A Poesia Lírica de Camões: Temas e Estilo
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Lírica Camoniana
Momentos estruturais do poema e linhas de força dominantes ao longo da sua poesia:
- Reflexão sobre a sua existência;
- Invocação às forças ativas na sua desgraça;
- Considerações sobre o poder do Amor;
- Apelo à mulher amada.
2. Temáticas:
2.1. A Mulher Amada:
A mulher pode ser descrita como:
a. uma jovem donzela graciosa, em quase tudo semelhante ao sujeito poético das cantigas de amigo (influência tradicional);
b. uma mulher cuja idealização e exaltação da beleza denuncia a clara influência petrarquista. A mulher é o reflexo da beleza divina, é a ponte para a perfeição do amador. Por isso, não é retratada com traços físicos precisos – a sua beleza reside sobretudo no olhar, na postura “humilde” e na bondade. O seu retrato é, sobretudo, psicológico e moral. Ela é a perfeição e a pureza. O sujeito poético regista mais a impressão que a sua beleza causa do que a beleza em si. Esta é a causa frequente do fascínio do sujeito lírico e da sua elevação a um estado espiritual superior, mas também causa de dor e de sofrimento, sobretudo quando a imagem feminina não se adequa às necessidades físicas e reais do sujeito poético.
2.2. O Amor
O Amor é um sentimento contraditório (“contrário a si mesmo”); algo indefinido e capaz de provocar efeitos contraditórios no sujeito poético. Fonte de desconcerto emocional (“Tanto do meu estado me acho incerto”) é ao mesmo tempo:
a. sentimento essencial para a elevação do sujeito poético (“Transforma-se o amador na cousa amada”) – Dimensão eufórica;
b. causa de uma dor constante (Dimensão disfórica), sobretudo:
- quando o simples amor espiritual não consegue satisfazer o poeta que busca algo mais físico (“Como matéria simples busca a forma”),
- quando a sua amada está ausente e as saudades aumentam ao ponto de transformar a própria visão que outrora tinha da natureza e da sua beleza (“Ah!, minha Dinamene! Assim deixaste” / “A fermosura desta serra fresca…/ Sem ti, tudo enoja e me aborrece” / “Alma minha gentil que te partiste”),
- quando tem de se separar dela (“Aquela triste e leda madrugada”)
- quando os olhos claros da amada o tomam descuidado, tal como se fosse um passarinho (“Está o lascivo e doce passarinho”),
- quando a amada é indiferente ao seu sofrimento.
Em suma: O Amor surge em Camões numa dupla abordagem:
a) à maneira petrarquista e neoplatónica:
- amor espiritual/espiritualizado, que vive da adoração e da contemplação da amada e, que, por isso, provoca dor, mas também a purificação do sentimento amoroso.
b) fruto da sua longa experiência – o poeta apercebe-se da distância que vai do pensamento à realidade vivida e sente mais violentamente do que Petrarca a vivência do amor:
- amor sensual, que deseja a mulher tal como, segundo Aristóteles, a “matéria busca a forma”.
- É que o poeta não é só espírito, mas também corpo. Do Amor espiritual e do amor sensível/sensual resultam conflitos, contradições, perplexidades e angústias.
2.3. A Natureza
Associada à temática da mulher amada e do amor, surge também a própria Natureza. A natureza aparece-nos na lírica camoniana como:
a. uma natureza alegre, serena, luminosa, perfumada, em que avultam o verde, o cristal das águas límpidas, os frutos saborosos e as flores - onde se vivem sentimentos amorosos -;
b. como uma natureza indiferente à tristeza e às saudades do sujeito poético;
c. como testemunha da separação dos amantes;
d. como cenário que se transforma diante da triste saudade do sujeito poético e que lhe provoca mesmo aborrecimento e lhe intensifica a dor da saudade.
2.4. O Desconcerto do Mundo
“Experiência amorosa e experiência de vida colocam Camões perante uma constatação: a de que o mundo, a realidade, é absurda e domínio do desconcerto, em que premiam os maus e castigam os bons. Esta constatação deixou marcas na lírica camoniana, em poemas de revolta, queixa, desengano, perplexidade angustiada. Ingratidão, abuso do poder, perseguições são manifestações de um Destino humano e pessoal que o poeta sente como inexoravelmente hostil. Refletindo sobre a sua experiência, o poeta conclui que sempre às maiores expectativas sucederam os maiores desenganos, que, para ele, vítima da Fortuna, a felicidade sempre foi uma ilusão e sempre o bem foi passado e o mal presente. A Mudança, que é condição de tudo, e que poderia ser uma forma de renovação tal como o é na natureza, no poeta faz-se sempre para pior. Daí a sua dúvida, a sua perplexidade, o seu não entender, a sua raiva, a revolta impotente – refletidos em desabafos autobiográficos, em sonetos e canções.”
Soneto
De origem controversa, o soneto atingiu vasto alcance e reconhecimento na Europa com Petrarca, que a ele fixou forma e conteúdo modelares. Composto por 14 versos dispostos em dois quartetos e dois tercetos, o soneto pode ser, quanto à métrica e à rima, constituído de variadas formas. Mas, tal como foi fixado por Petrarca, era composto de versos decassílabos e suas rimas dispostas segundo o modelo: ABBA – ABBA nos quartetos e CDC – DCD nos tercetos, sendo ainda comum o sistema CDE – CDE nos tercetos.
Os sonetos do Classicismo português seguiram os moldes do soneto petrarquiano, alcançando com Camões sua máxima expressão e triunfo. O que mais se conhece da poesia de Camões são os sonetos, dentre os quais encontramos os melhores de toda a literatura portuguesa.