Panorama da Literatura Hispano-Americana: Narrativa e Poesia

Classificado em Espanhol

Escrito em em português com um tamanho de 8,9 KB

Narrativa Hispano-Americana

a) O Romance Realista e Regionalista (até 1940)

Principais Problemas

  • A luta do homem com o ambiente selvagem e violento.
  • Os problemas políticos peculiares à América Hispânica (ditaduras, mudanças de governo, etc.).
  • Os problemas sociais (desigualdades econômicas, latifundiários e as condições opressivas dos povos indígenas).

Tendências

  • Romance da Terra
    • Temas frequentes: A natureza americana em contraste com a civilização.
    • Ambientado em: Planícies venezuelanas, pampas da Argentina e selva colombiana.
    • Autor: Rômulo Gallegos (Doña Bárbara). Dramatiza o conflito entre a civilização e a barbárie. Doña Bárbara representa o barbarismo. Santos Luzardo, um jovem engenheiro, chega à cidade e se apaixona pela filha de Doña Bárbara, Marisela. Luzardo representa a cidade moderna. O amor final será um final feliz, simbolizando a fé no futuro e no progresso.
  • Romance Social (problemas sociais)
    • Temas principais: Postura de denúncia, protesto ou decepção.
    • Romances da Revolução Mexicana:
      • Autor: Mariano Azuela (Los de Abajo). É um romance publicado em série num jornal e, posteriormente, no México, como um romance histórico. Retrata eventos revolucionários em torno de Demetrio Macías, um guerrilheiro, camponês e analfabeto, que lidera um grupo de companheiros. Cada um dos personagens representa um aspecto da sociedade mexicana. São personagens bem estabelecidos e simbólicos, como o rebelde, o oportunista, o intelectual, etc. A obra explora o contraste entre o caráter negativo da cidade e o positivo do campo.
    • Romance Indigenista:
      • Temas: Predominantemente questões sociais, a denúncia da perda de direitos sobre a terra e as condições de trabalho análogas à escravidão dos povos indígenas.
      • Autor: Ciro Alegría (El mundo es ancho y ajeno). Descreve com grande lirismo uma comunidade indígena que será destruída pelo homem branco. Esta obra incorpora os valores de uma comunidade forte, próxima ao socialismo.

b) Pós-Realismo (a partir de 1940)

  • Cansaço do realismo.
  • Preocupação com a forma do romance e do conto.
  • Incorporação de inovações de narradores estrangeiros.
  • Influência da vanguarda.
  • Incorporação de novas técnicas narrativas (monólogo interior).
  • Elementos surrealistas (elementos de sonho, imagens visionárias, etc.).
  • Novo tratamento de temas recorrentes (mundos urbanos, problemas existenciais).
  • Apreço pela imaginação e fantasia (Realismo Mágico: fusão do mágico com o cotidiano. Duas variantes: a realidade é apresentada como maravilhosa, ou o maravilhoso é tratado como realidade).
  • Autor Principal: Juan Rulfo (Pedro Páramo). O protagonista Juan Preciado chega a Comala em busca de seu pai, encontrando uma aldeia deserta. Através dos antigos habitantes da aldeia, ele conhece o passado de Comala e de seu pai, o chefe Pedro Páramo. Juan encontra os habitantes mortos e descobre que ele próprio é um fantasma, comunicando-se com outros mortos em seus túmulos.

c) O "Boom" da Narrativa Hispano-Americana (a partir dos anos 60)

  • Superação da estética realista tradicional.
  • Consolidação e aplicação das inovações narrativas da fase anterior.
  • Profunda experimentação com a forma e a estrutura do conto e do romance:
    • Romances mais subjetivos, onde o narrador participa da história como protagonista ou testemunha.
    • Múltiplas perspectivas: o narrador constrói a história a partir de vários pontos de vista e pode ocultar informações do leitor.
    • Técnica de contraponto: combinação de várias histórias diferentes em uma única narrativa.
    • Monólogo interior.
    • Experimentação com a linguagem.
    • Uso de todos os registros (coloquial, línguas indígenas, etc.).
    • Inovações formais (influência dos "ismos" e da vanguarda).
    • Ruptura com a sintaxe (invenção de neologismos e exploração da musicalidade das sílabas).
  • Temas (consolida o realismo mágico):
    • A solidão e o isolamento do homem: Muitos personagens buscam romper o isolamento. O sexo, descrito sem juízos morais, torna-se um possível caminho para romper a solidão.
    • Exploração do subconsciente, com a técnica do monólogo interior.
    • Rejeição ideológica quase universal ao sistema capitalista norte-americano.
  • Autores Principais:
    • Julio Cortázar (Rayuela, 1963). Apresenta inovação formal em sua estrutura, cuja linearidade é substituída por uma proposta de leitura dupla: uma leitura tradicional (partes 1 e 2, excluindo a 3) ou uma leitura alternativa, com capítulos alternados ou intercalados.
      • Enredo: A novela tem 3 partes. As duas primeiras são centradas no intelectual Horacio Oliveira, que vive diversas aventuras em Paris. A Parte 1 é chamada "Do Lado de Lá". Lá ele vive com La Maga, uma personagem que representa a inocência e a fantasia. A Parte 2, "Deste Lado", se passa em Buenos Aires, onde ele se lembra de La Maga e encontra uma outra mulher, Talita, na qual ele a reconhece. A última parte, "Outros Lugares", contém capítulos que o autor considera "dispensáveis" ou alternativos.
      • Temas: Incluem uma reflexão sobre a escrita criativa e a linguagem, daí a invenção do "gíglico". A linguagem é insuficiente, é preciso inventar. O tema final é a angústia de Oliveira em encontrar sentido para sua vida, o que o leva à loucura.
    • Mario Vargas Llosa (A Cidade e os Cães, 1962).
      • Sinopse: Narra a vida de alunos de uma escola militar em Lima, onde os novatos são chamados de "cães" e sofrem intimidação e violência por parte dos alunos mais graduados. O conflito eclode quando um estudante morre. Sua narrativa, embora predominantemente realista, inclui elementos oníricos (sonhos) e múltiplas perspectivas. Critica a sociedade peruana, as classes superiores e os militares.
    • Gabriel García Márquez (Cem Anos de Solidão, 1967).
      • Argumento: A história centenária da cidade fictícia de Macondo. Desde a fundação da aldeia por José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán, até seu declínio e destruição por um dilúvio. É a história da família Buendía, desde sua concepção até a morte do último descendente, encerrando uma linhagem ameaçada pelo medo de gerar monstros. São histórias individuais desta família, mas também de cerca de 70 personagens.
      • Temas: Solidão, desilusão, amor, etc. Uso do realismo mágico, por exemplo, na presença da morte e do sobrenatural (os mortos coexistem com os vivos).

Poesia Hispano-Americana

  • Modernismo: Autor mais importante: Rubén Darío (Azul, 1888).
  • Pós-Modernismo: Enfatiza uma poesia mais simples e direta.
  • Vanguardismo (década de 1920): Destaca-se Vicente Huidobro (Altazor, 1931).
  • Pablo Neruda (1904-1973). Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada (1924) foi sua primeira obra. Começou sua carreira poética no modernismo e neorromanticismo. A partir de 1923, aproximou-se do surrealismo, e a obra que se destaca é Residencia en la Tierra. O tema existencial é centrado na morte e no amor. Mais tarde, sua poesia alternou com um tom social e engajado. Canto Geral é um livro-homenagem ao Chile e a toda a América Latina.
  • Octavio Paz: Sua obra tem 3 fases:
    • A primeira abrange questões sociais e a influência surrealista e neorromântica. A obra que se destaca é Liberdade Condicional (1960).
    • A segunda fase se identifica com o surrealismo irracional. Destacamos a obra Salamandra (1962).
    • Na terceira fase, sua poesia apresenta uma mistura de influências orientais com experimentações linguísticas. Sua obra de destaque é Ladera Este (1969).
  • Mario Benedetti: Aos 18 anos, mudou-se para a Argentina. Diferenciam-se dois períodos marcados pelas circunstâncias:
    • Inicialmente, desenvolveu uma poesia mais realista, com pouca experimentação formal; a obra que se destaca é Poemas de Escritório (1956).
    • Na segunda fase, sua obra ecoou a angústia e a esperança de amplos setores sociais da América Latina diante da repressão militar. A Casa de Tijolos (1977) foi destaque.

Entradas relacionadas: