Plano de Leitura na Educação Primária (Navarra)

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(Navarra)

Abordagem Inicial: A Leitura na Sociedade do Conhecimento

Toda a educação de qualidade deve garantir o desenvolvimento das competências necessárias para funcionar corretamente dentro do ambiente da sociedade do conhecimento. A habilidade de leitura sempre foi um instrumento importante na aprendizagem do aluno por vários motivos:

  • O conhecimento de diferentes áreas e disciplinas é organizado principalmente em linguagem linguística e simbólica.
  • Grande parte do conhecimento é obtido através de textos escritos.
  • As diferenças na leitura são amplamente preditivas do desenvolvimento da educação futura dos alunos.

O desenvolvimento curricular da escrita e da linguagem são interdependentes; o sucesso no nível da linguagem escrita é um pré-requisito para o sucesso curricular.

Nesta sociedade da informação e do conhecimento, a habilidade de leitura é um componente indispensável para a inclusão ou a integração na sociedade letrada, caracterizada, entre outros, por estes três aspetos:

  • O novo conceito de alfabetização (literacia).
  • A importância de gerar conhecimento.
  • A abordagem multilíngue.

Evolução dos Conceitos de Leitura e Literacia

As definições de alfabetização, literacia e dos hábitos de leitura têm evoluído ao longo do tempo e estão mudando nas circunstâncias atuais. A informação disponível é vasta, os suportes subjacentes experimentaram e experimentarão mudanças significativas no futuro e, portanto, as formas de leitura, como a leitura de textos de hipertexto digital, também mudam.

Este novo cenário exige o desenvolvimento de habilidades relacionadas à:

  • Busca de informação.
  • Avaliação e seleção.
  • Tratamento da informação.

Gerar Conhecimento e Aprendizagem ao Longo da Vida

No novo contexto, introduziu-se inevitavelmente a aprendizagem ao longo da vida. É de grande importância o desenvolvimento de habilidades que permitam às pessoas aprender de forma independente ao longo da vida. Também é necessário ser capaz de transformar informação em conhecimento e, mais ainda, para compartilhar esse conhecimento com outras pessoas.

Conceito de Leitura

O conceito de leitura abrange múltiplos processos cognitivos e metacognitivos envolvidos na capacidade de raciocínio, na memória e no conhecimento prévio do leitor. Embora a aprendizagem do código seja feita de forma relativamente rápida, é necessário um processo associativo lento que requer prática deliberada e sistemática.

O leitor interage com o texto em um determinado contexto. O texto não diz o mesmo para todos os leitores e não diz o mesmo a um leitor em momentos diferentes. Este projeto interativo é a base das avaliações internacionais de leitura que estão sendo implementadas.

PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study)

O PIRLS consiste em uma avaliação internacional de habilidades de leitura aplicada em crianças de 9-10 anos. Define a capacidade de leitura como a habilidade de compreender e utilizar formas de linguagem exigidas pela sociedade e/ou valorizadas pelo indivíduo. Os jovens leitores são capazes de construir significado a partir de uma variedade de textos, lendo para aprender, participar de comunidades de leitores no ambiente escolar, e para uso e prazer pessoal. (Mullis, 2006: 5)

Modelo de Leitura Proposto por Marian Sainsbury (FIGURA I)

O modelo de Sainsbury propõe três níveis:

  1. Decodificação: Exige consciência fonêmica, memória visual e uso de analogias (não pressupõe necessariamente uma atribuição de significado ao texto).
  2. Compreensão: Implica a atribuição de significado à leitura, adicionando conhecimento de vocabulário e gramática à decodificação.
  3. Resposta do Leitor (Leitura Interativa): Exige que o leitor tenha um objeto ou finalidade para a leitura, construindo seu próprio significado.

A leitura é uma competência não uniforme. É uma competência assimétrica: um único indivíduo não desenvolve as mesmas habilidades para ler diferentes tipos de texto, ou em formatos diferentes, ou como um processo de leitura diferente. Do ponto de vista educacional, é essencial trabalhar diferentes tipos de textos, processos e situações de leitura em diferentes níveis.

“Ler um bom livro é um diálogo interminável, em que o livro fala e a alma responde.” (André Maurois)

Dimensões da Leitura

A abordagem da leitura envolve:

  • Atitude fundamental dos leitores e os hábitos de leitura.
  • Intenção de leitura e propósitos do autor.
  • Textos e Gêneros Textuais.
  • Compreensão que permita atribuir significado à leitura.

Situações ou Áreas de Leitura (Conselho da Europa)

As situações de leitura podem ser classificadas em:

  • Pessoal: Interação social, relações familiares, individuais e práticas sociais.
  • Profissional: Atividades e relações no exercício da profissão.
  • Educacional: No contexto de aprendizagem ou de formação.

Tipos de Texto e Gêneros Textuais

Uma abordagem didática dos tipos de textos e gêneros textuais na Educação Pré-Escolar e Ensino Fundamental faz sentido enquanto meio para uma melhor compreensão da situação comunicativa. O texto é a unidade de comunicação.

“(...) o termo 'texto' é usado para se referir a qualquer parte da língua, quer uma declaração ou uma peça escrita, que os usuários ou os alunos recebem, produzem ou trocam. Portanto, não pode ser um ato de comunicação através da linguagem, sem um texto...” (Conselho da Europa, 2002: 91)

  • Tipos de Texto: Incluem tanto os textos escritos quanto os orais e modelos teóricos, com determinadas características linguísticas e comunicativas (narrativo, descritivo, expositivo, argumentativo, instrucional, etc.).
  • Gêneros de Texto: São as formas que os textos assumem com base no seu papel específico na comunicação social (contos, romances, cartas, notícias, editoriais, receitas, etc.).

Compreensão e Planejamento

Compreender os diferentes tipos de textos e gêneros textuais exige a ativação de diferentes estratégias de leitura. O planejamento instrucional deve assegurar a interação com diversos instrumentos para garantir o desenvolvimento de estratégias leitoras nos estudantes. No Ensino Primário, os alunos devem ter contato suficiente com uma ampla gama de tipos e gêneros textuais.

O desenvolvimento das competências de literacia dos alunos requer a seleção de textos adequados para os diferentes ciclos, textos que respondam a diferentes situações de leitura, abrangendo uma variedade de tipos e gêneros de texto e que incluam atividades de leitura que envolvam a ativação de diferentes processos de leitura.

Na interação dos alunos com os textos, devem ser priorizados os critérios de variedade textual. No Ensino Básico e Primário, para o desenvolvimento equilibrado da leitura e da escrita, deve ser apoiado o contato com textos contínuos e descontínuos.

Processos de Leitura Envolvidos na Compreensão

O desenvolvimento sistemático das competências de literacia dos alunos nas escolas exige que se trabalhe intencionalmente os diferentes processos de leitura, evitando grandes desequilíbrios, como uma dominância excessiva da compreensão literal sobre a interpretação.

1. Recuperação de Informação

Definição: Localizar informações explicitamente no texto, com as mesmas palavras ou sinónimos.

Estratégias: Localizar informações relevantes, compreendê-las e selecioná-las.

Exercícios de Seleção de Informação Literal:

  • Identificação do tempo ou lugar de uma história.
  • Localização de elementos.
  • Reconhecimento de detalhes.
  • Localização de certas ideias secundárias.

Exercícios de Busca de Informação Equivalente:

  • Expressar informações específicas com sinónimos, e não com as mesmas palavras.

2. Compreensão Global do Texto

Definição: Extrair a essência do texto como um todo.

Estratégias: Estabelecer uma hierarquia de ideias. Escolher a mais geral e dominante.

Exercícios para Determinar a Ideia Principal ou Tema:

  • Seleção de frase que reflete melhor o significado do texto.
  • Identificação das principais dimensões de um gráfico ou tabela.
  • Seleção ou criação de título.
  • Dedução da ideia principal ou tema.
  • Resumo do texto.
  • Identificação da mensagem de um texto literário.
  • Explicação do critério de ordem das ideias com as instruções.
  • Associação de parágrafos ao texto.
  • Diferenciação de ideias principais e secundárias.

Exercícios de Identificação da Intenção Geral do Texto:

  • Identificação da intenção geral do texto.
  • Explicação do alvo de um mapa, carta ou página na internet.
  • Relação entre a atmosfera e o tom de uma história e a intenção do autor.

Exercício de Uso Geral de um Texto:

  • Explicação do uso de um mapa, carta ou página na internet.
  • Identificação dos destinatários de uma mensagem.
  • Averiguação do tipo de livro que pode conter o texto, a partir dele.

3. Desenvolvimento de uma Interpretação (Entender o Texto Logicamente)

Estratégias: Comparar e contrastar informações. Fazer inferências. Identificar os elementos de prova.

Exercícios de Comparar e Contrastar Informações:

  • Descrição da relação entre dois personagens.
  • Explicação da relação entre personagens, argumentos e categorias.
  • Estabelecer uma relação ou relações entre as ilustrações e o conteúdo do texto.

Deduções ou Inferências:

  • Hipóteses sobre o conteúdo do texto a partir do título.
  • Determinação do referente de um pronome.
  • Determinação de uma relação referencial anafórica.
  • Predição do que vai acontecer e revisão ou confirmação das predições.
  • Consideração de alternativas para as ações dos personagens.
  • Dedução da intenção de um personagem concreto.
  • Dedução do significado no contexto.
  • Identificação do critério subjacente a uma sequência dada.
  • Interpretação de generalizações no texto.
  • Identificação da aplicação real de uma moral ou ensinamento do texto.
  • Inferência das características psicológicas dos personagens.
  • Inferência das possíveis consequências do comportamento de um personagem.
  • Inferência de um humor implícito.
  • Inferir ideias e informações relevantes a partir das palavras-chave.

Exercícios de Identificação de Provas:

  • Identificação do nexo de causalidade entre dois fatos.
  • Relação das provas com a conclusão.
  • Identificação dos testes utilizados para acreditar na intenção do autor.
  • Extração de conclusões.

4. Reflexão sobre o Conteúdo do Texto (Autoavaliação)

Definição: Avaliar as alegações do texto, contrastando-o com o conhecimento externo e posicionando-se criticamente sobre o conteúdo.

Estratégias: Considerar criticamente a representação da realidade apresentada.

Exemplos de Atividades:

  • Exercícios de contraste com o conhecimento do mundo.
  • Exercícios de contraste com o conhecimento de outras fontes.
  • Avaliação da probabilidade de que os eventos descritos poderiam realmente ocorrer.
  • Distinguir a realidade da fantasia.
  • Avaliação da posição do autor sobre o assunto.
  • Distinguir entre as visões do autor e as de outros que são mencionados no texto.
  • Julgamento sobre se a informação é completa e clara.
  • Avaliação da importância das peças de informação.
  • Avaliação das provas apresentadas pelo autor.
  • Fornecimento de dados alternativos para reforçar um argumento do autor.
  • Produção de provas ou argumentos fora do texto.
  • Estabelecer comparações de conteúdo com padrões de vida, ética, estética.

5. Reflexão sobre a Forma do Texto e Avaliação

Definição: Avaliar as características linguísticas do texto nos níveis morfossintático, lexicosemântico e textual.

Estratégias: Avaliar o impacto de certas características linguísticas e identificar as nuances subjacentes.

Questões Relativas à Estrutura do Texto:

  • Reconhecimento das partes fundamentais de um texto.
  • Reconhecimento de frases típicas de início e fim de um gênero de texto.
  • Descobrir como o autor estruturou o texto para preparar o leitor para a conclusão.

Exercícios sobre o Estilo e Registo do Texto:

  • Reflexão sobre as palavras que se repetem.
  • Substituição de alguns adjetivos e avaliação dos resultados.
  • Avaliação do uso de recursos específicos do texto para alcançar um objetivo.
  • Avaliação da beleza do texto.
  • Distinção de estilo direto ou indireto.
  • Compreensão do uso da ironia.
  • Identificação de formas de cortesia no texto.

Níveis de Dificuldade do Texto

O leitor poderá encontrar um texto mais ou menos difícil, dependendo de:

  • Sua familiaridade cultural.
  • O comprimento.
  • O interesse ou proximidade do tema.
  • A simplicidade ou complexidade da organização da informação.

Na conexão de um texto com os exercícios propostos, a dificuldade pode depender de:

  • A relevância do tipo de informação requerida.
  • O nível de compreensão necessária (localização de informações, relações entre ideias, suposições, opiniões).
  • O número de elementos do texto a ser localizado ou manuseado.
  • O número de critérios que devem ser tomados em consideração.
  • A presença de informação que interfere com o nível solicitado.
  • O nível de explicitação da tarefa.

Objetivo e Características do Plano de Leitura

Objetivo: O plano de leitura é um esforço para sistematizar e coordenar o ensino da leitura. Sua finalidade é garantir que os alunos sejam leitores proficientes, capazes de ler com precisão e rapidez, desenvolver a capacidade de compreender, refletir e interagir com os textos, e que sejam motivados a ler por prazer ou porque reconhecem a leitura como um meio indispensável para a aprendizagem. Um leitor se forma devido ao acaso e à determinação pessoal, mas também como resultado de um longo processo educativo. (Mata, 2004: 134)

Características:

  • Leitura e escrita.
  • Compreensão de leitura em todas as áreas do currículo.
  • Macrodimensões: Situações ou propósitos de leitura, variedade textual, processos leitores.
  • Sistematização de objetivos curriculares precisos.
  • Padrões: Uma descrição da aprendizagem esperada e exemplos de produções dos alunos em determinados níveis.
  • Dimensões: Dentro da escola (leitura e escrita na área de línguas, leitura e escrita em outras áreas, apoio a alunos com dificuldades, promoção da leitura) e Fora do Centro (envolvimento da família e das instituições).
  • Avaliação: Interna e externa.

A implementação destes planos de leitura envolve todos os professores no desenvolvimento das competências de literacia dos alunos e requer um planejamento compartilhado.

Elementos e Pilares do Plano de Leitura

A responsabilidade da escola é garantir as habilidades de leitura dos estudantes e promover as condições para o cultivo do hábito da leitura.

O Desenvolvimento Sistemático da Competência de Leitura

O desenvolvimento sistemático é de responsabilidade de todos os professores no centro e é construído sobre três pilares:

  1. O ensino da leitura e escrita na área de Línguas.
  2. O ensino da leitura e escrita nas demais áreas curriculares.
  3. O apoio a alunos que possam ter dificuldades de leitura.

Ações na Área de Línguas

Dá-se atenção especial a:

  • A aprendizagem do código escrito.
  • O vocabulário.
  • A construção de frases, parágrafos e textos.
  • A compreensão dos diferentes tipos de textos, incluindo os literários (Literatura Infantil).

Aprendizagem do Código Escrito e Competências Emergentes

Considerando o nível de literacia emergente e o desenvolvimento de competências pré-escritoras:

  • Percepção e discriminação visual.
  • Percepção e discriminação auditiva.
  • Lateralidade.
  • Grafomotricidade.
  • Organização temporal.
  • Sentido rítmico.
  • Memória.
  • Linguagem oral (extensão).

Metodologia do Ensino de Alfabetização

  • Percepção visual e discriminação: Reconhecimento de formas, tamanhos, cores.
  • Percepção e Discriminação Auditiva: Distinção de sons.
  • Lateralidade: Esquema corporal, noções de esquerda-direita, cima-baixo; direção dentro de um espaço.
  • Grafomotricidade: A capacidade para o exercício de laços, festões e formas geométricas simples.
  • Organização temporal: Sequências de ordem temporal (antes e depois).
  • Sentido rítmico: Sequências rítmicas simples.
  • Memória: Armazenamento de rimas, poemas, adivinhas, exercícios de memória visual, reconhecimento de palavras.
  • Linguagem Oral: Falar com uma correção que corresponde à sua idade cronológica (vocabulário e fluência verbal).

Vocabulário

Estratégias destacadas:

  • Deduzir o significado de uma palavra pelo contexto.
  • Reconhecer raízes, prefixos e sufixos.
  • Analisar palavras compostas.
  • Descobrir no texto sinónimos e antónimos.
  • Formar campos lexicais e famílias semânticas.
  • Aproximar-se do significado e da etimologia da palavra.
  • Estabelecer analogias (finalidade, função, características semelhantes, hipónimos e hiperónimos, situações comuns, ação/agente ou objeto).
  • Distinguir o uso técnico e o uso diário de um termo.
  • Identificar palavras estrangeiras e neologismos.
  • Consultar o dicionário.

Construção de Frases, Parágrafos e Textos

A leitura leva à escrita e vice-versa:

  • As tarefas de elaboração para diferentes fins dão aos alunos conhecimentos sobre as diferentes finalidades para a leitura.
  • A produção de diferentes tipos de textos torna os alunos mais conscientes das características dos textos que leem.
  • A leitura de textos diferentes encoraja a compreensão da produção escrita dos alunos.

Diversificação dos Textos

O desenvolvimento das competências de leitura exige a seleção de textos adequados para diferentes ciclos, que correspondam a situações de leitura diferentes, diferentes tipos e gêneros, e que incluam atividades de leitura que cubram todos os processos leitores descritos acima.

Abordagem Multilíngue

É importante ler e escrever em todas as línguas na escola, embora em níveis diferentes de dificuldade, ensinando o uso dessas estratégias de leitura aplicadas à leitura em diferentes línguas e abordando o conhecimento dos tipos de textos e gêneros textuais a partir de abordagens comuns.

(...) a abordagem multilíngue enfatiza o fato de que, à medida que a experiência linguística de um indivíduo se expande no ambiente cultural de uma língua (da linguagem familiar para a sociedade em geral e, em seguida, às línguas de outros povos), a pessoa não guarda estas línguas e culturas em compartimentos estritamente separados, mas desenvolve uma competência comunicativa na qual contribuem todos os conhecimentos e experiências na linguagem e em que as línguas se inter-relacionam e interagem. (Conselho da Europa, 2002: 4)

Ações nas Demais Áreas Curriculares

As demais áreas são em grande parte responsáveis pelo ensino da leitura de texto especializado. Atenção chave para:

  • O vocabulário da área.
  • A construção de definições e explicações.
  • Os tipos de texto mais significativos na área.
  • Familiarização com o uso de diferentes recursos: dicionários, enciclopédias, materiais de biblioteca em suporte eletrónico.

Em definições na Educação Infantil e Ensino Primário, é importante salientar, em primeiro lugar, a identificação do termo, geralmente para classificar, e depois algumas características específicas.

Apoio a Alunos com Dificuldades

Procedimentos para a identificação precoce de problemas leitores e intervenção precoce, incluindo sistemas de apoio e reforço. As dificuldades frequentes que a maioria dos alunos em leitura apresenta têm a ver com a velocidade ou a exatidão e a falta de compreensão de leitura.

Precisão ou Velocidade de Leitura

  • Leitura lenta ou acelerada.
  • Leitura ininteligível.
  • Leitura por adivinhação.
  • Negação de hifenização ou leitura não-real.
  • Leitura com disritmia, sem levar em conta a pontuação.
  • Quebras de linha excessivas.
  • Fragmentação ou separação anormal de sílabas ou palavras.
  • Repetição, omissão ou exclusão de uma ou mais letras ou sílabas.
  • Inclusão, sem justificativa, de letras ou sílabas.
  • Substituição ou inversão de letras.

Problemas de Compreensão de Leitura

  • Dificuldades na compreensão e retenção de informação.
  • Abordagem deficiente à situação de comunicação.
  • Dificuldade em distinguir as ideias principais e secundárias.
  • Falta de capacidade para utilizar estratégias como a previsão, o resumo do significado ou fazer inferências.

Dinâmicas de Promoção do Hábito de Leitura

A promoção da leitura não pode consistir apenas em uma série de ações pontuais e marcantes, mas em ações no âmbito da dinâmica escolar e realizadas com regularidade. A capacidade e o hábito da leitura influenciam-se mutuamente.

Na Sala de Aula

Deve reinar um clima leitor, com espaço, tempo e ambiente adequado. Ler todos os dias, falar sobre a leitura, perguntar o que leem, ter um horário semanal de leitura, acompanhar os alunos à biblioteca, etc., contribuem para o desenvolvimento do hábito leitor. É fundamental que exista um plano individual de leitura para cada estudante.

Atividades:

  • Cantinho da Leitura na sala de aula.
  • Leitura de notícias do dia, poemas, jornais, revistas ou periódicos.
  • Leitura pelo professor de trechos divertidos ou curiosos de livros.
  • Apresentar aos alunos uma extensa lista de livros sobre diferentes temas e diferentes níveis de dificuldade.
  • Apresentação regular de livros emprestados da biblioteca da escola ou da biblioteca pública.
  • Comentar referências na imprensa sobre livros.
  • Permitir aos alunos a escolha das obras e autores.
  • Exposições orais de leituras realizadas pelos alunos e pelo professor.
  • Leitura de um livro entre todos, terminando com uma atividade (ex: cada um lê um capítulo e conta ou faz um desenho).
  • Aniversário: cada aluno escreve um poema ou uma história como um presente e constrói um folheto com todos os poemas e contos.
  • Debate sobre as leituras realizadas.
  • Desenhar sobre os personagens, cenário, fazendo murais, dramatizações.
  • Registro do curso leitor do estudante com vista aos livros que leu.
  • Votação para escolher os melhores livros e/ou autores.
  • Dar a conhecer escritos e produções dos alunos na revista da escola, na web.
  • O livro de viagens que contém as produções dos alunos em um tópico determinado.
  • Ver um filme baseado em livro.

No Centro

Criar um tempo leitor, de modo a perceber a presença da leitura em diferentes salas ao redor do centro.

Ações da Biblioteca Escolar:

  • Apresentação de novos livros adquiridos ou emprestados ao público.
  • Eleição de livros favoritos dos alunos lidos durante um curso.
  • Contacontos.
  • Encontro com escritores após a leitura de alguma obra.
  • Eventos literários.
  • Serviços de empréstimo e orientação periódica com os pais sobre literatura infantil e juvenil.
  • Exposição de livros sobre um tema definido.
  • Ler ou contar histórias ou textos escritos por outras crianças de diferentes níveis.
  • Celebração de aniversários literários: Dia Mundial do Livro, Dia Mundial da Poesia, Dia Internacional do Livro Infantil, autores antigos.
  • Projeção de filmes baseados em livros para crianças e jovens.

No Exterior (Família e Instituições)

O envolvimento da família, a colaboração da Biblioteca Pública e outras instituições são três grandes eixos de incentivo à leitura fora da escola.

Orientações para os Pais:

  • Conversar com as crianças para promover a linguagem oral.
  • Compartilhar histórias de leitura.
  • Comentar leituras, notícias de jornais, revistas ou periódicos.
  • Ser parceiro e visitar a biblioteca pública.
  • Visitar livrarias.
  • Esclarecer dúvidas sobre livros.
  • Presentear livros.

Avaliação dos Alunos

Além da avaliação inicial, que irá identificar as dificuldades de leitura e iniciar o tratamento específico o mais rapidamente possível, é importante, em termos de avaliação contínua, ter um registro escrito do nível de desenvolvimento da leitura de cada aluno para tomar decisões adequadas.

Ações Comuns dos Professores

  1. Leitura em todas as áreas, respeitando um quadro teórico compartilhado.
  2. Importância do trabalho preventivo, que visa evitar que dificuldades de leitura surjam, de modo que as ações nos primeiros anos de escolaridade são cada vez mais importantes no desenvolvimento da leitura dos alunos: atividades de pré-leitura e pré-escrita e metodologia de ensino de alfabetização.
  3. Primado de compreender o que leem sobre a velocidade e precisão nos primeiros momentos.
  4. Seleção de textos adequados para diferentes ciclos, garantindo que respondam a diferentes situações e tipos de texto e gêneros textuais acordados.
  5. Revisão dos materiais curriculares disponíveis e alteração ou complementação das atividades de leitura para abranger todos os processos leitores descritos.
  6. Prática sistemática de estratégias de leitura identificadas para cada ciclo.
  7. Abordagem inclusiva para a leitura em diferentes áreas linguísticas para facilitar a transferência de linguagem, estudando os tipos de textos e gêneros textuais na produção de textos escritos, e trabalhando estratégias de leitura para avaliar o alunado.
  8. Desenvolvimento de atividades para estímulo à leitura previstas para cada ciclo.

Diretrizes para o Ensino de Estratégias de Leitura

Reconhecer a Finalidade da Leitura

Sempre que se propõe uma tarefa de leitura ou escrita, é conveniente explicar a finalidade, a utilidade e o método de trabalho proposto. Tarefas de leitura em contextos reais, que façam sentido ou sejam necessárias para desenvolver uma atividade. Os objetivos e finalidades da leitura serão dirigidos desde o início para a compreensão, não só para a decodificação ou correção da velocidade de leitura.

  • Tarefas que visam encontrar uma informação específica e oportuna, uma visão geral do conteúdo, ou para localizar partes do texto que nos interessam, são usadas para desenvolver estratégias de leitura rápida ou skimming.
  • As tarefas que exigem uma leitura silenciosa e detalhada ajudam a desenvolver estratégias de leitura profunda ou scanning.

Ambos os tipos de leitura devem ser praticados na Educação Infantil e Primária.

Reconhecimento Rápido de Palavras

O rápido reconhecimento de palavras escritas mais utilizadas (vocabulário de vista) facilita enormemente a compreensão. Nos primeiros níveis, trabalham-se as palavras mais utilizadas a partir da perspetiva do reconhecimento visual rápido das mesmas. Favorecem o desenvolvimento desta estratégia, inicialmente, a aprendizagem das características definidoras das letras e atividades como letras embaralhadas, sopas de letras, palavras cruzadas, quebra-correntes, derivação de palavras compostas, palavras do texto, reconstrução da união de letras, definições de palavras, etc.

Estabelecer uma Hierarquia de Ideias

Estratégias ou regras para simplificar a informação (Kintsch e Van Dijk, 1978):

  • Seleção: Ignorar a informação irrelevante, anular a informação complementar e não necessária para compreender uma proposição de uma sequência.
  • Generalização: Substituição de várias declarações por uma mais geral, presente no texto, que representa todas.
  • Construção: Substituição de uma sequência de instruções por outra não presente no texto, mas que resume o significado das mesmas.

Estas estratégias servem para elaborar resumos, esquemas ou mapas conceituais. Um importante recurso linguístico para desenvolver modelos e mapas conceituais é a nominalização, ou seja, a conversão de uma frase em um substantivo.

Formular Hipóteses e Previsões

O bom leitor se diferencia, entre outras coisas, pela sua capacidade de antecipar o conteúdo do texto, formular hipóteses e, em seguida, verificar as suas previsões. Esta estratégia pode ser desenvolvida através da leitura compartilhada em que o professor modela diretamente como fazer previsões e faz perguntas aos alunos antes e durante a leitura. Também esta habilidade é desenvolvida através da aplicação de auto-perguntas feitas pelos alunos.

Fazer Inferências

A inferência é uma estratégia de raciocínio essencial para a compreensão, já que o texto nunca é explícito e inequívoco, mas o leitor deve determinar o significado da mensagem a partir do reconhecimento da intenção comunicativa do emissor e do conhecimento do contexto.

Esta capacidade é extremamente difícil para interpretar e integrar ideias e informações.

Dificuldades:

  • Problemas para relacionar uma ideia e sua história.
  • Dificuldade em ver relações entre as ideias: relações de comparação, causa-consequência, pergunta-resposta, ordenação cronológica.

Atividades para Desenvolver a Estratégia de Inferência:

  • O professor faz inferências em voz alta durante a leitura.
  • Ordenar textos fragmentados.
  • Procedimento cloze.
  • Autoperguntas.
  • Substituição da palavra-chave pelo antecedente.
  • Construção de um conceito ou mapa antes de ler o texto.

Avaliar o Efeito de Determinadas Características Linguísticas sobre o Significado

O conhecimento de características textuais (fontes, imagens, organização do texto) promove a compreensão do texto: o conhecimento da finalidade ou função do texto, estrutura e características linguísticas ajudam a construir o significado.

Para o desenvolvimento destas estratégias, deve-se fornecer modelos dos tipos de texto mais comuns na Educação Infantil e Ensino Primário, analisar as características a partir de uma abordagem comum em várias línguas escolares, tanto em termos de leitura quanto no que respeita à produção de textos, e formar a sua aprendizagem por parte do professor (pensando em voz alta, questões aos estudantes).

Narrativas na Educação Infantil e Ensino Primário

Ações para trabalhar narrativas:

  • Descobrir o propósito ou função do texto, refletindo sobre a situação da leitura e a intenção do autor.
  • Analisar a estrutura do texto em três partes: Introdução e Abordagem (apresentação dos personagens e situação de conflito), Desenvolvimento (detalhes dos personagens e resolução do conflito), e Resultados e Conclusão.
  • Atenção à redação: descrições e diálogos; detetar o narrador, personagens e a lógica dos fatos; conectores do tipo temporal; uso do verbo (ação, passado, presente e futuro).

As estratégias de leitura não funcionam como silos, mas a sua aprendizagem é incorporada na atividade escolar diária. A metodologia do projeto coloca o aluno a ler e escrever em um contexto real em que ele busca informações, lê, seleciona e assimila, escreve e se comunica com outras produções e resultados.

Ações Antes, Durante e Após a Leitura

Antes de Ler

  • Tornar o propósito e a funcionalidade da leitura explícitos.
  • Compreender os seus objetivos implícitos: título, mídia, tipo de texto, formulário (data), gráfico, autor.
  • Fazer previsões sobre o conteúdo e a forma.
  • Fazer perguntas em relação à finalidade do texto.
  • Ativar conhecimento prévio relevante: O que sabemos? Temos mais informações?
  • Precisar o vocabulário necessário.
  • Ensinar a ler: enfatizar, parágrafos.

Durante a Leitura

  • Desenvolver e testar as previsões.
  • Fazer inferências e solucionar dúvidas de compreensão.
  • Revisar o tipo ou conteúdo.
  • Avaliar periodicamente o conteúdo e a forma do texto em relação ao autoconhecimento e a elementos externos ao texto.

Depois de Ler

  • Resumir e sintetizar o conhecimento do tema e ideias principais.
  • Ações por ocasião da leitura: representação, mural.
  • Generalizar o conhecimento.
  • Avaliar o texto em resposta às expectativas suscitadas: se gostou, se surpreendeu, se recomenda (o livro).

O Plano de Leitura indica um planejamento de médio prazo, um plano anual de ações concretas correspondente aos diferentes ciclos e um plano para cada uma das ações.

Orientações para a Elaboração do Plano de Leitura

  1. Introdução: A importância que se atribui à leitura. Contexto do centro: línguas escolares. Plano de melhoria derivado de um projeto nacional ou internacional. A responsabilidade compartilhada do centro com a família e outras instituições.
  2. Objetivos: Assegurar o desenvolvimento da competência de leitura dos alunos. Propiciar condições para que se cultive o hábito leitor. Contar com um plano estruturado e sistemático para o ensino da leitura em todas as áreas. Prevenir dificuldades de leitura. Coordenar os docentes no ensino da leitura. Garantir um bom uso dos recursos. Implicar as famílias. Impulsionar a formação de professores no que diz respeito à leitura.
  3. Metodologia:
    1. Ações comuns em todo o professorado: Trabalho preventivo, leitura prévia e pré-escrita e metodologia de ensino da lectoescritura. Seleção de textos adequados para diferentes ciclos. Atividades leitoras abrangendo todos os processos leitores. Prática sistemática de estratégias de leitura identificadas para cada ciclo. Planteamento integrador da leitura em diferentes áreas linguísticas. Desenvolvimento de atividades para incentivar a leitura prevista para cada ciclo.
    2. Estratégias de Ensino Leitoras: Ensino de competências de literacia emergente e pré-escritoras. Integração das estratégias de leitura no ensino “antes, durante e após a leitura” e/ou metodologia de projeto.
  4. Ações por Ciclos (1):
    1. Aulas de leitura inicial na área de Língua: Ensino da lectoescritura. Vocabulário. Atividades de produção escrita. Textos que se vai priorizar em cada ciclo. Leitura de textos literários.
    2. Tempo semanal de leitura: Enfoque (ensino sistemático da leitura e/ou animação para a leitura). Textos e livros que se lerão. Atividades de leitura e escrita.
    3. Demais Áreas: Vocabulário chave da área. Textos que se trabalharão em cada área. Utilização de recursos.
  5. Ações por Ciclos (2):
    1. Apoio a alunos com dificuldades de leitura: Identificação precoce no processo e responsáveis. Apoios e reforços: técnicas e questões organizacionais.
    2. Animação para a Leitura: Enfoque, clima leitor, tempo, espaço e ambiente. Ações na aula. Atuações no centro. Orientações às famílias. Colaboração com a biblioteca pública e outras instituições.
    3. Avaliação do Alunado: Deteção de dificuldades. Avaliação contínua: folha de registro do nível de desenvolvimento da leitura de cada aluno. Avaliação final de ensaio e ciclo. Análise dos resultados das avaliações externas.
  6. Utilização de Recursos e Implicações Organizacionais:
    1. Biblioteca de Aula: Sentido de recurso. Funcionamento: fundos, empréstimos, propriedade dos alunos.
    2. Biblioteca Escolar: Sentido de recurso: integração na dinâmica escolar. Normas de funcionamento, aquisição de fundos, horário de funcionamento.
    3. Recursos Externos ao Centro: Orientações para as famílias. Coordenação com outras instituições. Colaboração com a biblioteca pública.
    4. Tecnologias da Informação e Comunicação e Leitura: Uso de suporte digital. Leitura na Internet e outros recursos informáticos. Responsável por apoiar os professores em caso de dificuldades técnicas.
  7. Formação de Professores: Deteção de necessidades de formação. Análise da gama de atividades formativas. Participação em atividades comuns, em ciclos ou individual.
  8. Plano de Avaliação: Avaliação da adequação e exploração do plano de leitura. Definição das áreas de melhoria.

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