A Personalidade Humana: Estrutura, Distúrbios e Defesas
Classificado em Psicologia e Sociologia
Escrito em em português com um tamanho de 11,34 KB
O que é Personalidade?
A personalidade é uma estrutura interna, formada por diversos fatores em interação. Não se reduz a um traço apenas, como a autodeterminação ou um valor moral. Pode ser muito ou pouco valorizada, mas isso não importa. Uma pessoa, mesmo sem valores, mal formada, com falhas morais ou limitações psicológicas, não deixa de ter personalidade, pois possui uma estrutura interna, embora defeituosa.
Também, a personalidade não é a simples soma ou justaposição de elementos, mas um todo organizado e individual, produto de fatores biopsicossociais.
Fatores da Personalidade
- Fatores Biológicos: incluem o sistema glandular e o sistema nervoso.
- Fatores Psicológicos: incluem o grau e as características de inteligência, as emoções, os sentimentos, as experiências, os complexos, os condicionamentos, a cultura, a instrução, os valores e as vivências humanas.
- Fatores Sociais (Grupos Sociais): a interação desses fatores processa-se em grupos sociais como a família, a escola, a igreja, o clube e a vizinhança.
Temperamento: Aspecto Inato da Personalidade
Os fatores biológicos, principalmente o sistema glandular e o sistema nervoso, determinam no indivíduo o temperamento, que é constituído por impulsos naturais. Ser agressivo ou não, irrequieto ou indolente, emotivo ou não, ter reações primárias ou secundárias, são exemplos de traços temperamentais.
Assim, o indivíduo nasce com determinado temperamento, mas fatores ambientais podem modificá-lo até certo ponto. A educação, a alimentação, as doenças, o clima, os acontecimentos e outros fatores podem causar transformações nos traços temperamentais.
A vida ensina o indivíduo a controlar ou a estimular seu temperamento. Todo tipo temperamental possui seus aspectos positivos e negativos. Conhecendo-se bem, o indivíduo pode dominar os aspectos negativos e estimular e desenvolver os positivos. O temperamento é parte da personalidade, e esta não se reduz àquele. A personalidade é o todo; o temperamento é um aspecto desse todo. Portanto, o temperamento é um aspecto inato e biológico da personalidade. As qualidades relacionadas ao temperamento incluem, entre outras: excitabilidade, irascibilidade, impulsividade, receptividade (sensibilidade), reserva, passividade, otimismo, pessimismo, vivacidade e letargia.
Caráter: Valores e Padrões Sociais
Os princípios e valores do indivíduo constituem seu Caráter. Caráter é um termo que etimologicamente significa “gravar”. Mas esse conceito sofreu total evolução. Hoje, caráter significa padrão de valores da personalidade. É constituído de valores morais e sociais. O caráter é adquirido na família, na escola e na sociedade em geral. Como diz ALLPORT (1979), o caráter é a personalidade valorizada. Nesse sentido, o caráter é um aspecto da personalidade. Quando se diz que uma pessoa tem uma personalidade sem caráter, refere-se à sua aceitabilidade moral e social. Portanto, o caráter se origina a partir de fatores como integridade, fidedignidade e honestidade. Está associado às nossas ações que satisfazem ou não os padrões aceitos da sociedade e que são, consequentemente, julgados como “certos” ou “errados”.
Estrutura da Personalidade: Id, Ego e Superego
- ID
- Instintivo – Regido pelo princípio do prazer (sua função é buscar o prazer e evitar o sofrimento). É inconsciente.
- EGO
- Regido pelo princípio da realidade. É o equilíbrio entre as reivindicações do Id e as exigências do Superego, em conjunto com as do mundo externo. É consciente.
- SUPEREGO
- Normas e valores sociais, conceito do que é certo e errado, controla e pune. É o componente social da personalidade. Sua função é inibir os impulsos do Id e lutar pela perfeição. É consciente (Cs) e pré-consciente (pré-Cs).
Id, Ego e Superego em Ação
Pelo Id, o empregado deixaria de comparecer ao trabalho num belo dia ensolarado, dedicando-se a uma aprazível atividade de lazer: uma pescaria, um cinema, etc.
O Ego aconselharia prudência e buscaria uma oportunidade adequada para essas atividades.
O Superego diria ser inaceitável faltar com um compromisso assumido, por exemplo, com o supervisor ou colegas de trabalho.
Os três sistemas da personalidade não devem ser considerados como fatores independentes que governam a personalidade. Cada um deles tem suas funções próprias, seus princípios, seus dinamismos, mas atuam um sobre o outro de forma tão estreita que é impossível separar os seus efeitos.
Níveis de Consciência
- Consciente
- Informações do mundo exterior e interior.
- Pré-Consciente (ou Subconsciente)
- Memórias que podem se tornar acessíveis a qualquer momento (ex: fórmula de Bhaskara, o que você fez ontem, o último filme que assistiu...).
- Inconsciente
- Elementos instintivos e material reprimido, inacessíveis à consciência e que podem vir à tona num sonho ou ato falho. Desempenha um papel importante no comportamento humano.
Distúrbios da Personalidade
As frustrações e os conflitos, dependendo de sua quantidade e frequência, podem causar prejuízos sérios à estrutura e à saúde da personalidade. Frustrações e conflitos podem ocorrer a todo momento.
Neuroses: Tipos e Características
A personalidade se modificou, mas a estrutura permanece preservada, em função de tensão excessiva e prolongada ou de conflitos persistentes.
- ANSIEDADE: Intensa angústia sem causa objetiva (palpitações, tremores, falta de ar, suor, náuseas), acompanhada de uma preocupação exagerada e ansiosa consigo mesmo.
- FOBIAS: Medo e ansiedade intensos, tensão, preocupação, excitação e desorganização do comportamento, podendo ser específicas a animais e/ou situações.
- OBSESSIVA-COMPULSIVA: Ideias repetidas e de difícil controle; a compulsão refere-se a impulsos que levam à ação.
Psicoses: Desestruturação da Personalidade
Apresenta comportamento instável, ora em estado de depressão, ora em estado de extrema euforia e agitação, indicando uma desestruturação da personalidade. O juízo da realidade é alterado, levando o indivíduo a ver a realidade de maneira diferente. Suas afirmações e percepções estão fora da realidade; pode haver alucinações (auditivas e visuais), fantasias intensas de grandeza ou perseguição, e o indivíduo pode sentir-se vítima de uma conspiração ou julgar-se milionário ou um ser divino.
- ESQUIZOFRENIA: Apatia emocional, desorganização geral da personalidade, perda de interesse pela vida e pelas realizações pessoais e sociais, pensamento desorganizado, afeto superficial, riso insólito, infantilidade, delírios e alucinações.
- TRANSTORNO BIPOLAR (Maníaco-Depressivo): Oscila entre momentos de inquietação, euforia (com fala alta e ideias bizarras) e estados depressivos (caracterizados por inatividade, tristeza, desânimo, choro, alterações no sono e apetite). Pode apresentar irritabilidade e preocupação intensa.
- PARANOIA: Ilusões fixas (acreditar em coisas que não existem), comportamento agressivo, destrutivo e egocêntrico. O indivíduo é desconfiado e não confia em ninguém.
Mecanismos de Defesa da Personalidade
As frustrações e os conflitos, dependendo de sua quantidade e frequência, podem causar prejuízos sérios à estrutura e à saúde da personalidade. Frustrações e conflitos podem ocorrer a todo momento. O transporte atrasa, o café está frio, o vendedor da loja não nos atende adequadamente, o livro que queríamos comprar está esgotado, um encontro esperado é cancelado, etc. Assim, o indivíduo não pode ficar olhando de frente, vivenciando em profundidade suas frustrações e fracassos. Desse modo, poderia chegar à beira da autodestruição. Para evitar que isso aconteça, mobiliza seus mecanismos de defesa.
Para Freud, a defesa é a operação pela qual o Ego exclui da consciência conteúdos indesejáveis. São vários os mecanismos. Os principais incluem:
- Racionalização
- Consiste em justificar de forma mais ou menos lógica e ética a própria conduta. Apresenta-se como um esforço defensivo para manter o autorrespeito. É, provavelmente, um dos mecanismos menos inconscientes. Por ele, arranjamos desculpas e explicações que nos inocentam de erros e fracassos. A criação de um “bode expiatório” é também uma forma de racionalização. Dar uma desculpa para inocentar nosso “eu” ou jogar a culpa em outro tem a mesma finalidade: aliviar a “culpa” ou algo que nos inferiorize diante de nós e dos outros. Costuma-se ouvir de pessoas demitidas: “Afinal, aquela empresa estava realmente em decadência”; “Depois das mudanças de administração, ficou impossível trabalhar lá”; “Somente o pessoal menos qualificado permaneceu.” Reconhecer nossa irracionalidade, mesmo quando nos é incômoda, ajuda a superá-la. Nem a conduta nem os impulsos das pessoas são sempre racionais.
- Projeção
- Consiste em atribuir a outros as ideias e tendências que o sujeito não pode admitir como suas. Sem que percebamos, muitas vezes, vemos nos outros defeitos que nos são próprios. Podem servir como exemplos: o aluno que se sente frustrado pela reprovação nos exames, põe-se a dizer que o professor é incapaz; o marido infiel que desconfia da esposa.
- Repressão
- É o processo pelo qual se afastam da consciência conflitos e frustrações demasiadamente dolorosos para serem experimentados ou lembrados, reprimindo-os e recalcando-os para o inconsciente. Vivências que provocam sentimentos de culpa são esquecidas. Muitos casos de amnésia (excluídas as causas orgânicas) podem ser explicados por meio deste mecanismo. Esquecemos o que é desagradável.
- Deslocamento
- Na tentativa de ajustar nosso comportamento e eliminar as tensões, muitas vezes, não podendo descarregar nossa agressão na fonte de frustração (um chefe, a organização, etc.), passamos a agredir terceiros que não têm nada a ver com o caso. É bom lembrar que a toda ou quase toda frustração corresponde agressão.
- Regressão
- Significa voltar a comportamentos imaturos, característicos de fases de desenvolvimento que a pessoa já superou. A criança de cinco anos que, após o nascimento de um irmão, volta a chupar o dedo, molhar a cama e falar como bebê, é um exemplo de regressão. Dessa maneira, reage melhor à frustração. É o caso do funcionário que, diante do chefe, assume um comportamento menos adulto.
Personalidade do Jovem Adulto
O interesse, além de profissional, gravita em torno da construção de relações duradouras, podendo vivenciar momentos de grande intimidade e entrega afetiva. Caso ocorra uma decepção, a tendência será o isolamento temporário ou duradouro. Funções: trabalho e vida social intensa.