A Poesia Espanhola do Século XX: Machado, JRJ e Geração de 27

A Poesia de Antonio Machado e Juan Ramón Jiménez

Antonio Machado e Juan Ramón Jiménez são dois dos principais poetas da primeira metade do século XX.

Antonio Machado: Carreira e Estágios Poéticos

Antonio Machado é normalmente incluído entre os autores da Geração de 98. Sua carreira como poeta pode ser dividida em quatro estágios:

1. Primeira Etapa: Influência Modernista

   Esta fase é influenciada pelo Modernismo, especificamente pela poesia de Rubén Darío. Ele escreveu seu primeiro livro, "Solidão", que publicou anos depois, com algumas variações, sob o título: "Soledades. Galerias. Outros Poemas". Destaca-se a influência do Modernismo no léxico, nas imagens utilizadas e no domínio da musicalidade e da cor. No entanto, este é um Modernismo moderado, que não busca apenas a beleza, mas sim uma poesia mais íntima e melancólica.

   Os temas predominantes são a passagem do tempo, o mundo das lembranças, a morte e a busca por algo (a existência de Deus, o amor, o sentido da vida...). Os poemas são marcados pela tristeza, angústia e melancolia. Ele utiliza símbolos, como a estrada (símbolo da vida e do caminho) ou o sol (símbolo da morte, neste contexto).

2. Segunda Etapa: Campos de Castilla

   Esta é uma mudança em sua poesia, deixando para trás os elementos modernistas e buscando uma poesia simples e sóbria. Publica a obra "Campos de Castilla". Também ocorre um deslocamento ideológico: Machado sai de sua solidão e individualidade para se preocupar com a situação e os problemas da Espanha de seu tempo, tendo Castela como tema principal de seu trabalho.

   "Campos de Castilla" encerra-se com uma coleção de "Provérbios e Canções", que são poemas filosóficos curtos que refletem as preocupações existenciais do poeta (a morte, a existência de Deus, etc.).

3. Terceira Etapa: Novas Canções

   Escreve "Novas Canções", uma obra caracterizada pelo seu tom filosófico e reflexivo, que inclui novos provérbios e canções, por vezes difíceis de interpretar devido ao seu caráter enigmático, que recolhem suas preocupações filosóficas.

4. Quarta Etapa: Poesias de Guerra

   Com o início da Guerra Civil Espanhola, Machado escreve as "Poesias de Guerra", que refletem o horror do conflito. Entre elas, destaca-se a elegia sobre a morte de García Lorca, em um poema intitulado "O Crime Foi em Granada".

Em suma, Machado foi um poeta-filósofo que refletiu sobre diferentes aspectos da vida e da morte na poesia, sublinhando em particular o seu compromisso e identificação com as terras de Castela e seu povo.

Juan Ramón Jiménez: A Busca pela Poesia Pura

Juan Ramón Jiménez foi um escritor isolado, recluso em seu mundo. Seu estilo e conteúdo são dificilmente classificáveis, de modo que ele não pode ser enquadrado em nenhum grupo específico.

Seu trabalho se concentra na busca pela beleza, conhecimento e eternidade. Para ele, a poesia é o meio para apreciar a beleza, encontrar a essência das coisas e possuir a verdade absoluta e eterna. Ele acreditava que a poesia era uma arte para as minorias, uma poesia intelectual e difícil de compreender.

Sua carreira poética pode ser dividida em quatro fases:

1. Primeira Fase: Poesia Íntima

   Seus trabalhos iniciais não foram amplamente aceitos. Foi uma poesia íntima e simples, influenciada por Rubén Darío e Bécquer. Em seu primeiro livro, "Arias Tristes", os temas predominantes são a solidão, a tristeza, a morte e a passagem do tempo. A linguagem e as formas são claras e simples.

2. Segunda Fase: Influência Modernista Moderada

   Usa um predomínio de adjetivos sensoriais brilhantes e abundância de imagens. Na métrica, utiliza o Alexandrino (14 sílabas). É, no entanto, um Modernismo moderado, como no caso de Antonio Machado. Deste período são livros como "O Isolamento Sonoro" ou o famoso livro "Platero e Eu".

3. Terceira Fase: Época Intelectual e Poesia Pura

   Caracteriza-se pela rejeição do Modernismo e pelo afastamento do lirismo representado por Rubén Darío e seus seguidores. Ele se despoja de todos os elementos ornamentais (luz, cores, acabamento) para abrir caminho para uma poesia simples, a "Poesia Pura", despojada de tudo o que é superficial e anedótico, refletindo apenas o essencial. Destacam-se as obras: "Diário de um Poeta Recém-Casado" e "Eternidades".

4. Quarta Etapa: Tempo Final

   Sua poesia é cada vez mais secreta e pessoal. É uma poesia profunda e filosófica de grande beleza, expressando suas experiências religiosas e sua identificação com a ideia de Deus. Usa verso livre e linguagem muito concreta e conceptual. Destaca-se a obra "Deus Desejado e Desejante".

Resumindo, a carreira poética de Juan Ramón Jiménez sofreu uma profunda evolução, da poesia intimista de seus poemas iniciais à busca por aquilo que ele chamou de "poesia pura", uma poesia despojada de toda a superfície, mantendo apenas o essencial, baseada na beleza e perfeição formal.

O Grupo Poético de 27

É conhecido por esse nome um grupo de jovens escritores, especialmente poetas, que começaram a publicar seus trabalhos na década de 20 e que possuem muitos pontos em comum. Eles frequentavam encontros sociais e atividades culturais, e a Residência de Estudantes foi onde se conheceram. Um dos grandes eventos foi a homenagem a Góngora, por quem tinham grande admiração, realizada em 1927.

Os principais membros deste grupo poético foram:

• Federico García Lorca (obras como "Romanceiro Cigano" e "Poeta em Nova York")
• Pedro Salinas ("A Voz a Ti Devida")
• Rafael Alberti ("Marinheiro em Terra")

Estética e Características

O estilo de cada um desses poetas é diferente e pessoal, mas em todos eles é possível notar uma estética que tende à síntese de princípios opostos, algo que vinha sendo discutido na poesia espanhola nos anos recentes.

Eles buscam um equilíbrio entre:

• O intelectual e o emocional.
• A inspiração do momento criativo e a preparação rigorosa.
• A beleza formal e a autenticidade humana.
• O culto e o popular.
• A poesia para as minorias e a poesia para as maiorias.

O objetivo final era combinar Tradição e Renovação.

Influências e Vanguardas

Por um lado, são atraídos pela poesia tradicional e popular, e pela admiração pelos poetas clássicos, especialmente Góngora, por suas metáforas ousadas. Buscam um estilo de linguagem poética que se afaste da linguagem habitual.

Além disso, recebem novas influências dos movimentos de vanguarda europeus, que se opõem à estética anterior e a quebram de forma radical, propondo novos conceitos.

Gómez de la Serna foi o introdutor da vanguarda na Espanha e teve grande influência sobre os autores de 27.

Fase da Desumanização (Poesia Pura)

Entre os movimentos de vanguarda que influenciaram o grupo, destacam-se o Criacionismo, o Futurismo e, em menor medida, o Ultraísmo. Esta fase foca na desumanização da arte e na separação da poesia da vida. É a busca pela "Poesia Pura" e desumanizada. As inovações introduzidas são inúmeras: quebra-se a ordem lógica das palavras, o foco está nas metáforas, e é dada muita atenção ao design gráfico dos poemas.

Fase da Reumanização (Surrealismo)

O Surrealismo é outra das vanguardas de alta influência. Nesta fase, busca-se a libertação total do ser humano, dando vazão ao subconsciente. Para isso, a linguagem se liberta, as metáforas são incomuns e as imagens oníricas. Utiliza-se a escrita automática, deixando as palavras emergirem livremente, sem controle lógico. Em última instância, isso produz a reumanização da poesia, cheia de novas emoções humanas (amor, morte).

O Pós-Guerra Civil

Os poetas de 27, após a Guerra Civil, continuaram a escrever no exílio. Sua poesia se enche de dor e tristeza pelos desastres produzidos pela guerra e de nostalgia por não poder retornar à pátria. Será uma poesia focada principalmente em questões existenciais.