Obras-Primas do Barroco: Caravaggio, Velázquez e Bernini
Classificado em Língua e literatura
Escrito em em
português com um tamanho de 12,02 KB
A Morte da Virgem (Caravaggio)
Autor: Michelangelo Merisi da Caravaggio. Data: 1605-1606. Meio: Óleo sobre tela. Local: Museu do Louvre. Estilo: Barroco Italiano.
Contexto e Tema
Após o Concílio de Trento, a Igreja propõe a arte como um veículo para a religião, servindo como uma arte de propaganda. Através da arte, procura atrair o crente, levando-o a sentir a paixão e o sofrimento dos personagens representados. O crente deve ser movido por essas obras, e, por conseguinte, o sentimento será o elemento principal. O tema é religioso: a morte da Virgem, Mãe de Cristo. Os apóstolos e os enlutados, incluindo Maria Madalena, demonstram sofrimento.
Descrição e Técnica
A Virgem, em seu leito de morte (um berço), aparece com um vestido vermelho, com os pés descalços, cabelos despenteados, suas mãos inertes, o corpo inchado e um halo divino fino sobre a cabeça. Ao lado dela, encontramos Maria Madalena, que repousa a cabeça desconsoladamente sobre os joelhos. Próximo a ela, vemos uma tigela de metal (bacia) usada para limpar o corpo de Maria. Os apóstolos reunidos mostram atitudes diferentes perante a morte: São João reflete na vertical, outros choram, secam suas lágrimas ou escondem os olhos em sinal de dor.
A cena toda se passa em uma sala austera e escura, com uma densa cortina vermelha caindo do teto. A composição é diagonal, organizada a partir do rosto da Virgem. Os elementos que a criam são:
- Raio de Luz: Surge de uma janela no canto superior esquerdo e atinge o rosto de Maria.
- A escala dos apóstolos.
- A cortina.
Cores: Cores saturadas. Predominância do vermelho (morte, paixão, dor), quente em Maria Madalena e nas vestes dos apóstolos. Esta revisão destaca o sentimento (Cor acima da linha). Mas também vemos o verde, cor complementar do vermelho. Caravaggio quer realçar o contraste de atitudes: vermelho, quente (dor, sofrimento) versus o verde de São João (atitude de reflexão).
Luz e Tenebrismo: Uso de chiaroscuro muito forte, dando origem ao tenebrismo. Ilumina bruscamente o que se quer mostrar, mergulhando o resto da cena na escuridão. A luz surge da esquerda, de uma parte superior, e cai sobre Maria Madalena, dando volume que molda e confere profundidade à cena, obscurecendo o fundo e iluminando o primeiro plano. O foco de luz e cor realça o drama do momento e a dor da cena.
Naturalismo e Impacto
O naturalismo da obra causou grande impacto no espectador. Não sugere uma mulher idealizada, como geralmente representa a Igreja nas imagens, mas sim uma mulher afogada no Tibre, descalça, inchada... É uma cena cotidiana. O realismo é mostrado também no anacronismo das vestes de Maria e Maria Madalena ou na tigela descrita como uma natureza morta. A teatralidade barroca é apropriada na presença da cortina, que descobre uma cena realmente dramática.
Caravaggio abandona o ideal de beleza e a idealização das personagens para trazer ao espectador uma sensação de profundidade religiosa que domina o sofrimento, tal como preconizado pela Igreja depois da Contrarreforma. No entanto, Caravaggio, através do trabalho direto, tenta ir mais longe, quer captar a verdadeira realidade. Ele busca, com seu naturalismo e sua manipulação da luz e cor, fazer o espectador sentir a religião verdadeira, real. Embora seja digno de nota que ele não elimina completamente a santidade da cena, como evidenciado pela aura fina que vemos na cabeça de Maria.
Las Meninas (Velázquez)
Análise Temática e Expressiva
A perspetiva é um elemento central na obra, alcançada principalmente pela perspetiva aérea e pela luz. Existem várias fontes de luz: a que entra pela janela e ilumina os personagens em primeiro plano; e a que entra pela porta traseira, que é mais intensa e confere profundidade à imagem. Nesta porta, está um homem que cumpre a missão de atenuar a luz, sem a qual seria muito intensa.
A perspetiva aérea faz com que as cores desvaneçam com a distância, devido à massa de ar. As linhas de fuga são apresentadas nas caixas à direita. A grande parte do telhado também ajuda a criar perspetiva. As linhas horizontais e verticais da composição contrastam com as curvas dos personagens do primeiro plano, o que confere flexibilidade ao trabalho. Uma curva desce da cabeça do pintor para a princesa, sobe para a dama do lado esquerdo e desce novamente para alcançar a borda da tela. As vigas do teto guiam o olhar para o fundo, em direção à imagem refletida dos reis no espelho. Em primeiro plano, as características exageradas do bobo da corte e sua roupa escura contrastam com a delicadeza da Infanta.
Personagens (Tópico Figural)
Da esquerda para a direita, estão: uma grande tela, o pintor (Velázquez) vestido como um cortesão com uma paleta e um longo pincel, uma dama que oferece à princesa um vaso sobre uma bandeja de ouro, a Infanta Margarita, uma dama com uma atitude amigável, um palhaço e um anão que chuta um cão sonolento. Um pouco mais atrás, vê-se uma mulher em hábito de freira conversando com um homem que parece não ter importância. No fundo da tela, há um homem entre uma porta e um espelho com duas figuras. Toda a cena é envolvida por paredes cobertas de pinturas.
Assunto e Significado
O quadro apresenta o momento em que a família real visita os Reis, enquanto Velázquez os retrata. A figura do monarca é vista no espelho do fundo. Os personagens, que olham para os retratos, são: Velázquez, Dona Agustina Sarmiento (menina da princesa), a Infanta Margarita, Dona Isabel de Velasco (menina), Maribárbola (palhaça) e Nicolasito Pertusato (anão). Atrás, vê-se Marcela de Ulloa e, para alguns, Diego Ruiz de Azcona. No fundo, estão José Nieto, o camareiro-mor da Rainha, e as guardadamas.
A obra foi realizada para a contemplação do rei. Velázquez queria encorajar o rei a pensar sobre a condição do pintor real. O quadro foi pintado em 1656. Esta é uma das últimas telas pintadas por Velázquez, pois sua técnica de luz e perspetiva já estava aperfeiçoada. Neste momento, Velázquez já atuava há muito tempo na corte. A cruz da Ordem de Santiago, concedida dois anos após a pintura do quadro, foi adicionada à composição em 1659, cumprindo sua maior aspiração como cortesão.
As Fiandeiras (A Fábula de Aracne)
Logo após a pintura Las Meninas, Velázquez começou outra grande tela, As Fiandeiras, que, juntamente com Las Meninas, são duas composições principais. Esta é uma grande pintura a óleo sobre tela, pintada por Velázquez em 1657 para o caçador-mor do rei, Pedro de Arce. Atualmente, está no Museu do Prado, em Madrid. É, juntamente com Las Meninas, o ponto culminante do estilo de Velázquez.
Interpretação e Alegoria
À primeira vista, parece ser uma cena de oficina, um exemplo do que tem sido chamado de "pintura de género", pois no primeiro plano temos uma série de mulheres a fiar na roda e a preparar fios. Ao fundo, três mulheres, vestidas como nobres, observam uma tapeçaria que retrata um tema mitológico.
Esta é, no entanto, mera aparência, pois o que está realmente na pintura é uma alegoria do destino, a representação da Fábula de Aracne. Aracne era uma jovem famosa por ser uma boa tecelã, que desafiou a deusa Atena (inventora da roda) para um duelo de tecelagem. De acordo com esta interpretação, Aracne seria a menina que está de costas para nós, tecendo sua tapeçaria (a retratada no fundo da sala), enquanto a deusa Atena aparece disfarçada de mulher idosa, atendida no primeiro plano. O pintor dá-nos pistas sobre quem ela realmente é, mostrando a perna que não corresponde à idade da mulher no rosto.
A cena de fundo corresponde ao fim da história: Atena, representada pelos seus atributos guerreiros, aparece na frente da menina, vestida com um traje clássico, levantando a mão para punir e condenar Aracne a tecer para sempre na forma de aranha. Estas duas figuras parecem fazer parte da tapeçaria que está no fundo da sala, mas, de acordo com essa interpretação, estariam localizadas à frente dela.
Composição e Técnica
Na composição, notamos a ambiguidade de Velázquez, que representa vários momentos da narrativa e dispensa qualquer tipo de hierarquia de valores, de modo que o espectador não tem qualquer referência que esclareça a verdadeira ordem e significado da imagem. Em termos de composição, destaca-se a simetria observada, pois o trabalho é estruturado a partir de gestos paralelos invertidos.
A profundidade é alcançada com a perspetiva aérea, obtida pelo conjunto de luzes frontais e laterais que lembram o que os pintores impressionistas fariam anos mais tarde. A habilidade para alcançar a transparência na captação do ar atinge um dos seus pontos altos na rápida rotação da roda, que liberta a poeira deixada pelo fio manipulado. No padrão de cor, os contrastes de um primeiro plano quente e fechado com um fundo aberto e frio aprofundam a sensação de profundidade: as cores frias recuam do espectador, enquanto as quentes se aproximam.
Finalmente, o traçado torna-se mais líquido, o que também se deve a uma mudança na preparação da tela. Em muitos casos, a forma desvanece-se, como se as pinceladas se fundissem, conseguindo qualidades visuais e táteis insuperáveis. Muitas figuras são construídas apenas com a cor, que está se tornando mais transparente.
Praça de São Pedro e Colunata (Bernini)
A Fachada da Basílica
A fachada acima de São Pedro tem colunas de eixo liso, decoradas com capitéis coríntios, suportando um frontão triangular com um relevo do brasão do Vaticano. Na nave central da fachada principal, há também um corpo de janelas encimadas por uma balaustrada, onde estão as efígies dos doze Apóstolos. O portão principal do Vaticano é acessado por uma ampla escadaria que liga à Basílica de São Pedro.
A Colunata de Bernini
A Colunata da Praça é obra do grande arquiteto barroco Gian Lorenzo Bernini. É formada por duas enormes alas de quatro conjuntos de colunas em cada, que se abrem em uma elipse, criando um grande efeito na fachada de São Pedro. Bernini toma como ponto de partida o eixo central, muito depois das últimas reformas, e desenhou um dos lugares mais impressionantes do Ocidente.
A Praça de São Pedro do Vaticano é um oval aberto, ou melhor, um oval alongado, pois é formada por dois arcos circulares cujos centros estão separados por 50 metros. Em cada uma das duas fontes laterais, o quadro é completado. No meio da praça, está o obelisco egípcio do Circo de Nero.
A praça é rodeada por quatro fileiras de colunas toscanas, coroadas por um entablamento liso que suporta uma balaustrada, decorada no topo com 140 esculturas de santos e padres da igreja. Esta arquitetura simboliza o abraço de boas-vindas da Igreja a todos os católicos e, por sua vez, permite ver o Papa como representante de Deus na Terra.
Estilo Barroco e Perspetiva
O efeito dessa passagem, formada por 296 colunas, é impressionante, pois dá a sensação de não estar concluída, um efeito que nos mostra um novo conceito de espaço levado ao infinito. Bernini quebra a perspetiva ideal central, que tinha governado a arquitetura desde Brunelleschi. A Colunata da Praça e São Pedro é uma das manifestações mais importantes do Barroco, pois sua forma oval e complexa se afasta da simplicidade do Renascimento.
A luz assume um novo papel na perceção global do edifício, permitindo buscar e dissolver o efeito das formas arquitetónicas. O conjunto, com o alongamento axial que excede o tamanho da própria Basílica, servirá de modelo em todas as construções barrocas da época. O sentido do colossal e o tratamento escultórico da decoração, típicos de Bernini, serão seguidos por toda a Europa.