Novecentismo: O Ensaio e a Novela na Geração de 14
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O Novecentismo: O Ensaio e a Novela
Contexto Histórico e Literário
Para alguns autores, o século XX começa verdadeiramente com a Primeira Guerra Mundial. Em 1914, inicia-se uma nova etapa para a Europa, e também a Espanha sofrerá várias mudanças a partir daí. A crise trouxe fortes conflitos sociais e significou o fim do regime de partidos rotativos. Frente à velha oligarquia, levanta-se com força uma pequena burguesia reformista e, ao mesmo tempo, as forças operárias ganham protagonismo. Assim, após o parêntese da Ditadura (1923-1930), que teve a oposição dos intelectuais, as novas forças políticas irão propiciar o advento da Segunda República em 1931. No entanto, a luta entre essas novas forças e o velho bloco dominante explica as transformações da República e o desencadeamento da Guerra Civil (1936-1939).
Em Espanha, esta etapa significa, antes de tudo, a substituição dos modernistas e noventaoitistas e a mudança de rumo de alguns escritores, como Machado ou Valle. Mas os novos caminhos são muito variados. São três os rótulos que se utilizaram para denominar esta época: Novecentismo, Vanguardismo e Geração de 27.
A Geração de 14 e o Novecentismo
As novidades não ocorrem só na crítica e no ensaio, mas também noutros géneros. Não obstante, não podemos dizer que os novos escritores formam um grupo; fala-se mais na existência de “um clima intelectual distinto” com características determinadas. Daí as denominações para englobar os escritores nascidos nos anos 80: Geração de 1914 e Novecentismo.
Este último termo foi usado por Eugenio D'Ors para designar aquelas tendências que se afastavam totalmente das formas artísticas herdadas do século XIX. Díaz Plaja aceita o termo Novecentismo, dizendo que se trata do que já não é nem Modernismo nem Noventayochismo, e o que todavia não é Vanguardismo. Assim, o Novecentismo centra-se na primeira década do século XX, alcança a sua maturidade até 1914, convive com as vanguardas dos anos 20 e inicia o seu ocaso ideológico e estético com a politização da literatura a partir de 1930.
Ideologia do Novecentismo
Politicamente, as raízes dos novecentistas baseiam-se num reformismo burguês que vai desde o liberalismo puro até posições social-democratas. É bem sabido o papel que homens como Ortega, Marañón, Azaña, entre outros, desempenharam na defesa dos ideais republicanos.
Culturalmente, supõe a aparição de um novo tipo de intelectual. Frente à boémia modernista, cria-se a “pulcritude” (palavra-chave do momento). Ao autodidatismo opõe-se uma sólida preparação universitária, que pretende uma visão objetiva dos problemas. As anteriores atitudes irracionalistas ou exaltadas são substituídas por uma capacidade de clareza racional. Surge também uma vocação magistral orientada para a formação de “minorias” através da imprensa.
Todos eles agem contra atitudes “decimonónicas”. Por isso, rejeitam a Geração de 98 e o Modernismo, já que lhes pareciam epílogos do século XIX. Todos se declaram antirromânticos e defendem o clássico. Frente ao casticismo, os novecentistas declaram-se europeístas. Atendem ao universal e resistem a encerrar-se no nacional, daí uma preferência pelo urbano em vez do rural. Outro tema muito frequente é o da revolução do poder (antecedentes ao regeneracionismo) e um elitismo cuja máxima expressão se encontra na obra España invertebrada de Ortega.
A Estética Novecentista
Apresenta uma série de orientações comuns a todos os géneros. O ponto de partida da nova estética será a reação contra as sequelas decimonónicas. Portanto, rejeitam o Romantismo e o Realismo trivial. Seus representantes, como Ortega y Gasset, D'Ors ou Díaz-Plaja, enumeram as consequências dessa rejeição:
- Fuga do sentimentalismo: É a característica mais marcante da nova literatura. D'Ors convida a restringir o romântico e o apaixonado, e a ser governado pelo apolíneo, isto é, o clássico e o sereno.
- Abandono da dicção interjecional: Segundo D'Ors, o abandono do tom apaixonado.
- Busca pela "pulcritude": Fala-se de pulcritude, distanciamento e equilíbrio.
- Literatura para minorias: A criação é feita pensando numa seleção que leva a uma literatura minoritária.
- Intelectualismo: É característico o intelectualismo, produto da preocupação em evitar o sentimental.
Tudo isso leva ao ideal de uma "arte pura", que é produzida pelo mero prazer estético. Quanto ao estilo, é fundamental a preocupação com a linguagem. Há nos novecentistas um cuidado pela forma presidido por uma ideia de “tensão”: o escritor foge do fácil e do desajeitado. A prosa utiliza os recursos da poesia. O cultivo do poema em prosa é sintomático (Platero y yo é de 1914). Em suma, a estética novecentista é presidida por uma obsessão constante pela obra bem pensada e bem feita.
O Ensaio
Segundo Azorín, o núcleo da Geração de 14 era formado por “críticos, historiadores, professores, eruditos”. No entanto, entre eles, destaca-se o lugar dos ensaístas.