Neovanguardas e Movimentos da Arte Contemporânea

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Introdução: Objetos Encontrados e a Criatividade Pós-Guerra

  • Embora o uso de objetos encontrados não fosse novidade, provocou o aparecimento de novos gêneros nos anos 1960 e 1970, tornando esse período uma fase muito criativa.
  • Feitos de materiais cotidianos e entulho, o Assemblage e a Junk Art (incluindo a Arte Povera) enfatizavam o desperdício da sociedade de consumo e o comercialismo da Pop Art.
  • A Land Art (ou Earth Art) também tentava despertar a consciência do lugar do ser humano no mundo natural e urbano.

Assemblage e Junk Art (Arte Povera)

  • Os artistas do Assemblage e da Junk Art criaram formas híbridas tridimensionais, reunindo objetos descartados e materiais de sucata em caixas, construções e instalações. Às vezes, apresentavam o objeto sem modificação, mas num novo ambiente, fora de contexto.
  • O Assemblage nasceu em NY, com as caixas-assemblage de Joseph Cornell nos anos 1930. Os primeiros assemblages foram influenciados pela colagem, ideia levada adiante por Robert Rauschenberg nas suas “pinturas combinadas” no fim dos anos 1950. A partir destas, criou-se o termo “Junk Art” em 1961.
  • A “Junk Art” se espalhou rapidamente pela América e apareceu na Europa com o movimento Arte Povera na Itália.

Arte Povera

  • Ou “Arte Pobre”, foi uma expressão cunhada em 1969 pelo crítico italiano Germano Celant. Segundo ele, a Arte Povera era “a convergência de vida e arte”, que prestava mais atenção a “fatos e ações”.
  • Desafiava a ordem estabelecida das coisas e valorizava mais os processos da vida do artista que buscavam poesia na presença dos materiais, do que os objetos que ofereciam apenas significados.

Land Art ou Earth Art

  • A Land Art, também chamada de “Arte da Terra”, surgiu nos anos 1970, inspirando-se no ambiente natural e utilizando as matérias-primas do mesmo para produzir as obras.
  • É uma arte criada no contexto do mundo natural, geralmente fora da galeria.
  • Contesta a noção de Arte divorciada do mundo exterior.
  • Explora os efeitos do tempo – arte efêmera.

Artistas Notáveis da Land Art

  • Richard Long
  • Christo e Jeanne-Claude (famosos por suas obras de embrulho)
  • Robert Smithson (via a arte como um processo dinâmico)
  • Andy Goldsworthy (obedece à estética minimalista, mas suas obras resultam em envolvimento com a natureza. Obras possuem caráter efêmero.)

Movimento Dadaísta

  • Surgiu durante a Primeira Guerra Mundial.
  • Revolta contra as contradições sociais e a barbárie da guerra.
  • Manifestava a intenção de romper fronteiras, delimitações de materiais ou regras na arte.

New Dada, Neodadá ou Novo Dadaísmo

  • Nasceu nos anos 1950 nos EUA e se desenvolveu nos anos 1960.
  • Recuperou algumas conquistas do movimento Dadá (uso de objetos do cotidiano).
  • Usa procedimentos como a apropriação e a assemblage.
  • Inspiração nos readymades de Marcel Duchamp.
  • A arte deveria abarcar a realidade cotidiana através dos objetos usados.

Arte Conceitual

Roberta Smith descreve:

“Em meados da década de 60, teve início um vale-tudo na arte, que durou cerca de uma década. Este vale-tudo, conhecido como Arte Conceitual [...] fazia parte de uma rejeição geral desse artigo de luxo único, permanente e, no entanto, portátil [...] que é o tradicional objeto de arte. No lugar dele, surgiu uma ênfase sem precedente nas ideias: ideias em, sobre e em torno da arte e de tudo mais [...] transmitida [....] por propostas escritas, fotografias, documentos, mapas, filme, vídeo, pelo uso que os artistas fazem sobre seus próprios corpos e, sobretudo, da própria linguagem.”

  • Uma das inspirações para a Arte Conceitual foi o artista francês Marcel Duchamp.

Sol LeWitt (1967, P.32) afirma:

“Na arte conceitual a ideia ou conceito é o aspecto mais importante da obra. Quando um artista utiliza uma forma conceitual de arte, isto significa que todo o planejamento e decisões são feitos de antemão, e a execução é uma questão de procedimento rotineiro. A ideia se torna uma máquina que faz arte.”

  • Um artista conceitual chamado Lawrence Weiner, por pensar a Arte como ideia, apontava três situações possíveis: Numa delas o artista chegava a arquitetar a peça; na outra ela podia ser fabricada a partir de suas indicações, e numa terceira possibilidade ela sequer precisaria ser construída. Desta forma, ele costumava expor nos museus e espaços de arte apenas as instruções para a sua obra, que poderia ser realizada efetivamente (ou não) em momentos posteriores.

Linha da Formatividade: A Arte como Conhecimento Racional

  • Os movimentos que fazem parte desta linha consideram a arte como um fato do conhecimento, ou seja, produzido pela racionalidade do ser humano e liberta de qualquer compromisso em reproduzir a realidade, o que a distingue da linha da expressão.
  • Nesta linha, o conteúdo da obra de arte é o seu próprio formar-se, é a discussão do seu fazer-se arte; a experiência linguístico-figurativa é o que importa.
  • Fazem parte os seguintes movimentos: Fauvismo, Cubismo, Abstracionismo, De Stijl, Concretismo, Op Art.

Fauvismo: Características

  • O tema fica em segundo lugar, o foco é discutir a linguagem.
  • Os artistas dão forma a suas sensações, mas os quadros são PENSADOS, ESTUDADOS.
  • Bidimensionalidade (não há volume nas formas).
  • Traçado selvagem.
  • Decorativismo.
  • Deformação e simplificação das formas.
  • Cores puras, expressivas, uniformes e agressivas, sem misturas ou matizes.
  • Linearidade (contornos reproduzindo traçados marcantes).
  • Sensação de alegria.

Cubismo

Cubismo Analítico ou Primeiro Cubismo (1908 a 1911)

  • Nesta fase, a decomposição da estrutura se faz minuciosamente, com facetas pequenas semelhantes a prismas.
  • As cores utilizadas são tons baixos, tendendo para a monocromia. Para não competir com o desenho, os contrastes de cor e textura são reduzidos ao mínimo.
  • Os planos são superpostos e o espaço quebra-se em inúmeros planos duros e aguçados. Figura e fundo parecem fundidos, fazendo parte do mesmo plano frontal da tela, e a alusão ao referente desaparece quase que por completo.

Cubismo Sintético (Posterior a 1912)

  • Introduziu as formas sintetizadas das pinturas planas, o espaço totalmente abstrato e deixou claro o aspecto “compositivo” das obras.
  • A decomposição é menor, menos fragmentada, e o uso de cores é menos intelectualizado, permitindo cores mais naturalistas e descritivas.
  • Letras pintadas já aparecem na obra de Braque em 1911, mas é a partir de 1912 que os artistas começam a incorporar fragmentos de jornais, maços de cigarros, areia, papéis de parede e tecido às suas obras.
  • Picasso foi o inventor da collage ou colagem, que é a incorporação de materiais estranhos à superfície do quadro, e Braque criou o papier collé, forma especial de colagem, em que tiras ou outros fragmentos de papel são aplicados à superfície da pintura ou desenho.

Abstracionismo

Abstracionismo Geométrico

  • Surgiu como conclusão do processo de purificação do Cubismo, pela ênfase dada aos aspectos bidimensionais da pintura.
  • Os artistas substituem o real abstraindo completamente; as imagens não fazem referência a nada real.
  • Os artistas não querem expressar nenhum sentimento com as obras, não criam para enfeitar; não pedem que as obras sejam interpretadas e renunciam à expressão de estados de espírito.

Abstração Orgânica (Biomórfica)

  • É o nome dado ao uso de formas abstratas baseadas nas que encontramos na natureza ou arredondadas.
  • É também denominada abstração biomórfica, e constitui uma notável característica da obra de muitos e diferentes artistas que trabalharam especialmente durante as décadas de 40 e 50.

De Stijl (Neoplasticismo)

  • Movimento estético que teve profunda influência sobre o Design e Artes Plásticas.
  • A revista “De Stijl” foi uma publicação iniciada em 1917 por Theo van Doesburg e alguns colegas que viriam a compor o movimento artístico conhecido por Neoplasticismo.
  • Arrancando a pintura do campo da representação e abraçando o abstracionismo total, objetivando a síntese das formas de arte, o Stijl caracterizou-se pelo fervor quase religioso de seus partidários, que acreditavam existir leis que regem a expressão artística e que viam em sua arte um modelo para relações harmoniosas julgadas possíveis para indivíduos e sociedade.

Concretismo

  • Por volta de 1930, alguns artistas perceberam que falar de arte abstrata era impróprio, pois o termo abstrato faz referência a coisas impalpáveis, e uma forma, mesmo que sem referência na realidade é, por si só, concreta.
  • O primeiro a expor a ideia foi Theo Van Doesburg, que, saindo do De Stijl, funda, em 1930, a revista “Art Concret”.
  • A pintura e a escultura tornam-se rigorosamente geométricas e não expressivas. A arte se volta totalmente para a cor, forma, ritmo e espaço, como um esforço de ordenação do caos, o “predomínio da razão humana”.
  • Rejeitavam o expressionismo, o acaso, a abstração lírica e aleatória. Nas obras não há intimismo nem preocupação com o tema, seu intuito é acabar com a distinção entre forma e conteúdo.
  • Era uma arte produzida pela mente antes de ser executada e deveria ser constituída apenas de elementos plásticos, como a superfície, linha e cores, buscando a simplicidade.

A Eclosão das Neovanguardas e a Arte Contemporânea

Os anos 60 apresentam ao mundo da arte a eclosão de uma série de movimentos chamados Neovanguardas. Alguns desses movimentos são inspirados nas vanguardas do início do século XX, enquanto outros trazem proposições totalmente novas.

Juntos, esses movimentos constituem o que chamamos de Arte Contemporânea, uma arte que, pela natureza diferente de seus materiais e técnicas, obriga as instituições, colecionadores, críticos e público a repensar seu modo de ver, discutir e aceitar a arte. A Arte Contemporânea se utiliza de todo o tipo de material e objetos para falar de nossa vida e da cotidianidade.

Arte Pobre ou Arte Povera (Itália, 1967)

O famoso "milagre italiano", o dinamismo econômico da Itália do pós-guerra, vivia a hora da recessão por volta do início dos anos 60. Depois da industrialização acelerada e da euforia de consumo, a Itália entrava em depressão econômica, com profundos desequilíbrios sociais e conflitos políticos.

É nesse clima de crise, em 1967, que surge a Arte Pobre, um movimento libertário, existencial e anarco-utópico, liderado por jovens artistas italianos. Eles criaram uma nova maneira coletiva de se manifestar em arte, respondendo à realidade de privações e instabilidade econômica.

Fundamentos e Características

  • O crítico de arte italiano Germano Celant cunhou o termo em 1967.
  • Os fundamentos ideológicos do movimento estão em oposição às propostas formalistas e consumistas da arte americana.
  • Traduz uma nova atitude moral, uma posição crítica, ética e política, introduzindo elementos e imagens perdidas, vindas do cotidiano e da natureza.
  • Os artistas se exprimem essencialmente realizando instalações onde utilizam materiais orgânicos, simples e "pobres", querendo elevar as coisas mais banais e insignificantes ao nível da arte.
  • O principal mérito da Arte Pobre foi produzir objetos de arte, apesar de ter consciência dos limites da situação econômica, eliminando o inútil e supérfluo.
  • Utilizavam elementos extraídos tanto da natureza (terra, água, fogo, ar) quanto do mundo da tecnologia (luz elétrica, néon, aço), todos descontextualizados, propondo a conciliação entre arte e vida.
  • O emprego de materiais antigos e modernos, reciclados ou não, manufaturados ou puramente orgânicos, revela a força elementar contida dentro deles e tinha a intenção de eliminar as barreiras entre a arte e o dia a dia das pessoas.
  • Há obras que se propõem a permanecer sempre como um processo aberto e sem final pré-determinado.

Artistas Principais

Alighiero Boetti, Mario Merz, Jannis Kounellis, Pino Pascali, Giovanni Anselmo, Giuseppe Penone, Luciano Fabro, entre outros.

Essa redução ao natural ou primário, com a utilização de técnicas pobres, coincide com os objetivos da Contracultura, com seu crescente despojamento material em uma sociedade consumista, baseada no desperdício.

New Dada, Neodadá ou Novo Dadaísmo

Foi um movimento nascido nos anos 50 nos EUA, com grande desenvolvimento nos anos 60, tendo como principal influência o Dadaísmo de vanguarda.

Características e Influências

  • Recuperação de algumas conquistas do movimento Dadá, sobretudo o uso de objetos e temas derivados do mundo diário, da mídia e da publicidade, mitigando as fronteiras entre arte e vida cotidiana.
  • O Neodadá reabilita procedimentos como a assemblage e a apropriação, pela utilização de objetos extra-artísticos nos trabalhos de arte.
  • A inspiração primeira são os ready-mades de Marcel Duchamp (1887-1968), construídos a partir da combinação inusitada de elementos da vida cotidiana ou da simples exposição de objetos comuns.
  • O movimento não teve nenhuma organização formal, sendo "New Dada" um dos rótulos dados a um grupo de artistas experimentais.
  • O objetivo era minar qualquer noção idealista de arte, em proveito de uma redução do mundo de coisas e imagens da vida cotidiana a uma intenção nova e vitalista.

Diferenças em Relação ao Dadaísmo Original

Embora o plano formal retome a ideia dos ready-mades e das colagens, o novo movimento não é um simples revivalismo. É no plano do conteúdo que os novos se afastam dos antigos: eles privam a escolha dos objetos da polêmica de serem considerados uma censura ao passado, tentando introduzir o passado no presente.

Os New Dadas se engajaram em mesclar materiais e mídias, humor, sagacidade e excentricidade. Rejeitavam a alienação e o individualismo associados aos expressionistas abstratos, em favor de uma arte que desse ênfase à comunidade.

Sua fonte é a cultura do refugo, o material que se coloca fora (caixotes antigos, sótãos empoeirados, sacos de lixo). A presença desses objetos usados, entretanto, ajuda a criar composições pictóricas, substituindo zonas de cor numa articulação plástica.

Artistas Principais

Os principais artistas foram os mesmos envolvidos com a Pop Art, como Robert Rauschenberg, Jasper Johns, Jim Dine, etc.

Minimalismo ou Minimal Art (Estruturas Primárias)

ABC Art, Arte Elementar, Arte Estruturalista, Arte Modular, Arte Redutiva, Arte Serial e Estruturas Primárias são alguns dos nomes dados a esta corrente artística que nasce em Nova York, no início dos anos 60.

O Minimalismo aparece na contramão da maioria dos movimentos da época, caracterizando-se por sua fisicalidade, com esculturas de formas reduzidas. Para ser impessoal, abandona toda referência lírica e ideológica, elimina o trabalho artesanal e manual e procura os materiais industrializados.

Princípios e Formalidade

  • As obras minimalistas eram desligadas de propósitos utilitários e afastadas de qualquer função ideológica ou representativa.
  • Compartilhavam com Mondrian a ideia de que a obra deve ser totalmente concebida pela mente antes de sua execução. A arte não era considerada expressão, mas sim uma força pela qual a mente podia impor sua ordem racional às coisas.
  • Formalmente, as obras são em geral dispostas de maneira geométrica, calculada e simples, expurgadas de qualquer metáfora ou significado.
  • São executadas com os mais diversos materiais industriais de concepção unitária: aço, ferro galvanizado, madeira, elementos luminosos, tubos fluorescentes, tijolos, chapas de cobre, tinta industrial.
  • A repetição de formas, a igualdade entre as partes e as superfícies neutras caracterizam a pretensão dos artistas de que o todo fosse mais importante do que as partes em si.

Relação com o Espaço e o Mercado

  • Pelas suas grandes dimensões e morfologia abstrata, algumas obras podem ser consideradas como dirigidas à arquitetura e urbanismo.
  • A escala arquitetônica permite que o escultor domine o ambiente, às vezes invadindo o espaço do espectador.
  • O espaço onde as obras estão instaladas é parte integrante do trabalho, pois o espaço real é visto pelos artistas como mais vigoroso e específico do que, simplesmente, “tinta sobre tela”.
  • A grande dimensão das obras continha uma crítica ao mercado de arte, pois a maioria dos colecionadores e museus não possuía o espaço necessário para recebê-las, recusando-se a transformar a arte em mercadoria.

Complexidade da Experiência

Os artistas diziam que a simplicidade da forma não se equaciona diretamente com a simplicidade da experiência, pois as formas unitárias não reduzem os relacionamentos, elas os ordenam. Além disso, ao restringir os elementos que atuam em cada obra, acabam-se criando efeitos mais complexos do que mínimos.

Um tema constante no Minimalismo é a atuação recíproca entre espaços positivos e negativos, entre objetos reais e sua interação com os objetos de seu entorno imediato.

Artistas Principais

Robert Morris, Donald Judd, Frank Stella, Tony Smith, Sol LeWitt e Carl André.

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