Nietzsche: Vontade de Poder, Niilismo e o Super-Homem
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1. A Genealogia da Moral e o Super-Homem
Utilizando o método genealógico, Nietzsche propõe uma investigação dos conceitos morais do ponto de vista etimológico e histórico. Ele observa que, em todas as culturas, o significado de “bom” está associado a valores que remetem à nobreza, ao orgulho ou à força. Já o termo “mau” se relaciona a valores que determinam o plebeu, como a humildade ou a obediência.
Segundo Nietzsche, a transformação de valores foi iniciada pelos judeus e continuada mais tarde pelo cristianismo. Isso resultou em uma rebelião de escravos, cuja base fundamental é o ressentimento.
A Reavaliação de Valores
Há a necessidade de produzir uma nova reavaliação de valores, seguindo a ideia central da afirmação da vida. Nietzsche considera essencial introduzir novos valores que tenham sua origem em uma celebração da vida, em vez de rancor contra ela. A humanidade tem avaliado como bom tudo o que é hostil à vida, daí a urgência dessa reavaliação.
Essa reavaliação é personificada no Super-Homem (Übermensch), o único com força criativa suficiente para forjar novos valores, e que possui a Vontade de Poder. A Vontade de Poder é criadora de valores, e só o Super-Homem, como seu portador, irá criá-los. Este Super-Homem pode ser um produto do eterno retorno.
Ele é o produto das três transformações do espírito:
- O Camelo: que carrega o peso do passado.
- O Leão: que declara a própria individualidade e se rebela contra a moralidade passada e cristã.
- A Criança: que é forte o suficiente para criar novos valores, pois é inocente, situa-se além da vontade moral tradicional e possui a afirmação plena.
2. Sociedade e Niilismo
A cultura ocidental está mergulhada em uma época de niilismo. Nietzsche define o niilismo em termos de força de vontade: quando esta diminui em uma civilização, conduz ao aparecimento da abordagem niilista. Segundo Nietzsche, esta é a situação que prenuncia a queda da civilização ocidental.
Nietzsche distingue o niilismo passivo e reage contra ele por meio do que chamou de niilismo ativo. Dentro do niilismo ativo, é possível distinguir dois aspectos:
- Aspecto Destrutivo: O espírito niilista ativo se esforça para destruir os valores que não têm mais efeito sobre ele. Ele destrói pela Vontade de Poder, não esperando que os valores caiam por conta própria.
- Aspecto Criativo: Somente a partir da destruição de valores obsoletos será possível criar novos valores.
3. Conhecimento e Perspectivismo
De acordo com Nietzsche, devemos aceitar o testemunho dos sentidos. Devemos encarar as aparências como reais e autênticas, rejeitando o autoengano. As coisas em si mesmas, assim como o restante dos conceitos metafísicos, não são nada mais do que o engano da linguagem por ter subestimado os sentidos e, consequentemente, superestimado a razão. Portanto, Nietzsche dirá que o grande erro da metafísica, de Platão a Kant, foi ter postulado a existência de um mundo real em oposição a um mundo apenas aparente, quando o mundo aparente é o real.
Conhecimento como Interpretação
Nietzsche refere todo o seu pensamento à ideia da Vontade de Poder. Segundo ele, o desejo de conhecimento é um produto da Vontade de Poder. O ser seria uma manifestação da Vontade de Poder. O mesmo acontece com a ciência, que não é senão uma tentativa de impor leis à natureza em constante evolução, a fim de controlar e dominar.
Nietzsche considera que o conhecimento é um processo de interpretação da realidade. O conhecimento não pode estar alheio à vida; deve ser incluído nela. Assim, o processo de interpretação deve ser baseado nas necessidades da vida. O objetivo final do conhecimento é tentar controlar e corrigir o futuro.
Se o conhecimento é interpretação e um processo de devir, falar de uma verdade absoluta é uma invenção da razão, que não pode suportar o movimento do futuro e procura refúgio em si mesma. Nietzsche diz que existem certas ficções que são mais necessárias do que outras para viver, e estas são consideradas como verdades absolutas. Aquelas consideradas inúteis são tidas como erros ou falsidades. As ficções que são consideradas verdades se tornam parte da linguagem, o que torna a mentira problemática, pois essas verdades foram tradicionalmente extrapoladas da linguagem e consideradas uma representação fiel da realidade.
4. A Morte de Deus e a Crítica ao Cristianismo
De acordo com a metáfora do niilismo, o destino da civilização ocidental é o esgotamento de seus valores. Nietzsche dizia que a cultura ocidental perdeu o seu norte, representado em Deus e nos valores que essa figura encarna. A cultura ocidental está mergulhada em um processo de autodestruição.
Nietzsche identifica o cristianismo como a fonte comum de todas as manifestações culturais da Europa Ocidental que se apresentam como portadoras de niilismo e inimigas da vida. É por isso que o cristianismo é o inimigo contra o qual Nietzsche lança seu ataque ao desenvolver sua crítica da cultura.