Nietzsche: As 3 Transformações do Espírito
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F. Nietzsche pertence ao período da filosofia contemporânea do século XIX. Seu pensamento é parte do fluxo de vitalidade, com ênfase na vida como o valor supremo e a vontade de poder como uma reação contra o racionalismo excessivo do período refletido na filosofia de Hegel e no culto generalizado da ciência.
O ASSUNTO deste texto são as três transformações do espírito que irão pavimentar o caminho para o surgimento do Super-Homem.
IDÉIAS PRINCIPAIS:
- O espírito passa por três transformações: camelo, leão e criança.
- O espírito de camelo se ajoelha, humilha-se, zomba de sua própria sabedoria e corre com a sua carga para o seu próprio deserto.
- A segunda transformação é a de um leão que quer conquistar a liberdade e ser senhor. Para isso, tem que enfrentar o dever (o dragão, seu mestre até agora).
- O leão ainda não é capaz de criar novos valores, mas prepara o terreno da liberdade necessária para criar novos valores.
- O leão deve tornar-se uma criança que é inocente, esquecimento, um sagrado dizer sim e capaz de criar novos valores.
RELAÇÃO ENTRE AS IDÉIAS: No início do texto, Nietzsche explica qual será o objeto do mesmo: a transformação e evolução a ser realizada pelo espírito e pela moral, usando a metáfora do camelo, do leão e da criança. O resto do texto serve para explicar o que representam essas três transformações. Assim, o camelo é o símbolo da carga moral judaico-cristã, o leão da transição e da necessidade de liberdade para o advento da última transformação, a criança, que é o criador de novos valores: o Super-Homem.
EXPLICAÇÃO DAS IDÉIAS: Neste trabalho, pertencente à obra-prima do pensamento de Nietzsche, o autor reflete sobre o processo a ser seguido para superar a decadência, a doença do Ocidente. Deste modo, reflete a evolução histórica da moralidade.
Assim, segundo o texto, em primeiro lugar, há o surgimento da moral judaico-cristã, que o homem aceita (a carga) dos valores morais que são inimigos da vida. O camelo simboliza, desta forma, o ônus dos valores que diminuem a vida que ameaçam a cultura ocidental e encontrou seu maior expoente na figura de Deus, um símbolo ao qual ele está inclinado. Esta besta de carga representa a renúncia e a humilhação que o cristianismo, mentor da perversão dos valores ocidentais, impõe, gerando vingança e ressentimento. O cristianismo é responsável pela crise da vida da nossa cultura, uma crise que nos condena à autodestruição e ao abismo, porque:
- Implica a perda dos instintos mais fortes, levando a inventar outro mundo e desprezar este.
- Apenas valoriza os valores mais estreitos: obediência, sacrifício, humildade... próprios do rebanho.
- Com o conceito de pecado, destrói as formas e valores nobres da vida e os corrompe em sua raiz.
Mas, como afirmado no texto, naquele deserto para onde o camelo se dirige com sua carga, o espírito se torna um leão, ele se rebela contra seu mestre e se liberta. O homem-leão, crítico e senhor de si mesmo, rebelando-se contra "o dever" (o grande dragão) e diz "eu quero", impondo sua vontade. O leão, portanto, simboliza a libertação de Deus e a lei moral, refletida na "morte de Deus", na morte de seu "último mestre".
Com a morte de Deus, Nietzsche quer devolver ao homem a propriedade de sua existência, e realiza a crítica mais radical da moralidade, religião e da metafísica do Ocidente. Com essa metáfora, então, Nietzsche anunciou que os pilares que sustentaram a cultura e tradição ocidentais entraram em colapso, de modo que o leão é também o símbolo do niilismo, o grande negador. O leão, então, pavimenta o caminho para a liberdade de dizer "não" e destruir os velhos valores do Ocidente. Mas, ao mesmo tempo em que destrói, cai no niilismo, o que significa estar sem bússola e orientação na existência, baseada em valores falsos e decadentes.
O leão, portanto, embora incapaz de criar um novo valor, é eficaz para preparar o terreno para uma "nova criação". Assim, Nietzsche distingue dois tipos de niilismo: o passivo, que representa a ausência de um sentido para o mundo e a existência que Deus havia impresso, e o ativo, como uma forma de superar o estado anterior e que vê a morte de Deus não como o "pôr do sol", mas como "Aurora". O niilismo ativo assume uma forte vontade de poder e está pronto para executar uma tarefa: a reavaliação de todos os valores.
Assim, é necessário que o leão se torne uma criança, isto é, que o homem da cultura ocidental decadente construa pontes para o criador de novos valores: o Super-Homem. A criança, portanto, realiza a construção de uma nova moral, baseada na inocência e esquecimento, e cujo valor fundamental é a vida. Esta nova moral substitui a moral de escravos, pregada por homens que praticam os valores de bravura e nobreza do homem superior. A criança, portanto, é o artista que cria novos valores resultantes da vontade de poder, brinca e inventa novas formas de valorização da vida, vive o eterno retorno e agarra-se ao chão com um "sagrado Sim".
Em conclusão, este texto mostra, segundo Nietzsche, o meio necessário para transformar o homem decadente que representa a cultura do Ocidente e o advento de uma nova era na história da humanidade com a figura do Super-Homem.