Poesia Galega Contemporânea: Tendências e Autores (1975-Atual)
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A Poesia Galega do Final do Século XX e Início do XXI: Temas e Autores
1975 foi o ano da mudança. Morre Franco e começa para a Galiza e, para Espanha, a etapa democrática mais extensa de toda a sua história. A presença da língua e literatura galegas no ensino e a oficialidade do nosso idioma supõem um incentivo sem precedentes para a promoção da literatura em galego: multiplicam-se as empresas editoriais, os prémios e as revistas literárias.
No campo da poesia, Com pólvora e Magnólia (juntamente com Mesteres (1976) de Arcadio López Casanova) foi a obra que marcou essa mudança. Tinha que vir de um homem envolvido na política e no protesto social como José Luís Méndez Ferrín. O livro rompe com o social-realismo e abre temas novos e variados: intimismo existencial, metafísica, mitologia cultural, política social, redescobre a linguagem, e surge um novo estilo mais culturalista.
Características da Poesia Galega nos Anos Oitenta
Nos anos oitenta, as principais características da poesia galega são:
- Ruptura com o social-realismo. Produz-se um distanciamento entre o poeta e a sociedade.
- Busca de novos sujeitos líricos (negação da perspetiva autobiográfica).
- Experimentação e interdisciplinaridade (com a música, as artes plásticas...).
- Culturalismo e intertextualidade (utilização de referências culturais variadas: literárias, filosóficas, mitológicas, musicais...).
- Integração dos elementos da cultura urbana e marginal: drogas, depressões, etc.
- Incorporação do erotismo explícito.
- Recreação mítica.
- Preocupação formalista e barroquismo. A poesia é a arte da linguagem.
Autores Relevantes da Poesia Galega
Embora seja muito difícil fazer uma escolha dos autores mais importantes do momento (por não haver suficiente distanciamento nem perspetiva histórica) nem uma classificação dos mesmos, faremos uma seleção utilizando um critério muito subjetivo de gosto pessoal e procurando não recarregar a exposição de nomes e títulos.
Ainda a cavalo entre o social-realismo e as novas tendências, encontramos Darío Xohán Cabana (1952). Muitas das suas poesias são cantadas por grupos como Quatro Ventos; grande dominador do verso e da linguagem, é também tradutor para galego de Dante e Petrarca, além de um nome reconhecido na narrativa atual. Os primeiros ensaios renovadores (1976-78) surgirão das mãos de vários grupos poéticos de curta duração: Rompente (entre os seus membros, Antón Grande e Manuel Romón), Alén e Cravo Fundo. A partir de 1980, a renovação consolida-se com as características antes citadas, mas não são partilhadas por todos; não há uma escola, mas sim diferentes escolhas estéticas e vozes singulares. Entre eles estão:
- Manuel Vilanova (1944), mítico e simbolista, escreve E vos eu do necesario de cobras (1980), entre outras obras.
- José M.ª Álvarez Cáccamo (1950), aberto à realidade através de vivências familiares, escreve Praia das Furnas (1983), entre outras.
- Miguel Anxo Fernán-Vello (1958): o amor, o corpo, o desejo... e também a sombra e a ausência são os seus temas poéticos.
Tendências e Autores nos Anos Noventa e Atualmente
A partir dos anos noventa, é ainda mais difícil falar de tendências comuns, dado o caráter individualista de cada poeta. A pluralidade é a tónica dominante. Do ponto de vista formal, encontramos propostas clássicas (os sonetos de Miro Villar) até ao verso-livrismo. Ao lado da expressão contida, o minimalismo e a depuração máxima, encontramos poetas torrenciais, quase narrativos. Ao lado da expressão direta e simples, a presença do símbolo e do hermetismo. Do ponto de vista temático, alguns autores adotam uma atitude desmistificadora, combativa ou provocadora (no sexual, no ideológico, no literário...), enquanto outros têm abordagens mais tradicionais (amor, desamor, solidão, morte...).
Algumas características mais ou menos partilhadas podem ser:
- Linguagem mais direta e coloquial, que se torna mais próxima do leitor.
- Predomínio dos recitais/eventos, para produzir um contacto entre o poeta e o ouvinte, mais do que entre o poeta e o leitor, numa tentativa de democratizar a poesia.
- Tratamento de temas sociais com novas sensibilidades: revolta, ecologismo, feminismo...
- Alguns divulgam também os seus versos através da Internet, tanto em versão texto como em áudio e vídeo.
Produz-se também uma importante incorporação da mulher à poesia, já iniciada na década anterior, que proporciona uma nova vertente feminina e feminista (desconstrução do universo masculino-machista, erotismo e sexualidade femininas...): Luísa Villalta, Chus Pato, Iolanda Castaño, Lupe Gómez, entre outras. Evidentemente, a maioria dos autores anteriores continua a ser relevante e surgem vários novos autores: José Carlos Caneiro, Anxo Quintela, Millán Otero, Miro Villar, entre outros.