Patologia do Sistema Digestório: Esôfago, Estômago, Intestino
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ESÔFAGO
Hérnia Hiatal: Conceito, Tipos e Características
É uma disfunção motora do esôfago, em que há alargamento do espaço entre os pilares diafragmáticos e parede esofágica.
Tipos:
- Axial: Deslizamento
- Não Axial: Paraesofágica
Esôfago de Barrett: Fisiopatologia e Complicação
É uma complicação da DRGE. Dentre as diversas causas da DRGE há a redução do tônus do EEI e a HH axial. O conteúdo refluído provoca inflamação na mucosa do esôfago que pode levar a complicações como estenose e Barrett. No esôfago de Barrett o epitélio pavimentoso é substituído pelo epitélio colunar e com células caliciformes (metaplasia intestinal). No esôfago de Barrett pode haver displasia, que está muito relacionada à neoplasia, principalmente o adenocarcinoma.
Carcinoma Epidermoide de Esôfago: Anatomopatológico
Cerca de 20% se localizam no terço superior, 50% no médio e 30% no inferior.
O início da lesão é in situ (intraepitelial) e se torna invasivo quando atinge a membrana basal.
Macroscopia:
Apresenta 3 padrões morfológicos básicos:
- Exofítico ou Protruso: Projeção para a luz do esôfago
- Plano: Infiltrativa e difusa na parede esofágica – causa espessamento, rigidez e estreitamento da luz
- Ulcerado ou Escavado: Infiltra estruturas adjacentes como a árvore respiratória, aorta, mediastino e pericárdio
A rica rede linfática da submucosa permite uma propagação extensa, circular e longitudinal, por isso ninhos de células tumorais intramurais podem ser vistos muitos centímetros além da massa principal. Há invasão precoce de estruturas mediastinais pois o esôfago não tem serosa para barrar a invasão.
Relação entre Esôfago e Alcoolismo: Fisiopatologia
Síndrome de Mallory-Weiss:
Vômito frequente no alcoolismo crônico provoca lacerações longitudinais no esôfago distal, JEG ou cárdia. As lesões são lineares, com trajetos irregulares, orientadas no maior eixo do esôfago.
Varizes Esofágicas:
A cirrose, relacionada ao alcoolismo crônico, pode provocar hipertensão portal e consequentemente a formação de circulação colateral e de varizes esofágicas. São vasos dilatados e tortuosos nas camadas subepitelial e submucosa.
Esofagite:
O vômito no alcoolismo pode provocar inflamação da mucosa esofágica e o próprio álcool pode provocar a esofagite química.
Estenose:
Pela extensão da lesão esofágica e cicatrização. Há substituição do tecido conjuntivo da lâmina própria, submucosa e muscular por fibrose. Há espessamento da parede esofágica (principalmente da submucosa) e atrofia da muscular.
Câncer de Esôfago:
Ocorre devido à mutação do p53 ou à progressão de esofagite (a renovação celular intensa pode levar à displasia, que pode levar ao CEC).
ESTÔMAGO
Gastrites Crônicas: Classificação e Aspectos Anatomopatológicos
As gastrites crônicas podem apresentar:
Macro:
- Superfície avermelhada
- Diminuição de pregueamento
- Textura irregular
Micro:
- Atrofia da mucosa
- Metaplasia intestinal
- Infiltrado inflamatório de linfócitos e plasmócitos
Autoimune:
- Autoanticorpos contra células parietais
- Associada a outras doenças autoimunes
Associada ao H. pylori:
- Presença de folículos linfoides com centro germinativo evidente
- Infiltrado de linfócitos e plasmócitos na lâmina própria
- Presença de neutrófilos entre glândulas e células epiteliais, significando atividade
- Metaplasia intestinal e atrofia
Associada ao Refluxo:
- Hiperplasia foveolar
- Edema e congestão
Gastrite Crônica Linfocítica
- Infiltrado linfocitário (células T) no epitélio de revestimento
Gastrite Crônica Eosinofílica
- Infiltrado eosinofílico
Gastrite Granulomatosa
- Associada a Tuberculose (Tb), Amiloidose e Doença de Crohn
- Presença de granulomas epitelioides
Úlcera Gástrica: Conceito, Patogenia e Aspectos Macro/Micro
Conceito:
- Lesões crônicas e solitárias em locais expostos à ação do suco gástrico ácido.
- Obs: Úlcera = passa a muscular da mucosa; Erosão = vai até a muscular da mucosa.
- Atingem principalmente a primeira porção do duodeno, antro e JEG.
Patogenia:
- Desequilíbrio entre a defesa da mucosa gastroduodenal e os agentes agressivos (ácido gástrico e pepsina).
- Infecção por H. pylori.
- Lesão por agentes ambientais ou imunológicos (álcool, corticoides, predisposição).
Macro:
- Depressão circular pequena, bem delimitada, profundidade variável.
- Base limpa ou com vasos trombosantes sangrantes.
- Localização e tamanho não diferenciam lesão benigna de maligna.
Microscopia:
- Restos necróticos, fibrina e exsudato de neutrófilos (necrose ativa).
- Infiltrado inflamatório linfomononuclear (inflamação crônica).
- Tecido de granulação (cicatrização).
- Fibrose (cura).
Complicações: Hemorragia, estenose, perfuração e malignização.
Úlcera Péptica: Camadas Microscópicas
Do mais superficial para o mais profundo:
- Restos necróticos, fibrina e exsudato de neutrófilos.
- Infiltrado inflamatório linfomononuclear (linfócitos e plasmócitos).
- Tecido de granulação.
- Fibrose.
Carcinoma de Estômago Avançado: Classificação
Classificação de Bormmann:
- Tipo I: Lesão vegetante ou polipoide.
- Tipo II: Lesão ulcerada, expansiva, delimitada.
- Tipo III: Lesão ulcero-infiltrativa, limites imprecisos.
- Tipo IV: Lesão infiltrativa de limites imprecisos (Linite plástica).
Carcinoma Gástrico Precoce: Classificação e Características
Lesão confinada à mucosa e submucosa, independentemente da presença ou ausência de metástases para os gânglios linfáticos perigástricos.
Classificação:
- Tipo I: Protruso.
- Tipo II: Superficial.
- A: Elevado.
- B: Plano.
- C: Deprimido.
- Tipo III: Escavado.
INTESTINO
Caso Clínico: Infarto Intestinal
Paciente com aterosclerose, idoso, com abdome agudo e na macroscopia: intestino delgado vinhoso, edemaciado, com acúmulo de fibrina na serosa.
Diagnóstico: Infarto Transmural por Trombose Mesentérica.
Doença de Crohn vs. Retocolite Ulcerativa: Diferenças Anatomopatológicas
Retocolite Ulcerativa (RCUI) | Doença de Crohn |
Progressiva | Tende a estacionar |
Reto sempre acometido | Reto normal em 50% dos casos |
Não fistulizante | Fístulas presentes |
Múltiplas lacerações na mucosa | Fissuras na mucosa |
Serosa normal | Serosa acentuada |
Encurtamento do cólon sem fibrose | Encurtamento do cólon com fibrose |
Estenose rara | Estenose frequente |
Sem granulomas | Com granulomas |
Doenças Inflamatórias Intestinais Idiopáticas: Diferenças Macro/Micro
Doença de Crohn (Íleo Terminal e Ceco):
Macro:
Serosa rugosa, acinzentada com consistência de borracha e luz estreitada. Mucosa: úlceras coalescentes, longas e lineares orientadas no maior eixo, que ao lado da mucosa conservada têm aspecto de pedra de calçamento. Fissuras penetram na parede formando úlceras.
Microscopia:
- Fase Ativa: Mucosa com edema, exsudato de neutrófilos agridem criptas formando abscessos, posteriormente ulceração que se aprofunda na parede.
- Fase Crônica: Apagamento das vilosidades, criptas irregulares, ramificadas, atrofia e metaplasia pilórica e de células de Paneth.
- Outros Achados: Inflamação transmural, agregados linfoides, fibrose, granulomas.
Retocolite Ulcerativa (RCUI) (Reto, Ascendente):
Macro:
Mucosa congesta, avermelhada, ulcerações extensas entremeadas por ilhotas de mucosa regenerada, hiperplásica, formando pseudopólipos. Atrofia progressiva da mucosa e serosa normal.
Microscopia:
Infiltrado difuso de linfócitos, neutrófilos e eosinófilos. Neutrófilos agridem e destroem criptas. Presença de displasia epitelial que pode evoluir para carcinoma. Não há granulomas.
Enterocolites
Enterocolites Virais (Rotavírus, Norwalk):
- Vilosidades encurtadas, aumento do número de linfócitos na lâmina própria.
- As criptas ficam alongadas e diminui a superfície de absorção.
Enterocolites Bacterianas (Salmonella - Febre Tifoide):
- Febre Tifoide: Sistêmica e compromete o tecido linfoide. No intestino, afeta Placas de Peyer e folículos linfoides no íleo.
- 1ª Semana: Proliferação do tecido linfoide e tumefação das Placas de Peyer.
- 2ª Semana: Necrose e início da ulceração.
- 3ª Semana: Formação da úlcera ao nível das Placas de Peyer.
- 4ª Semana: Limpeza e cicatrização com reepitelização.
Outros achados na Febre Tifoide: Adenomegalia, hepatoesplenomegalia, esteatose hepática e nódulos tifoides.