Parasitologia: Conceitos, Ascaridíase, Enterobíase, Teníase
Classificado em Biologia
Escrito em em português com um tamanho de 17 KB
Conceitos Gerais em Parasitologia
Parasito Heteroxênico: É aquele que possui hospedeiro definitivo e hospedeiro intermediário.
Parasito Monoxênico: É aquele que possui apenas o hospedeiro definitivo. Exemplos: Enterobius vermicularis, Ascaris lumbricoides.
Hospedeiro: É um organismo que alberga o parasito. Exemplo: o hospedeiro do Ascaris lumbricoides é o ser humano.
Hospedeiro Definitivo: É o que apresenta o parasito em fase de maturidade ou em fase de atividade sexual.
Hospedeiro Intermediário: É aquele que apresenta o parasito em fase larvária ou assexuada.
Patogenia ou Patogênese: É o mecanismo pelo qual um agente infeccioso provoca lesões no hospedeiro.
Profilaxia: É o conjunto de medidas que visam à prevenção, erradicação ou controle de doenças ou fatos prejudiciais aos seres vivos. Essas medidas são baseadas na epidemiologia de cada doença.
Tipos de Associação entre Seres Vivos
Comensalismo: É a associação harmônica entre duas espécies, na qual uma obtém vantagens (o comensal ou hóspede) sem prejuízos para a outra (o hospedeiro). Exemplo: Entamoeba coli vivendo no intestino grosso humano.
Simbiose: É a associação entre seres vivos na qual há uma troca de vantagens em tal nível que esses seres são incapazes de viver isoladamente. Nesse tipo de associação, as espécies realizam funções complementares, indispensáveis à vida de cada uma.
Parasitismo: É a associação entre seres vivos em que existe unilateralidade de benefícios, sendo um dos associados prejudicado pela associação. Desse modo, o parasito é o agressor, e o hospedeiro é o que alberga o parasito.
Ações dos Parasitas no Hospedeiro
- Ação Mecânica: Enovelamento de Ascaris lumbricoides dentro de uma alça intestinal, obstruindo-a.
- Ação Irritativa: Deve-se à presença constante do parasito que, sem produzir lesões traumáticas, irrita o local parasitado. Exemplo: lábios do Ascaris lumbricoides na mucosa intestinal.
- Ação Espoliativa: Ocorre quando o parasito absorve nutrientes ou mesmo sangue do hospedeiro.
- Ação Tóxica: Algumas espécies produzem enzimas ou metabólitos que podem lesar o hospedeiro. Exemplo: reações alérgicas provocadas pelos metabólitos do Ascaris lumbricoides.
- Ação Enzimática: Ocorre, por exemplo, na penetração da pele por cercárias de Schistosoma mansoni.
- Anóxia: Qualquer parasito que consuma o oxigênio (O₂) da hemoglobina ou que produza anemia é capaz de provocar uma anóxia generalizada.
ASCARIDÍASE
Doença causada pelo Ascaris lumbricoides (conhecido popularmente como lombriga). É um geohelminto.
Morfologia
- Parasito do tipo monoxênico (possui um único hospedeiro).
- Cada fêmea fecundada é capaz de colocar, por dia, cerca de 200.000 ovos não embrionados, que chegam ao ambiente juntamente com as fezes.
- Os ovos férteis, em condições favoráveis, tornam-se embrionados em aproximadamente 15 dias.
- Alta capacidade infectante devido à grande postura de ovos.
- Tamanho: Aproximadamente 20 cm.
- Coloração: Branco-rosada.
- Possui sexos separados, sendo a fêmea maior que o macho.
- Macho: Apresenta a extremidade posterior enrolada.
- Possui três lábios proeminentes na boca.
Habitat
Os parasitas adultos ocupam o intestino delgado (em pequenas infecções, localizam-se nas alças do jejuno e íleo). Em grandes infecções, o parasita pode ocupar todo o intestino. Podem migrar para diversas partes do corpo (Ascaris errático), como fígado e apêndice.
Ciclo Biológico
Os ovos possuem três membranas, sendo a membrana externa (membrana mamilonada) responsável pela sua proteção. Dentro do ovo há uma massa celular. Somente o ovo fecundado dará continuidade ao ciclo biológico; dentro dele, uma larva se desenvolve em situações favoráveis. Ovos infectantes são expelidos pelas fezes e resistem no meio ambiente por meses.
Sequência do ciclo:
- Ovos infectantes são deglutidos.
- Passam pelo estômago e chegam ao intestino delgado.
- No intestino delgado, as larvas eclodem.
- As larvas penetram na parede intestinal (região cecal) e entram na corrente sanguínea e linfática.
- Passam pelo fígado e, através da circulação porta, atingem o coração.
- Do coração, entram nos pulmões.
- Nos pulmões, perfuram os alvéolos, sobem pela árvore brônquica até a faringe.
- São deglutidas ou expectoradas. Se deglutidas, alcançam novamente o intestino delgado, onde se transformam em vermes adultos.
Patogenia
Larvas:
Em infecções de baixa intensidade, normalmente não se observa nenhuma alteração. Em infecções maciças, podem ser encontradas lesões hepáticas e pulmonares.
Vermes Adultos:
Em infecções de baixa intensidade, o hospedeiro geralmente não apresenta manifestação clínica. Já nas infecções médias ou maciças (100 ou mais vermes), podemos encontrar as seguintes alterações:
- Ação espoliadora: Os vermes consomem grande quantidade de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas A e C, levando o paciente, principalmente crianças, à subnutrição e ao depauperamento físico e mental.
- Ação tóxica: Reação entre antígenos parasitários e anticorpos alergizantes do hospedeiro, causando edema, urticária, convulsões epileptiformes, etc.
- Ação mecânica: Causam irritação na parede intestinal e podem enovelar-se na luz intestinal, levando à sua obstrução.
- Localização ectópica (Ascaris errático): Em pacientes com altas cargas parasitárias ou quando o verme sofre alguma ação irritativa (ex: febre, uso impróprio de medicamentos, ingestão de alimentos muito condimentados), o helminto desloca-se de seu habitat normal, atingindo locais não habituais.
Diagnóstico
- Baseado nos sinais e sintomas apresentados.
- Exames laboratoriais: Método de HPJ (Hoffman, Pons e Janer) e técnica de sedimentação espontânea.
- Devido à grande quantidade de ovos eliminados, é fácil identificá-los em exames de rotina das fezes.
Formas de Contaminação
- Ingestão de alimentos contaminados com ovos infectantes.
- Mãos e objetos contaminados levados à boca.
- Contaminação de águas de córregos utilizadas para irrigação de hortas, levando à contaminação de verduras com ovos viáveis.
- Como o parasito não se multiplica dentro do hospedeiro, a exposição contínua a ovos infectantes é a única fonte responsável pelo acúmulo de vermes adultos no intestino.
- Importante: Ovos embrionados não contaminam; somente ovos larvados (contendo a larva infectante) podem contaminar.
Sintomas
Os sintomas são diretamente proporcionais à carga parasitária:
- Dor abdominal, mal-estar, náuseas, vômito e diarreia.
- Ao passar pelos pulmões, pode produzir dispneia e tosse.
- Pode ocorrer a Síndrome de Loeffler, que causa febre, tosse e escarro sanguinolento, associada à migração larvária pulmonar de alguns helmintos.
Profilaxia
- Educação sanitária.
- Instalação de serviços de água tratada e esgoto.
- Higiene pessoal e dos alimentos.
Tratamento
Medicamentos como albendazol e mebendazol são comumente utilizados.
ENTEROBÍASE (OXIURÍASE)
Causada pelo Enterobius vermicularis. É um parasita exclusivo do ser humano e não é um geohelminto.
Morfologia
- Cor: Branco-leitosa.
- Formato: Cilíndrico (filiforme), com cerca de 1 cm de comprimento.
- Apresenta dimorfismo sexual: o macho é menor que a fêmea e possui a extremidade posterior enrolada.
- Ambos os sexos possuem uma estrutura na extremidade anterior denominada asas cervicais.
- Possuem três pequenos lábios na boca.
Habitat
Habitam o ceco e o apêndice cecal dos humanos. Podem, ocasionalmente, infectar a região genital de ambos os sexos.
Ciclo Biológico
É do tipo monoxênico. Após a cópula, os machos geralmente são eliminados com as fezes e morrem. As fêmeas, repletas de ovos, desprendem-se da mucosa do ceco e dirigem-se para a região perianal (principalmente à noite) para realizar a oviposição. Alguns autores mencionam que os ovos podem ser liberados por rompimento da fêmea devido a traumatismo ou ressecamento. A fêmea é ovípara.
Sequência do ciclo:
- Ingestão de ovos embrionados (infectantes).
- No intestino delgado, a membrana do ovo se rompe, liberando a larva.
- As larvas migram para o intestino grosso (ceco), onde ocorre a maturação até vermes adultos.
Transmissão
- Direta ou autoinfecção externa: Ciclo ânus-mão-boca (ovos da região perianal são levados à boca pelas mãos).
- Indireta: Ingestão de ovos presentes em água, alimentos, poeira ou fômites contaminados.
- Autoinfecção interna: Liberação de larvas ainda no intestino grosso a partir de ovos, que evoluem para adultos sem sair do hospedeiro (menos comum).
- Retroinfecção: Larvas eclodem de ovos na margem anal e migram de volta para o intestino grosso até o ceco.
Sintomas
Diretamente relacionados com a carga parasitária.
- O sintoma mais intenso e frequente é o prurido anal (coceira), especialmente noturno.
- Pode ocorrer processo inflamatório agudo do intestino, tenesmo, irritabilidade, insônia.
Diagnóstico
- Clínico: Baseado no prurido anal característico.
- Laboratorial: Método de Graham (fita adesiva ou swab anal) é o mais indicado para encontrar os ovos na região perianal. O exame de fezes (HPJ) raramente detecta os ovos, pois a postura não ocorre no lúmen intestinal.
Epidemiologia
Essa helmintose tem alta prevalência em crianças em idade escolar. A transmissão é eminentemente doméstica ou em ambientes coletivos fechados (creches, escolas).
Profilaxia
- Higiene pessoal rigorosa (lavar as mãos, unhas curtas e limpas).
- Lavar a roupa de cama e roupas íntimas frequentemente, de preferência com água fervente.
- Tratamento simultâneo de todas as pessoas parasitadas na família ou no grupo.
- Limpeza e desinfecção de sanitários e ambientes.
- Destino adequado das fezes.
Tratamento
Medicamentos como albendazol, mebendazol e pamoato de pirvínio. A ivermectina também pode ser utilizada.
TENÍASE (Classe Cestoda)
Infecção causada pela presença da forma adulta da Taenia solium ou da Taenia saginata no intestino delgado dos humanos.
Morfologia Geral dos Cestódeos (Tênias)
- Corpo achatado dorsoventralmente, em forma de fita.
- Dividido em:
- Escólex (cabeça): Órgão de fixação.
- Colo (pescoço): Região de crescimento.
- Estróbilo (corpo): Formado por uma cadeia de segmentos chamados proglotes.
- Proglotes: Divididas em jovens (imaturas), maduras e gravídicas (repletas de ovos), de acordo com sua posição em relação ao escólex.
- Aparelho digestivo ausente (absorção de nutrientes pela superfície do corpo).
- Ausência de sistema circulatório.
- Simetria bilateral.
- Cor: Branca leitosa, com extremidade anterior (escólex) bastante afilada e de difícil visualização a olho nu.
- Ovos: São esféricos, morfologicamente indistinguíveis entre as espécies de Taenia, com dupla membrana espessa e radiada (embrióforo), e contêm o embrião hexacanto (oncosfera). São resistentes no ambiente.
Diferenças Morfológicas entre T. solium e T. saginata
- Taenia solium (tênia da carne de porco, "tênia armada"):
- Escólex globuloso com um rostelo retrátil situado em posição central, entre as quatro ventosas, armado com uma dupla fileira de acúleos (ganchos).
- Proglotes gravídicas são eliminadas passivamente com as fezes, geralmente em cadeias de 3 a 5 segmentos.
- A ingestão de ovos de T. solium pelo homem pode levar à cisticercose humana.
- Taenia saginata (tênia da carne bovina, "tênia inerme"):
- Escólex quadrangular, sem rostelo e sem acúleos. Possui apenas quatro ventosas.
- Proglotes gravídicas são eliminadas ativamente, uma a uma, nos intervalos das defecações, e possuem maior número de ramificações uterinas (dicotômicas ou dendríticas).
- Não causa cisticercose humana pela ingestão de seus ovos.
Habitat e Hospedeiros
- Habitat do verme adulto: Intestino delgado do homem.
- Hospedeiro Definitivo (possui teníase): Homem.
- Hospedeiro Intermediário (possui cisticercose):
- Porco (para T. solium).
- Boi (para T. saginata).
Ciclo Biológico (Teníase)
- O homem infectado (hospedeiro definitivo) elimina proglotes gravídicas com as fezes.
- As proglotes se rompem no ambiente, liberando milhares de ovos.
- Os ovos contaminam a água e os alimentos (pastagens).
- O hospedeiro intermediário (porco ou boi) ingere os ovos.
- No intestino do animal, a oncosfera (larva) eclode, penetra na mucosa intestinal e cai na corrente sanguínea.
- A oncosfera se aloja principalmente na musculatura do animal, onde se desenvolve na forma larval chamada cisticerco (ex: Cysticercus cellulosae no porco, Cysticercus bovis no boi).
- O homem se infecta ao ingerir carne crua ou malcozida contendo cisticercos viáveis.
- No intestino delgado humano, o escólex do cisticerco se evagina, fixa-se à mucosa e o verme adulto (tênia) se desenvolve.
Sintomas da Teníase
Muitas vezes assintomática. Quando presentes, os sintomas podem incluir:
- Alterações do apetite (fome excessiva ou perda de apetite).
- Náuseas, vômitos.
- Dores abdominais difusas.
- Perda de peso, astenia (fraqueza).
- Tonturas, diarreia ou constipação.
- Irritabilidade.
Patologia da Teníase
Devido ao longo período em que T. solium ou T. saginata parasitam o homem, elas podem causar:
- Fenômenos tóxico-alérgicos: Através de substâncias excretadas pelo parasita.
- Ação espoliativa: Competição por nutrientes.
- Ação mecânica e irritativa: Pela fixação do escólex e movimentação do estróbilo na mucosa intestinal, podendo provocar inflamação, pequenas hemorragias e destruição do epitélio.
Diagnóstico da Teníase
- Exame macroscópico das fezes: Observação de proglotes eliminadas. A identificação da espécie é feita pela morfologia das proglotes gravídicas (contagem das ramificações uterinas após coloração ou compressão entre lâminas).
- Tamização das fezes: Lavagem do bolo fecal em peneira fina para recolher proglotes.
- Exame microscópico de fezes (Método HPJ): Para pesquisa de ovos de Taenia sp. (não permite diferenciar a espécie).
- Fita gomada na região anal: Pode, ocasionalmente, detectar ovos de Taenia.
Profilaxia da Teníase
- Saneamento básico: Destino adequado das fezes humanas para evitar a contaminação do ambiente.
- Inspeção rigorosa de carnes em abatedouros.
- Cozimento adequado da carne (suína e bovina) antes do consumo (temperaturas acima de 65°C ou congelamento prolongado matam os cisticercos).
- Educação sanitária sobre os riscos de consumir carne crua ou malpassada de procedência duvidosa.
- Tratamento dos portadores de teníase para interromper a disseminação de ovos.
Tratamento da Teníase
Medicamentos como Praziquantel ou Niclosamida são eficazes.