A Origem e os Critérios Filosóficos da Verdade
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1. A Etimologia da Palavra "Verdade"
A palavra "verdade" possui origens etimológicas distintas que moldaram seu significado:
- Grego (Aletheia): Significa "o que não está oculto, o que é evidente", e se traduz como descoberta ou desvelamento. O seu oposto, a falsidade (pseudo), é o disfarce. Assim, para os gregos, a verdade é a descoberta das coisas, a divulgação do que elas são.
- Latim (Veritas): Refere-se ao rigor e à precisão. É desta raiz que o português usa a palavra veracidade para descrever a conformidade com os fatos. O seu oposto é a mentira ou o engano.
- Hebraico (Emunah): Expressa verdade no sentido de confiança e fidelidade. Um amigo verdadeiro é aquele com quem se pode contar. Emunah refere-se à esperança de que algo que esperamos venha a ser cumprido.
Estes três sentidos diferentes são a origem do termo verdade.
2. Estados Subjetivos em Relação à Verdade
A mente humana pode manifestar-se em diferentes estados perante um determinado assunto:
- Ignorância: Estado de espírito que admite o desconhecimento sobre um determinado assunto.
- Dúvida: Estado em que não se pode afirmar ou negar a verdade com certeza.
- Certeza: Estado subjetivo no qual a mente afirma a verdade de um enunciado sem admitir a possibilidade de erro.
3. Critérios de Verdade
Os critérios são as ferramentas que utilizamos para determinar se uma proposição é verdadeira:
- Autoridade: Proveniente de alguém a quem é dado crédito pelo seu conhecimento numa matéria específica.
- Tradição: Aquilo que ao longo do tempo foi aceite como verdadeiro.
- Correspondência entre Pensamento e Realidade: O que pensamos é verdade se for verificado na realidade. Consiste em estabelecer a adequação ou correspondência entre o que é dito e o que é.
- Coerência Lógica: Abordagem lógico-matemática que consiste em verificar se não há contradição interna.
- Utilidade (Pragmatismo): Será verdadeira quando for benéfica e útil para nós.
- Evidência: Critério-chave, que se apresenta como indiscutível.
4. Teorias Filosóficas da Verdade
4.1. A Verdade como Correspondência (Aristóteles)
Aristóteles afirma: "Dizer o que é que não é, ou o que não é que é, é falso; dizer o que é que é, e o que não é que não é, é VERDADEIRO."
A verdade é entendida como uma relação de adequação entre o sujeito e a sua representação do objeto, o que se chama correspondência: a correlação entre o que as pessoas dizem sobre algo e o que esse algo é.
4.2. A Verdade como Consistência (Hegel)
Hegel adota uma abordagem contextual, onde nada é verdadeiro ou falso isoladamente, mas sim que cada um dos nossos conhecimentos se insere no resto do sistema de conhecimento. Hegel resume: "A verdade é o todo."
4.3. Teoria Pragmática (William James)
Nesta teoria, afirma-se que tudo o que é útil ou prático é a verdade. James entende a adequação no sentido de utilidade: "Esta moto é adequada para motocross, no sentido de que serve a um propósito específico."
4.4. Teoria Consensual (Peirce, Apel e Habermas)
Esta teoria insiste na necessidade de diálogo a fim de descobrir a verdade. Quando dizemos que algo é verdade, estamos a implicar que temos razões suficientes para convencer os outros.
5. O Debate Moral: Relativismo e Universalismo
5.1. Relativismo Moral
O relativismo moral nega a possibilidade de encontrar valores universalmente partilhados. É a alegação de que os princípios do direito e da bondade só podem ser encontrados dentro de cada grupo específico e serão válidos apenas para ele. O relativismo apresenta as seguintes posições:
- Relativismo Cultural: A verdade e a moral dependem das várias culturas.
- Contextualismo: Só podemos saber se uma proposta é certa ou errada se a considerarmos dentro de cada contexto de ação.
- Etnocentrismo: Justificar a bondade apenas para aqueles que já partilham o nosso modo de vida.