Patologias Pulmonares e Cardíacas: Resumo
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Carcinoma de Pulmão
Adenocarcinoma
- Tumor epitelial maligno com diferenciação glandular ou produção de mucina pelas células tumorais.
- Padrões de crescimento: acinar, papilar, bronquioloalveolar e sólido.
- É o tipo mais comum de Carcinoma de pulmão em mulheres e em não-fumantes.
- Local: periferia, tendem a ser menores.
- Histologia: varia de tumores bem diferenciados a lesões que se assemelham a outros carcinomas papilares com ocasionais glândulas e células produtoras de mucina.
- Crescem mais lentamente, metastatizam mais.
Carcinoma Bronquioloalveolar
- Carcinoma bronquioloalveolar: parênquima pulmonar nas regiões bronquioloalveolares terminais.
- Macroscopicamente: localizado nas porções periféricas dos pulmões, nódulo único ou múltiplos nódulos difusos que coalescem para produzir uma consolidação do tipo da pneumonia.
- Nódulos: translucência mucinosa cinza na presença de secreção ou áreas cinza-esbranquiçadas (aspecto de pneumonia).
- Como não envolve grandes brônquios, atelectasia e enfisema são raros.
- Histologicamente: padrão de crescimento bronquioloalveolar puro, sem invasão estromal, vascular ou pleural.
- Crescimento ao longo de estruturas preexistentes sem destruição da arquitetura alveolar.
- Padrão de crescimento: lepídico.
- 2 subtipos: mucinoso e não-mucinoso.
- Não-mucinoso: nódulo pulmonar periférico, disseminação aerógena somente rara, adequados para ressecção cirúrgica.
- Mucinosos: disseminação aerógena, levando a tumores satélites (nódulo solitário, múltiplos nódulos ou todo um lobo consolidado, aspecto de pneumonia lobar).
- Progressão: Hiperplasia adenomatosa atípica -> Carcinoma bronquioloalveolar -> Adenocarcinoma invasivo.
Carcinoma Espinocelular (Epidermoide)
- Homens > Mulheres.
- Intimamente relacionado com tabagismo.
- Histologia: queratinização (pérolas córneas) e/ou pontes intercelulares. Observadas muito em tumores bem diferenciados, e quanto menos diferenciado, mais difícil de visualizar tais características.
- Local: principalmente centralmente em brônquios segmentares ou subsegmentares. Atualmente, a maioria dos localizados na periferia.
- Focos adjacentes: metaplasia escamosa, displasia epitelial e focos de carcinomas in situ.
- Mutações no p53 acentuada (10-50%), acúmulo anormal de p53.
- Ausência da expressão de RB em 15% dos casos.
- Começa com uma área de displasia citológica in situ, seguida por uma pequena área de espessamento da mucosa brônquica, com aparência de uma excrescência verrucosa irregular que eleva ou erode o epitélio de revestimento. Pode seguir várias vias:
- Continuar a expandir no lúmen brônquico, formando uma massa intraluminal.
- Penetrar na parede do brônquio para infiltrar ao longo do tecido peribrônquico, atingindo a carina ou mediastino.
- Produzir uma massa intraparenquimatosa, que parece empurrar a substância pulmonar.
- Tecido neoplásico tem coloração cinza-esbranquiçada, é firme e duro.
- Áreas de hemorragia e necrose podem aparecer (amarelo esbranquiçado), mais comum em tumores grandes.
- Extensão: superfície pleural, cavidade pleural, pericárdio.
- Disseminação para linfonodos da traqueia, brônquios e mediastino (maioria dos casos).
- Metástases para fora do tórax: estágio tardio.
- Principais órgãos: adrenais, fígado, cérebro, osso, etc.
- Geralmente os tumores fazem uma erosão do epitélio brônquico e podem ser diagnosticados por: citologia do escarro, lavado broncoalveolar ou aspiração com agulha fina.
Carcinoma de Pequenas Células
- Tumor altamente maligno.
- Tipo celular distintivo: células epiteliais pequenas, com citoplasma escasso, bordos mal definidos, cromatina nuclear finamente granular e nucléolos ausentes. Células arredondadas, ovais e fusiformes, com moldagem nuclear proeminente.
- Geralmente menores que linfócitos.
- Contagem mitótica alta.
- Crescem em grupos que não exibem organização glandular ou escamosa.
- Necrose é comum e geralmente extensa.
- Há uma variante única de carcinoma de pequenas células na qual existe uma mistura de carcinoma de pequenas células e qualquer outro componente de não pequenas células.
- Deriva de células progenitoras neuroendócrinas do revestimento do epitélio brônquico.
- Forte relação com o tabagismo.
- Localização: ocorre tanto em grandes brônquios, quanto na periferia.
- Não existe uma fase pré-invasiva ou carcinoma in situ.
- Tumores mais agressivos, metastatizam amplamente e são incuráveis por meios cirúrgicos.
- p53 e RB: frequentemente mutados.
- Intensa expressão do anti-apoptótico BCL2.
Carcinoma de Grandes Células
- Tumor epitelial maligno indiferenciado.
- Histologia: grandes núcleos, quantidade moderada de citoplasma.
- Provavelmente representam carcinomas de células escamosas e adenocarcinomas que são tão indiferenciados que não podem mais ser reconhecidos.
- Mesmas alterações moleculares do carcinoma de pequenas células.
Pneumonias
Broncopneumonia
- Consolidação esparsa (multilobar e frequentemente bilateral).
- Focos de broncopneumonia: áreas consolidadas de inflamação supurativa aguda.
- Lesões: levemente elevadas, secas, granulares, de coloração cinza-avermelhada e mal delimitadas em suas margens.
- Histologia: exsudato supurativo rico em neutrófilos nos brônquios, bronquíolos e espaços alveolares.
Pneumonia Lobar
- Infecção bacteriana aguda.
- Consolidação fibrino-supurativa de uma grande porção de um lobo ou de todo o lobo.
- 4 estágios de resposta inflamatória:
- Congestão: pulmão pesado, pastoso e vermelho. Ingurgitamento vascular, líquido intra-alveolar com poucos neutrófilos.
- Hepatização vermelha: maciça exsudação confluente com hemácias, neutrófilos e fibrina preenchendo os espaços alveolares. Lobo firme e não aerado.
- Hepatização cinzenta: desintegração progressiva das hemácias, persistência de um exsudato fibrino-supurativo. Superfície seca de cor marrom acinzentada.
- Resolução: exsudato consolidado é digerido, reabsorvido, ingerido por macrófagos, expectorado ou organizado por fibroblastos.
- Observação: essa configuração anatômica é de difícil aplicação, pois os padrões se superpõem.
- Do ponto de vista clínico, o mais importante é a identificação do agente causal e a determinação da extensão da doença.
Complicações
- Destruição tecidual e necrose, levando à formação de abscessos.
- Disseminação da infecção para a cavidade pleural (empiema).
- Organização do exsudato.
- Disseminação bacterêmica.
Pneumonias Adquiridas na Comunidade
- Podem ser bacterianas ou virais.
- Geralmente, uma infecção bacteriana acompanha uma infecção viral do trato respiratório superior.
- Invasão bacteriana do parênquima pulmonar, levando a alvéolos repletos de exsudato inflamatório e consolidação do tecido pulmonar.
- Predisposições: idade, doenças crônicas, deficiências imunes ou função esplênica reduzida ou ausente.
1. Streptococcus pneumoniae
- Diplococos Gram-positivos em forma de lanceta.
- Causa mais comum.
- Flora endógena em 20% dos adultos (pode levar a falso positivo).
- Fator de virulência: cápsula de polissacarídeo.
- Não produz toxinas.
- Pneumonia lobar.
- Preserva a histoarquitetura.
2. Haemophilus influenzae
- Cocobacilos Gram-negativos.
- Capsulados ou não.
- Pleomórfico.
- Principal causa de infecções agudas do trato respiratório inferior e meningite em crianças.
- Pili para aderência na superfície.
- Fator que desorganiza o batimento ciliar.
- Protease que degrada IgA.
- Alta taxa de mortalidade.
- Pneumonia lobular e esparsa, levando à consolidação.
- Saprófita que invade a parede brônquica após infecção viral.
3. Moraxella catarrhalis
- Diplococo intracelular Gram-negativo.
- Comensais da cavidade oral.
- Associados à DPOC, corticoterapia e deficiência de imunoglobulinas.
- Causa de pneumonia principalmente no idoso.
- Junto com S. pneumoniae e H. influenzae, é causa de otite média.
- Junto com H. influenzae, é causa de exacerbação da DPOC.
4. Staphylococcus aureus
- Coco Gram-positivo.
- Cresce em condições anaeróbicas e aeróbicas.
- Pneumonia lobular com hemorragia.
- Pós doença viral.
- Complicações: abscessos e empiema.
5. Klebsiella pneumoniae
- Bacilos Gram-negativos.
- Comum em alcoólatras e diabéticos.
- Encontrado na flora oral.
- Pneumonia lobar com aspecto mucoide e formação de abscessos.
- Produz um polissacarídeo capsular viscoso em abundância.
6. Legionella pneumophila
- Formas endêmicas e esporádicas de pneumonia.
- Broncopneumonia.
Pneumonias Hospitalares
1. Anaeróbicos
- Comensais normais da cavidade oral.
- Higiene dentária precária, levando à deglutição.
- Pneumonias necrotizantes.
2. Pseudomonas aeruginosa
- Gram-negativo.
- Pacientes hospitalizados e entubados.
- Pneumonia lobular hemorrágica multifocal nos lobos inferiores.
- Exotoxinas.
- Associada à fibrose cística.
- Comum em neutropênicos.
- Propensão a invadir os vasos sanguíneos.
3. Escherichia coli
- Pneumonia lobular após cirurgias gástricas e urogenitais.
Pneumonia Aspirativa
- Aguda ou crônica.
- Vômitos ou supressão do reflexo da tosse.
- Causas: embriaguez, coma, refluxo gastroesofágico.
- Pneumonia parcialmente química (efeitos irritativos) e parcialmente bacteriana (flora oral).
- Normalmente na cultura: mais de um organismo, mais aeróbios.
- Geralmente necrosante.
- Reação de corpo estranho em torno dos restos alimentares.
- Flora mista: anaeróbicos orais (Prevotella) e aeróbicos (S. pneumoniae, S. aureus, H. influenzae, P. aeruginosa).
Cardiopatia Isquêmica
Generalidades
- Definição: Cardiopatia isquêmica (CI) é a designação genérica para um grupo de síndromes intimamente relacionadas que resultam da isquemia miocárdica, abrangendo não apenas uma insuficiência de oxigênio, mas também uma disponibilidade reduzida de substratos nutrientes e uma remoção inadequada de metabólitos.
- Causas: 90% devido a uma obstrução coronariana aterosclerótica.
- Manifestações Clínicas:
- Angina Pectoris.
- Infarto do Miocárdio (IM).
- CI crônica.
- Morte Súbita Cardíaca.
Síndromes Coronarianas Agudas
- Englobam: Angina estável, IAM e Morte Súbita Cardíaca.
- Patogenia: Iniciadas pela conversão abrupta e imprevisível de uma placa aterosclerótica estável em uma lesão aterotrombótica instável e potencialmente fatal por meio da erosão superficial, ulceração, fissuramento, ruptura ou hemorragia profunda, geralmente acompanhada de trombose superposta.
Patogênese Geral
- Território da Lesão:
- Estenose de 75% a 90% causa isquemia sintomática no esforço.
- Estenose de 90% causa isquemia sintomática de repouso.
- 2 ou 3 artérias coronárias frequentemente envolvidas; aterosclerose dos ramos intramurais rara.
Patogênese das Síndromes Coronarianas Agudas
Papel da Alteração Aguda da Placa
- Precipitadoras das síndromes coronarianas agudas, as alterações agudas sofrem influências intrínsecas e extrínsecas.
Influências Intrínsecas
- Estrutura e composição da placa.
- “Placas vulneráveis”: maior risco de ruptura devido à sua conformação mais frágil (uma ou mais das características citadas): muitas células espumosas e lipídios intracelulares; capa fibrosa delgada; poucas células musculares lisas; agrupamentos de células inflamatórias.
Influências Extrínsecas
- Pressão Arterial (PA), reatividade plaquetária.
- Estresse emocional ou estimulação adrenérgica pode elevar o estresse físico sobre a placa por meio da hipertensão sistêmica ou vasoespasmo local.
Papel da Inflamação
- Lesão inicial necessita da interação entre o endotélio e os leucócitos circulantes.
Metaloproteinases
- Envolvidas na desestabilização e ruptura da placa.
Papel do Trombo Coronariano
- Oclusão total: IAM transmural.
- Obstrução incompleta que pode crescer ou minguar com o tempo: angina instável, IAM subendocárdico ou morte súbita.
- Formar êmbolos.
- Contribuir para o crescimento de lesões ateroscleróticas.
Papel da Vasoconstrição
- Compromete o tamanho do lúmen e pode potencializar a ruptura das placas.
Angina Pectoris
- Definição: Ataques paroxísticos e geralmente recorrentes de desconforto torácico precordial ou subesternal, causado por isquemia miocárdica transitória (15 segundos a 15 minutos) que não causa necrose celular.
- Padrões:
- Angina estável: causada pela redução da perfusão coronariana a um nível crítico por aterosclerose estenosante.
- Angina variante de Prinzmetal: resultante de um espasmo da artéria coronária.
- Angina instável: pródromo de um subsequente IAM.
Infarto do Miocárdio (IM)
- Definição: Morte de músculo cardíaco resultante de isquemia.
Infarto Transmural
- Maioria dos IM.
- Necrose isquêmica envolve toda ou quase toda a espessura da parte da parede ventricular irrigada por uma única artéria coronária.
Infarto Subendocárdico
- Área de necrose limitada ao terço inferior ou, no máximo, à metade da parede ventricular.
- Resultante da ruptura de uma placa com formação de um trombo coronariano que sofre lise, ou resulta da redução prolongada e intensa da Pressão Arterial (PA) sistêmica.
Epidemiologia
- Frequência eleva-se com: aumento da idade, hipertensão, tabagismo, Diabetes Mellitus (DM), hipercolesterolemia genética e hiperlipoproteinemia.
- Homens > Mulheres; incidência iguala-se após a menopausa.
Patogênese do IM
- Alteração súbita da morfologia da placa ateromatosa.
- Ativação plaquetária.
- Vasoespasmo estimulado pela agregação plaquetária e pelos mediadores liberados.
- Ativação da via extrínseca da coagulação e aumento do trombo consequente.
- Oclusão total do lúmen devido à evolução do trombo em minutos.
- Necrose do miocárdio começa 30 minutos após a oclusão.
- Observação: Instabilidade elétrica (irritabilidade) miocárdica produzida pela isquemia provavelmente causa arritmia grave.
Consequências e Complicações do IM
- Disfunção contrátil.
- Arritmias.
- Ruptura do miocárdio.
- Pericardite.
- Infarto ventricular direito.
- Extensão da área de infarto.
- Expansão da área de infarto.
- Trombo mural.
- Aneurisma ventricular.
- Disfunção papilar.
- Insuficiência cardíaca progressiva tardia.
Cardiopatia Isquêmica Crônica
- Definição: Representa uma descompensação cardíaca pós-infarto decorrente da exaustão da hipertrofia compensatória do miocárdio viável não-infartado que corre o risco de sofrer lesão isquêmica.
- Morfologia:
- Coração aumentado e pesado devido à hipertrofia do Ventrículo Esquerdo (VE).
- Aterosclerose coronariana.
- Cicatrizes cinza-esbranquiçadas e descontínuas das áreas de infarto antigas presentes.
- Microscopia: hipertrofia miocárdica, vacuolização subendotelial difusa e cicatrizes de infartos antigos.
- Clínica: Início insidioso de Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) em pacientes com IM pregressos ou ataques de angina; Diagnóstico por exclusão.
Morte Súbita Cardíaca
- Definição: Morte inesperada de causas cardíacas que ocorre logo após o início dos sintomas (em até 1 hora) ou sem início de sintomas.
- Mecanismo: Arritmia fatal, por exemplo, assistolia ou fibrilação ventricular.
- Morfologia:
- Aterosclerose coronariana com estenose crítica (>75%) envolvendo 1 ou mais dos três principais vasos em 80% a 90% dos casos.
- Infarto antigo em 40% dos casos.
- IM recente em 25% dos casos.
- Microscopia: vacuolização dos miócitos subendocárdicos.
Valvopatias
Características Clínicas
- Anomalias podem ser: Puras ou Mistas; Isolada (uma valva) ou Combinada (mais de uma valva).
- As consequências clínicas dependem:
- Valva envolvida.
- Grau de comprometimento.
- Velocidade de seu desenvolvimento.
- Velocidade e qualidade dos mecanismos compensatórios.
- Manifestações mais importantes:
- Hipertrofia miocárdica.
- Alterações pulmonares.
- Alterações sistêmicas.
Causas das Anomalias Valvulares
- Congênita.
- Doenças adquiridas.
Causas Mais Frequentes das Lesões
- Estenose Aórtica: Calcificação de valva aórtica normal e de valva aórtica bicúspide de origem congênita.
- Insuficiência Aórtica: Dilatação da Aorta (Ao) ascendente, relacionada com a hipertensão e envelhecimento.
- Estenose Mitral: Cardiopatia reumática.
- Insuficiência Mitral: Degeneração mixomatosa (prolapso da valva mitral).
Distúrbios Funcionais
1. Estenose
- Falha de uma valva em abrir-se completamente, impedindo o fluxo para frente.
- Responsável por aproximadamente dois terços de todas as doenças valvares.
- Decorrente de anomalia primária das cúspides.
- Processo crônico.
2. Insuficiência (Regurgitação)
- Falha de uma valva em fechar-se completamente, permitindo um fluxo invertido.
- Causas da regurgitação funcional:
- Dilatação do ventrículo, puxando os músculos papilares para baixo e para fora, e impedindo assim a coaptação dos folhetos intactos durante a sístole.
- Dilatação da Aorta ou Artéria Pulmonar, separando as comissuras e impedindo o fechamento completo das cúspides.
- Decorrente de doença intrínseca das cúspides ou lesão/deformidade nas estruturas de suporte (Aorta, anel mitral, cordas tendíneas, músculos papilares, parede ventricular livre).
- Processo agudo (ruptura das cordas) ou crônico (cicatrização e retração dos folhetos).
Degeneração Valvular Causada por Calcificação
Estenose Aórtica Calcificada
- Mais comum de todas as anomalias valvulares.
- Decorrente de um desgaste progressivo, avançado e associado à idade.
- Manifestações: 6ª e 7ª década na valva bicúspide congênita, e 8ª e 9ª década na valva normal.
- Morfologia:
- Presença de massas calcificadas e amontoadas dentro das cúspides Aórticas e que se projetam para dentro dos Seios de Valsalva.
- Margens livres das cúspides geralmente não acometidas.
- Calcificação começa na camada fibrosa valvular.
- Clínica:
- Hipertrofia concêntrica do Ventrículo Esquerdo (VE) devido à obstrução.
- Infarto do Miocárdio (IM), resultando em angina pectoris.
- Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC), síncope, descompensação cardíaca.
Estenose Calcificada da Valva Aórtica Bicúspide Congênita
- Não tem estenose ao nascimento ou início da vida, mas estão predispostas à calcificação degenerativa progressiva.
- Apenas 2 cúspides funcionais, sendo uma maior com fusão parcial central (rafe).
- Curso clínico da estenose semelhante ao da estenose Aórtica calcificada.
- Podem se tornar incompetentes devido à dilatação da Aorta, prolapso das cúspides ou endocardite infecciosa.
Calcificação do Anel Mitral
- Depósitos calcificados degenerativos no anel fibroso da valva mitral.
- Mulheres maiores de 60 anos, em indivíduos com valva mitral mixomatosa ou pressão elevada no Ventrículo Esquerdo (VE).
- Morfologia:
- Nódulos irregulares (espessura de 2-5mm), com consistência pétrea e ocasionalmente ulcerada situados atrás dos folhetos.
- Clínica:
- Geralmente não afetam função valvular.
- Regurgitação por interferir na contração sistólica do anel da valva mitral.
- Estenose por prejudicar abertura dos folhetos mitrais.
- Arritmias ou morte súbita quando há comprometimento do sistema de condução.
- Risco aumentado de AVC devido à gênese de trombos e êmbolos nos nódulos.
- Endocardite Infecciosa (EI) nos nódulos.
Prolapso Mitral (Degeneração Mixomatosa)
- Generalidades:
- Anomalia valvular na qual um ou ambos folhetos mitrais estão “frouxos” e sofrem prolapso ou abaulamento para dentro do Átrio Esquerdo (AE) durante a sístole.
- Mais comum em mulheres jovens.
- Morfologia:
- Abaulamento (balonização) dos folhetos mitrais ou de partes deles entre as cordas tendíneas.
- Os folhetos afetados estão aumentados, redundantes, espessos e elásticos.
- As cordas tendíneas estão alongadas, adelgaçadas e às vezes rompidas.
- Dilatação do anel é característica.
- Envolvimento concomitante da tricúspide ocorre em 20% - 40% dos casos.
- Histologia:
- Alteração básica: enfraquecimento da camada fibrosa da valva, acompanhada de espessamento focal da camada esponjosa com deposição de material mucoide (mixomatoso).
- Estrutura colagenosa das cordas está enfraquecida.
- Alterações Secundárias:
- Espessamento fibroso dos folhetos.
- Espessamento linear fibroso do endocárdio do Ventrículo Esquerdo (VE).
- Espessamento do endocárdio mural do Ventrículo Esquerdo (VE).
- Formação de trombos na superfície atrial dos folhetos.
- Calcificações focais na base do folheto mitral posterior.
- Patogênese:
- Desconhecida.
- Teoria mais aceita: tecido conectivo apresenta um defeito de desenvolvimento subjacente, possivelmente sistêmico.
- Associada à Síndrome de Marfan e outros distúrbios hereditários do tecido conectivo.
- Pode ocorrer indução à destruição e remodelamento do tecido conectivo por anormalidade metabólica, celular ou hemodinâmica primária.
- Clínica:
- Maioria assintomática.
- Complicações graves: Endocardite Infecciosa (EI), insuficiência mitral, AVC ou outro tipo de infarto sistêmico, arritmias.
Doença Reumática
Generalidades
- Doença inflamatória aguda, multissistêmica e mediada pelo sistema imune que ocorre semanas após um episódio de faringite por estreptococos do grupo A.
- Duas fases: Cardite Reumática Aguda (Febre Reumática) e Cardiopatia Reumática (CR).
- Consequência mais importante: deformidade crônica das valvas.
Morfologia da Febre Reumática (FR)
- Lesões inflamatórias focais em vários tecidos:
- Nódulos de Aschoff: Focos de colágeno eosinofílico tumefeito rodeado por linfócitos, plasmócitos e macrófagos grandes denominados células de Anitschkow (patognomônicas da FR), que se caracterizam por citoplasma abundante e núcleos centrais com formato arredondado, com cromatina disposta em fita central, ondulada e delgada "células em forma de lagart").
- Células Gigantes de Aschoff: Formadas por macrófagos maiores que se tornaram multinucleados.
- Pancardite: Inflamação difusa e nódulos de Aschoff encontrados nas três camadas cardíacas: pericárdio, miocárdio e endocárdio.
- Pericardite em “pão com manteiga”: Inflamação pericárdica acompanhada de exsudato fibrinoso ou serofibrinoso que desaparece sem sequelas.
- Miocardite: Manifesta-se sob a forma de nódulos de Aschoff disseminados no interstício do tecido conectivo intersticial e perivascular.
Morfologia da Cardiopatia Reumática (CR)
- Caracterizada pela organização da inflamação aguda e pela fibrose subsequente.
- Folhetos tornam-se espessados e retraídos.
- Alterações Anatômicas na Valva Mitral:
- Espessamento dos folhetos.
- Fusão das comissuras.
- Encurtamento, espessamento e fusão das cordas.
- Microscopia: Fibrose difusa e neovascularização, substituição dos nódulos de Aschoff por cicatrizes fibrosas.
- Acometimento Valvular: Mitral sozinha (70%), Mitral e Aórtica (25%).
- Estenose “em boca de peixe”: Pontes fibrosas que se estendem de um lado ao outro das comissuras valvulares e calcificações.
Patogênese
- Reação de hipersensibilidade induzida pelos estreptococos do grupo A: Anticorpos (Ac) dirigidos contra proteína M de certas cepas reagem cruzadamente com antígenos glicoproteicos do coração, das articulações e outros tecidos.
- Sequência patogênica: faringite por estreptococos -> resposta imune -> anticorpos no sangue -> reação cruzada (cardiopatia reumática aguda) -> vegetações + nódulos de Aschoff miocárdicos + pericardite fibrinosa.
- Sequelas crônicas resultam da fibrose progressiva da cicatrização após inflamação aguda e da turbulência induzida pelas deformidades valvulares.
Clínica
- Principais manifestações:
- Poliartrite migratória de grandes articulações.
- Cardite.
- Nódulos subcutâneos.
- Eritema marginado da pele.
- Coreia de Sydenham.
- Ocorre de 10 dias a 6 semanas após faringite estreptocócica.
- Mais comum em crianças de 5 a 15 anos.
Endocardite Infecciosa
- Definição: Colonização ou invasão das valvas cardíacas ou do endocárdio mural por microrganismos (MO).
- Consequências: Formação de vegetações friáveis e volumosas, contendo fragmentos trombóticos e microrganismos, com destruição do tecido subjacente.
- Agentes: Bactérias e fungos.
- Classificação:
- Aguda: Destrutiva e violenta, por microrganismo muito virulento que acomete valva previamente normal e que leva à morte de mais de 50% dos pacientes.
- Subaguda: Semanas a meses, por microrganismo (MO) menos virulento que acomete valvas já doentes (deformações, etc.). Pacientes geralmente se recuperam após tratamento com antibióticos (ATB).
- Etiologia e Patogênese:
- Distúrbios prévios: Valva mitral mixomatosa, estenose valvular calcificada, valva aórtica bicúspide, valvas calcificadas.
- Fatores Predisponentes: Neutropenia, diabetes, alcoolismo.
- Microrganismos: Streptococcus viridans (valvas naturais, porém lesadas); S. aureus (10-20% - uso de drogas injetáveis), HACEK; S. epidermidis (próteses valvulares).
- Complicações:
- Invasão do miocárdio, levando a abscesso anular.
- Embolização sistêmica com formação de abscessos na sequência.
- Morfologia:
- Aguda: Vegetações volumosas, friáveis e potencialmente destrutivas que contêm fibrina, células inflamatórias e bactérias.
- Mais comum em valvas aórtica e mitral.
- Subaguda: Destruição menor.
- Apresenta tecido de granulação na base, calcificação, fibrose e infiltrado inflamatório crônico.
Vegetações Não Infectadas
Endocardite Trombótica Não-Bacteriana (ETNB)
- Definição: Deposição de pequenas massas de fibrina, plaquetas e outros componentes do sangue sobre os folhetos das valvas cardíacas. As lesões são estéreis.
- Morfologia:
- Vegetações estéreis, não destrutivas e pequenas. Podem estar ao longo da linha de fechamento das cúspides.
- Microscopia: São trombos, não contêm células inflamatórias.
- Patogênese: Estado de hipercoagulabilidade (principalmente associada a carcinoma adenomucinoso do pâncreas).
Endocardite do Lúpus Eritematoso Sistêmico (Libman-Sacks)
- Associada a regurgitação e Síndrome do antifosfolipídio.
- Morfologia:
- Vegetações únicas ou múltiplas, róseas. Nas valvas atrioventriculares (AV), endocárdio valvular, cordas ou endocárdio mural.
- Microscopia: Aspecto eosinofílico-fibrinoso, granular, com corpos hematoxilínicos. Valvulite com necrose fibrinoide da valva.