Padre António Vieira e as Reformas Pombalinas no Ensino

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Padre António Vieira: Crítica Social e Religiosa

Estamos perante um fundamentalista, um indivíduo absolutamente disciplinado. Ele é atento à sociedade e critica-a, uma vez que tem como objetivo que ela mude. Ele tenta fazer isto através de dois sermões: o Sermão da Sexagésima e o Sermão de Santo António aos Peixes.

No Sermão da Sexagésima, estamos perante uma estrutura fixa: o orador expõe o plano do sermão e as ideias que irá defender. Nesta, aponta-se como principal problema o emissor (responsável pela Igreja). Ele critica o papel da Igreja e dos próprios pregadores, uma vez que as pessoas não têm qualquer interesse em se deslocar à igreja e ouvir um discurso elaborado do qual não retêm qualquer informação e não compreendem o discurso técnico, não existindo assim evolução.

No Sermão de Santo António aos Peixes, faz uma crítica a toda a sociedade sem exceção. O autor defende uma série de princípios que podem ser enquadrados no que podemos chamar de “política social”. Torna-se um implacável defensor da liberdade e dos direitos dos Índios do Brasil, alvo de todo o tipo de prepotência pelos colonos. É a favor dos cristãos-novos e da sua entrada em Portugal para promover o desenvolvimento económico do país, atraindo com eles as suas fortunas e o espírito empreendedor. Condena o excesso de zelo da Inquisição, defendendo a moderação. Tem um espírito persuasivo, caloroso e fluente. Arrastava e convencia os ouvintes. Para ele, deveria ser a burguesia a comandar as atividades económicas. Sonha com um Portugal idêntico à Holanda, cujo sucesso estava baseado numa economia talassocrática. Padre António Vieira afirma que Portugal já teve a sua época. Do ponto de vista económico, tanto os portugueses como os espanhóis já tinham falido, por não se identificarem com a modernidade, ao contrário dos ingleses e dos holandeses que esperaram a sua oportunidade. O Padre critica os ricos que se apoderam e tiram tudo aos mais pobres; o pobre morre sem nada.

O Ensino: A Reforma do Marquês de Pombal

Os Jesuítas vão manter uma linha de pensamento até serem expulsos da Universidade pelo Marquês de Pombal. Quem contestou e criticou o tradicionalismo dos Jesuítas foi Luís António Verney. O autor considerava urgente uma reforma científica e pedagógica da Universidade de Coimbra, que rejeitou frequentar. Projeta este entendimento na sua obra Verdadeiro Método de Estudar, em 1746.

A mentalidade dos Jesuítas choca com a mentalidade moderna da Europa, que estava mais aberta, tolerante e sofisticada nas ciências. Os Jesuítas não conheciam grandes nomes de filósofos e os seus pensamentos, como Locke, Rousseau e Montesquieu.

O ensino é, em todas as épocas históricas, o barómetro que mais fielmente traduz a formação e a capacidade de resposta dos povos aos desafios do presente e do futuro.

A tragédia política que se abateu inexoravelmente sobre Portugal prolongou os seus efeitos nefastos sobre o espectro cultural, designadamente ao nível do ensino. A reforma deste setor era uma exigência primordial.

O século XVIII – o século do Iluminismo, da ciência e da técnica, das ideias políticas e das revoluções – não tinha repercussão em Portugal; consequentemente, permanecíamos agarrados aos velhos cânones escolásticos.

Tanto é que qualquer pessoa estrangeira que visitasse Portugal facilmente se dava conta do nosso atraso em setores vitais. Tudo se pautava por uma mentalidade obsoleta, fora do prazo de garantia e validade.

O quadro mental dos Jesuítas: a Companhia de Jesus surgiu num contexto assaz perturbante e perturbador, do ponto de vista da Igreja. A pouco e pouco, os Jesuítas tornam-se nos arautos e defensores da fé cristã, dominando todos os setores da sociedade portuguesa.

Dominar o ensino era meio caminho andado para intervir na vida pública.

A data de 1555 é um marco histórico no ensino primário e secundário em Portugal: D. João III coloca sob a égide dos Jesuítas a educação dos jovens nos vários graus de ensino, até que o Marquês de Pombal decide expulsá-los do país, através de uma sentença da Junta da Inconfidência.

Os Jesuítas dominavam Portugal, ao tempo da sua desgraça, cerca de quarenta colégios. A sua expulsão foi um verdadeiro caos. O governo criou então uma nova instituição para promover rapidamente uma reforma do ensino, surgindo assim um Diretor dos Estudos, sendo este estatuto conferido a D. Tomás de Almeida que nomeia vários comissários para avaliarem a capacidade dos candidatos a professores para as diversas disciplinas. É na primeira metade do século XVIII que se começa a desenhar a queda dos Jesuítas.

O grande problema dos Jesuítas foi o facto de não conhecerem o avanço da medicina. A medicina toca a todos; ela é fundamental.

O Marquês de Pombal foi embaixador, lidou com intelectuais europeus e conheceu novos sistemas políticos, económicos e religiosos. Ele adaptou a sociedade e fê-la evoluir. Considerou necessário desenvolver:

  • Mercantilismo – um país é mais rico se existirem mais reservas de metais preciosos. É necessário ser autossuficiente e produzir mais para exportar, evitando a importação. Só assim seria possível o desenvolvimento das indústrias dos vidros, têxteis, etc. O país devia ser autossuficiente, sem necessidade de comprar ao exterior, e ter capacidade de vender, gerando mais dinheiro.
  • A indústria da agricultura – comprar campos não só para cultivar como também para vender a outros mercados.
  • Fisiocratismo – corrente que surge com o Mercantilismo, defendendo que a riqueza de um país reside na terra, daí o aumento cada vez maior na agricultura e nas minas.

O Marquês de Pombal vai fomentar a produção industrial nacional; Portugal vai desenvolver o seu Mercantilismo nas cidades do Porto e Lisboa.

Reforma do Ensino Superior e Profissional

A burguesia vai requerer a criação de uma escola: a Aula do Comércio. Esta escola destinava-se a suprir lacunas graves na formação daqueles que tinham por objeto profissional o desempenho de atividades no campo comercial. O primeiro mestre da Aula do Comércio foi o português João Henrique de Sousa.

Foi criado também o Colégio dos Nobres. Os Nobres defendiam a Nação. A Europa está a tornar-se diferente da tradição. A Diplomacia é cada vez mais importante; era necessário formar diplomatas. Os diplomatas eram quase sempre nobres, daí a criação deste colégio pelo Marquês de Pombal para ensinar à nobreza aspetos diplomáticos. Este curso diplomático abrange as seguintes unidades curriculares: Gramática – o conhecimento da língua na sua totalidade e a defesa das interpretações apresentadas; Línguas – o centro da diplomacia era a Santa Sé em Itália, sendo mais fácil aprender mais línguas para circular livremente nos países europeus.

Não há desenvolvimento económico sem instrução mínima; o investidor tem de passar pelas escolas.

Existe a necessidade de alargar o ensino primário a todos, motivado pelo Marquês de Pombal.

Criação do imposto sobre o consumo de álcool: o “Subsídio Literário”.

A Universidade foi mais complexa. Foi necessário criar um grupo de intelectuais e de indivíduos que estavam ligados ao Marquês de Pombal em segredo, para que preparassem a reforma das Universidades.

Procedeu-se à reforma do estatuto da Universidade de Coimbra. A justificação da reforma da Universidade está no Compêndio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra. Os estragos feitos pelos Jesuítas foram motivos para a sua expulsão, procedendo-se à restauração da Universidade. Quem não apoiava D. Filipe II era perseguido e torturado. Professores e cientistas eram afastados caso tivessem este pensamento por parte dos Jesuítas.

Impacto na Medicina e Consequências da Reforma

Assim sendo, os Jesuítas não podiam continuar à frente da Universidade depois de terem atacado e perseguido 2000 pessoas.

Dos estragos feitos à Medicina: O corpo era sagrado para o Jesuíta, não podia ser “explorado”. Devia descansar. Na Europa em geral, faziam-se autópsias para compreender a razão pela qual um órgão humano falhava. Surgem a criação do “Hospital Escolar”, “Dispensário Farmacêutico” e “Teatro Anatómico” para darem apoio à Faculdade de Medicina por parte do Marquês de Pombal.

A sociedade portuguesa não aceitou a reforma introduzida pelo Marquês de Pombal, uma vez que não estava preparada, e esta acabou por cair. A falta de adaptabilidade à mentalidade europeia deveu-se à forma repentina e violenta como estas reformas surgiram. Poucos alunos iam para a Universidade e cada vez menos se formavam. Foi uma reforma profunda, mas sem os efeitos positivos esperados.

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