Patologias Pulmonares e Cardíacas: Resumo

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Carcinoma de Pulmão

Adenocarcinoma

  • Tumor epitelial maligno com diferenciação glandular ou produção de mucina pelas células tumorais.
  • Padrões de crescimento: acinar, papilar, bronquioloalveolar e sólido.
  • É o tipo mais comum de Carcinoma de pulmão em mulheres e em não-fumantes.
  • Local: periferia, tendem a ser menores.
  • Histologia: varia de tumores bem diferenciados a lesões que se assemelham a outros carcinomas papilares com ocasionais glândulas e células produtoras de mucina.
  • Crescem mais lentamente, metastatizam mais.

Carcinoma Bronquioloalveolar

  • Carcinoma bronquioloalveolar: parênquima pulmonar nas regiões bronquioloalveolares terminais.
  • Macroscopicamente: localizado nas porções periféricas dos pulmões, nódulo único ou múltiplos nódulos difusos que coalescem para produzir uma consolidação do tipo da pneumonia.
  • Nódulos: translucência mucinosa cinza na presença de secreção ou áreas cinza-esbranquiçadas (aspecto de pneumonia).
  • Como não envolve grandes brônquios, atelectasia e enfisema são raros.
  • Histologicamente: padrão de crescimento bronquioloalveolar puro, sem invasão estromal, vascular ou pleural.
  • Crescimento ao longo de estruturas preexistentes sem destruição da arquitetura alveolar.
  • Padrão de crescimento: lepídico.
  • 2 subtipos: mucinoso e não-mucinoso.
  • Não-mucinoso: nódulo pulmonar periférico, disseminação aerógena somente rara, adequados para ressecção cirúrgica.
  • Mucinosos: disseminação aerógena, levando a tumores satélites (nódulo solitário, múltiplos nódulos ou todo um lobo consolidado, aspecto de pneumonia lobar).
  • Progressão: Hiperplasia adenomatosa atípica -> Carcinoma bronquioloalveolar -> Adenocarcinoma invasivo.

Carcinoma Espinocelular (Epidermoide)

  • Homens > Mulheres.
  • Intimamente relacionado com tabagismo.
  • Histologia: queratinização (pérolas córneas) e/ou pontes intercelulares. Observadas muito em tumores bem diferenciados, e quanto menos diferenciado, mais difícil de visualizar tais características.
  • Local: principalmente centralmente em brônquios segmentares ou subsegmentares. Atualmente, a maioria dos localizados na periferia.
  • Focos adjacentes: metaplasia escamosa, displasia epitelial e focos de carcinomas in situ.
  • Mutações no p53 acentuada (10-50%), acúmulo anormal de p53.
  • Ausência da expressão de RB em 15% dos casos.
  • Começa com uma área de displasia citológica in situ, seguida por uma pequena área de espessamento da mucosa brônquica, com aparência de uma excrescência verrucosa irregular que eleva ou erode o epitélio de revestimento. Pode seguir várias vias:
    • Continuar a expandir no lúmen brônquico, formando uma massa intraluminal.
    • Penetrar na parede do brônquio para infiltrar ao longo do tecido peribrônquico, atingindo a carina ou mediastino.
    • Produzir uma massa intraparenquimatosa, que parece empurrar a substância pulmonar.
  • Tecido neoplásico tem coloração cinza-esbranquiçada, é firme e duro.
  • Áreas de hemorragia e necrose podem aparecer (amarelo esbranquiçado), mais comum em tumores grandes.
  • Extensão: superfície pleural, cavidade pleural, pericárdio.
  • Disseminação para linfonodos da traqueia, brônquios e mediastino (maioria dos casos).
  • Metástases para fora do tórax: estágio tardio.
  • Principais órgãos: adrenais, fígado, cérebro, osso, etc.
  • Geralmente os tumores fazem uma erosão do epitélio brônquico e podem ser diagnosticados por: citologia do escarro, lavado broncoalveolar ou aspiração com agulha fina.

Carcinoma de Pequenas Células

  • Tumor altamente maligno.
  • Tipo celular distintivo: células epiteliais pequenas, com citoplasma escasso, bordos mal definidos, cromatina nuclear finamente granular e nucléolos ausentes. Células arredondadas, ovais e fusiformes, com moldagem nuclear proeminente.
  • Geralmente menores que linfócitos.
  • Contagem mitótica alta.
  • Crescem em grupos que não exibem organização glandular ou escamosa.
  • Necrose é comum e geralmente extensa.
  • Há uma variante única de carcinoma de pequenas células na qual existe uma mistura de carcinoma de pequenas células e qualquer outro componente de não pequenas células.
  • Deriva de células progenitoras neuroendócrinas do revestimento do epitélio brônquico.
  • Forte relação com o tabagismo.
  • Localização: ocorre tanto em grandes brônquios, quanto na periferia.
  • Não existe uma fase pré-invasiva ou carcinoma in situ.
  • Tumores mais agressivos, metastatizam amplamente e são incuráveis por meios cirúrgicos.
  • p53 e RB: frequentemente mutados.
  • Intensa expressão do anti-apoptótico BCL2.

Carcinoma de Grandes Células

  • Tumor epitelial maligno indiferenciado.
  • Histologia: grandes núcleos, quantidade moderada de citoplasma.
  • Provavelmente representam carcinomas de células escamosas e adenocarcinomas que são tão indiferenciados que não podem mais ser reconhecidos.
  • Mesmas alterações moleculares do carcinoma de pequenas células.

Pneumonias

Broncopneumonia

  • Consolidação esparsa (multilobar e frequentemente bilateral).
  • Focos de broncopneumonia: áreas consolidadas de inflamação supurativa aguda.
  • Lesões: levemente elevadas, secas, granulares, de coloração cinza-avermelhada e mal delimitadas em suas margens.
  • Histologia: exsudato supurativo rico em neutrófilos nos brônquios, bronquíolos e espaços alveolares.

Pneumonia Lobar

  • Infecção bacteriana aguda.
  • Consolidação fibrino-supurativa de uma grande porção de um lobo ou de todo o lobo.
  • 4 estágios de resposta inflamatória:
    • Congestão: pulmão pesado, pastoso e vermelho. Ingurgitamento vascular, líquido intra-alveolar com poucos neutrófilos.
    • Hepatização vermelha: maciça exsudação confluente com hemácias, neutrófilos e fibrina preenchendo os espaços alveolares. Lobo firme e não aerado.
    • Hepatização cinzenta: desintegração progressiva das hemácias, persistência de um exsudato fibrino-supurativo. Superfície seca de cor marrom acinzentada.
    • Resolução: exsudato consolidado é digerido, reabsorvido, ingerido por macrófagos, expectorado ou organizado por fibroblastos.
  • Observação: essa configuração anatômica é de difícil aplicação, pois os padrões se superpõem.
  • Do ponto de vista clínico, o mais importante é a identificação do agente causal e a determinação da extensão da doença.

Complicações

  • Destruição tecidual e necrose, levando à formação de abscessos.
  • Disseminação da infecção para a cavidade pleural (empiema).
  • Organização do exsudato.
  • Disseminação bacterêmica.

Pneumonias Adquiridas na Comunidade

  • Podem ser bacterianas ou virais.
  • Geralmente, uma infecção bacteriana acompanha uma infecção viral do trato respiratório superior.
  • Invasão bacteriana do parênquima pulmonar, levando a alvéolos repletos de exsudato inflamatório e consolidação do tecido pulmonar.
  • Predisposições: idade, doenças crônicas, deficiências imunes ou função esplênica reduzida ou ausente.

1. Streptococcus pneumoniae

  • Diplococos Gram-positivos em forma de lanceta.
  • Causa mais comum.
  • Flora endógena em 20% dos adultos (pode levar a falso positivo).
  • Fator de virulência: cápsula de polissacarídeo.
  • Não produz toxinas.
  • Pneumonia lobar.
  • Preserva a histoarquitetura.

2. Haemophilus influenzae

  • Cocobacilos Gram-negativos.
  • Capsulados ou não.
  • Pleomórfico.
  • Principal causa de infecções agudas do trato respiratório inferior e meningite em crianças.
  • Pili para aderência na superfície.
  • Fator que desorganiza o batimento ciliar.
  • Protease que degrada IgA.
  • Alta taxa de mortalidade.
  • Pneumonia lobular e esparsa, levando à consolidação.
  • Saprófita que invade a parede brônquica após infecção viral.

3. Moraxella catarrhalis

  • Diplococo intracelular Gram-negativo.
  • Comensais da cavidade oral.
  • Associados à DPOC, corticoterapia e deficiência de imunoglobulinas.
  • Causa de pneumonia principalmente no idoso.
  • Junto com S. pneumoniae e H. influenzae, é causa de otite média.
  • Junto com H. influenzae, é causa de exacerbação da DPOC.

4. Staphylococcus aureus

  • Coco Gram-positivo.
  • Cresce em condições anaeróbicas e aeróbicas.
  • Pneumonia lobular com hemorragia.
  • Pós doença viral.
  • Complicações: abscessos e empiema.

5. Klebsiella pneumoniae

  • Bacilos Gram-negativos.
  • Comum em alcoólatras e diabéticos.
  • Encontrado na flora oral.
  • Pneumonia lobar com aspecto mucoide e formação de abscessos.
  • Produz um polissacarídeo capsular viscoso em abundância.

6. Legionella pneumophila

  • Formas endêmicas e esporádicas de pneumonia.
  • Broncopneumonia.

Pneumonias Hospitalares

1. Anaeróbicos

  • Comensais normais da cavidade oral.
  • Higiene dentária precária, levando à deglutição.
  • Pneumonias necrotizantes.

2. Pseudomonas aeruginosa

  • Gram-negativo.
  • Pacientes hospitalizados e entubados.
  • Pneumonia lobular hemorrágica multifocal nos lobos inferiores.
  • Exotoxinas.
  • Associada à fibrose cística.
  • Comum em neutropênicos.
  • Propensão a invadir os vasos sanguíneos.

3. Escherichia coli

  • Pneumonia lobular após cirurgias gástricas e urogenitais.

Pneumonia Aspirativa

  • Aguda ou crônica.
  • Vômitos ou supressão do reflexo da tosse.
  • Causas: embriaguez, coma, refluxo gastroesofágico.
  • Pneumonia parcialmente química (efeitos irritativos) e parcialmente bacteriana (flora oral).
  • Normalmente na cultura: mais de um organismo, mais aeróbios.
  • Geralmente necrosante.
  • Reação de corpo estranho em torno dos restos alimentares.
  • Flora mista: anaeróbicos orais (Prevotella) e aeróbicos (S. pneumoniae, S. aureus, H. influenzae, P. aeruginosa).

Cardiopatia Isquêmica

Generalidades

  • Definição: Cardiopatia isquêmica (CI) é a designação genérica para um grupo de síndromes intimamente relacionadas que resultam da isquemia miocárdica, abrangendo não apenas uma insuficiência de oxigênio, mas também uma disponibilidade reduzida de substratos nutrientes e uma remoção inadequada de metabólitos.
  • Causas: 90% devido a uma obstrução coronariana aterosclerótica.
  • Manifestações Clínicas:
    • Angina Pectoris.
    • Infarto do Miocárdio (IM).
    • CI crônica.
    • Morte Súbita Cardíaca.

Síndromes Coronarianas Agudas

  • Englobam: Angina estável, IAM e Morte Súbita Cardíaca.
  • Patogenia: Iniciadas pela conversão abrupta e imprevisível de uma placa aterosclerótica estável em uma lesão aterotrombótica instável e potencialmente fatal por meio da erosão superficial, ulceração, fissuramento, ruptura ou hemorragia profunda, geralmente acompanhada de trombose superposta.

Patogênese Geral

  • Território da Lesão:
    • Estenose de 75% a 90% causa isquemia sintomática no esforço.
    • Estenose de 90% causa isquemia sintomática de repouso.
    • 2 ou 3 artérias coronárias frequentemente envolvidas; aterosclerose dos ramos intramurais rara.

Patogênese das Síndromes Coronarianas Agudas

  • Papel da Alteração Aguda da Placa

    • Precipitadoras das síndromes coronarianas agudas, as alterações agudas sofrem influências intrínsecas e extrínsecas.
  • Influências Intrínsecas

    • Estrutura e composição da placa.
    • “Placas vulneráveis”: maior risco de ruptura devido à sua conformação mais frágil (uma ou mais das características citadas): muitas células espumosas e lipídios intracelulares; capa fibrosa delgada; poucas células musculares lisas; agrupamentos de células inflamatórias.
  • Influências Extrínsecas

    • Pressão Arterial (PA), reatividade plaquetária.
    • Estresse emocional ou estimulação adrenérgica pode elevar o estresse físico sobre a placa por meio da hipertensão sistêmica ou vasoespasmo local.
  • Papel da Inflamação

    • Lesão inicial necessita da interação entre o endotélio e os leucócitos circulantes.
  • Metaloproteinases

    • Envolvidas na desestabilização e ruptura da placa.
  • Papel do Trombo Coronariano

    • Oclusão total: IAM transmural.
    • Obstrução incompleta que pode crescer ou minguar com o tempo: angina instável, IAM subendocárdico ou morte súbita.
    • Formar êmbolos.
    • Contribuir para o crescimento de lesões ateroscleróticas.
  • Papel da Vasoconstrição

    • Compromete o tamanho do lúmen e pode potencializar a ruptura das placas.

Angina Pectoris

  • Definição: Ataques paroxísticos e geralmente recorrentes de desconforto torácico precordial ou subesternal, causado por isquemia miocárdica transitória (15 segundos a 15 minutos) que não causa necrose celular.
  • Padrões:
    • Angina estável: causada pela redução da perfusão coronariana a um nível crítico por aterosclerose estenosante.
    • Angina variante de Prinzmetal: resultante de um espasmo da artéria coronária.
    • Angina instável: pródromo de um subsequente IAM.

Infarto do Miocárdio (IM)

  • Definição: Morte de músculo cardíaco resultante de isquemia.

Infarto Transmural

  • Maioria dos IM.
  • Necrose isquêmica envolve toda ou quase toda a espessura da parte da parede ventricular irrigada por uma única artéria coronária.

Infarto Subendocárdico

  • Área de necrose limitada ao terço inferior ou, no máximo, à metade da parede ventricular.
  • Resultante da ruptura de uma placa com formação de um trombo coronariano que sofre lise, ou resulta da redução prolongada e intensa da Pressão Arterial (PA) sistêmica.

Epidemiologia

  • Frequência eleva-se com: aumento da idade, hipertensão, tabagismo, Diabetes Mellitus (DM), hipercolesterolemia genética e hiperlipoproteinemia.
  • Homens > Mulheres; incidência iguala-se após a menopausa.

Patogênese do IM

  1. Alteração súbita da morfologia da placa ateromatosa.
  2. Ativação plaquetária.
  3. Vasoespasmo estimulado pela agregação plaquetária e pelos mediadores liberados.
  4. Ativação da via extrínseca da coagulação e aumento do trombo consequente.
  5. Oclusão total do lúmen devido à evolução do trombo em minutos.
  6. Necrose do miocárdio começa 30 minutos após a oclusão.
  • Observação: Instabilidade elétrica (irritabilidade) miocárdica produzida pela isquemia provavelmente causa arritmia grave.

Consequências e Complicações do IM

  • Disfunção contrátil.
  • Arritmias.
  • Ruptura do miocárdio.
  • Pericardite.
  • Infarto ventricular direito.
  • Extensão da área de infarto.
  • Expansão da área de infarto.
  • Trombo mural.
  • Aneurisma ventricular.
  • Disfunção papilar.
  • Insuficiência cardíaca progressiva tardia.

Cardiopatia Isquêmica Crônica

  • Definição: Representa uma descompensação cardíaca pós-infarto decorrente da exaustão da hipertrofia compensatória do miocárdio viável não-infartado que corre o risco de sofrer lesão isquêmica.
  • Morfologia:
    • Coração aumentado e pesado devido à hipertrofia do Ventrículo Esquerdo (VE).
    • Aterosclerose coronariana.
    • Cicatrizes cinza-esbranquiçadas e descontínuas das áreas de infarto antigas presentes.
    • Microscopia: hipertrofia miocárdica, vacuolização subendotelial difusa e cicatrizes de infartos antigos.
  • Clínica: Início insidioso de Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) em pacientes com IM pregressos ou ataques de angina; Diagnóstico por exclusão.

Morte Súbita Cardíaca

  • Definição: Morte inesperada de causas cardíacas que ocorre logo após o início dos sintomas (em até 1 hora) ou sem início de sintomas.
  • Mecanismo: Arritmia fatal, por exemplo, assistolia ou fibrilação ventricular.
  • Morfologia:
    • Aterosclerose coronariana com estenose crítica (>75%) envolvendo 1 ou mais dos três principais vasos em 80% a 90% dos casos.
    • Infarto antigo em 40% dos casos.
    • IM recente em 25% dos casos.
    • Microscopia: vacuolização dos miócitos subendocárdicos.

Valvopatias

Características Clínicas

  • Anomalias podem ser: Puras ou Mistas; Isolada (uma valva) ou Combinada (mais de uma valva).
  • As consequências clínicas dependem:
    • Valva envolvida.
    • Grau de comprometimento.
    • Velocidade de seu desenvolvimento.
    • Velocidade e qualidade dos mecanismos compensatórios.
  • Manifestações mais importantes:
    • Hipertrofia miocárdica.
    • Alterações pulmonares.
    • Alterações sistêmicas.

Causas das Anomalias Valvulares

  • Congênita.
  • Doenças adquiridas.

Causas Mais Frequentes das Lesões

  • Estenose Aórtica: Calcificação de valva aórtica normal e de valva aórtica bicúspide de origem congênita.
  • Insuficiência Aórtica: Dilatação da Aorta (Ao) ascendente, relacionada com a hipertensão e envelhecimento.
  • Estenose Mitral: Cardiopatia reumática.
  • Insuficiência Mitral: Degeneração mixomatosa (prolapso da valva mitral).

Distúrbios Funcionais

1. Estenose

  • Falha de uma valva em abrir-se completamente, impedindo o fluxo para frente.
  • Responsável por aproximadamente dois terços de todas as doenças valvares.
  • Decorrente de anomalia primária das cúspides.
  • Processo crônico.

2. Insuficiência (Regurgitação)

  • Falha de uma valva em fechar-se completamente, permitindo um fluxo invertido.
  • Causas da regurgitação funcional:
    • Dilatação do ventrículo, puxando os músculos papilares para baixo e para fora, e impedindo assim a coaptação dos folhetos intactos durante a sístole.
    • Dilatação da Aorta ou Artéria Pulmonar, separando as comissuras e impedindo o fechamento completo das cúspides.
  • Decorrente de doença intrínseca das cúspides ou lesão/deformidade nas estruturas de suporte (Aorta, anel mitral, cordas tendíneas, músculos papilares, parede ventricular livre).
  • Processo agudo (ruptura das cordas) ou crônico (cicatrização e retração dos folhetos).

Degeneração Valvular Causada por Calcificação

Estenose Aórtica Calcificada

  • Mais comum de todas as anomalias valvulares.
  • Decorrente de um desgaste progressivo, avançado e associado à idade.
  • Manifestações: 6ª e 7ª década na valva bicúspide congênita, e 8ª e 9ª década na valva normal.
  • Morfologia:
    • Presença de massas calcificadas e amontoadas dentro das cúspides Aórticas e que se projetam para dentro dos Seios de Valsalva.
    • Margens livres das cúspides geralmente não acometidas.
    • Calcificação começa na camada fibrosa valvular.
  • Clínica:
    • Hipertrofia concêntrica do Ventrículo Esquerdo (VE) devido à obstrução.
    • Infarto do Miocárdio (IM), resultando em angina pectoris.
    • Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC), síncope, descompensação cardíaca.

Estenose Calcificada da Valva Aórtica Bicúspide Congênita

  • Não tem estenose ao nascimento ou início da vida, mas estão predispostas à calcificação degenerativa progressiva.
  • Apenas 2 cúspides funcionais, sendo uma maior com fusão parcial central (rafe).
  • Curso clínico da estenose semelhante ao da estenose Aórtica calcificada.
  • Podem se tornar incompetentes devido à dilatação da Aorta, prolapso das cúspides ou endocardite infecciosa.

Calcificação do Anel Mitral

  • Depósitos calcificados degenerativos no anel fibroso da valva mitral.
  • Mulheres maiores de 60 anos, em indivíduos com valva mitral mixomatosa ou pressão elevada no Ventrículo Esquerdo (VE).
  • Morfologia:
    • Nódulos irregulares (espessura de 2-5mm), com consistência pétrea e ocasionalmente ulcerada situados atrás dos folhetos.
  • Clínica:
    • Geralmente não afetam função valvular.
    • Regurgitação por interferir na contração sistólica do anel da valva mitral.
    • Estenose por prejudicar abertura dos folhetos mitrais.
    • Arritmias ou morte súbita quando há comprometimento do sistema de condução.
    • Risco aumentado de AVC devido à gênese de trombos e êmbolos nos nódulos.
    • Endocardite Infecciosa (EI) nos nódulos.

Prolapso Mitral (Degeneração Mixomatosa)

  • Generalidades:
    • Anomalia valvular na qual um ou ambos folhetos mitrais estão “frouxos” e sofrem prolapso ou abaulamento para dentro do Átrio Esquerdo (AE) durante a sístole.
    • Mais comum em mulheres jovens.
  • Morfologia:
    • Abaulamento (balonização) dos folhetos mitrais ou de partes deles entre as cordas tendíneas.
    • Os folhetos afetados estão aumentados, redundantes, espessos e elásticos.
    • As cordas tendíneas estão alongadas, adelgaçadas e às vezes rompidas.
    • Dilatação do anel é característica.
    • Envolvimento concomitante da tricúspide ocorre em 20% - 40% dos casos.
  • Histologia:
    • Alteração básica: enfraquecimento da camada fibrosa da valva, acompanhada de espessamento focal da camada esponjosa com deposição de material mucoide (mixomatoso).
    • Estrutura colagenosa das cordas está enfraquecida.
  • Alterações Secundárias:
    • Espessamento fibroso dos folhetos.
    • Espessamento linear fibroso do endocárdio do Ventrículo Esquerdo (VE).
    • Espessamento do endocárdio mural do Ventrículo Esquerdo (VE).
    • Formação de trombos na superfície atrial dos folhetos.
    • Calcificações focais na base do folheto mitral posterior.
  • Patogênese:
    • Desconhecida.
    • Teoria mais aceita: tecido conectivo apresenta um defeito de desenvolvimento subjacente, possivelmente sistêmico.
    • Associada à Síndrome de Marfan e outros distúrbios hereditários do tecido conectivo.
    • Pode ocorrer indução à destruição e remodelamento do tecido conectivo por anormalidade metabólica, celular ou hemodinâmica primária.
  • Clínica:
    • Maioria assintomática.
    • Complicações graves: Endocardite Infecciosa (EI), insuficiência mitral, AVC ou outro tipo de infarto sistêmico, arritmias.

Doença Reumática

Generalidades

  • Doença inflamatória aguda, multissistêmica e mediada pelo sistema imune que ocorre semanas após um episódio de faringite por estreptococos do grupo A.
  • Duas fases: Cardite Reumática Aguda (Febre Reumática) e Cardiopatia Reumática (CR).
  • Consequência mais importante: deformidade crônica das valvas.

Morfologia da Febre Reumática (FR)

  • Lesões inflamatórias focais em vários tecidos:
    • Nódulos de Aschoff: Focos de colágeno eosinofílico tumefeito rodeado por linfócitos, plasmócitos e macrófagos grandes denominados células de Anitschkow (patognomônicas da FR), que se caracterizam por citoplasma abundante e núcleos centrais com formato arredondado, com cromatina disposta em fita central, ondulada e delgada "células em forma de lagart").
    • Células Gigantes de Aschoff: Formadas por macrófagos maiores que se tornaram multinucleados.
    • Pancardite: Inflamação difusa e nódulos de Aschoff encontrados nas três camadas cardíacas: pericárdio, miocárdio e endocárdio.
    • Pericardite em “pão com manteiga”: Inflamação pericárdica acompanhada de exsudato fibrinoso ou serofibrinoso que desaparece sem sequelas.
    • Miocardite: Manifesta-se sob a forma de nódulos de Aschoff disseminados no interstício do tecido conectivo intersticial e perivascular.

Morfologia da Cardiopatia Reumática (CR)

  • Caracterizada pela organização da inflamação aguda e pela fibrose subsequente.
  • Folhetos tornam-se espessados e retraídos.
  • Alterações Anatômicas na Valva Mitral:
    • Espessamento dos folhetos.
    • Fusão das comissuras.
    • Encurtamento, espessamento e fusão das cordas.
  • Microscopia: Fibrose difusa e neovascularização, substituição dos nódulos de Aschoff por cicatrizes fibrosas.
  • Acometimento Valvular: Mitral sozinha (70%), Mitral e Aórtica (25%).
  • Estenose “em boca de peixe”: Pontes fibrosas que se estendem de um lado ao outro das comissuras valvulares e calcificações.

Patogênese

  • Reação de hipersensibilidade induzida pelos estreptococos do grupo A: Anticorpos (Ac) dirigidos contra proteína M de certas cepas reagem cruzadamente com antígenos glicoproteicos do coração, das articulações e outros tecidos.
  • Sequência patogênica: faringite por estreptococos -> resposta imune -> anticorpos no sangue -> reação cruzada (cardiopatia reumática aguda) -> vegetações + nódulos de Aschoff miocárdicos + pericardite fibrinosa.
  • Sequelas crônicas resultam da fibrose progressiva da cicatrização após inflamação aguda e da turbulência induzida pelas deformidades valvulares.

Clínica

  • Principais manifestações:
    • Poliartrite migratória de grandes articulações.
    • Cardite.
    • Nódulos subcutâneos.
    • Eritema marginado da pele.
    • Coreia de Sydenham.
  • Ocorre de 10 dias a 6 semanas após faringite estreptocócica.
  • Mais comum em crianças de 5 a 15 anos.

Endocardite Infecciosa

  • Definição: Colonização ou invasão das valvas cardíacas ou do endocárdio mural por microrganismos (MO).
  • Consequências: Formação de vegetações friáveis e volumosas, contendo fragmentos trombóticos e microrganismos, com destruição do tecido subjacente.
  • Agentes: Bactérias e fungos.
  • Classificação:
    • Aguda: Destrutiva e violenta, por microrganismo muito virulento que acomete valva previamente normal e que leva à morte de mais de 50% dos pacientes.
    • Subaguda: Semanas a meses, por microrganismo (MO) menos virulento que acomete valvas já doentes (deformações, etc.). Pacientes geralmente se recuperam após tratamento com antibióticos (ATB).
  • Etiologia e Patogênese:
    • Distúrbios prévios: Valva mitral mixomatosa, estenose valvular calcificada, valva aórtica bicúspide, valvas calcificadas.
    • Fatores Predisponentes: Neutropenia, diabetes, alcoolismo.
    • Microrganismos: Streptococcus viridans (valvas naturais, porém lesadas); S. aureus (10-20% - uso de drogas injetáveis), HACEK; S. epidermidis (próteses valvulares).
  • Complicações:
    • Invasão do miocárdio, levando a abscesso anular.
    • Embolização sistêmica com formação de abscessos na sequência.
  • Morfologia:
    • Aguda: Vegetações volumosas, friáveis e potencialmente destrutivas que contêm fibrina, células inflamatórias e bactérias.
    • Mais comum em valvas aórtica e mitral.
    • Subaguda: Destruição menor.
    • Apresenta tecido de granulação na base, calcificação, fibrose e infiltrado inflamatório crônico.

Vegetações Não Infectadas

Endocardite Trombótica Não-Bacteriana (ETNB)

  • Definição: Deposição de pequenas massas de fibrina, plaquetas e outros componentes do sangue sobre os folhetos das valvas cardíacas. As lesões são estéreis.
  • Morfologia:
    • Vegetações estéreis, não destrutivas e pequenas. Podem estar ao longo da linha de fechamento das cúspides.
  • Microscopia: São trombos, não contêm células inflamatórias.
  • Patogênese: Estado de hipercoagulabilidade (principalmente associada a carcinoma adenomucinoso do pâncreas).

Endocardite do Lúpus Eritematoso Sistêmico (Libman-Sacks)

  • Associada a regurgitação e Síndrome do antifosfolipídio.
  • Morfologia:
    • Vegetações únicas ou múltiplas, róseas. Nas valvas atrioventriculares (AV), endocárdio valvular, cordas ou endocárdio mural.
  • Microscopia: Aspecto eosinofílico-fibrinoso, granular, com corpos hematoxilínicos. Valvulite com necrose fibrinoide da valva.

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