Nietzsche, Platão e a Crítica da Metafísica e Moral
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Nietzsche: A crítica da metafísica tradicional dos conceitos de Platão. Estes, considerados a verdade absoluta e o bem, e que procuraram construir um mundo real, são, na verdade, algo que se pode herdar como vazio e abstrato. Os Dois Mundos (inteligível e sensível): o primeiro é, na verdade, uma ficção vazia, baseada numa ficção. A solução de Nietzsche é clara: a própria aparência faz parte do ser que é reivindicado; a aparência baseada nos sentidos é prova suficiente da verdade. Segundo Nietzsche, essa afirmação (a ideia do bem) teve na história da nossa cultura três repercussões negativas:
- A invenção de um mundo real, um mundo exclusivamente pela razão.
- No sentido religioso, a ideia do bem é acolhida pelo platonismo cristão como o pináculo do mundo divino, fundamental para Deus, e implica a rejeição do mundo sensível, do mundo natural, da nossa realidade física.
- Que o mundo das ideias é a invenção de uma moral para um homem fictício que procura benignidade, bondade, santidade.
Contra isso, a proposta de Nietzsche é prevenir a decadência e retornar à vida, ao terreno e ao instintivo. Finalmente, a moral da ética política que deriva da concepção platónica leva a um homem escravo, fraco, sempre comprometido com a tarefa do poder, da religião, de Deus ou do estado político. Nietzsche defende o homem autónomo, livre, o herói, o homem forte como um modo de vida. María Zambrano pensa que Platão, no Livro VII da República, realizou uma ruptura violenta com a realidade superficial, a aparência sensível. A sensibilidade foi demitida, e devemos a um mundo suprassensível de clareza absoluta, a verdade, a expulsão de seu seio de toda a sensibilidade e emoção. Para a frente, o filósofo, o poeta. María alegou que se é capaz de ser movido não apenas pela luz da razão, mas pela metafísica do coração. Temos de superar a divisão entre a razão e a poesia, entre o pensamento e a palavra poética, que foi realizada na própria República de Platão.
Emilio Lledó, filósofo espanhol contemporâneo, diz que seu trabalho é o resultado de um diálogo permanente com Platão. É a confirmação de que em Platão encontramos as raízes da filosofia e os contornos de seus temas centrais: o ser, o saber, o homem, a política, os valores... E hoje, vivemos uma situação de crise económica, discutimos o papel dos partidos políticos e falamos da necessidade de formação, educação, justiça, características do modelo de cidadão e de participação ativa no domínio público, qualidades que requerem conhecimentos e capacidade racional. Por conseguinte, é oportuno rever as críticas de Platão aos "sofistas" (hoje chamaríamos de "consultores" da política), aos políticos, então guiados pelo desejo de poder, e aos mestres em discursos tão persuasivos e manipuladores, situação geral do filósofo político e social vivido em Atenas. É também pertinente analisar a importância da educação do cidadão em Platão, uma educação ativa e capaz de desenvolver o potencial do aluno (o que chamaríamos de uma "aprendizagem ativa"). A filosofia, entendida como saber racional e rigoroso para além de qualquer discurso persuasivo, é para Platão o instrumento para uma nova ordem moral, social e política adequada. Se a filosofia é conhecimento racional e discutível, então é adequado considerar Platão como o precursor da ética do discurso e do diálogo. No domínio da filosofia teórica do ser e do saber, ainda é relevante a discussão sobre a diferença platónica entre realidade e aparência: as aparências "mostram ou ocultam a realidade?" Hoje a tecnologia tornou possível o surgimento de um mundo virtual. Qual é o grau de veracidade das informações da TV ou Internet? Tem havido casos de "viciados" na Internet, jovens que deixam de viver apenas para estar conectados à rede. É difícil traçar um paralelo entre esses jovens e os prisioneiros da caverna de Platão. No campo do conhecimento, Platão não afirma que todo conhecimento pode ser considerado "ciência", o verdadeiro conhecimento (episteme). Hoje, a ciência moderna parece não ser a episteme (ciência) platónica, mas explora o culto da matemática, tipicamente pitagórica - e platónica.