O Mundo Pós-Guerra: Guerra Fria e Transição Espanhola

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Unidade 4: O Mundo Dividido (Guerra Fria)

No final da Segunda Guerra Mundial, as relações entre a União Soviética e os Estados Unidos, agora uma superpotência, sofreram uma mudança radical. Pelos próximos 40 anos, ambos foram os protagonistas da Guerra Fria.

Nunca foi um confronto armado direto entre as superpotências, mas o perigo para todo o planeta era enorme, uma vez que ambos os países tinham armas nucleares suficientes para atingir a destruição total do inimigo.

A Organização das Nações Unidas (ONU)

Após a Segunda Guerra Mundial, a construção da paz também contou com a participação de todos. Na reunião de São Francisco (abril de 1945), esses princípios foram aplicados.

Os países por trás da reunião foram os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a URSS e a China. 51 países participaram e aprovaram os 111 artigos da Carta das Nações Unidas, que definem os canais para a resolução de conflitos futuros. A ONU era a herdeira da Liga das Nações.

A ONU foi criada em janeiro de 1946, com sede em Nova Iorque, embora alguns de seus órgãos estejam espalhados pelo mundo. É constituída por várias agências com diferentes funções:

  • A Assembleia Geral
  • O Conselho de Segurança
  • A Secretaria
  • O Conselho Econômico e Social. A partir dele, surgiram uma série de agências especializadas: FMI, OMS, UNESCO, UNICEF, ACNUR, OIT.
  • O Tribunal Internacional de Justiça.

Além disso, a ONU possui um exército internacional, os Capacetes Azuis. É claro que a ONU não conseguiu resolver todos os problemas do mundo, nem assegurar a paz de forma plena.

O Mundo Dividido em Blocos

Após a guerra, a Europa Oriental ficaria sob a influência da URSS e o Ocidente sob a dos Estados Unidos, juntamente com a Grã-Bretanha e a França.

O ano de 1947 marca o fim definitivo das boas relações entre a URSS e os EUA. Com a crescente difusão do comunismo, os EUA decidiram intervir. O Presidente Truman apresentou a sua famosa teoria (Doutrina Truman), que justificava a intervenção militar em qualquer parte do mundo onde a liberdade e a democracia estivessem ameaçadas pelo avanço do comunismo, liderando uma cruzada global anticomunista. Além disso, foi implementado o auxílio do Plano Marshall.

A primeira fase deste grave episódio ocorreu na Alemanha, em Berlim, a capital, que estava dividida em quatro zonas de ocupação, sendo uma delas russa. Em 1948, os soviéticos decidiram expulsar as potências ocidentais, isolando Berlim e cortando as vias de acesso. A resposta foi a criação da primeira "ponte aérea" da história, transportando suprimentos constantemente por via aérea, até o levantamento do bloqueio.

O incidente foi tenso o suficiente para causar a ruptura definitiva entre russos e ocidentais, que levou à criação da RFA (República Federal da Alemanha), no oeste, enquanto os soviéticos responderam com a criação de um Estado comunista Oriental, a RDA (República Democrática Alemã). O país ficaria dividido em dois até 1989, e a cidade de Berlim, separada pelo famoso Muro de Berlim, construído em 1961 pelos russos para evitar fugas de cidadãos do leste para a zona capitalista, que oferecia maior qualidade de vida.

Em 1949, foi criada a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma parceria militar que concedia o direito de intervenção armada em caso de agressão contra qualquer dos países membros. Em resposta, a União Soviética criou o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar entre os países comunistas.

Principais Conflitos da Guerra Fria

A paz mundial esteve em perigo muitas vezes:

  • A Guerra da Coreia.
  • O conflito em Cuba, após o triunfo da revolução comunista de Fidel Castro.
  • A Guerra do Vietnã, o conflito mais conhecido, onde os EUA sofreram a primeira derrota de sua história, um trauma inesquecível para a sociedade americana. Em 1975, os comunistas reunificaram o país sob o nome de República Socialista do Vietnã.

Descolonização e o Movimento dos Não-Alinhados

Em abril de 1955, a Conferência de Bandung reuniu 29 países africanos e asiáticos para discutir e analisar os seus problemas. Estes países buscavam um caminho comum para o desenvolvimento, fora dos blocos que os manipulavam. Bandung marcou o início do movimento dos chamados Países Não-Alinhados.

Assim surgiu o conceito de Terceiro Mundo, referindo-se aos países mais desfavorecidos.

Além disso, no final da Segunda Guerra Mundial, nas colônias pertencentes a potências europeias, iniciou-se o processo de descolonização, ou seja, a recuperação da independência.

As novas potências emergentes, os Estados Unidos e a União Soviética, não eram a favor da manutenção dos impérios coloniais europeus.

Nos anos 50 e 60, a grande maioria das ex-colônias declarou sua independência. Exemplos notáveis incluem a Índia, com Gandhi como líder da resistência pacífica, e a Indochina.

Na África, foram particularmente sangrentas as independências do Congo contra a Bélgica e da Argélia contra a França.

Muitos estados africanos se juntaram à OUA (Organização de Unidade Africana), que procurou evitar conflitos de fronteiras e guerras civis.

Mas hoje há um processo de neocolonialismo, onde a economia dos países pobres permanece dependente dos países ricos e das multinacionais.

O American Way of Life

O American Way of Life, ou o estilo de vida americano, é a forma como se referem ao bem-estar e ao consumo que os americanos levaram para o mundo. A principal característica do período é um espetacular crescimento econômico, embora este não tenha sido repartido equitativamente entre todos na sociedade, dando origem a focos de exclusão e pobreza. Assim nasceu o que chamamos de sociedade de consumo em massa.

A Vida no Bloco Comunista

Em 1950, após o triunfo da revolução comunista na China, um terço da população mundial pertencia ao mundo comunista. Neste bloco, alimentação, habitação, educação, saúde e necessidades básicas eram geralmente seguras para toda a população. Em contrapartida, os cidadãos tinham direitos fundamentais limitados, como a liberdade de expressão, pois eram governados por ditaduras severas, com repressão constante e onde apenas a propriedade estatal era permitida.

Em 1991, Mikhail Gorbachev, presidente da URSS, apresentou a sua nova política, a Perestroika, que era uma transição lenta e controlada para a democracia. A União Soviética desapareceu como nação, dando origem a um grande número de países independentes (Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Letônia, etc.) com uma economia capitalista.

Com isso, o mundo bipolar desapareceu, uma vez que praticamente não existem mais países comunistas no mundo e aqueles que sobrevivem (Cuba, Vietnã, China, Coreia do Norte) enfrentam dificuldades sem a ajuda econômica e militar da ex-URSS. Em alguns casos, como a China, o próprio Partido Comunista no poder está concordando com a introdução de medidas de uma economia capitalista.

5. A Espanha de Franco (1939-1975)

Após a Guerra Civil, com a vitória do lado rebelde em 1939, a Espanha estabeleceu um regime totalitário introduzido por Francisco Franco. Era uma ditadura pessoal, na qual o Chefe de Estado, Franco, assumiu todos os poderes do Estado.

Após a Segunda Guerra Mundial, o regime de Franco foi isolado do resto da Europa, dado o seu caráter fascista. A situação mudou na década de 1950, quando estabeleceu relações com os Estados Unidos e a Santa Sé.

O reconhecimento internacional do regime franquista espanhol permitiu que a economia começasse a recuperar e a se modernizar.

Os anos 60 foram de crescimento econômico espetacular na Espanha, mas também foram os anos da migração em massa para a Europa.

No início dos anos 70, a oposição democrática à ditadura se desenvolveu significativamente, especialmente entre as organizações sindicais e partidos políticos, tanto na clandestinidade quanto no exílio, que uniram forças para conseguir a restauração da democracia no país.

A morte de Franco em 1975 deixou um legado bastante complicado. A crise econômica mundial, iniciada em 1973, prenunciou tempos difíceis para a Espanha, enquanto o fenômeno do terrorismo, protagonizado pela ETA e pelo GRAPO, ceifava cada vez mais vidas. O sucessor designado de Franco para exercer o Chefe de Estado foi o rei Juan Carlos I.

Apoio à Ditadura de Franco

A ditadura foi baseada em:

  • O Exército.
  • A Igreja Católica.
  • Os proprietários de terras, grandes empresas e o setor financeiro.

A dura repressão de qualquer forma de oposição ao regime também contribuiu para a sua manutenção por longo tempo, assim como a falta de liberdade de expressão.

Finalmente, o apoio internacional obtido pelos Estados Unidos foi importante para a manutenção da ditadura.

Fases da Ditadura de Franco

  • Os anos de isolamento internacional (1939-1955). Os primeiros anos do regime de Franco foram muito difíceis para a população espanhola em todos os aspectos: fome, repressão dos vencidos, mortes e prisões. Franco era aliado da Alemanha Nazista e da Itália Fascista. Embora a Espanha não tenha intervindo oficialmente na Segunda Guerra Mundial, o apoio de Hitler e Mussolini a Franco era notável, chegando a enviar para a Rússia um contingente de tropas de voluntários espanhóis que lutaram ao lado do exército alemão, enquadrado na chamada Divisão Azul. Foi um período de autossuficiência.
  • A aceitação internacional e o desenvolvimento econômico (1955-1969). A postura dos EUA contra o regime de Franco mudou a partir de 1953. Diante da nova situação internacional, o interesse dos Estados Unidos em ter um aliado no sul da Europa fez com que a natureza antidemocrática do regime de Franco se tornasse secundária. Em 1953, o governo dos Estados Unidos assinou um tratado de amizade com a Espanha, o que abriu as portas para a sua adesão à ONU em 1955, e quase todos os países democráticos normalizaram suas relações, incluindo o comércio com a Espanha franquista. A nova situação levou à chegada de ajuda econômica dos EUA para a Espanha. A economia espanhola teve um forte crescimento nos anos 60, o que foi acompanhado, até o final do período, por uma melhoria na qualidade de vida dos cidadãos. A modernização da economia espanhola resultou em um aumento dos desequilíbrios territoriais. Este foi o tempo da migração, no qual milhares de pessoas da Andaluzia, Extremadura e Galiza se mudaram para a Catalunha, Madrid e o País Basco para trabalhar em suas fábricas, e quando não havia mais postos de trabalho, dirigiram seus passos para outros países europeus. A abertura para o exterior da Espanha teve outro resultado positivo: o desenvolvimento do setor do turismo, que logo se tornou uma importante fonte de renda para a economia do país. Em 1969, Franco preparou sua sucessão, nomeando Juan Carlos de Bourbon, neto do rei Alfonso XIII, como seu sucessor como Chefe de Estado.
  • A agonia do regime franquista (1970-1975). Os próprios partidários de Franco estavam divididos entre os chamados "aperturistas", a favor de uma democratização gradual, e aqueles considerados extremistas, que queriam manter o regime ditatorial após a morte de Franco. Em 1973, desencadeou-se uma crise econômica global que afetou negativamente a Espanha. O preço do petróleo multiplicou-se de um dia para o outro por sete (de 2 para 14 dólares por barril), e como a Espanha não possuía essa fonte de energia, toda a economia sofreu. Empresas e fábricas foram fechadas porque não podiam suportar os custos de produção, o desemprego multiplicou-se, o preço de todos os produtos subiu, os salários foram congelados. Dada a situação precária, o descontentamento espalhou-se entre a população. Apesar da repressão policial, greves e protestos estudantis tornaram-se mais frequentes. Nos anos 70, começou o problema do terrorismo, protagonizado principalmente pela ETA e pelo GRAPO.

No exterior, os partidos políticos democráticos espanhóis tentaram se organizar para juntar forças e trabalhar juntos em um caminho para a restauração da democracia na Espanha.

Finalmente, Franco morreu em 20 de novembro de 1975. Juan Carlos de Borbón assumiu o Chefe de Estado como rei, com os mesmos poderes que detinha o ditador absoluto. Mas na Espanha, o retorno à democracia era inevitável.

6. A Transição Democrática e a Espanha (1975-2004)

A construção de uma Espanha democrática não foi uma tarefa fácil. A morte de Franco deixou uma situação de incerteza. Seu sucessor, Juan Carlos I, assumiu a liderança de um Estado totalitário e concentrou em sua pessoa todos os poderes que detinha o ditador. Os defensores do regime esperavam manter a sua natureza totalitária. Além disso, os partidos democráticos e os sindicatos, cada vez mais organizados na clandestinidade, tinham pouca confiança de que o novo Chefe de Estado pudesse transformar o regime de Franco em um sistema democrático.

Apesar das dúvidas e desconfiança, pela primeira vez na história, os líderes políticos da Espanha de diferentes ideologias foram capazes de estar à altura da ocasião. A monarquia foi um legado de Franco, mas a promessa de devolver liberdade e soberania ao povo espanhol fez com que fosse melhor trabalhar com ela do que atacá-la, pensavam algumas pessoas.

Usamos o termo Transição para nos referirmos à mudança de regime político da ditadura de Franco para o nosso atual sistema democrático.

Entre 1975 e 1978, a maioria dos partidos políticos concordou em aprovar uma Constituição. A Constituição aprovada em 1978 não satisfazia plenamente quase nenhum grupo político, mas foi por isso que era aceitável para quase todos.

Os primórdios da nova democracia espanhola, em operação desde 1979, foram tempos difíceis. Que a democracia pudesse prosperar, devemos isso ao imenso desejo de paz e de liberdade expresso pelo povo espanhol.

De 1982 até hoje, governaram a Espanha dois partidos políticos que representam ideologias diferentes: o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o Partido Popular (PP).

O caminho percorrido pela Espanha entre 1982 e 2004 será lembrado como um dos mais positivos da nossa história.

Na frente política, a democracia espanhola consolidou-se totalmente durante os sucessivos governos do PSOE, entre 1982 e 1996, e do Partido Popular (PP), que governou de 1996 a 2004.

Os governos do PSOE, sempre liderados por Felipe González, serviram para completar o modelo de Estado autônomo e incorporar a Espanha nas instituições europeias, após a nossa entrada na Comunidade Econômica Europeia (atual União Europeia) em 1986. Entre as principais reformas realizadas pelos governos socialistas, podem ser destacadas:

  • A expansão do welfare state.
  • A extensão dos direitos e liberdades.
  • Uma melhoria significativa na infraestrutura de comunicações no país (AVE, autoestradas).
  • A reforma do exército.
  • Uma reforma profunda da economia.

Por seu lado, o governo do Partido Popular, liderado por José María Aznar, entre 1996 e 2004, teve entre as suas principais realizações:

  • A incorporação da Espanha à moeda única da UE (o euro).
  • Um aumento do crescimento econômico do país, que começou a permitir uma redução significativa na taxa de desemprego.
  • O controle dos preços.

A sociedade espanhola mudou dramaticamente nos últimos vinte anos, com talvez uma das mais dramáticas e necessárias mudanças sociais: a plena igualdade de direitos entre homens e mulheres.

A Espanha de hoje, no entanto, experimenta o fenômeno oposto, e agora há mais de quatro milhões de estrangeiros que residem no país e colaboram no desenvolvimento da sociedade.

Entre as questões que ainda precisam ser muito melhoradas em nossa sociedade, podemos considerar:

  • Dignificar e reparar a memória daqueles que deram suas vidas pela liberdade e pela democracia na Guerra Civil Espanhola, através da implementação da Lei da Memória Histórica.
  • A excessiva desigualdade econômica entre as diferentes regiões.
  • A enorme disparidade entre a renda e a qualidade de vida dos grupos sociais mais ricos e os mais pobres.
  • A elevada taxa de desemprego no país.

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