O Mundo Pós-1918: Transformações Políticas e Culturais
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Transformações das Primeiras Décadas do Século XX
A Primeira Guerra Mundial (Grande Guerra) decorreu entre 1914 e 1918. Em 1919, declara-se oficialmente a paz, começando-se a celebração dos primeiros acordos, que vieram alterar toda a estrutura geográfica e política da Europa, com as seguintes transformações:
- Desmembramento dos Impérios: A derrota militar por parte dos impérios, como o Império Alemão, Austro-Húngaro e Otomano, levou a toda uma mudança de regime político. A Alemanha viu-se transformada numa república; o Império Austro-Húngaro sofreu uma divisão para dois países independentes (Áustria e Hungria); o Império Otomano, cuja decadência já estava instalada no século anterior, transformou-se na Turquia no pós-guerra; e, por último, o Império Russo acabou devido à Revolução de 1917. Pode afirmar-se que, na maioria da Europa, se instaurou o regime democrático.
- Criação de Novos Países e Alteração das Fronteiras:
- A Finlândia, a Estónia, a Letónia e a Lituânia tornaram-se estados independentes da Rússia (devido à antecipação da saída na guerra).
- Os países vencedores (França, Itália e Bélgica) alargaram as suas fronteiras, e os países derrotados, como a Alemanha, a Áustria, a Bulgária ou a Turquia, perderam os seus vastos territórios.
- Para além das minorias nacionais, em que vários povos ficavam desintegrados nos países a que tinham que ser obrigados a pertencer, temos ainda o caso de Itália (país vencedor que considerava insuficiente o território que lhe tinha sido atribuído).
- Penalizações territoriais e económicas aos vencidos.
- Penalizações aos Vencidos: A recuperação dos países vencedores foi mantida à custa dos vencidos (principal fragilidade de todos os acordos de paz). No caso específico alemão, este sofreu duramente as condições ditadas expressas no Tratado de Versalhes. Este tratado terminava todo um conjunto restrito territorial alemão:
- A zona fronteiriça da Alsácia-Lorena, que a Alemanha havia conquistado aos franceses (na Guerra Franco-Prussiana), foi integrada na França.
- A zona do Sarre e a cidade de Danzig foram entregues à Sociedade das Nações.
- A Alemanha ficou dividida em duas partes pelo Corredor de Danzig (atual Gdansk, na Polónia).
Avaliação do Papel Desempenhado pela Sociedade das Nações (SDN)
Em 1918, o presidente dos EUA, Woodrow Wilson, fez um projeto de uma liga de nações exposto nos 14 Pontos de Wilson. Um ano depois, foi criada então a Sociedade das Nações (SDN), com sede em Genebra, da qual os Estados Unidos não faziam parte devido às divergências entre este e os outros vencedores, que não queriam que os vencidos integrassem esta sociedade. Esta organização tinha dois objetivos: manter a paz e promover a interajuda internacional.
Os constituintes da Sociedade das Nações comprometiam-se a:
- Manter relações internacionais abertas e francas (fim dos acordos secretos).
- Reduzir armamentos.
- Respeitar o direito internacional e os respetivos tratados.
- Submeter-se à análise da Sociedade das Nações.
- Boicotar economicamente aquele que desencadeasse uma guerra.
Obstáculos ou Motivos do Fracasso da Sociedade das Nações:
- Exclusão dos países derrotados da Sociedade das Nações.
- Insatisfação por parte de alguns vencedores, como a Itália.
- As minorias nacionais não eram respeitadas.
- Os EUA (a grande potência) não integraram a Sociedade das Nações, existindo então um descrédito na organização.
- Os países vencedores estavam mais preocupados com as questões da reparação de guerra em vez de soluções para a crise económica.
Dependência Económica da Europa aos EUA
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a Europa encontrava-se arruinada no plano humano e material, tornando-se dependente dos EUA, sendo este o seu principal fornecedor. Os índices industriais da França e Alemanha caíram acentuadamente devido às dificuldades de reconversão da economia de guerra. Por outro lado, temos o fenómeno da inflação (alta de preços derivada de distorções existentes entre a procura de produtos e a oferta de bens, a qualidade da moeda que circula e a produção de riquezas. Quando a oferta de bens não corresponde à procura dos compradores capazes de pagar, estes, para conseguirem as mercadorias, sujeitam-se a pagar mais caro e fazem subir o preço. A inflação cria meios de pagamento suplementares através, por exemplo, da emissão de papel-moeda. Tudo isto se deve a um défice orçamental crónico). Tudo isto levou a um descrédito monetário num conflito, no abandono do padrão ouro – Gold Standard.
Com a breve crise dos EUA em 1920/21, a Europa procurava estabilidade. Como principal método de arranque, vamos ter o Taylorismo. A nível monetário, o Gold Exchange Standard veio substituir o Gold Standard, em que a moeda europeia seria equiparada ao dólar. Para resolução da dívida, foi criado um triângulo financeiro, segundo o qual os EUA emprestavam dinheiro à Alemanha, podendo esta assim pagar as reparações de guerra à França e à Inglaterra, as quais, por sua vez, pagavam as dívidas aos EUA. Contribuindo assim para a recuperação da economia europeia.
Marxismo e Leninismo na Rússia
A Revolução Russa de 1917 teve origem devido a toda uma má conjuntura a nível político. O Império Russo, chefiado pelo Czar, tinha poder absoluto. Em 1905, houve a formação das primeiras assembleias de operários (Sovietes) como forma de protesto. Na revolução pacífica de 1905, deu-se o episódio Domingo Sangrento, em que toda a população foi morta a mando do Czar. Deu-se também o descontentamento por parte do povo devido à obrigação de participação na Primeira Guerra Mundial. O parlamento russo foi alvo de uma certa abertura política por parte do Czar, contudo, isso não foi suficiente.
A nível dos fatores sociais, a Rússia era característica de uma sociedade de Antigo Regime, composta na sua maioria por camponeses (85%). A Rússia manteve-se na cauda do arranque industrial (que foi tardio). A burguesia era também um grupo em formação, ainda sem direitos políticos. A riqueza estava concentrada nas mãos da elite (nobreza), e, por último, o operariado era um grupo muito pequeno. Quanto aos fatores económicos, a economia estava assente numa agricultura de subsistência e numa industrialização bastante fraca, e isso, aliado à injustiça da distribuição da riqueza, formou a tensão social. Com a entrada na guerra, acompanhamos o agravamento económico, levando à carência de bens de consumo.
Tudo isto levou à Revolução de Fevereiro de 1917, levada a cabo por Lvov e Kerensky (mencheviques). Esta primeira revolução foi considerada a revolução burguesa. Devido ao aumento da tensão social, em Outubro do mesmo ano, houve outra revolução, levada a cabo pelos bolcheviques, liderados por Lenine e o seu braço direito Trotsky. Esta revolução ficou conhecida na história da Rússia devido à aplicação prática da teoria de Marx.
Com a Revolução de Outubro e Lenine no poder, tomaram-se várias medidas, como a saída da guerra e decretos (sobre a paz, terra e sobre as nacionalidades). Isto levou ao fim da propriedade privada. Com a resistência ao comunismo, devido à pobreza instaurada no país, cria-se uma guerra civil entre Brancos (opositores ao bolchevismo) e Vermelhos (bolcheviques). Daí resulta a Ditadura do Proletariado. Esta ditadura, conhecida como Comunismo de Guerra (segundo Marx, etapa decisiva em que se quer acabar com o estado e as diferenças sociais), tomou várias medidas, como: os camponeses entregarem as suas colheitas e, de seguida, o estado fazer a redistribuição de bens de acordo com a justiça social; a nacionalização de empresas, entre outros; trabalho obrigatório dos 16 aos 50 anos; prolongamento do tempo de trabalho; salário de acordo com o rendimento de cultivo; e a criação da Tcheka (polícia política).
Centralismo Democrático
Princípio básico que dirige a organização do partido e do estado comunista, segundo o qual todos os corpos dirigentes são eleitos de baixo para cima, enquanto as suas decisões são de cumprimento obrigatório para com as bases (dualismo de poderes).
Nova Política Económica (NEP)
Esta política tinha o objetivo de superar a crise económica com o retorno ao capitalismo, e, por isso, foram tomadas várias medidas, como: em vez de os camponeses entregarem os excedentes, pagavam um imposto; venda de forma direta no mercado; privatização das empresas; aceitação de ajuda do estrangeiro; e, por último, a eliminação do trabalho obrigatório. A Rússia modernizou-se.
Mudanças no Comportamento e na Cultura
Com o impacto da Primeira Guerra, existiram mudanças para além de militares, económicas e políticas, afetando as mentalidades a nível da cultura do ócio, emancipação feminina, e da ciência e da arte.
- Cultura do Ócio (Loucos Anos 20): Caracterizado pelos Loucos Anos 20, é exprimido o ambiente divertido, enérgico e alegre que se vivia, caracterizado pelo gosto de frequentar festas onde se poderia dançar Charleston e frequentar clubes de música Jazz. Com o fim da guerra, os cidadãos europeus começaram a valorizar todos os momentos de felicidade e distração, nomeadamente esplanadas, valorizando o desporto, criando-se assim hábitos citadinos.
- Emancipação Feminina: Em relação ao papel da mulher na sociedade europeia, notou-se uma profunda alteração, mesmo durante a guerra, devido à escassez de homens na população ativa dos países. No pós-guerra, as mulheres lutaram para assegurar o direito à igualdade entre o sexo masculino e feminino, principalmente a igualdade política, existindo então um sufrágio universal que abrangesse homens e mulheres. Quando alcançaram este sufrágio em países como a Alemanha e os EUA, puderam também ter acesso ao mundo do trabalho, tendo então agora mulheres trabalhadoras a executar profissões como professora ou datilógrafa, etc., podendo finalmente, depois de tanto tempo, ser independentes economicamente dos homens. Com a criação de vários movimentos feministas, as mulheres começaram a ter outra forma de se arranjar, usando saias mais curtas e cabelo à la garçonne.
- Revolução Científica: A nível científico, existiram então profundas alterações do saber trazido pelos antigos. Podemos assistir agora ao relativismo científico (abordagem científico-filosófica que admite a impossibilidade de conhecimento absoluto e acredita que o conhecimento depende das condições, do tempo e do meio do sujeito que conhece). Na prática deste relativismo, consistem três teorias fundamentais:
- Teoria da Relatividade (Albert Einstein): Demonstra que, apesar de antes se pensar que a variabilidade do tempo e do espaço eram fixas, não o são.
- Teoria Quântica (Max Planck): Levou à existência de unidades mínimas de matéria, intituladas de Quanta, cujo movimento não obedece a leis rígidas.
- Teoria Psicanalítica (Sigmund Freud): Descobriu uma nova parte constituinte do pensamento humano, o inconsciente, alterando para sempre o entendimento do foro mental. Como explicação para as neuroses, existe a doutrina do recalcamento (repressão), que nos explica a constante luta entre consciente e inconsciente, em que um simplesmente quer recalcar as experiências traumáticas e o outro trazê-las à lembrança. Freud tem também a cura para os recalcamentos, que se chama método de Psicanálise. Para além desta revolução a nível da mente, Freud diz que, na formação do indivíduo, temos que dar também importância à sexualidade humana, que nasce connosco.
- Arte Moderna: Por último, mas não menos importante, temos toda a mudança ocorrida na Arte através do movimento modernista, movimento de amplas dimensões caracterizado por uma total liberdade, daí nascendo diversos movimentos artísticos.