneamento básico;
  • Baixos níveis de educação;
  • Serviços de saúde deficientes.

Consumo Alimentar

Consumo Alimentar: População Urbana vs. Rural

2002-2003
  • Urbana: Maior consumo de refeições prontas e misturas industrializadas, gorduras saturadas, carnes (bovina, embutidos e frangos), leite e derivados, frutas, verduras e legumes (consumo 2x maior), refrigerantes e bebidas alcoólicas.
  • Rural: Maior participação na dieta de oleaginosas, leguminosas, raízes, tubérculos, carne suína, peixes e açúcar.
2008-2009
  • Urbana: Maior consumo de ultraprocessados, como biscoitos recheados, iogurtes, vitaminas, sanduíches, salgados fritos e assados, pizzas, refrigerantes, sucos e cerveja.
  • Rural: Maior consumo de arroz, feijão, batata-doce, mandioca, farinha de mandioca, manga, tangerina, peixes frescos e carnes salgadas.

Consumo de Sódio

  • 2002-2003: A quantidade diária de sódio disponível para consumo nos domicílios brasileiros foi de 4,5 a 4,7 g para uma ingestão diária de 2.000 kcal, excedendo 2 vezes o limite recomendado.
  • 2007-2008: A recomendação do Ministério da Saúde é que o teor de sódio não ultrapasse 2.300 mg na dieta para indivíduos adultos. Entretanto, a média de ingestão da população é maior que 3.200 mg, devido ao consumo de alimentos ultraprocessados.

Avaliação Subjetiva das Condições de Vida na POF (2002/03 – 2008/09)

Após os questionários, um conjunto de quesitos relativos à qualidade de vida das famílias foi pesquisado, de caráter subjetivo:

  • Dificuldade/facilidade em chegar ao fim do mês com o rendimento; o valor monetário mínimo necessário para cumprir este objetivo e, de forma equivalente, o valor necessário para cobrir os gastos com alimentação.
  • Avaliação quanto à quantidade e ao tipo de alimentação consumida, e as razões de não estar se alimentando como desejado.

Vigilância dos Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel)

O Vigitel é um sistema anual e contínuo, desenvolvido desde 2006.

  • Objetivo: Monitoramento e análise dos principais fatores de risco e proteção para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e morbidade no país. Proporciona o monitoramento de políticas de saúde voltadas para a redução dos fatores de risco e das DCNT.

Metodologia Vigitel

  • População de estudo: Adultos (>18 anos) nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, que habitam em domicílios com, ao menos, uma linha telefônica fixa.
  • No total, foram entrevistados 54.369 indivíduos. O método indica uma amostra de tamanho mínimo de 2.000 indivíduos em 2006 e 1.500 indivíduos no relatório de 2014.
  • A amostra é extraída a partir do cadastro das linhas telefônicas residenciais, concedendo inferências populacionais estritamente para a população adulta residente em domicílios cobertos pela rede de telefonia fixa.

Variáveis Sociodemográficas Destacadas

  • Nível de instrução: Sem instrução ou fundamental incompleto; fundamental completo ou médio incompleto; médio completo ou superior incompleto; ou superior completo.
  • Faixa etária: 18-24, 25-34, 35-44, 45-54, 55-64 e 65+ anos de idade.
  • Sexo: Masculino e feminino.

Indicadores

  • Fatores de Risco: Hábito de fumar, excesso de peso, consumo de refrigerantes, inatividade física, consumo de bebidas alcoólicas, referência ao diagnóstico médico de hipertensão arterial e diabetes.
  • Fatores de Proteção: Prática de atividade física no tempo livre e no deslocamento (trabalho, curso ou escola), consumo de frutas e hortaliças, realização de exames para detecção precoce de tipos comuns de câncer em mulheres (mamografia e citologia oncótica para câncer de colo de útero).

Resultados (2006 – 2018)

  • Excesso de peso: 54% dos brasileiros estão com excesso de peso (aumento de 26% em dez anos). Aumenta com a idade e com menor escolaridade.
  • Obesidade: 19% estão obesos (aumento de 60% em dez anos). Aumenta com a idade e com menor escolaridade. Cresce mais entre adultos de 25 a 34 anos, prevalente em baixa escolaridade.
  • Hipertensão: 25% dos adultos brasileiros foram diagnosticados com hipertensão (mais prevalente em mulheres de mais idade e menor escolaridade).
  • Diabetes: 9% dos adultos brasileiros foram diagnosticados com diabetes (aumento de 62% comparado a 2006).
  • Consumo de frutas e hortaliças: Somente 1 a cada 3 adultos (principalmente mulheres) tem o hábito de consumir frutas e hortaliças em 5 ou mais dias da semana.
  • Consumo de feijão: 61% dos brasileiros consomem feijão em 5 ou mais dias da semana (hábito que diminuiu desde 2006 e é mais prevalente em homens).
  • Consumo de refrigerante/suco artificial: 1 a cada 6 adultos brasileiros consomem refrigerante ou suco artificial em 5 ou mais dias da semana (resultado positivo comparado a 2006, já que a prevalência desse hábito diminuiu praticamente pela metade).
  • Consumo abusivo de álcool: Mantém-se estável na população geral, mas cresce 42,9% entre mulheres (consumo de 4 ou mais doses para mulheres ou 5 ou mais doses para homens, em uma mesma ocasião, nos últimos 30 dias).
  • Hábitos saudáveis adotados: Consumir menos refrigerantes e sucos artificiais; consumir mais frutas e hortaliças; praticar atividades físicas.

Outros Estudos Relevantes (PNDS e PeNSE)

PNDS – Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher

A pesquisa teve por objetivos principais:

  • Caracterizar a população feminina em idade fértil e as crianças menores de cinco anos segundo fatores demográficos, socioeconômicos e culturais.
  • Identificar padrões de conjugalidade, parentalidade e reprodutivos.
  • Identificar perfis de morbimortalidade na infância e de amamentação.
  • Avaliar o estado nutricional.
  • Avaliar a segurança/insegurança alimentar, o teor de iodo disponível em âmbito domiciliar e o acesso a serviços de saúde e a medicamentos.
Edições da PNDS
  • 1996 (Primeira pesquisa): Estudo realizado em mulheres de 15 a 49 anos de idade, crianças menores de 5 anos e uma subamostra de 25% de domicílios com a população masculina.
  • 2006 (Segundo e último estudo): Contou com 15.000 mulheres e 5.000 crianças nas mesmas faixas etárias. Métodos incluíram coleta de dados, mensurações antropométricas, coleta de sangue (vitamina A e hemoglobina) e análise do teor de iodo no sal de cada domicílio.
Metodologia PNDS 1996
  • População de estudo: Mulheres de 15 a 49 anos, seus filhos de até 5 anos e uma subamostra de 25% de homens dos domicílios entrevistados (idade entre 15 a 59 anos).
  • Amostra: Representatividade nacional, 7 regiões (urbano-rural: Rio de Janeiro, São Paulo, Sul, Centro-Leste, Nordeste, Norte e Centro-Oeste). Total: 13.283 domicílios, 12.612 mulheres, 4.782 crianças, 2.949 homens.
  • Métodos de coleta: Entrevistas domiciliares; Mensurações antropométricas em crianças (peso e altura; peso/altura; peso/idade; idade/altura); Mensurações antropométricas em mulheres (IMC).
Metodologia PNDS 2006
  • População de estudo: Mulheres de 15 a 49 anos de idade e seus filhos menores de 5 anos.
  • Amostra: Representatividade nacional, 5 macrorregiões (urbano-rural). Total: 14.617 domicílios, 15.575 mulheres entrevistadas, 5.056 crianças menores de 5 anos.
  • Métodos de coleta: Entrevistas domiciliares; Mensurações antropométricas em crianças (altura e peso; altura/idade; peso/altura; peso/idade); Mensurações antropométricas em mulheres (altura e peso; IMC; circunferência da cintura); Coleta de amostras de sangue para dosagens de vitamina A e hemoglobina; Informações sobre o teor de iodo disponível no sal consumido nos domicílios.
Resultados PNDS (1996 vs. 2006)

Observa-se um declínio modesto e não significativo (NS) na já reduzida prevalência do déficit de peso-para-altura (2,2% em 1996 e 1,5% em 2006) e virtual estabilidade na prevalência de excesso de peso-para-altura (cerca de 7% nos dois anos).

PeNSE – Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar

A PeNSE é realizada desde 2009 com escolares adolescentes, com o objetivo de obter informações sobre os fatores de risco para as DCNT e proteção à saúde dos escolares.

A Terceira Edição da PeNSE (2015)

Foi dividida em duas amostras, com planos amostrais distintos, para analisar os adolescentes sob diferentes recortes:

  • Amostra 1: 9º ano do ensino fundamental, composta por 102.301 escolares.
  • Amostra 2: 6º ao 9º ano do ensino fundamental e 1º ao 3º ano do ensino médio, composta por 16.556 escolares.
Metodologia PeNSE

Realizada entre abril e setembro de 2015 com aproximadamente 119 mil escolares matriculados e frequentes.

Instrumentos e Coleta:

  • Utilização de questionário eletrônico para ambas as amostras.
  • Aferição de peso e altura utilizando balança eletrônica portátil e estadiômetro portátil (peso registrado em quilogramas e altura em centímetros).
  • O consumo alimentar foi avaliado através dos marcadores de alimentação saudável e não saudável em frequência de consumo de cinco dias.
  • O consumo de bebida alcoólica pelos escolares foi avaliado através do consumo feito nos últimos 30 dias anteriores à realização da pesquisa.
Assuntos Abordados
  1. Características do ambiente escolar;
  2. Características básicas da população de estudo;
  3. Contexto familiar;
  4. Hábitos alimentares;
  5. Prática de atividade física;
  6. Cigarro, álcool e outras drogas;
  7. Saúde sexual e reprodutiva;
  8. Violências, segurança e acidentes;
  9. Hábitos de higiene pessoal;
  10. Percepção da imagem corporal;
  11. Saúde mental;
  12. Uso de serviços de saúde.

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