Platão: Ideias, o Bem e o Caminho para o Conhecimento
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O Caminho para o Conhecimento: Libertação da Ignorância
O processo educativo, metaforicamente comparado a um caminho robusto e íngreme, representa a jornada do prisioneiro que se liberta de suas cadeias de ignorância. É um percurso difícil de navegar e nem sempre bem compreendido pelo indivíduo em formação.
A Essência das Coisas: As Ideias Platônicas
Na filosofia de Platão, as Ideias (ou Formas) são as essências das coisas, existindo de forma separada e independente delas. Cada variedade de coisas participa de uma única Ideia que constitui sua essência (o que uma coisa é). Assim, todas as coisas belas participam e se relacionam com a Ideia de Beleza, da mesma forma que a multiplicidade de coisas reais se relaciona com a Ideia de Verdade.
A Ideia do Bem e o Devir
A Ideia do Bem é o produtor ou a causa da essência das outras Ideias (as coisas conhecidas no texto), quase se identificando com o Demiurgo ou artesão do mundo. O conceito de devir (tornar-se) abrange a gênese (origem ou fonte) e seu oposto, a corrupção (manutenção).
No Livro VI da República, Platão tem o cuidado de não remeter o conceito de devir às Ideias (que são a verdade), mas o utiliza para se referir ao mundo das coisas sensíveis (que são aparentes). Isso é lógico, pois apenas o mundo sensível pode acomodar a mudança e o movimento (o devir).
A Alegoria do Sol e a Ideia do Bem
No texto em questão, o Sol é a causa da gênese (bem como do crescimento e nutrição) das coisas visíveis. Com isso, Platão quis indicar que o Sol é a razão pela qual as coisas se tornam o que são. Da mesma forma, a Ideia do Bem, da qual o Sol é uma metáfora, é a produtora da essência das Ideias.
Usando a analogia de proporcionalidade que Platão desenvolve neste livro, o Sol está para a gênese das coisas visíveis assim como a Ideia do Bem está para a essência das Ideias.
As Ideias na Filosofia Platônica
As Ideias, na filosofia de Platão, são a essência das coisas, embora separadas delas e localizadas no Mundo Inteligível. Toda a filosofia platônica gira em torno das palavras gregas eidos (forma, ideia) e idea (ideia).
Segundo Platão, tudo no mundo material foi criado a partir de formas, padrões, arquétipos e paradigmas que ele chama de "Ideias". É crucial não confundir as ideias em nosso senso comum (pensamentos ou conceitos que temos sobre as coisas) com as Ideias no sentido platônico.
As Ideias são entidades independentes da mente humana; mesmo que o homem não existisse, elas existiriam e constituiriam a própria realidade. São atemporais, infinitas e eternas. As coisas temporais e mutáveis são um pálido reflexo delas.
Em um sentido amplo, podemos definir as Ideias como essências independentes:
- A Ideia de Beleza é a essência da beleza.
- A Ideia de Virtude é a essência de todas as ações virtuosas.
- A Ideia da Praça é a essência das figuras quadradas.
Contudo, as Ideias ou essências das coisas não são como suas partes físicas; não estão no mundo físico, mas fora dele (o que se entende por "independente"), no Mundo Inteligível.
A Ideia do Bem: Funções e Significado
O estatuto e as funções que Platão atribui à Ideia do Bem em sua filosofia são tais que muitos autores a identificaram com Deus. Platão acreditava que a Ideia do Bem tem dois papéis fundamentais:
- Cria as Ideias e o mundo sensível.
- Confere inteligibilidade ou racionalidade às Ideias e ao mundo sensível.
A consequência é que tudo e todos os seres humanos aspiram, de uma forma ou de outra, ao Bem. A filosofia é precisamente a expressão do desejo de compreensão final dessa Ideia ("a ascensão do ser", como diz Platão). No Mito da Caverna, a Ideia do Bem é representada pela metáfora do Sol.
Sábios e o Conhecimento Dialético
Em alguns textos, "sábios" ou "conhecedores" são sinônimos daqueles dotados com o poder intelectual do método dialético, que permite o acesso às Ideias.
As Artes e a Matemática
O termo "Artes" refere-se à matemática, principalmente à geometria, que utiliza axiomas (não demonstrados) para a formulação de teoremas. Este modo de conhecimento, contudo, enfrenta objeções:
- É a primeira objeção que se pode considerar a este modo de conhecimento.
- A segunda objeção levantada por Platão é que os matemáticos frequentemente usam representações sensíveis para apoiar suas explicações (figuras, triângulos, quadrados, etc.), o que os afasta da pura inteligibilidade.
O Mundo Inteligível: A Verdadeira Realidade
O Mundo Inteligível, ou Mundo das Ideias, é a verdadeira realidade, a área onde as Ideias residem. Este mundo não pode ser acessado através dos sentidos, mas é alcançado através da utilização da parte mais excelente da alma: a razão, como Platão afirma.
O Mundo Inteligível, sendo a verdadeira realidade, possui para Platão um caráter religioso e tem consequências nos campos da epistemologia, ética e política. No Mito da Caverna, a metáfora do Mundo Inteligível é o mundo externo, acessado pelo prisioneiro quando ele se liberta das correntes e deixa a caverna.
Hierarquia das Ideias
Platão estabelece uma hierarquia de entidades que povoam o Mundo Inteligível:
- Acima de tudo, encontra-se a Ideia do Bem, que em alguns textos parece identificar-se com Deus.
- Após a Ideia do Bem, vêm as Ideias de Beleza e Verdade.
- Em seguida, as ideias fundamentais de Unidade, Multiplicidade, Ser e Não-Ser.
- Depois, as Ideias matemáticas.
- Finalmente, o restante das Ideias.
Embora a lógica que leva Platão a postular a existência deste mundo o forçasse a admitir a existência de Ideias para muitos termos universais, sua visão é influenciada por considerações de valor. Por isso, no diálogo Parmênides, ele se recusa a aceitar que possam existir Ideias correspondentes a realidades de pouco valor ou com conotações negativas (como a Ideia de cabelo, unhas...), admitindo apenas as Ideias matemáticas e aquelas com conotações estéticas e morais.