Patologias Bucais: Lesões, Histopatologia e Osteomielite

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Lesões Dermatológicas com Manifestação Bucal

Classificação:

  • Autoimune: Vesículas
  • Hereditária: Bolhas

Pênfigo Vulgar

(Afeta os Desmossomos)

O pênfigo vulgar apresenta histologicamente a falta de adesão entre as células da camada espinhosa, causando bolhas acima da camada basal. Já o penfigoide cicatricial apresenta uma destruição dos hemidesmossomos, resultando em bolhas que separam o tecido epitelial do conjuntivo.

Características Clínicas

  • Lesões erosadas ou ulceradas, rasas e dolorosas, em qualquer local da mucosa oral.
  • Paciente não recorda lesões bolhosas.
  • Sinal patognomônico: Uma bolha pode ser induzida na pele caso haja pressão (Sinal de Nikolsky positivo).

Características Histopatológicas

  • Fenda intraepitelial (bolha) acima da camada basal.
  • Camada basal aderida ao conjuntivo.
  • Camada espinhosa: Acantólise.
  • Células acantolíticas (Células de Tzanck).

Diagnóstico

  • Imunofluorescência (direta e indireta).
  • Biópsia perilesional.

Tratamento

  • Corticoides sistêmicos.
  • Drogas imunossupressoras.

Penfigoide Cicatricial

(PPMM - Afeta os Hemidesmossomos) ou Penfigoide Benigno das Membranas Mucosas.

Características Clínicas

Lesões Bucais
  • Vesículas e bolhas que se rompem, formando úlceras.
  • Dolorosas, persistindo por semanas ou meses se não tratadas.
  • Gengivite descamativa (não patognomônico).
Lesões Oculares
  • Fibrose subconjuntival.
  • Simbléfaro: Aderência entre a superfície conjuntival das pálpebras e o bulbo ocular.
  • Entrópio: Pálpebra se vira sobre si mesma contra o globo ocular.
  • Triquíase: Desvio do crescimento das pestanas para dentro, em direção ao globo ocular.
  • Cegueira.

Características Histopatológicas

  • Formação de bolha subepitelial, separando o epitélio do tecido conjuntivo.
  • Discreto infiltrado de células inflamatórias.

Diagnóstico

  • Biópsia perilesional.
  • Imunofluorescência (direta).

Tratamento

  • Corticosteroides sistêmicos.

Eritema Multiforme

Características Clínicas

Possui início agudo e pode apresentar grande variação clínica.

Características Histopatológicas

  • Vesículas intraepiteliais e subepiteliais.
  • Necrose das células da camada basal.
  • Infiltrado inflamatório perivascular.

Forma Branda (EMM)

Sintomas Prodrômicos
  • Febre, mal-estar, cefaleia, tosse e dor de garganta.

Desenvolvem-se lesões eritematosas que ulceram e erodem, afetando primeiramente a mucosa oral.

Lesões Bucais
  • Manchas eritematosas que evoluem para erosões e úlceras grandes e superficiais com bordos irregulares.
  • Crostas hemorrágicas no vermelhão dos lábios.
Lesões na Pele
  • Lesões em alvo, vermelhas e escuras nas extremidades.

Líquen Plano

Clínico: Estrias de Wickham.

Quando oriundo da utilização de medicamentos, denomina-se Mucosite Liquenoide.

Características Clínicas

  • As lesões da pele são pápulas poligonais pruriginosas que podem apresentar estrias de Wickham.
  • Mais comum em mulheres.

Tipos Clínicos

Forma Reticular
  • Assintomático.
  • Comum em mucosa jugal bilateral.
  • Observação clássica das estrias de Wickham.
Forma Erosiva
  • Sintomática.
  • Áreas atróficas e eritematosas com úlceras centrais.
  • Gengivite descamativa.

Líquen Plano Bolhoso

Quando o componente erosivo é muito severo, ocorrendo separação epitelial.

Características Histopatológicas

  • Aumento da camada de queratina.
  • Acantose epitelial.
  • Infiltrado de linfócitos subjacente ao epitélio.
  • Destruição da camada basal.

Diagnóstico

  • Achados clínicos.
  • Estrias são patognomônicas.
  • Maior dificuldade no Líquen Plano erosivo.
  • Para confirmar: Biópsia.

Análise de Lâminas Histopatológicas

Lâmina 1

Cortes histológicos revelam fragmento de mucosa com alterações hiperplásicas e inflamatórias. A amostra está revestida por epitélio pavimentoso estratificado paraqueratinizado exibindo exocitose e intensa acantose com projeções espiculadas e irregulares das cristas epiteliais entre as papilas conjuntivas, caracterizando, em regiões focais, hiperplasia pseudoepiteliomatosa. O córion mostra áreas de espessamento fibroso com largas bandas colágenas exibindo, de permeio, vasos sanguíneos de variados calibres, ectásicos e congestos, e ainda, moderado infiltrado inflamatório mononuclear em região perivascular e subepitelial. Há atividade angiofibroblástica. Áreas hemorrágicas, secundárias à manipulação cirúrgica, completam o quadro. Não há evidência de presença de neoplasia nesta amostra.

  • Alterações hiperplásicas: Podem ocorrer no epitélio e no conjuntivo.
  • Alterações inflamatórias: Somente no conjuntivo.
  • Acantose: Aumento da camada espinhosa.
  • Epitélio reto: Projeções do epitélio no conjuntivo = forte adesão do epitélio no conjuntivo devido às vilosidades.
  • Córion: Tecido conjuntivo logo abaixo da lâmina própria.
  • Córion com áreas de espessamento fibroso: Com largas bandas colágenas.
  • Ectasia e congestos: Característica de inflamação aguda.
  • Mononuclear: Muitos linfócitos e macrófagos.
  • Atividade angiofibroblástica: Formação de vasos.

Diagnóstico: Processo Crônico de Hiperplasia Fibroepitelial

Lâmina 2

Cortes histológicos da peça cirúrgica de região de trígono retromolar revelam neoplasia epitelial invasiva e ulcerada, constituída por células de citoplasma amplo, eosinofílico, bem delimitado e núcleo arredondado ou ovalado, de cromatina grumosa, geralmente marginada. Tais células invadem o córion em blocos irregulares e trabeculados. Há acentuada atividade mitótica e moderado infiltrado inflamatório mononuclear. São frequentes as células disqueratóticas e as pérolas córneas.

  • Neoplasia invasiva e ulcerada: Aumento de queratina = multiplicação.
  • Córion irregular.
  • Pérolas córneas.
  • Úlcera: Descontinuidade do epitélio.

Diagnóstico: Tumor Maligno

Lâmina 3

Cortes histológicos revelam lesão protrusa, revestida por epitélio estratificado assentado sobre tecido de granulação edemaciado, formando cavidade pseudocística e permeada por material mucoide. Ao lado, há grupos de células salivares menores com alterações inflamatórias.

  • Epitélio estratificado.
  • Lesão protusa.
  • Cavidade pseudocística com material mucoso.

Diagnóstico: Mucocele

Lâmina 4

Cortes histológicos de amostra de mucosa jugal revelam estrutura geral alterada caracterizada por alterações proliferativas de queratinócitos que configuram adelgaçamento da camada epidérmica. Há, concomitantemente, hiperceratose, hipergranulose irregular e degeneração vacuolar da camada basal epidérmica. O córion superficial evidencia extensa faixa de infiltrado linfocitário.

  • Mucosa jugal.
  • Alteração proliferativa dos queratinócitos.
  • Hiperceratose.
  • Hipergranulose.
  • Camada basal epidérmica.
  • Córion superficial com evidência de faixa de infiltrado linfocitário.

Diagnóstico: Líquen Plano

Lâmina 5

Cortes histológicos de mucosa oral revelam espessamento fibroso do córion com largas bandas colágenas permeadas por delicados vasos sanguíneos. O epitélio sobrejacente mostra-se atrófico com discretas áreas de hiperplasia configurada por acantose, com pequenas projeções das cristas epiteliais interpapilares e áreas de paraceratose.

  • Espessamento fibroso do córion.
  • Bandas colágenas por vasos sanguíneos.
  • O epitélio sobrejacente mostra-se atrófico com discretas áreas hiperplásicas configuradas por acantose, com pequenas projeções das cristas epiteliais interpapilares e áreas de paraceratose.

Diagnóstico: Hiperplasia Fibrosa Reacional

Lâmina 6

Inflamação granulomatosa, caracterizada por coleções de macrófagos e células gigantes multinucleadas. A coloração de Groccott revela leveduras com brotamento.

  • Inflamação granulomatosa.
  • Coleções de macrófagos e células gigantes multinucleadas.
  • Revelando leveduras com brotamento.

Diagnóstico: Paracoccidioidomicose

Lâmina 7

Proliferação de células epiteliais com arranjo difuso ou formando estruturas semelhantes a ductos. O componente intersticial é abundante, composto por material basofílico, mixoide ou condroide, separados por estrutura epitelial. O tecido glandular normal está separado do tumor pela nítida cápsula de tecido conjuntivo.

  • Arranjo difuso ou formando estruturas semelhantes a ductos.
  • Proliferação de células epiteliais.
  • Componente intersticial abundante, material basofílico, mixoide ou condroide.

Diagnóstico: Tumor de Glândulas Salivares - Adenoma Pleomorfo

Osteomielite

É uma inflamação, geralmente de origem infecciosa, que invade o osso e seus espaços medulares, podendo estender-se até a cortical e o periósteo. Nos maxilares, a maioria dos casos envolve a mandíbula e tende a ser mais difusa; na maxila é mais rara, provavelmente porque a cortical é mais delgada e rica em irrigação sanguínea colateral e, normalmente, quando acontece, é mais localizada. A osteomielite nos maxilares é uma doença rara em pessoas saudáveis.

Fatores que Interferem

  • Virulência do microrganismo e tipo de inoculação.
  • Resistência local e sistêmica do hospedeiro.
  • Integridade da rede vascular.
  • Eficiência dos mecanismos de defesa orgânica.
  • Potencial osteogênico da região.

Doenças Predisponentes

  • Osteopetrose: Espaços medulares reduzidos, provocando hipovascularização.
  • Pacientes expostos à radiação: Hipovascularização, hipocelularidade e hipóxia tecidual.
  • Várias outras doenças como: Diabetes Mellitus, malária, anemia, doenças malignas, AIDS, osteoporose, doença de Paget avançada, displasia cemento-óssea em estágio final, anemia falciforme, uso de Bisfosfonatos.

A hipovascularização causa um ambiente ideal para uma infecção endógena anaeróbica.

Osteomielite Supurativa Aguda

Características de Processo Inflamatório

  • Dor.
  • Febre.
  • Celulite facial.
  • Linfadenopatia dolorosa.
  • Leucocitose.

Características Clínicas

Pode ocorrer intensa exsudação na forma de pus extravasando por um ponto de flutuação (abscesso) ou exsudação limitada pelas corticais ósseas que se expandem para o tecido mole (celulite).

Características Radiográficas

  • Inicialmente não aparece (10 dias).
  • Radiotransparência difusa, sem limites definidos.
  • “Roído de traça”.

Características Histológicas

Um exsudato purulento ocupa os espaços medulares.

Diagnóstico Diferencial

  • Neoplasias malignas.

Tratamento e Prognóstico

Considerar fatores como: o tempo de duração da doença, presença ou não de sequestros, doenças sistêmicas envolvidas, eficácia dos medicamentos já usados e tipo de microrganismos envolvidos. Primeiramente, deve-se considerar a possibilidade de doenças sistêmicas não controladas. A osteomielite aguda, na maioria dos casos, é tratada com drenagem dos abscessos e antibióticos, o que elimina a infecção, mas também pode necessitar de um tratamento mais invasivo para a remoção cirúrgica dos sequestros.

Osteomielite Supurativa Crônica

Pode ocorrer como sequela de uma osteomielite aguda. Ocorre também devido a uma infecção dental, sem ter passado pela fase aguda. Atualmente, há um aumento dos casos crônicos, devido ao aumento do uso indiscriminado e incorreto dos antibióticos. A área de molares na mandíbula é afetada com mais frequência. Geralmente é resultante de infecção periapical. A dor é comumente branda. Edema na área afetada é localizado e firme. A supuração pode perfurar o osso e o tecido mole de revestimento, formando fístula.

Características Radiográficas

  • Pode apresentar imagens radiográficas distintas: radiotransparência com limites irregulares ou com um ou mais focos radiopacos.
  • Muitas vezes, os limites ósseos circunjacentes são mais densos do que o tecido ósseo normal adjacente, representando uma esclerose pela infecção crônica.

Características Histológicas

  • Pequenas espículas ósseas necrosadas, com lacunas vazias, dispersas em tecido necrótico.
  • Contêm número variado de linfócitos, plasmócitos, macrófagos e leucócitos polimorfonucleares.

Osteomielite Crônica Esclerosante

É uma reação incomum do osso em casos de infecção de baixa intensidade. Provoca excessiva neoformação óssea.

  • Osteomielite Esclerosante Focal = Osteíte Condensante: Quando a esclerose está localizada no ápice dental.
  • Osteomielite Esclerosante Difusa: Quando a esclerose envolve áreas múltiplas com padrão difuso.

Osteomielite Esclerosante Focal

Representa uma reação focal do osso a uma infecção de baixa intensidade e de longa duração, atuando em local de alta resistência tecidual, também conhecida como Osteíte Condensante. Na maioria dos casos, o diagnóstico pode ser feito com segurança, baseado nas características da história e radiografias. Localiza-se mais frequentemente nos ápices dos primeiros molares inferiores. Uma pequena porcentagem em segundos molares e pré-molares. Na imensa maioria dos casos, são detectadas nos exames radiográficos devido à total ausência de manifestações clínicas.

Características Radiográficas

  • As lesões aparecem como zonas de maior radiopacidade que o tecido ósseo normal.
  • O tamanho da área radiopaca pode variar de poucos milímetros a vários centímetros.
  • Os limites podem ser nítidos ou difusos e nunca aparecem áreas periféricas radiolúcidas.

Características Histológicas

  • São massas de osso esclerótico denso; o tecido conjuntivo é escasso, com poucas células inflamatórias.

Diagnóstico Diferencial

  • Displasia cementária periapical.
  • Osteoma.
  • Odontoma complexo.
  • Cementoblastoma.
  • Osteoblastoma.
  • Hipercementose.
  • Tórus palatino e mandibular.
  • Osteoesclerose idiopática.
  • Raízes residuais.

Osteorradionecrose

Resulta da irradiação dos ossos maxilomandibulares em tratamento de lesões malignas de cabeça e pescoço.

Apresenta

  • Necrose óssea.
  • Sequestração.
  • Fratura patológica.
  • A mandíbula é mais afetada que a maxila.
  • Pode ocorrer após várias semanas até muitos anos da radiação.

Características

  • Hipovascularização.
  • Hipocelularidade.
  • Hipo-oxigenação.

Atrofia Progressiva dos Ossos Maxilomandibulares em Desdentados

Causada por fatores sistêmicos ou locais.

Consequências

  • Redução da altura do processo alveolar.
  • Pode expor forame mentual.
  • Pode causar neurite no nervo mentual.
  • Problemas protéticos.

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