Parasitologia: Conceitos Essenciais e Doenças Tropicais

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Introdução à Parasitologia

1. Comente sobre a dependência metabólica entre hospedeiro e parasita.

É uma interação ecológica entre indivíduos de espécies diferentes, em que os parceiros (hospedeiro e parasita) estabelecem uma relação íntima e duradoura com certo grau de dependência metabólica.

2. O que o hospedeiro proporciona ao parasita?

Geralmente, o hospedeiro proporciona ao parasita todos ou quase todos os nutrientes e as condições fisiológicas requeridas por este.

3. O que assegura a sobrevivência do hospedeiro e do parasita?

Processos de adaptação recíproca, compatibilidade ou baixa virulência do parasitismo asseguram a sobrevivência de ambas as espécies.

4. Em que circunstâncias uma espécie parasitária desaparece?

O parasita só poderá ser extinto se destruir toda a população de seus hospedeiros ou impedir a reprodução destes; caso contrário, a espécie parasitária desapareceria.

5. Comente sobre a especificidade parasitária.

Segundo as necessidades particulares de cada parasita (sejam elas de ordem metabólica ou de outra natureza), ele exigirá apenas determinada espécie de hospedeiro, um grupo de diferentes espécies ou ainda uma grande variedade de gêneros distintos.

6. Em que condições um parasita é monoxeno?

Se o parasita exigir apenas uma espécie de hospedeiro para completar seu ciclo biológico, será dito monoxeno.

7. Em que condições um parasita é estenoxeno?

É considerado estenoxeno se a espécie de hospedeiro for sempre a mesma, como o Ascaris lumbricoides, que só parasita a espécie humana.

8. Dê um exemplo de parasita heteroxeno.

São aqueles que necessitam passar obrigatoriamente por dois ou mais hospedeiros. Um deles é o hospedeiro definitivo e os demais são considerados hospedeiros intermediários para que os parasitas possam completar seu ciclo biológico. Um exemplo é a tênia do porco (Taenia solium).

9. Comente sobre patogenicidade.

A patogenicidade não é uma característica obrigatória dos parasitas, que podem ser inofensivos, como muitas amebas e flagelados do intestino humano, que habitam ali sem causar danos.

10. Cite as ações causadas por parasitas.

No entanto, numerosas doenças são causadas por parasitas normalmente patogênicos ou por outros, ditos parasitas oportunistas, que só causam danos ao organismo em condições especiais, como em indivíduos com imunodeficiência de qualquer natureza.

11. Quais fenômenos alteram a fisiologia do hospedeiro ou determinam sua morte?

  • Destruição do próprio parasita e cura da infecção dentro de certo prazo;
  • Limitação da população parasitária, assegurando o equilíbrio parasita-hospedeiro;
  • Causando respostas alérgicas ou inflamatórias que levam à necrose do tecido em torno, seja a uma fibrose difusa ou à formação de granulomas.

12. Cite os mecanismos protetores presentes nos hospedeiros.

A pele, as mucosas, as conjuntivas e suas secreções podem constituir barreiras à penetração do parasita.

13. Quais fatores condicionam a saúde ou a doença no hospedeiro?

A resistência ou a tolerância dos parasitas varia segundo uma gama contínua. Ela depende da influência que os vários mecanismos fisiológicos possam estar exercendo em cada caso.

14. Em que condições os parasitas são encontrados de forma persistente?

Apenas onde se reúnem condições favoráveis para que se feche seu ciclo biológico e sua transmissão. Esses lugares podem ser muito limitados, como o ambiente domiciliar no caso da ascaríase, ou o habitat do vetor para a tripanossomíase americana (Doença de Chagas). Tais lugares constituem os focos elementares de determinadas endemias.

15. Comente sobre o foco natural de uma parasitose.

O foco natural de uma parasitose é a região onde ela ocorre permanentemente, como a área de malária na Amazônia.

16. Como se chama a probabilidade de ocorrer determinada infecção no ambiente onde circula o agente infeccioso?

É o risco de infecção, que representa a probabilidade de ocorrer determinada infecção no ambiente ou meio onde circula o agente infeccioso.

17. Por que alguns indivíduos que vivem em focos naturais de doença parasitária não adoecem?

Mesmo que vivam no âmbito de um foco natural de certas doenças, nem todos os indivíduos adoecem, seja devido a mecanismos protetores naturais e ao desenvolvimento de imunidade, seja devido às condições pessoais relacionadas com fatores socioeconômicos, culturais ou mesmo comportamentais.

18. Cite os fatores que contribuem para o risco de infecção parasitária.

  • Condições de moradia;
  • A qualidade da água utilizada e o saneamento;
  • A alimentação e o modo de preparo dos alimentos;
  • Os hábitos higiênicos;
  • O uso de calçados;
  • As formas de lazer, etc.

19. Por que as parasitoses são mais frequentes entre populações com baixo nível cultural?

Isso ocorre devido à ignorância sobre os principais fatores de risco para a saúde presentes no ambiente e sobre as maneiras de evitá-los, além de condições socioeconômicas precárias.

20. De que maneira os riscos de infecção parasitária são avaliados/caracterizados?

  • Caracterização de risco: Descrição dos efeitos sobre a saúde e a frequência com que ocorrem tais efeitos.
  • Avaliação da exposição: Quantificação da probabilidade estatística de ocorrer determinada infecção parasitária em uma dada população ou grupo na área de risco.

21. Dê exemplos de ações que podem controlar riscos de infecção parasitária.

Em cada caso, além das ações objetivas, como:

  • Inquéritos epidemiológicos;
  • Saneamento;
  • Desinsetização;
  • Medicação.

22. Quais são as principais doenças parasitárias que ocorrem no mundo?

Malária, Tricomoníase, Amebíase, Leishmanioses (tegumentar e visceral), Tripanossomíases (americana e africana), Ascaridíase, Ancilostomíase, Oncocercíase, Esquistossomoses.

Doença de Chagas

23. Qual o impacto econômico da Doença de Chagas no Brasil?

Somente no Brasil, mais de US$ 1,3 bilhão em salários e produtividade industrial foram perdidos devido a trabalhadores com Doença de Chagas.

24. Quais são as causas do aumento do número de pacientes com Doença de Chagas em países desenvolvidos?

É crescente o número de pacientes em países desenvolvidos não endêmicos (tais como Austrália, Canadá, Japão, Espanha e Estados Unidos), devido ao aumento da migração de latino-americanos que não sabem que estão em risco de infecção.

25. Quem é principalmente afetado pela Doença de Chagas na zona rural?

Atinge principalmente pessoas que vivem nas áreas rurais onde também há problemas de subnutrição.

26. Comente sobre a urbanização da Doença de Chagas.

A urbanização da Doença de Chagas está relacionada à migração da população e a fatores socioeconômicos.

27. Quais são as formas de transmissão do T. cruzi?

  • Transfusão sanguínea;
  • Transmissão congênita (através de mães infectadas, passando a infecção durante a gestação, no parto ou durante a amamentação);
  • Oral (através de alimentos contaminados, não cozidos, ou contaminados com fezes de barbeiros);
  • Acidental em laboratório;
  • Transplantes de órgãos.

28. Quais são as características dos vetores transmissores da infecção pelo T. cruzi?

  • Domiciliação: Capacidade de invadir e procriar no interior das casas.
  • Denominações populares no Brasil: Barbeiros, chupões, fincões, bicudos e procotós.

29. Quais são as fases da Doença de Chagas?

  • Fase Aguda: Curta duração (cerca de 2 meses), parasitemia detectável, sinais de porta de entrada.
  • Fase Crônica: Parasitemia baixa (a parasitemia reduz, mas a doença progride), diagnóstico sorológico positivo (pode ocorrer até 20 anos depois).

30. Como são chamados os sinais de porta de entrada do T. cruzi?

Na fase aguda, são chamados de Sinal de Romana ou Chagoma de Inoculação. Aparecem dias após a inoculação, com duração de 30 a 60 dias.

31. Como é caracterizada clinicamente a fase aguda da Doença de Chagas?

É caracterizada por febre, mal-estar, edema facial, linfadenopatia generalizada e hepatoesplenomegalia. Muitas vezes, os sintomas desaparecem espontaneamente em 4 a 6 semanas.

32. Quais são os indivíduos que apresentam mortalidade elevada na fase aguda da Doença de Chagas?

  • Crianças (cerca de 5% morrem, com maior mobilidade em menores de 5 anos);
  • Idosos;
  • Imunossuprimidos;
  • Casos com alto inóculo de parasitas, especialmente em surtos de transmissão oral.

Cerca de 90% dos pacientes sobrevivem a esta fase, tendo seus sintomas atenuados, e entram em um período de latência. Alguns pacientes falecem de insuficiência cardíaca (miocardite) ou de meningoencefalite (baixa mortalidade), com ocorrência predominantemente rural.

33. Quais são as formas encontradas na fase crônica da doença?

  • Forma Indeterminada: Assintomática, e os pacientes podem transmitir o parasita apesar de não apresentarem sinais da doença.
  • Forma Sintomática: Manifesta-se 10 a 30 anos mais tarde, com apresentações cardíacas, digestivas, mistas e neurológicas.

34. Qual a razão do longo período de latência entre a infecção inicial e as manifestações clínicas?

A razão exata para o longo período de latência não é totalmente compreendida, mas envolve complexas interações entre o parasita e a resposta imune do hospedeiro, bem como a persistência do parasita em tecidos específicos.

35. Comente sobre a forma indeterminada da Doença de Chagas.

O indivíduo nessa forma apresenta as seguintes características:

  • É assintomático, com sorologia IgG anti-T. cruzi positiva e ECG e raio-X normais.
  • A morte súbita está presente em 1/3 dos casos de pacientes nessa forma, com insuficiência cardíaca prévia.
  • Histologicamente, há lesões inflamatórias focais, com raros parasitas.
  • Técnicas de imuno-histoquímica têm mostrado a presença de materiais antigênicos do parasita nessas lesões inflamatórias.

36. Qual a razão da alta proporção de pacientes assintomáticos?

Acredita-se que as células inflamatórias de indivíduos nesta forma apresentam potencial agressivo inibido. Após um tempo, estas células são envolvidas por apoptose.

37. Comente sobre o mecanismo de ação do parasita na forma digestiva da doença.

O mecanismo envolve a agressão à parede das vísceras, destruição de células nervosas do sistema nervoso entérico e alteração da motilidade do esôfago e do cólon, levando a condições como megaesôfago e megacólon.

38. Quais os principais casos clínicos da forma digestiva?

Os principais casos clínicos incluem megaesôfago (leve, moderado e acentuado, sendo 5% dos casos de megaesôfago acentuado) e megacólon.

39. Em que situação ocorre a reativação da Doença de Chagas?

A reativação da Doença de Chagas ocorre em situações como:

  • Co-infecção por HIV;
  • Transplante de órgãos (devido ao uso de imunossupressores);
  • Proliferação parasitária;
  • Lesões necróticas ou tumorais no cérebro (em 75% dos casos de reativação);
  • Intensificação da miocardite (em 44% dos casos de reativação).

40. Comente sobre a cardiomiopatia chagásica crônica.

É o aumento do volume do coração devido à dilatação de suas cavidades, resultante da inflamação crônica causada pelo parasita.

41. Cite as teorias que sugerem o mecanismo de destruição de cardiomiócitos e fibrose em pacientes com cardiopatia chagásica crônica.

As teorias incluem:

  • Destruição direta pelo T. cruzi;
  • Teoria neurogênica, com destruição das células ganglionares e lesões do sistema de condução;
  • Reações autoimunes (anticorpos e células) contra o coração;
  • Disfunção do compartimento microvascular (microespasmos, microtrombos, disfunção de células endoteliais e aumento da atividade plaquetária).

42. Cite as medidas primárias de profilaxia contra a infecção pelo T. cruzi.

As medidas primárias de profilaxia incluem:

  • Melhoria da habitação (paredes de gesso, piso de cimento, telhados de ferro ondulados);
  • Aplicação de inseticidas;
  • Medidas pessoais preventivas, como uso de mosquiteiros e higiene no preparo dos alimentos;
  • Controle de transfusões sanguíneas e transplantes de órgãos;
  • Controle da transmissão congênita.

43. Quais são as medidas secundárias profiláticas contra a Doença de Chagas?

As medidas secundárias profiláticas incluem:

  • Na transmissão congênita: diagnóstico de mulheres grávidas infectadas e detecção de possível infecção nas crianças após 8 meses de idade;
  • Prevenção de acidentes em laboratório (uso de EPIs).

44. Como são chamados os medicamentos disponíveis no Brasil contra a Doença de Chagas?

Os medicamentos disponíveis no Brasil são:

  • Nifurtimox: 10 a 15 mg (Lampit® - Bayer);
  • Benznidazol: 5 a 7 mg (Rochagan, produzido pelo Lafepe - Pernambuco).

45. Quais são as indicações do tratamento disponível no Brasil contra a Doença de Chagas?

  • Podem curar pacientes infectados, sendo mais eficientes no início da infecção, em pacientes com reativação da doença e em infecções congênitas.
  • A taxa de cura parasitológica é de 100% quando o tratamento ocorre na fase inicial.
  • Não há tratamento curativo para a fase crônica estabelecida.

46. Quais são os mecanismos de agressão do T. cruzi?

Os mecanismos de agressão do T. cruzi incluem a ação direta do parasita, a inflamação e a resposta imune específica do hospedeiro ao parasita.

47. Quais os mecanismos de defesa do hospedeiro infectado pelo T. cruzi?

Os mecanismos de defesa do hospedeiro incluem a inflamação e a resposta imune específica ao parasita.

48. Quais fatores influenciam a parasitemia e a diversidade do T. cruzi no hospedeiro?

Há perfis parasitemicos diferentes a depender do modelo experimental estudado, e um mesmo hospedeiro pode abrigar diversos clones do parasita.

49. Quais são as principais formas do T. cruzi?

As principais formas do T. cruzi são: tripomastigota, amastigota e epimastigota.

Leishmaniose

50. Quais são as formas da Leishmaniose Tegumentar Americana?

As formas encontradas são: amastigotas (nos vertebrados) e promastigotas (nos tubos digestivos dos insetos vetores).

51. Em quais complexos as Leishmania são agrupadas no continente americano?

No continente americano, as Leishmania são agrupadas nos complexos Leishmania braziliensis e Leishmania mexicana.

52. Quais são as formas da Leishmania?

As formas da Leishmania são: amastigotas e promastigotas.

53. Quais são as formas encontradas nos hospedeiros vertebrados?

Nos hospedeiros vertebrados, são encontradas as formas amastigotas.

54. Quais são as formas encontradas nos tubos digestivos dos insetos vetores?

Nos tubos digestivos dos insetos vetores, são encontradas as formas promastigotas.

55. Como são as lesões provocadas pela infecção do complexo L. braziliensis?

Produzem lesões simples ou múltiplas na pele e metástases nas mucosas nasais e orofaríngeas, mas não invadem as vísceras.

56. Como são as lesões provocadas pela infecção do complexo L. mexicana?

Produzem lesões benignas na pele e não causam metástase nas mucosas.

57. Quais são as formas que se reproduzem nos macrófagos?

As Leishmania têm por habitat os vacúolos digestivos de células do sistema fagocítico mononuclear, onde se multiplicam sob a forma amastigota.

58. Como são conhecidos popularmente os flebotomíneos?

São conhecidos popularmente como mosquito-palha. No Velho Mundo, são chamados de Phlebotomus; no Novo Mundo, de Lutzomyia.

59. Quais são as ações das substâncias encontradas na saliva dos flebotomíneos liberadas durante a hematofagia?

A saliva dos flebotomíneos contém substâncias que modulam a resposta imune do hospedeiro e facilitam a hematofagia, como vasodilatadores e anticoagulantes, que podem influenciar a infecção.

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