Grandes Nomes do Regionalismo na Literatura Brasileira
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José Lins do Rego
Ele apelou constantemente para as recordações da infância e da adolescência para compor seu Ciclo da Cana-de-Açúcar – série de romances de caráter memorialista que retratam a Zona da Mata nordestina num período crítico de transição: a decadência dos engenhos, esmagados pelas poderosas usinas. Em todo o ciclo, o cenário é o Engenho Santa Rosa, do velho coronel Zé Paulino, avô de Carlos de Melo (o narrador de Menino de Engenho que em muitas passagens é o próprio José Lins). Além deles, povoam o Santa Rosa o tio Juca, os moleques – filhos dos empregados – que vivem soltos pelos engenhos e brincam com os meninos – filhos do proprietário – na ingênua igualdade da infância, apesar dos preconceitos dos adultos. Em 1943, ele publicaria um romance que é considerado síntese de todo o ciclo: Fogo Morto, ponto máximo de sua obra. Além do ciclo da cana, ele abordou outros aspectos típicos da vida nordestina, como o misticismo e o cangaço, presentes em Pedra Bonita e Cangaceiros. A provável fonte temática, bem como a oralidade da narrativa, nesses casos, teria sido a literatura de cordel, como afirma o próprio autor. Água-Mãe e Eurídice são os únicos romances ambientados fora do Nordeste e, nas palavras do próprio autor, "desligados dos ciclos da cana-de-açúcar, do cangaço, do misticismo e da seca".
Érico Veríssimo
É o representante gaúcho do regionalismo modernista. Parte de seus romances – desde Clarissa até Saga, passando por Música ao Longe, Caminhos Cruzados e Olhai os Lírios do Campo – retrata a vida urbana da provinciana Porto Alegre, a crise da sociedade moderna, cuja nota marcante é a falta de solidariedade e o cotidiano caótico. Seus personagens, com destaque para Clarissa e Vasco, reaparecem em várias situações e em vários momentos, o que levou o crítico Wilson Martins a reconhecer um ciclo de Clarissa. Como seu eixo se repete ao longo de vários romances, o autor tem sido acusado de ser redundante, o que evidencia seu maior defeito: a superficialidade, tanto na abordagem psicológica quanto na social. Entretanto, esses primeiros romances são responsáveis pela popularidade alcançada pelo autor, igualando-o, em termos de aceitação pública, a Jorge Amado. Entre suas obras inclui-se ainda a trilogia épica O Tempo e o Vento, que remonta ao passado histórico do Rio Grande do Sul dos séculos XVIII e XIX e aborda as disputas de terra e poder pelas famílias Amaral, Terra e Cambará. Desse painel saltam alguns personagens heroicos, como Ana Terra e o Capitão Rodrigo. O Tempo e o Vento aparece dividido em O Continente, que cobre o período histórico do século XVIII até 1895 com as lutas do início da República; O Retrato, que enfoca as primeiras décadas do século XX; e O Arquipélago, narrativa mais contemporânea, que chega até o Governo Vargas. À última fase da produção de Veríssimo, mais dedicada aos temas da atualidade, pertencem os romances O Senhor Embaixador, O Prisioneiro e Incidente em Antares.
Graciliano Ramos
É tido como o autor que levou ao limite o clima de tensão presente nas relações homem/meio natural e homem/meio social, tensão essa geradora de um conflito intenso, capaz de moldar personalidades e de transfigurar o que os homens têm de bom. Nesse contexto violento, a morte é uma constante, é o final trágico e irreversível decorrente de relacionamentos impraticáveis. Assim, encontramos suicídios em Caetés e São Bernardo, um assassinato em Angústia e as mortes do papagaio e da cadela Baleia em Vidas Secas. Em seus romances, a lei maior é a da selva. Portanto, a luta pela sobrevivência parece ser o grande ponto de contato entre todos os personagens. Em consequência, uma palavra se repete em toda a obra do escritor:"bich", ou ainda, como no início de Vidas Secas,"vivente", aqueles que só têm uma coisa a defender – a vida. As condições subumanas nivelam animais e pessoas. Pensemos um pouco nessa curiosa "família": dois humanos adultos, identificados apenas pelos nomes Fabiano e Sinhá Vitória (eles não têm sobrenome), dois humanos infantis sem nome, identificados como "o mais velho" e "o mais novo", e dois bichos – o papagaio e a cachorra Baleia – um identificado pela espécie, outro pelo nome próprio. O papagaio é sacrificado, devorado canibalisticamente, em nome da sobrevivência dos demais; a cadela Baleia também é sacrificada em nome da sobrevivência dos demais – doente, ela atrapalhava a caminhada da família. O crítico Antonio Candido divide a obra de Graciliano Ramos em três categorias:
- Romances Narrados em Primeira Pessoa: (Caetés, São Bernardo e Angústia) nos quais se evidencia a pesquisa progressiva da alma humana, ao lado do retrato e da análise social.
- Romance Narrado em Terceira Pessoa: (Vidas Secas) no qual se enfocam os modos de ser e as condições de exigência, segundo uma visão distanciada da realidade.
- Autobiografias: (Infância e Memórias do Cárcere) em que o autor se coloca como problema e como caso humano; nelas transparece uma irresistível necessidade de depor.
Do ponto de vista formal, Graciliano Ramos talvez seja o escritor brasileiro de linguagem mais sintética. Em seus textos enxutos, a concisão atinge seu clímax: não há uma palavra a mais ou a menos. Trabalha a narração com a mesma maestria, tanto em primeira quanto em terceira pessoa.
Jorge Amado
Representa o regionalismo baiano da zona rural do cacau e da zona urbana de Salvador. Sua grande preocupação foi fixar tipos de marginalizados para, através deles, analisar toda a sociedade. Seus romances, vazados numa linguagem que retrata o falar do povo – o que lhe tem valido críticas dos mais puristas – são marcados pelo lirismo e pela postura ideológica. Acerca desse último aspecto, Jorge Amado nunca fez segredo de suas posições políticas, seja como homem público, seja como escritor, e não só dedicou alguns livros a Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, como escreveu uma biografia do líder comunista brasileiro. Podemos notar, no entanto, posições mais amenas em seus romances posteriores à década de 50. De Seara Vermelha, por exemplo, para Dona Flor e Seus Dois Maridos, há uma distância clara e evidente, embora negada pelo autor em suas entrevistas. O primeiro é mais político, revolucionário, ao passo que o último é mais lírico, caracterizado por um certo humor extraído do cotidiano. Esse fato tem levado os críticos literários a compartimentar sua obra em:
- Romances Proletários: retratam a vida urbana em Salvador, com forte coloração social, como é o caso de Suor, O País do Carnaval e Capitães da Areia.
- Ciclo do Cacau: seus temas são as fazendas de cacau de Ilhéus e Itabuna, a exploração do trabalhador rural e os exportadores – a nova força econômica da região. Cacau, Terras do Sem-Fim e São Jorge dos Ilhéus pertencem a esse ciclo. O próprio autor afirma: "A luta do cacau tornou-me um romancista".
- Depoimentos Líricos e Crônicas de Costumes: essa fase, iniciada com Jubiabá e Mar Morto, se consolidaria com Gabriela, Cravo e Canela (que, apesar de apresentar a zona cacaueira como cenário, é uma crônica de costumes), estendendo-se às últimas produções do autor. Evidentemente, essa divisão encerra apenas uma finalidade didática.