Percepção, Memória e Esquecimento: Processos Cognitivos Essenciais
Classificado em Psicologia e Sociologia
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Percepção: O Processo Cognitivo
A percepção é o processo cognitivo através do qual contactamos o mundo por meio dos órgãos sensoriais e que se caracteriza pelo facto de exigir a presença do objecto ou realidade a conhecer. Através da percepção, organizamos e interpretamos as informações veiculadas pelos órgãos dos sentidos. O percurso de detecção e recepção dos estímulos nos órgãos dos sentidos denomina-se sensação. A percepção é uma actividade cognitiva que não se limita ao registo da informação sensorial; implica a atribuição de sentido, que remete para a nossa experiência (subjectividade). Assim, as percepções são fruto de um trabalho complexo de análise e de síntese, destacando o seu carácter activo e mediatizado pelos conhecimentos, experiências, expectativas e interesses do sujeito.
Memória: Processos e Fases Essenciais
A memória corresponde ao conjunto de processos e estruturas que codificam, armazenam e recuperam informação. A memória é o fundamento dos nossos comportamentos, conhecimentos, pensamentos, emoções, etc. Possibilita-nos atribuir significado às experiências vividas, adquirir sentimento de identidade pessoal, representar e evocar o passado, estruturar o presente e projectar o futuro, e adaptarmo-nos ao meio, sendo essencial para todos os processos cognitivos.
A memória envolve três fases:
- Codificação da informação sensorial;
- Armazenamento da informação;
- Recuperação e utilização da informação.
A codificação corresponde à tradução da informação sensorial num código: visual, acústico (ou auditivo) e semântico. A codificação pode ser quase automática ou exigir esforço (a memorização implica uma codificação mais profunda). O armazenamento corresponde à fase de conservação dos conteúdos. Quando uma informação é codificada e armazenada, ocorrem modificações no cérebro de que resultam engramas. Cada engrama produz modificações nas redes neuronais. Se o engrama se mantiver, vai permitir a recordação. A recuperação é a fase da evocação dos conteúdos que adquirimos e retivemos. A recordação depende de muitos factores, como por exemplo, da correspondência entre o contexto de codificação e o contexto de evocação, e da semelhança de condições físicas e psicológicas no contexto de codificação e de evocação.
Tipos de Memória: Curto e Longo Prazo
Não retemos todas as informações que recebemos durante o mesmo tempo. A memória é classificada quanto à sua duração em memória de curto e de longo prazo. A memória de curto prazo é um tipo de memória que armazena a informação recebida durante um período limitado de tempo. Neste tipo de memória, distinguimos dois componentes complementares:
- A memória imediata: o material recebido fica retido durante uma fracção de tempo, cerca de 30 segundos.
- A memória de trabalho: mantemos a informação enquanto ela nos é útil, para a realização de uma tarefa.
Os dados da memória de curto prazo, se forem processados, passam para a memória de longo prazo. A memória de longo prazo é um tipo de memória que é alimentada pelos materiais da memória de curto prazo que são codificados em símbolos. A memória de longo prazo retém os materiais durante horas, meses, etc.
Na memória de longo prazo, distinguem-se dois tipos:
- Memória declarativa: é uma memória verbalizável/declarativa (através da fala e da escrita), retendo factos e proposições.
- Memória não declarativa: corresponde às informações que se utilizam nos comportamentos motores dos quais não se tem consciência. É uma memória procedimental, uma memória de hábitos e de estratégias usadas de forma automática (pentear-se, etc.).
Dentro da memória declarativa, temos:
- Memória episódica: corresponde aos acontecimentos pessoalmente vividos por uma pessoa num momento e lugar determinados.
- Memória semântica: é a memória da linguagem (ortografia, factos culturais, etc.).
O Esquecimento: Um Processo Inerente à Memória
O esquecimento corresponde à incapacidade de recordar, recuperar dados, informações e experiências que foram memorizadas. Esta incapacidade pode ser provisória ou definitiva. O esquecimento é essencial, é a própria condição da memória: é porque esquecemos que continuamos a reter informação adquirida e experiências vividas. Seria impossível conservar todos os materiais que armazenamos, tendo o esquecimento a função de seleccionar para podermos adquirir novos conteúdos.
O esquecimento tem, assim, uma função selectiva e adaptativa: afasta a informação que não é útil e necessária. A memória, como processo activo que é, tem um carácter selectivo na medida em que nem toda a informação é guardada, e um carácter adaptativo, pois a informação é transformada.