Parasitologia Veterinária

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AULA 1 - ÁCAROS
Filo: Arthropoda
Classe: Arachnida
Subclasse: Acari
Ordem: Acariformes
Subordem: Astigmata
Principais: Sarcoptidae, Psoroptidae, Knemidocoptidae
Características comuns:
São ectoparasitas obrigatórios
Pequenos: ~ 0,5mm
Permanecem todo o ciclo evolutivo no hospedeiro.
Podem ser escavadores (sarcoptes, notoedres e knemidocoptes - epiderme) ou não-escavadores (psoroptes, choriotes e otodectes - superfície).
SARCOPTES
Espécie: Sarcoptes scabei
Ácaro escavador, que forma galerias ou túneis na pele.
Ocorrência: todos os mamíferos domésticos e o homem
Distribuição: mundial
Doença que causa: sarna sarcoptica ou escabiose
Localização: regiões glabras - pele lisa e sem pelos
Contágio: Dermatopatia ALTAMENTE contagiosa
Morfologia: empódio, patas curtas (2 pares anteriores e 2 posteriores), contorno arredondado e escamas triangulares no dorso.
Ciclo: ovo, larva, ninfa (tritoninfa e protoninfa) e adulto.
Descrição do ciclo: a fêmea fertilizada escava túneis ou galerias nas regiões superficiais da pele, depositando os ovos. As larvas, que possuem 6 patas, eclodem e se alimentam de restos celulares, arrastando-se para a superfície da pele, se alojando em bolsas de muda, para completar a transformação em ninfa e adulto. Após a fertilização, as fêmeas produzem novos ovos e reiniciam o ciclo.
Sarna sarcóptica em cães (sarcoptes scabei var canis)
Perfil do hospedeiro: cães de qualquer idade ou sexo.
Não sazonal
Locais de preferência: orelhas, focinho, face, cotovelos e abdome (pode generalizar). Sintoma característico: prurido intenso, perda de pelos, inflamação e auto-traumatismo. Início dos sinais clínicos: poucos dias após a infecção.
Sarna sarcóptica em gatos
Raro, com sinais clínicos de queda progressiva de pelos nas orelhas, face e abdome.
Sarna sarcóptica em bovinos
É a sarna mais grave dos bovinos, podendo causar, em infecções leves, escamas e pouca queda de pelo, generalizando por todo o corpo em caso de infecções graves. Causa prurido intenso.
Sarna sarcóptica em humanos
Infecção por ácaros de animais, é menos grave, auto limitante, com sinal clínico de lesões avermelhadas e prurido.
DIAGNÓSTICO
Dados de anamnese: dermatopatia pruriginosa
Exame parasitológico do raspado cutâneo: raspado de pele superficial, na borda das orelhas e articulações dos membros. Teste padrão, de fácil execução e baixo custo, com resultado imediato. Revela a existência de ovos, larvas, ninfas e adultos.
Reflexo otopedal: Após friccionar ou raspar a borda do pavilhão auricular, o animal responde movimentando o membro pélvico na tentativa de coçar o local. Não é específico e a positividade é de 90%.
Teste sorológico imunoenzimático – ELISA: teste sorológico para detecção de anticorpos anti-sarcoptes (antígeno sarcoptes scabei var vulpis). Possui sensibilidade de 68% e não é atualmente disponível no Brasil.
Histopatológico: exame invasivo, caro e raramente solicitado. DEMODEX
Ordem: Prostigmata
Família: Demodicidae
Gênero: Demodex
Espécies: Demodex canis, Demodex cati, Demodex bovis, Demodex equi, Demodex caprae.
Características:
Tamanho: Pequenos, de 0,1 a 0,4 mm.
Tipo: Ácaros escavadores.
Morfologia: garras, 4 pares de patas, corpo afilado e alongado.
Doença que causa: sarna demodécica
Hospedeiros: Todos os mamíferos domésticos e o homem.
Localização: Folículos Pilosos e Glândulas Sebáceas (regiões mais profundas da pele). Habitat: habitam como comensais na pele de mamíferos, mais frequente em animais jovens. Ciclo: ovo, larva, ninfa (protoninfa e tritoninfa) e adulto.
Prurido: não ocorre
Contágio: Não é contagioso
Transmissão
Demodex é adaptado ao hospedeiro e não é transmissível entre os animais. A infecção acontece nas primeiras semanas de vida, durante o aleitamento, quando a população comensal da pele da mãe é passada para o filhote por contato direto, acometendo principalmente o plano nasal e a face. Não são transmitidos aos seres humanos.
Fatores de Risco: idade (animais jovens), animais com raça definida, pelame curto, estro, parto, estresse, doenças debilitantes ao longo da vida (neoplasias e endocrinopatias).
Sarna Demodécica em Cães (Demodex Canis): atinge regiões cefálica, cervical e membros torácicos, podendo ser generalizada. Verifica-se ocorrência de pododemodicose (na pata do animal, inclusive região interdigital).
Diagnóstico:
Parasitológico de Rapado Cutâneo: realizar raspado profundo (com sangramento) em regiões alopécicas e eritematosas. O material, posto em lâmina de vidro, é analisado no microscópio a 40 ou 100x.
Exame parasitológico de pelame: avulsão de pelos (com análise microscópica)
Exame parasitológico de cerúmen: retirada e análise microscópica de cerúmen, em caso de
otodemodicose.
Impressão em fita adesiva


Histopatológico: realizado em caso de raspado negativo (pododemodicose, sharpei, folículos pilosos plenos de ácaros e foliculite)
OTODECTES (Família Psoroptidae - Otodectes cynotis)
Tipo: não escavador
Morfologia: pulvilo ou garra (ventosa), 3 pares de patas longas, corpo oval
Localização: vive na superfície do conduto auditivo (ramos vertical e horizontal do meato acústico de cães e gatos). Ocasionalmente na cabeça e região cervical.
Hospedeiros: gatos, cães e muitos outros mamíferos.
Ciclo: ovo, larva, ninfa (protoninfa e deutoninfa) e adulto.
Espécie dependente: não
Contágio: altamente contagiosa
Comensal: Sim. A maioria dos animais alberga esse ácaro.
Zoonótica: potencialmente.
Manifestações Clínicas: otite externa, pruriginosa, eritematosa, cerume marrom ou enegrecido (“borra de café”), lesões em região periauricular, cefálica e cervical e ruptura da membrana timpânica (raro).
Diagnóstico
Otoscopia: observar o ácaro movimentando-se no meato (são estimulados pelo calor da luz do
otoscópio).
Exame parasitológico do cerúmen: coleta de cerúmen do conduto e análise em microscópio (visualizar o ácaro ou ovos).
Reflexo Otopodal: (presente na maioria dos casos). AULA 2 - CARRAPATOS (Carrapatos duros)
Filo: Arthropoda
Classe: Arachnida
Subclasse: Acari
Ordem: Parasitiformes
Subordem: Ixodida
Principais: Rhipicephalus, Amblyomma e Dermacentor (serão abordados na disciplina), Ixodes e Haemaphysalis.
Características comuns: são ectoparasitas hematófagos obrigatórios, grandes (2 a 20 mm), apresentam dimorfismo sexual nítido (tamanho do escudo) e podem ser vetores de agentes patogênicos. O ciclo compreende os seguintes estágios: ovo, larva, ninfa, adulto.
Morfologia:
Gnatossoma: aparelho bucal, formado por: (1) quelícera (dilacera o tecido do hospedeiro e permite a entrada do fluxo de sangue por sucção); (2) hipóstoma (ancora o aparelho bucal enquanto o carrapato se alimenta) e (3) palpos (sensoriais, promovendo orientação posicional).
Idiossoma: Região “abdoninal” do carrapato.
Escudo dorsal quitinoso: maior no macho, cobrindo todo o idiossoma, e menor na fêmea. Pode ser
ornamentado ou não ornamentado.
Patas (4 pares)
AGRESSÃO E RESPOSTA IMUNE
A picada do carrapato resulta em agressão química e física, que ativa coagulação e agregação plaquetária, inflamação, resposta imune inata e adaptativa.
A saliva dos carrapatos é considerada um antígeno e contém substâncias anticoagulantes, antiplaquetárias e vasodilatadoras, sendo responsáveis pela inibição da hemostasia do hospedeiro e manutenção do fluxo sanguíneo no local da picada.
RHIPICEPHALUS (Rhipicephalus sanguíneus)
Escudo: não ornamentado
Palpos: curtos
Hospedeiro: cães, mas pode parasitar gatos e carnívoros silvestres.
Doenças que pode veicular: Ehrlichia canis (erlichiose canina) e Babesia canis (babesiose). Ciclo evolutivo: 3 hospedeiros para completar o ciclo biológico.
Região de atuação: Acomete mais pele, membros anteriores, orelhas e dedos.
Descrição do ciclo evolutivo: larvas presentes no solo entram em contato com o primeiro hospedeiro, onde realizam repasto sanguíneo, voltam ao solo, realizam ecdise, transformando-se em ninfa, que encontra um segundo hospedeiro, onde realiza repasto sanguíneo, retornando mais uma fez ao solo, onde sofre nova ecdise, por meio da qual chega à fase adulta, após o que entra em contato com o terceiro hospedeiro, onde realiza repasto sanguíneo, acasala, e as fêmeas ingurgitadas deixam o animal para realizar ovipostura no solo, onde depositam aproximadamente 4 mil ovos, que eclodem em larvas que iniciarão todo o ciclo novamente.
Rhipicephalus (Boophilus) microplus
Hospedeiro: Bovinos, mas pode acometer outros hospedeiros domésticos e silvestres. Ciclo evolutivo: 1 hospedeiro para completar o ciclo.
Climas: quentes e úmidos
Doenças que pode veicular: babesiose e anaplasma
Descrição do ciclo evolutivo: larvas no solo entram em contato com hospedeiro, onde realiza repasto sanguíneo e sofre ecdise para ninfa, depois para adulta, acasala e as fêmeas ingurgitadas deixam o hospedeiro, para realizar ovipostura no solo, onde depositam de 2.000 a 4.500 ovos, que eclodem em larvas que iniciarão todo o ciclo novamente.
AMBLYOMA (Amblyoma Cajennense)
Tamanho: grande
Escudo: altamente ornamentado
Aparelho bucal: longo (com picada dolorosa)
Hospedeiros: ampla variedade de mamíferos, principalmente os equinos.
Doenças que pode veicular: Doença de Lyme e Febre Maculosa (Rickettsia rickettsi). Ciclo evolutido: ovo, larva, ninfa, adulto
Outras características: Pode parasitar o homem; importante na américa do sul.
Descrição do ciclo evolutivo: mesmo ciclo do Rhipicephalus sanguíneus. AMBLYOMMA AMERICANUM (“Carrapato Estrela”)
Hospedeiros: animais selvagens e domésticos –bovinos e aves
Ciclo Evolutivo: 3 hospedeiros
Doenças que pode veicular: Ehrlichia ewiigi e Ehrlichia chaffeensis Escudo: ornamentado
Aparelho bucal: longo
Ciclo evolutido: ovo, larva, ninfa, adulto
DERMACENTOR
Escudo: ornamentado
Tamanho: médio a grande
Aparelho bucal: curto
Ciclo biológico: 1 hospedeiro ou 3 hospedeiros
Doenças que pode veicular: Febre Maculosa, Doença de Lyme e Febre Q (doenças graves). Outras características: A secreção salivar de algumas espécies pode causar paralisia do carrapato.
DERMACENTOR VARIABILIS
Escudo: ornamentado
Coloração: castanho pálida a cinza
Tamanho: Machos 3 a 4 mm e fêmeas 4mm (quando alimentadas 15mm)
Palpos: curtos
Ciclo evolutivo: 3 hospedeiros
Hospedeiros: roedores, cães, equinos, bovinos, humanos e animais selvagens.
Distribuição: América do Norte
Doenças que pode veicular: Ehrlichia chaffeensis, Ehrlichia canis, Rickettsia rickettsii e Borrelia burgdorferi.
Outras características: Pode provocar paralisia do carrapato em cães.
Descrição do ciclo evolutivo: mesmo ciclo do Rhipicephalus sanguíneus e do Amblyoma Cajennense.
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
Perdas econômicas para a pecuária
Veiculam doenças
Geram atraso no desenvolvimentos dos animais Exigem gastos com medicamentos (acaricidas) Apresentam resistência
Requerem medidas de controle
AULA 3 - FUNGOS
Fungos estudados: Dermatófitos, Malassezia e Sporotrix
Dermatofitose: Infecção de pele superficial, causada por um grupo de fungos denominados DERMATÓFITOS. São Fungos que acometem tecidos queratinizados, como: pele, pelos, cabelos e unhas de animais e seres humanos.
Zoonose: Doenças transmitidas dos animais para o Homem. DERMATÓFITOS (Distribuição Mundial - Clima quente e úmido) Principais agentes agressores:
Microsporum canis: cães, gatos e homem
Microsporum gypseum: cães, gatos, equinos, bovinos e homem
Trichophyton mentagrophytes: roedores, cães, gatos, bovino, equinos e homem Trichophyton equinum: equinos
Epidermophyton: homem
Podem ser: geofílicos, ou seja, encontrados no solo (Microsporum gypseum), zoofílicos, encontrado em animais (Microsporum Canis, Mentagrophytes Trichophyton), e antropofílicos, encontrados em humanos (Microsporum audounii).
Incidência: Acomete cães e gatos jovens, até 1 ano de idade. Não há predisposição sexual. Algumas raças de cães (yorkshire) e felinos (Persa) apresentam quadros mais graves e crônicos.
Obs: É possível a existência de portadores assíntomáticos.
Fisiopatogenia (Transmissão): ocorre (1) através de contato direto com animais infectados, (2) fômites (escovas, coleiras, camas, selas), bem como (3) ar e poeira (moscas).
Fatores de risco: (1) locais com superpopulação de animais (canis e gatis), (2) ambientes úmidos e pouco ventilados, (3) utilização de objetos contaminados (escovas, coleiras, camas e caixas de transporte) e (4) imunidade do hospedeiro.
Após o contato do agente com o hospedeiro, esporos germinam em 6 horas após o contato com os queratinócitos ( 25°C a 37°C). O período de incubação é de 1 a 3 semanas.
Obs: após contato com o hospedeiro, os fungos produzem enzimas queratolíticas, que degradam a queratina que servirá como alimento. Assim, o fungo fica localizado nas camadas superficiais da pele (epiderme), onde há mais queratina.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Regiões de maior ococrrência: cefálica, tronco e membros.
Cães e Gatos: alopecia, eritema (vermelhidão), escamas, crostas, formato circular e prurido (este último é leve em gatos e moderado em cães). As manifestações clínicas podem ser localizadas, multifocais ou generalizadas.
DIAGNÓSTICO
1 - Exame Direto: análise dos pelos retirados da borda das lesões, buscando verificar a presença de
esporos ao redor ou dentro dos pelos, usando hidróxido de potássio 10 a 20% para melhor visualização.
2 - Lâmpada de WOOD: a luz ultravioleta proveniente da lâmpada detecta o metabólito tripofano, produzido pelo Microsporum Canis (50% produzem), sendo verificada na fase de crescimento do pelo.
•Baixa sensibilidade •Teste de Triagem
3 - Cultura Fúngica: Coleta de pelos por avulsão e raspado superficial da borda da lesão, utilizando meio de cultura ágar sabouraud dextrose ou DMT (meio teste para dermatófito). A incubação é realizada em até 30 dias (crescimento lento) em temperatura ambiente.
Microsporum canis: colônia cotonosa, coloração branco-amarelada, com crescimento entre 6 a 15 dias. Macroconídeo fusiforme, apresentando parede grossa, e até 15 septos.
Trichophyton mentagrophytes: colônia pulverulenta, cor creme. Macroconídeos em formato de “charutos”, com parede fina e até 7 septos.
Microsporum gypseum: colônia pulverulenta, cor bege amarronzada, com crescimento rápido. Macroconídeo em forma de “canoa”, rugoso e com até 6 septos.
4 - Histopatologia: biopsia de pele, para vefiricação da presença de esporos e hifas no estrato córneo ou nos folículos pilosos, ou infiltrado inflamatório perifolicular.
MALASSEZIA
Malasseziose
Agente Agressor: Malassezia spp
Micose superficial, comum em cães e infrequente em gatos, raramente associada a infecções em humanos.
Obs: Malasseziose tegumentar e Otite externa (infecção de pele e meato acústico externo).
Etiologia: o gênero Malessezia compreende leveduras lipofílicas, ou seja, que apresentam afinidade por lipídeos (gordura)
Malassezia spp compreende várias espécies: M. furfur, M. sympodialis, M. pachydermatis, M.globosa, M.equina, M.dermatis, M. obtusa, M. restricta, M. japonica, M. caprae, M. nana.
Obs: A Malassezia pachydermatis é a espécie mais bem adaptada aos cães e gatos. É isolada na pele, conduto auditivo e mucosas de animais saudáveis (comensal). Fisiopatogenia
A malassézia é um fungo saprófita, ou seja, não causa danos ao animal ou humano (comensal), podendo apresentar-se como fungo patogênico nos casos de alterações no microclima da pele e do conduto auditivo (pH, umidade e temperatura) que levem a um crescimento exagerado das leveduras.
Outros fatores predisponentes: anatomia do conduto auditivo (algumas raças possuem orelhas pendulares ou excesso de pelos no conduto auditivo, contribuindo para a proliferação do fungo.
A Malasseziose primária em cães e gatos é rara!!!! Geralmente é secundária a outras doenças, tais como: infecções bacterianas, doenças nutricionais, endocrinopatias, neoplasias, doenças imunossupressoras, entre outras.
A malassezia é um fungo pró-inflamatório, já que produz enzimas (proteases, lipases e zimogênio) que ativam a resposta imune (neutrófilos, macrófagos, Linfócitos T e B), causando, consequentemente, inflamação e prurido.
Incidência: não há predisposição sexual ou etária (maior frequência em animais com menos de 5 anos). Maior ocorrência em cães, incomum em felinos (geralmente secundária a FIV, neoplasias, diabetes mellitus, etc.)
Raças predispostas: West Highland White Terrier, Basset Hound, Cocker Spaniel Americano, Shi-tzu e Teckel.
Manifestações Clínicas: (1) lesões, que podem ser localizadas ou generalizadas, com incidência maior na região ventral do pescoço, abdome, dobras Cutâneas, face, região perineal e espaço interdigital; (2) prurido, eritema (vermelhidão), crostas, alopecia, hiperqueratose, hiperpigmentação, aumento da oleosidade e odor fétido.
O animal pode apresentar otite levedúrica, caracterizada por eritema (vermelhidão) do pavilhão auricular, coçeira e acumulo de cerúmen marrom ou enegrecido.
Diagnóstico
1 - Exame citológico direto: rápido e de baixo custo, podendo ser realizado a partir de (1) raspado da lesão de pele ou cerúmen de ouvido ou (2) decalque direto da lâmina de microscopia na lesão, para avaliação microscópica, verificando-se a presença de fungo em formato de garrafa.
2 - Cultivo Micológico: realizado em Ágar Sabouraud dextrose, sem necessidade de suplementação de lipídeos (Malassezia pachydermatis), com cultivo a 37°C, por 3 a 4 dias (também cresce em temperatura ambiente). Verifica-se a proliferação de fungo com superfície lisa e puntiforme, com coloração branco-marfim a amarelada.
3 - Histopatológico de Biopsia Cutânea: baixo valor diagnóstico, achados inespecíficos (hiperplasia irregular da epiderme e infiltrado inflamatório), sendo possível a identificação de leveduras em 70% dos casos, podendo, entretanto, ocorrer falsos negativos.
Diagnóstico Diferencial: dermatopatias alérgicas (atopia, DAPP-Dermatite Alérgica a Picada de Pulgas, hipersensibilidade alimentar), infecções bacterianas, demodiciose, escabiose e dermatite seborreica. Todas apresentam como característica comum o aumento de prurido.
SPOROTRIX (Agente Agressor: Sporothrix spp.)
Esporotricose: micose subcutânea, acometendo humanos e animais (gatos, cães e equinos), com
grande importância em saúde pública (zoonose), acometendo principalmente felinos domésticos.
Agente Agressor (complexo sporotrix): sporotrix schenckii, sporotrix brasiliensis (ambos foram isolados no Brasil), sporotrix globosa, sporotrix mexicana, sporotrix lurial e sporotrix albicans.
Sporotrix ssp: com distribuição mundial, é um fungo (1) dimórfico, ou seja, apresenta habilidade de crescer em duas formas distintas: filamentoso ou micelial (temperatura ambiente - 25o C) ou leveduriforme (37°, nos casos de parasitismo); (2) geofílico (presente em reservatórios naturais, como solo, plantas e matéria orgânica em decomposição, feno e madeira. Clima quente e úmido oferece condições ideais, razões pelas quais é muito comum no Brasil.
Transmissão: inoculação traumática do fungo na pele, causada por espinhos de plantas, farpas de madeira, arranhadura e mordedura de animais infectados (mais comum), contato direto com exsudato de lesões dos animais infectados (mais comum).
Gato Doméstico: muito susceptível à infecção por sporotrix, especialmente o macho não castrado e vida livre, sendo um transmissor importante para humanos.
O desenvolvimento dos sinais clínicos varia segundo os seguintes fatores: (1) a virulência do fungo, (2) a quantidade de fungo inoculado e (3) a resposta imunológica do hospedeiro à invasão fúngica.
Estudo promovido pelo Laboratório de Micologia Médica da FIOCRUZ constatou que 83,4% dos humanos e 85% dos cães infectados tiveram contato com gatos doentes.
Manifestações Clínicas: lesões, que ocorrem principalmente na face, porção distal dos membros e cauda.
Trata-se de micose subcutânea, que pode ser localizada, apresentando, no local do contato direto, pápulas, que transformam-se em nódulos, que posteriormente ulceram, transformando-se em lesões, podento apresentar-se, ainda, de forma disseminada, podendo atingir diversas regiões do corpo (geralmente em animais ou pessoas imunossuprimidas).
Cutâneolinfática: frequente em humanos, segue o “caminho” do sistema linfático, causando linfangite nodular, caracterizado por uma lesão primária acompanhada de nódulos e abcessos que acompanham o trajeto linfático.
Manifestaçõe clínicas em cães: pouco frequente, cutânea localizada e em animais imunossuprimidos. Diagnóstico
1 - Coleta de material: de exsudatos das lesões, através de (1) swab esterilizado, (2) punção aspirativa por agulha fina de nodulações, ou (3) biópsia de fragmentos das lesões.
2 - Citologia: em felinos, constata-se grande quantidade de leveduras ovaladas, bem como células de defesa (neutrófilos e macrófagos)
3 - Microscopia: presença de hifas e esporos em formato de margarida.
4 - Cultura Fúngica: diagnóstico definitivo, realizado com utilização de swab ou fragmentos da lesão, com cultivo em Ágar Sabouraud dextrose e Ágar Mycosel, em 2 temperaturas diferentes: 25o C e 37o C. Em macroscopia, a cultura deixará evidenciado o dimorfismo do fungo nas diferentes temperaturas (filementoso ou micelial a 25o C e leveduriforme a 37° C).
5 - Histopatologia: após coloração PAS - Ácido períódico de Schiff, é observada a presença de leveduras.
AULA 4 - PULGAS
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Siphonaptera
Família: Puliciade (Ctenocephalides, Pulex, Xenopsylla, Echidnophaga) e Tungidae (Tunga)
Ordem Siphonaptera: ectoparasitas (pele e pelos) hematófagos obrigatórios, são insetos ápteros (sem asas), com corpo achatado lateralmente, são holometábolos, ou seja, sofrem metamorfose completa, apresentam olhos simples, e transitam por 4 estágios evolutivos: ovo, larva, pupa e adulta. Apenas os adultos são parasitas. As larvas não possuem a mesma forma do inseto adulto.
Morfologia: com tamanho entre 1 e 6 mm, apresentam coloração castanho-escura, corpo achatado lateralmente, antenas dentro da cabeça, três pares de patas, sendo o terceiro par mais longo (adaptação para o salto), cerdas escuras utilizadas na identificação das espécies (ctenídeos), na cabeça (ctenídeo genal) e no tórax (ctenídio pronotal).
O corpo é dividido em (1) cabeça (olhos, antenas, ctenídio genal e armadura bucal, esta última composta de palpos maxilares, palpos labiais, lobos maxilares, lanícias maxilares e labro-epifaringe); (2) tórax (pronoto, ctenídio pronotal, mesonoto e metanoto; (3) abdômen (tergito, genitais, e estrenito) e (4) patas (coxa, fêmur, tíbia, tarsos e garras).
Obs: nem todas as espécies possuem ctenídeos, o que facilita sua identificação pelo parasitologista.
CICLO BIOLÓGICO
As pulgas adultas se alimentam, acasalam e depositam os seus ovos no hospedeiro (cerca de 15 a 20 ovos), os quais caem no meio ambiente. (2) A eclosão dos ovos ocorre entre 2 dias e 2 semanas, dependendo das condições do AMBIENTE! (3) As larvas se alimentam das fezes das pulgas adultas no ambiente, se escondendo em locais escuros como frestas de piso, sofá, tapete, carpete e camas. (4) As pulgas possuem 3 estágios larvais, com duas mudas no total, sendo que no último estágio larval forma-se um casulo. (5) No casulo (pupa), ocorre a transformação da larva em pulga adulta (8 a 9 dias em condições ideais), mas podem resistir no ambiente ate 6 meses. As pulgas adultas encontram o hospedeiro e iniciam um novo ciclo.
A taxa de oviposição é maior em momentos do dia no qual os gatos, normalmente, descansam, como início da manhã e final da tarde. Como resultado, os ovos de pulga ficam concentrados em locais de descanso do hospedeiro.
Ovos: Os ovos não resistem a grandes variações climáticas, em especial de temperatura e de umidade, não sobrevivendo a umidades relativas inferiores a 50%. Condições favoráveis à eclosão dos ovos:
70% de umidade relativa e 35°C, 50% -1,5 dia 70% de umidade relativa e 15°C50% - 6 dias
Larvas: coloração creme, formato alongado, presença de cerdas para locomoção, aparelho mastigador (ainda não possuem aparelho de sucção, pois alimentam-se de fezes de pulgas adultas), ambiente ideal de 13°C a 35 °C e alta umidade, com mortalidade alta em umidade inferior a 50%. Em condições desfavoráveis, o ciclo pode durar até 200 dias.
Obs: 5% das pulgas estão presentes no hospedeiro, enquanto 95% encontram-se no ambiente.
PULGAS DO GÊNERO CTENOCEPHALIDES
Parasitas de carnívoros, podem ser hospedeiros intermediários do cestodio Dipylidium caninum.
Classifica-se em: Ctenocephalides canis (cães, gatos, ratos, coelhos, raposas e humanos) e Ctenocephalides felis (cães, gatos e humanos).
*** Ruminantes , equinos e suínos não apresentam espécies próprias de pulgas
Ctenocephalides felis: possui coloração castanho-escura/preta, cabeça comprida e pontiaguda, corpo achatado e superfície brilhosa, com fêmeas maiores que os machos, terceiro par de pernas mais comprido, ctenídeo genal de 7 a 8 cerdas e ctenídeo pronotal 16 cerdas.
Ctenochephalides canis: É muito semelhante morfologicamente à C. felis, porém a cabeça da fêmea é mais arredondada, com ctenídeos genal de 7 a 8 cerdas, ctenídeo pronotal 16 cerdas. Os hospedeiros são: cães , gatos, ratos, coelhos, raposas e humanos. Ciclo evolutivo: ovo - 3 estágios larvais - pupa - adulto.
PULEX (PULEX IRRITANS)
É a “pulga do humano” e suínos, mas também pode acometer cães, gatos, ratos e texugos. O ciclo evolutivo é típico: ovos - 3 estágios larvais - pupa e adulto.
Morfologia: possui cabeça arredondada e um par de olhos, não apresenta ctenídeos genais e protonais, lacíneas maxilares se estendem até a metade das coxas anteriores.
PULGAS DO GÊNERO XENOPSYLLA (XENOPSILLA CHEOPIS)
É a “pulga de ratos”, mas tem como hospedeiros roedores, primatas e humanos. É o principal vetor da bactéria Yersinia pestis, o agente causador da peste negra/bubônica em humanos. O ciclo evolutivo é típico: ovos - 3 estágios larvais - pupa e adulto.
Morfologia: coloração âmbar claro, ausência de ctenídeos genal e pronotal e olhos presentes com 1 cerda em frente ao olho.
A peste bubônica (ou peste negra), provocada pela bactéria Yersinia pestis, é transmitida através de picadas de pulgas em humanos, com cerca de 2 mil casos por ano no mundo, tempo de incubação de até 7 dias e fatal em aproximadamente 12% dos casos. Manifestações clínicas: febre, dores de cabeça e nódulos linfáticos inchados.
PULGAS DO GÊNERO TUNGA (Família Tungidae)
Parasita de tatus, tamanduás, roedores e humanos.
Tunga penetrans (bicho de pé): penas a fêmea penetra na pele do hospedeiro.
Hospedeiros: humanos, suínos, bovinos, asininos, ovinos, equinos, ratos, camundongos, cães e outros animais selvagens.
Ciclo evolutivo: (1) fêmeas adultas acasaladas cavam a epiderme, e as fêmeas grávidas residem na lesão subcutânea, (2) eliminando os ovos no ambiente, os quais (3) eclodem em larvas (3-4 dias), que (4) passam por 3 estágios larvais, passando (5) para a fase de pupa (3-4 semanas), seguindo (6) para a forma adulta, na qual busca hospedeiro de sangue quente, onde realiza repasto sanguíneo, acasala e as fêmeas acasaladas dão início a um novo ciclo.
Repasto sanguíneo - efeitos deletérios: inflamação, prurido, anemia, reação de hipersensibilidade cutânea e, por fim, vetores de dipylidium caninum, bartonella henseale e mycoplasma haemofelis.
Reação de Hipersensibilidade Tipo I: resposta imune que ocorre de forma exagerada, com inflamação aguda ou imediata, que desenvolve-se segundos ou minutos após a exposição ao antígeno. Acontece a partir da interação entre antígeno + anticorpo + mastócitos. O contato com o antígeno causa desgranulação (liberação do conteúdo dos grânulos), causando INFLAMAÇÃO.
Mastócitos: são células sentinelas do sistema imune, grandes (15 a 20 μm de diâmetro). Seu citoplasma é ocupado por grânulos contendo substâncias pró-inflamatórias (histamina, heparina, prostaglandinas e leucotrienos). Os mastócitos são encontrados em locais do corpo expostos a potencias invasores, como pele, mucosas, intestino e vias aéreas.
Na reação de hipersensibilidade cutânea tipo I, os antígenos presentes na saliva da pulga ativam os mastócitos, que sofrem desgranulação (evento principal no desenvolvimento das reações alérgicas tipo I), liberando no local da picada os grânulos pró-inflamatórios presentes em seu citoplasma (moléculas vasoativas, moléculas quimiotáticas, citocinas e enzimas, etc), os quais geram inflamação aguda e efeitos sistêmicos.
Reação de Hipersensibilidade Tipo IV
Reações excessivas produzidas pelo sistema imune, com resposta imune tardia (12 a 24 horas após a agressão), sendo mediada por linfócitos T (antígeno - células apresentadoras de antígenos - ativação de linfócitos T), com manifestação clínica caracterizada por inflamação da pele intensamente pruriginosa.
A picada gera uma sensibilização pelo antígeno presente na saliva da pulga, que ativa células apresentadoras de antígenos, as quais (1) englobam o antígeno e os apresenta para os linfócitos T nos linfonodos, e (2) liberam citocinas IL-12, IL-18 e IL-26, que ativam os linfócitos Th1 e Th17. A apresentação de antígeno resultará na ativação de linfócitos T citotóxicos, que, juntamente com macrófagos, destruirão o antígeno ou célula agressora presentes no local da lesão.
Sinais Clínicos:
Na resposta aguda (tipo I): resultam da liberação abrupta e excessiva de substâncias inflamatórias dos mastócitos, mediados por IgE.
Na resposta tardia (tipo IV): ativação de linfócitos T e mediadores inflamatórios.
Antígenos na pele, provenientes da saliva da pulga, causará dermatite local, com eritema (vermelhidão), edema e urticária (prurido intenso).
Dermatite alérgica à picada de pulga - DAPP: afeta a região lombossacra, abdômen ventral e membros pélvicos.
Controle: (1) controle rigoroso das pulgas em todos os animais da casa, (2) associação de produtos adulticidas com larvidicas e ovicidas e (3) desinsetização ambiental.
AULA 5 - BACTÉRIA - STAPHYLOCOCCUS
Características gerais:
(1) Bactérias gram positivias, (2) de formato esférico, (3) tamanho 0,5 a 1,5 μm, (4) formam aglomerados, pares ou cadeias curtas chamados de CACHOS, (5) são anaeróbias facultativas (sobrevivem na presença e na falta de oxigênio), (6) presente na microbiota da pele e mucosas de animais e do homem.
Tipos:
Staphylococcus aureus (homem e animais); Staphylococcus pseudointermedius (cães); Staphylococcus hyicus (suínos).
Fator de Patogenicidade
Staphylococcus aureus (coagulase +): possui uma enzima capaz de ativar a protrombina favorecendo a coagulação do plasma. Promove a cnversão do fibrinogênio em fibrina. São mais patogênicos, consistindo na espécie mais importante causadora de doença em pessoas e animais.
Staphylococcus epidermitis (coagulase -): menos patogênicos, podem causar mastite subclínica em vacas.
STAPHYLOCOCCUS AUREUS
Características gerais: (1) são gram positivas, (2) apresentam coagulase positiva, (3) são toxigênicas (produzem toxinas alpha, beta e delta, responsáveis pela hemólise de eritrócitos [ágar-sangue], consistindo em fatores de virulência1), (4) são catalase-positivas (enzima de que converte peroxido de hidrogênio em água e oxigênio, com exceção de duas subespécies: S. aureus anaerobius e S. saccharolyticus).
Causa mastite bovina em animais e outras doenças em humanos, como acne, por exemplo.
STAPHYLOCOCCUS PSEUDOINTERMEDIUS
Características gerais: (1) são cocos gram positivos, apresentam (2) coagulase positiva, (2) catalase positiva, (3) é toxigênica (maior patogenicidade), (4) foram isoladas em cães, gatos, equinos e aves, sendo (5) a principal bactéria isolada nas piodermites2 caninas (também causa otite).
STAPHYLOCOCCUS HYICUS
Características gerais: (1) cocos gram-positivos, (2) coagulase positiva, (3) catalase positiva, (4) produzem toxinas esfoliativas (lesões de pele - piodermites), (5) causam (5.1) epidermite exsudativa em suínos, (5.2) lesões de pele em equinos e (5.3) mastite bovina.
Obs: associado com animais de produção (gado, suínos e aves). Pode contaminar os alimentos derivados desses animais.
DEFESA CONTRA AGRESSÃO ESTAFILOCÓCICA
A) Barreira natural da pele (integridade de pele e mucosas).
B) Celular: a primeira linha de defesa, com atuação de células fagocitárias (neutrófilos [primeira linha de defesa], macrófagos, ativação de quimiocinas [atraindo células para o local da lesão] e produção de citocinas pró-inflamatórias [TNF-, IL-1 e IL-6])
C) Imunidade adaptativa ( anticorpos)
DIAGNÓSTICO:
1 - Análise citológica
2 - Cultura bacteriana (para o staphylococcus aureus): na semeadura em ágar sangue, apresenta contornos circulares, coloração dourada e são brilhantes, com halo transparente do redor da colônia, indicando a presença de dnase, enzima que degrada ácido nucleico. Apresenta, ainda formato arredondado puntiforme.
3 - Prova da coagulase: verificar se o microorganismo possui coagulase, ou seja, se ele é capaz de converter o fibrinogênio em fibrina. Se houver formação de coágulo, é coagulase positiva; caso contrário, é coagulase negativa.
4 - Teste da catalase: verificar a presença da enzima catalase, permitindo diferenciação entre Staphylococcus (catalase positiva) e Estreptococcus (catalase negativa). Realizada adicionando à cultura peróxido de hidrogênio a 3%. Se for observada a formação de bolhas, é indicativo de catalase positiva; caso contrário, será catalase negativa.

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