O Paí Ó: Crítica, Cultura e Realidade Brasileira
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“O Paí Ó” é uma gíria baiana que significa: “Olha para isso, olha”. Antes peça de teatro e agora filme, o título é muito pertinente à história narrada e aos fatos destacados.
O foco é um grupo de moradores de um cortiço na véspera do último dia de Carnaval. Entre esses moradores estão:
- Rock, interpretado pelo brilhante Lázaro Ramos, na pele de um poeta que ganha a vida como pintor;
- Reginaldo, seu amigo, e sua esposa que está grávida;
- Baiana, que vende acarajé na ladeira do Pelourinho;
- A Mãe de Santo e seu filho, que faz parte de uma banda;
- Carmem, uma enfermeira que faz abortos clandestinos e possui um pequeno orfanato dentro de casa;
- E Pyscilene, sua irmã que chega da Europa no mesmo dia.
Fazem parte da trama, mas não moram no cortiço, os personagens:
- Neusão e sua sobrinha recém-chegada de Juazeiro, Rosa;
- Boca, um traficante das redondezas;
- E Seu Gerônimo, que possui um comércio e vive pedindo a proteção de um guarda que lhe deve dinheiro.
Dona Joana também é moradora e proprietária do cortiço. Segundo ela, o marido, que viajou e não aparece no filme, construiu o prédio sozinho. Ela tem dois filhos chamados Cosme e Damião. Ela procura criá-los de forma rígida, mas os garotos tapeiam a mãe o tempo todo, dizendo que estão indo à igreja quando, na verdade, estão indo para as ruas. Dona Joana é evangélica e abomina o Carnaval; por isso, bem no último dia de feriado, fecha o registro de água. O filme narra este dia em que Dona Joana fecha a água e os moradores, além de seguirem sua vida, fazem de tudo para que ela abra o registro novamente.
O filme, que foi bem patrocinado e que provavelmente teve um alto gasto de recursos, conta com a presença de vários artistas e grupos musicais baianos famosos, como Araketu, Daniela Mercury e Margareth Menezes, além de Caetano Veloso como produtor musical. Retrata muito bem a Bahia e a cultura do seu povo. Os aspectos mais presentes no cenário baiano, como a pobreza, a alegria carnavalesca e o sincretismo religioso, são muito bem destacados. Os cenários, vestimentas e maquiagem merecem atenção especial. A trilha sonora encaixa-se perfeitamente à história, transformando-o quase em um musical.
Porém, mais do que destacar a cultura baiana, o filme abre os nossos olhos para o preconceito racial velado que existe no País, e também é um protesto contra o processo de reestruturação da arquitetura do Pelourinho, promovido por Antônio Carlos Magalhães, que expulsou os moradores para restaurá-lo, como diz a resenha do site oficial:
“O filme faz uma rasura na superfície de uma reordenação urbanística do Pelourinho que violentou territorialidades negras em tentativas vãs de embranquecimento cultural e de desafricanização dos espaços públicos de Salvador.”
“O Paí Ó” é um filme genuinamente brasileiro, não somente por ter sido produzido aqui, mas por mostrar a realidade.