O Período Entreguerras: Crises, Revoluções e Novas Ordens

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Um Novo Equilíbrio Global Pós-1918

Quatro anos de destruição e morte, tantos quantos durou a Primeira Guerra Mundial, terminaram em 11 de novembro de 1918. A Conferência de Paz teve início em janeiro de 1919, em Paris.

Contou apenas com a presença das potências vencedoras, como a França (com Clemenceau), a Grã-Bretanha (através de Lloyd George) e os Estados Unidos (com Wilson). A mensagem em 14 pontos serviu de base às negociações. Defendia a prática de uma diplomacia transparente, a liberdade de navegação e de trocas, a redução dos armamentos, o respeito pelas nacionalidades e a criação de uma Liga de Nações.

Os acordos de paz surgiram a partir de junho de 1919.

Recuperação Económica Europeia e Ascensão dos EUA

O Declínio Económico da Europa

A Primeira Guerra Mundial deixou uma Europa arruinada, no plano humano e material.

Durante a guerra, a Europa tornou-se extremamente dependente dos EUA, seu principal fornecedor. Acumulou dívidas. Contudo, finalizado o conflito, as economias europeias registaram grandes e naturais dificuldades de reconversão.

A população ativa foi substancialmente reduzida; os campos, queimados, não produziam; as fábricas, as minas e frotas estavam destruídas e as finanças desorganizadas. Por isso, a Europa continuou a comprar bens e serviços americanos, o que agravou o seu endividamento.

Ascensão dos Estados Unidos e Recuperação Europeia

Os EUA apresentavam, em 1919, uma imagem de sucesso, patente numa prodigiosa capacidade de produção e na prosperidade da sua balança de pagamentos.

Mas a economia americana não ficou imune às dificuldades da Europa. Em 1920-21, registou uma crise breve, mas violenta, relacionada com a diminuição da procura externa. A produção industrial desceu, o índice de preços caiu e o desemprego cresceu. Um esforço na aplicação dos métodos de racionalização do trabalho, a fim de diminuir os custos de produção, permitiu que muitas empresas, embora com baixa de lucros, continuassem viáveis. A concentração capitalista de empresas tornou-se uma medida necessária para rentabilizar esforços e relançar a economia nos países industrializados.

Entretanto, a Europa procurava a estabilidade monetária.

Marxismo-Leninismo na Rússia: O Modelo Soviético

Em outubro de 1917, a Rússia viveu uma revolução que a tornou o primeiro Estado Socialista do Mundo. Em Marx, os revolucionários buscaram inspiração. Em Lenine, encontraram o líder incontestado e o grande responsável pela implementação dos princípios marxistas. As suas ideias e a sua ação deu corpo ao chamado marxismo-leninismo.

O Ano das Revoluções de 1917 na Rússia

A Situação Explosiva na Rússia Pré-Revolução

Em 1917, o Império Russo, governado autocraticamente pelo Czar Nicolau II, estava à beira do abismo.

Havia inúmeras tensões sociais e políticas. Os camponeses reclamavam terras, concentradas nas mãos dos grandes senhores e latifundiários. O operariado exigia maiores salários e melhores condições de vida e de trabalho. A burguesia e a nobreza liberal desejavam a abertura política e a modernização do país. A contestação política era protagonizada pelos socialistas-revolucionários, que reclamavam a partilha de terras; pelos sociais-democratas, divididos em bolcheviques e mencheviques; pelos constitucionais-democratas, adeptos do parlamentarismo à maneira ocidental.

Da Revolução de Fevereiro à Revolução de Outubro

Entre 22 e 28 de fevereiro, Petrogrado, sucederam-se grandiosas manifestações de mulheres, acompanhadas de greves de operários da cidade. Reunidos numa assembleia popular denominada Soviete, os operários incitavam ao derrube do Czar.

A adesão dos soldados ao Soviete resultou no assalto do Palácio de Inverno.

Sem apoios, Nicolau II abdicou em 2 de março. O Czarismo chegou ao fim e a Rússia tornou-se uma república.

Os destinos da Rússia ficaram nas mãos do Governo Provisório. Empenhou-se na instauração de uma democracia parlamentar e na continuação da guerra com a Alemanha, que acreditava poder ganhar. Toda a Rússia cobria-se de Sovietes, que apelavam à retirada imediata da guerra, ao derrube do Governo Provisório (que apelidavam de burguês), à entrega do poder aos Sovietes e à confiscação da grande propriedade.

Da Democracia dos Sovietes ao Centralismo Democrático

Democracia dos Sovietes: Dificuldades e Guerra Civil (1918-1920)

O novo Governo iniciou funções com a publicação dos decretos revolucionários.

O decreto sobre a terra aboliu, sem indemnização, a grande propriedade, entregando-a a sovietes camponeses. O decreto sobre o controlo operário atribuía aos operários das empresas a superintendência e a gestão da respetiva produção.

O decreto sobre as nacionalidades conferia a todos os povos do antigo Império Russo o estatuto de igualdade e o direito à autodeterminação.

Os Sovietes converteram-se nos grandes protagonistas da Revolução. Os primeiros tempos da Revolução de Outubro viveram-se sob o signo da democracia dos Sovietes.

Comunismo de Guerra e Ditadura do Proletariado (1918-1921)

A ditadura do proletariado, conceito-chave na teoria marxista, assume-se como uma etapa transitória no processo de construção da sociedade socialista. O proletariado retiraria "todo o capital à burguesia" e centralizaria todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, entendido como representante exclusivo e legítimo do proletariado. O estádio a que Marx chamava “a forma mais alta de organização da sociedade” é o comunismo. Nela, o Homem alcançaria o verdadeiro bem-estar, a verdadeira liberdade. Profundamente fiel ao marxismo, Lenine jamais escondeu os seus propósitos de implementação imediata da ditadura do proletariado. Na Rússia bolchevista, ela revestiu-se, porém, de aspetos bem específicos. Um deles foi a composição do próprio proletariado. (Marx incluía nele operários vítimas de exploração capitalista, já Lenine também incluía os camponeses, pois tinha em consideração o atraso industrial da Rússia e as suas estruturas arcaicas e rurais).

A Nova Política Económica (NEP) (1921-1927)

No início de 1921, a economia do país estava em ruínas. A produção de cereais descera para metade da de 1913. Obrigados à requisição de géneros, os camponeses não produziam, escondiam ou destruíam as suas colheitas.

Nas cidades e nas fábricas, a situação não se mostrava mais favorável. A produção industrial diminuíra ¾ relativamente à de 1913. O comunismo de guerra cedera lugar à Nova Política Económica (NEP), um recuo estratégico que recorreu ao capitalismo, uma vez que o socialismo não deveria edificar-se sobre ruínas.

As primeiras medidas da NEP visaram a recuperação agrícola. Em julho, a indústria foi alvo de medidas. Desnacionalizaram-se as empresas com menos de 20 operários, sendo muitas delas entregues aos antigos proprietários. Embora o regresso ao capitalismo tivesse sido parcial (os transportes, os bancos, a média e grande indústria e o comércio externo continuaram nacionalizados), não deixaram de se fazer sentir as críticas.

As Opções Totalitárias na Europa Pós-Guerra

No início do século XX, o nacionalismo crescia gradualmente, tendo sido uma das causas da Primeira Guerra Mundial. Também o demoliberalismo tentava instalar-se no território europeu, defendendo a liberdade e a igualdade entre os indivíduos, uma vez que o Estado pretendia ser neutro e se baseava na divisão dos poderes. A própria vitória dos Aliados pretendia o progresso da democracia na Europa. Contudo, com o passar dos anos 20, o demoliberalismo via-se confrontado por outros movimentos ideológicos e políticos, que viam o Estado como um órgão omnipotente e totalitário. Desta forma, nascem os sistemas totalitários, como na Rússia, na Alemanha e em Itália. O totalitarismo caracterizava-se como o sistema político que defendia que o poder devia estar nas mãos de uma só pessoa ou de um partido único, cabendo ao Estado o controlo da vida social e individual.

Recorreu-se a estes sistemas totalitários, uma vez que neles se via a solução para as crises económicas provocadas pela democracia liberal. Foi desta forma que surgiu o fascismo italiano e o nazismo alemão.

O sistema totalitário fascista e nazi eram bastante parecidos no que toca à oposição ao liberalismo, à democracia parlamentar e ao socialismo. Ambos defendiam que acima do indivíduo havia um Estado, existia a coletividade e a grandeza da Nação. Como já referido, ambos estes sistemas eram totalmente contra o parlamentarismo e desvalorizavam a democracia partidária. Também o socialismo via-se contrariado pelos totalitarismos europeus, pois este defendia a afirmação do indivíduo e não da Nação e da coletividade.

Portugal no Primeiro Pós-Guerra Mundial

  • Com a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial: agravou-se a situação económica e financeira do país;
  • Os governos republicanos não conseguiam impor as suas medidas políticas e sociais e foram perdendo credibilidade ao longo do tempo;
  • Agricultura: rudimentar, estagnada, solos pobres, agricultura de subsistência, no Norte mantinha-se o emparcelamento, no Sul estavam as grandes propriedades;
  • Indústria: debilidade nos transportes e comunicações, o fontismo ainda se mantinha em prática;
  • Dificuldades financeiras: aumento dos preços, fuga de capitais para o estrangeiro, défice da balança comercial, dívida pública insustentável;
  • Instabilidade política: divergências dentro do partido republicano, predomínio do poder legislativo sobre o poder executivo, corrupção;
  • Instabilidade social: dificuldades da classe média, desemprego, manifestações, greves, situação do operariado cada vez mais grave;
  • Falência da Primeira República: 45 governos e 7 presidentes da República (entre 1910 e 1926), agitação social, atentados;
  • A 28 de maio de 1926 tem início a Ditadura Militar.

O Intervencionismo Estatal e a Crise de 1929

O Intervencionismo do Estado: Teoria de Keynes

Para J.M. Keynes, os estados deveriam intervir na atividade económica, evitando os efeitos das crises de superprodução típicas dos regimes liberais e sua principal fragilidade. Surgiu assim o intervencionismo como teoria económica adotada pela generalidade dos estados atingidos pela crise de 1929. Keynes criticava também as políticas deflacionistas que combatiam a massa monetária em circulação e reduziam as despesas dos estados, facto que, na sua opinião, acentuava ainda mais os efeitos negativos das recessões. Para Keynes, o Estado deveria ter um papel controlador e regulador do mercado e dos agentes económicos, defendendo o investimento estatal e a ajuda controlada às empresas. De entre os países que adotaram tais políticas, distinguem-se os EUA e a França.

O New Deal nos Estados Unidos

O modelo de recuperação económica do New Deal foi adotado por vários países e baseava-se no relançamento da economia através do investimento estatal em obras públicas e na redução do desemprego, apoiando os desempregados e demais população em situação de crise. Adotaram-se:

  • medidas financeiras rigorosas com desvalorização monetária, regulação e fiscalização da atividade bancária e inflação controlada através de preços controlados;
  • política de grandes obras públicas que combateu o desemprego e política social de criação de salário mínimo;
  • política de reorganização agrícola para controlar a produção e indemnizar agricultores pela redução das áreas cultivadas.

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