Principais Autores e Teorias da Dinâmica de Grupos

Classificado em Psicologia e Sociologia

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1º Autor: Charles Fourier (França)

  • Primeiro a usar o termo Dinâmica de Grupo.
  • Primeiro a introduzir o Método Experimental nas situações de grupo.

Tentou controlar: o tamanho da amostra, a composição dessa amostra e as variáveis.

Fourier questiona se seria possível construir uma sociedade harmoniosa, onde as pessoas pudessem viver suas tendências e paixões, e propõe-se a testar isso.

2º Autor: Durkheim (França)

Ele estava preocupado com o grande grupo, ou seja, o grupo social, e buscava entender de que forma o grupo social funciona e como ele se constitui.

Não tinha nenhuma preocupação psicológica, apenas sociológica.

Ideia de que o grupo se constitui como um todo maior do que a simples soma das partes (princípio da Gestalt). É um todo dinâmico e não um todo estático. É necessário olhar para esse todo de maneira articulada.

Três Funções Básicas de um Grupo (Segundo Durkheim):

  1. Função de Integração: É a ideia de que o indivíduo isolado é sempre mais frágil do que quando integrado a um grupo.
  2. Função de Regulação das Ações Individuais: Se a presença do outro não regular o meu comportamento, haveria outros tipos de comportamento, diferentes dos que teríamos se vivêssemos de forma isolada. Só conseguimos conviver através do outro que regula nossas ações.
  3. Idolatria do Grupo: É importante que em um grupo os membros idolatrem este grupo. Precisamos de referência e pertinência (almejo tal grupo e pertenço a tal grupo). Isto nos faz permanecer no grupo. Quanto mais rígido o grupo, mais a idolatria teria que existir, mais eu tenho que defender com unhas e dentes o meu grupo, porque inclusive há uma penalidade se eu não fizer isso, que é ser expulso do grupo.

3º Autor: Sartre

Usava a dialética como método.

O grupo também é um todo maior que a simples soma das partes, porém em processo de Totalização – se modifica o tempo todo e ele tem que se modificar para continuar vivo, para atingir seus objetivos.

O grupo social começa a morrer quando se instala a burocracia.

Sartre vai chamar o agrupamento de Aglomeração e diz que uma aglomeração pode passar a ser um grupo com estas condições:

  1. Interesses comuns suficientemente fortes para que as pessoas se reúnam em torno dele.
  2. Que a comunicação deixe de ser indireta e passe a ser direta, com todos envolvidos na mesma discussão.
  3. De existirem grupos que defendam interesses antagônicos ao do nosso, isso faz com que a gente se una. (Interesse antagônico: queremos uma coisa, há uma escassez de recursos, portanto estamos disputando o mesmo).

4º Autor: Freud

Vai usar a visão mítica para explicar grupos (mitos).

Vai colocar a passagem da família para o grupo: a família como um conjunto básico no qual todos estão imersos e como é que este conceito de família se transforma no conceito de grupo social tal qual a gente conhece.

O Mito do Assassinato do Pai (Édipo)

Para que essa família se transforme em grupo é preciso que esta figura de autoridade seja “morta” – enquanto vivo, os filhos não se libertam desse domínio e, portanto, assumir a autoridade e a responsabilidade não será possível. No Édipo, os filhos têm que matar este pai em conjunto, então aparece a necessidade de um objetivo coletivo e que se organizem para alcançá-lo. Esta união vai levar à base da existência do que é qualquer grupo.

Freud ainda vai falar da importância de tornar o grupo igual e compartilhar das mesmas responsabilidades, da mesma culpa.

Freud vai falar que para o grupo, esta resolução do mito é tão importante quanto é para o indivíduo a resolução do Complexo de Édipo. Se soluciona bem isso, o grupo pode aparecer.

Freud não se interessou em desenvolver uma teoria sobre grupos. Ele dizia que o homem é movido pelo Princípio do Prazer.

Adler e o Princípio do Poder

Adler, seu “discípulo”, vai estudar mais a questão da relação indivíduo-grupo e vai dizer que o homem é movido pelo Princípio do Poder, ou seja, assumir o papel de pai e substituí-lo. Adler vai criar a expressão Complexo de Inferioridade no sentido de explicar as dificuldades dos que se sentem frustrados em sua busca pelo poder.

5º Autor: Elton Mayo (EUA)

Os resultados do trabalho dele criaram condições para que o trabalho dos psicólogos entrasse nas organizações.

Ele se dispôs a avaliar que variáveis ambientais interferiam na produtividade numa equipe/ambiente de trabalho.

Monta uma situação experimental e vai trabalhar com funcionárias de uma Indústria Elétrica, as divide em 3 grupos e avalia a produção por 3 meses.

Essas moças deixaram de ser apenas um número naquela organização e passaram a ser percebidas pela instituição. Passaram a ser reconhecidas, nunca tinham supervisão ou um feedback do seu trabalho a não ser produziu tanto, ganhou tanto e bronca quando estava errado. E nunca tinha ninguém interessado no que elas faziam.

A partir destes estudos que vai aparecer na administração uma nova escola de administração. Até então prevalecia a Administração Científica. A partir de Elton Mayo passará a ser Administração de Recursos Humanos, abrindo espaço para os psicólogos nas organizações.

6º Autor: Moreno

Realiza em Viena uma experiência de recuperação de prostitutas que viviam uma série de conflitos.

Era um diretor de teatro e vai trazer a influência do teatro para o trabalho com determinadas comunidades. Começa a perceber a importância e a influência positiva que esse trabalho teve sobre esse grupo de mulheres.

A partir daí, Moreno vai desenvolver um corpo teórico e técnico que ficou conhecido como Psicodrama.

Teoria do Psicodrama e Desempenho de Papéis

O psicodrama tem uma teoria do desenvolvimento da personalidade, onde ele postula que aquilo que seremos como adultos começa a ser treinado desde a infância em termos de desempenho de papéis.

A técnica básica do Psicodrama é o desempenho de papéis. Moreno vai propor isso não só no nível individual, mas para o nível grupal. Também conhecido como Role Playing. Ele diz que há 3 tipos de papéis:

  • Prescrito: Já existe antes uma imagem construída do que determinada função deve fazer; está prescrito como deve se comportar.
  • Adscrito: É como a própria pessoa se coloca na situação, o que a pessoa se propõe a fazer na condição em que ela se encontra.
  • Desempenhado: É a resultante entre o que o grupo espera de mim e aquilo que eu espero de mim.

Moreno diz que nós somos constituídos psicologicamente, a nossa personalidade se constitui a partir do desempenho de papéis ao longo de toda nossa vida. Para ele, a construção da personalidade não é algo que se dá em determinado momento e que se mantém imutável, ela vai sendo modificada ao longo da vida, à medida que eu vou desempenhando novos papéis e a nossa capacidade de ir mantendo aquela estrutura também existe dinâmica, a flexibilidade de adaptação a novas circunstâncias.

Intervenção Terapêutica e Sociometria

Ele vai criar um corpo teórico e prático da INTERVENÇÃO, um trabalho terapêutico com base no grupo. Toda sessão de psicodrama é uma sessão grupal. Aí o trabalho psicoterapêutico não é do grupo, mas é do sujeito tendo o grupo como base e como apoio para o próprio trabalho do indivíduo.

O psicodramatista tem um grupo de pacientes e a cada sessão emerge uma problemática e esta problemática é trazida por um dos pacientes, um dos membros do grupo. E a este membro do grupo que traz o problema, Moreno vai chamar de Protagonista.

O conflito que ele traz é o Enredo.

O grupo de apoio (os outros pacientes) traz para o protagonista uma nova compreensão da problemática e é nesta troca que a cura, melhora ou a resolução do conflito se daria.

A sala, o setting terapêutico é chamado de Cenário e é montado, onde se dá a ação dramática.

O psicodramatista sempre trabalha em conjunto com outro terapeuta. É o diretor de cena junto do Ego Auxiliar – este terapeuta vai contracenar com o protagonista no desempenho daquele conflito que o protagonista trouxe. Vai ser simulado no setting esse conflito. Existe ainda a possibilidade da troca, da inversão de papéis, ou seja, o ego auxiliar assume o papel de protagonista e vice-versa. Parte do pressuposto de que no momento em que o protagonista vê a própria fala, ele passa a perceber o que é que ele estava fazendo.

O setting permite que eu descarregue a minha raiva, a minha energia, num objeto intermediário, inanimado, que não vai reagir. Os outros pacientes são convidados a participar da dramatização se colocando no lugar dos personagens para viver, experimentar a concepção do outro. Isso é terapia do indivíduo tendo o grupo como base de sustentação.

Rede de Relações e Sociometria

Todo grupo se constitui a partir de uma rede de relações de três naturezas:

  • Positivas (Simpatia): Quem do grupo eu gosto.
  • Negativas (Antipatia): Quem eu não vou com a cara.
  • Indiferença: Quem eu nem lembro quem está no grupo.

Moreno se propõe a explicar e medir este fenômeno social e as leis que o governam. Se eu puder modificar as leis eu posso alterar o fenômeno, melhorar as situações dentro do grupo. Este trabalho é chamado de Sociometria.

Moreno ainda criou o Psicodrama Público. Montava sessões na praça, convidava as pessoas para dramatizarem uma determinada situação e começa a perceber o efeito terapêutico que esta simples representação onde as pessoas podiam falar das suas aflições, angústias e falar num ambiente relativamente protegido, o quão positivo era.

E uma outra proposta dele no Psicodrama é o Jornal Vivo – um grupo escolhe a partir da literatura dos jornais uma notícia que será dramatizada, que será vivida naquele espaço, que pode ser no público e no particular, para que as pessoas possam discutir os aspectos todos, todos os pontos, lados das histórias, inclusive se mobilizarem em busca de soluções conjuntas.

Moreno foi muito importante porque ele tem a parte do trabalho psicoterapêutico do indivíduo tendo o grupo como base.

7º Autor: Kurt Lewin

Psicólogo da escola alemã da Gestalt.

Vai trabalhar dando aula na Universidade de Harvard num curso de Economia Doméstica e vai fazer sua primeira grande pesquisa neste curso.

Era período de guerra e havia necessidade de novas técnicas a respeito da alimentação – Lewin vai trabalhar em como convencer as pessoas a consumir as partes dos animais abatidos que não eram utilizadas nos enlatados. Vai conduzir uma pesquisa para entender que variáveis interferiam para mudar esta percepção.

Trabalha com três grupos de donas de casa, idealiza com seus alunos um experimento para testar variáveis que definam a mudança de visão, de percepção, ou da criação de hábito de consumo deste tipo de alimento.

Desta forma, Lewin mostra a importância do grupo na criação de determinados hábitos.

Ele vai legitimar o termo Dinâmica de Grupos, criando o Instituto de Estudos e Pesquisas sobre a Dinâmica de Grupos. Será um ramo da Psicologia Social.

A Gestalt retoma a ideia de que o grupo é um todo maior que a simples soma de todas as partes. Uma identidade que é dele e que não pode ser reduzida ao indivíduo.

8º Autor: Bion

Psiquiatra que se envolve com a psicanálise.

Trabalha na clínica de Tavistock que fica na Inglaterra, com a reabilitação de soldados da Segunda Guerra Mundial.

Começa a montar grupos como forma de atender esses soldados e começa a perceber nessa clínica o quanto esses soldados poderiam falar, poderiam trabalhar, contar as suas angústias, poderiam contar dos seus medos no grupo e o quão melhor eles se sentiam em muito menos tempo – a vantagem do grupo como elemento terapêutico.

Ele vai criar uma teoria a respeito do funcionamento de grupos a partir desse trabalho na clínica e da psicanálise kleiniana. Desta forma, a ideia de grupo já é inata, inconsciente, pré-existente. Há ainda a ideia de que todos nós já sabemos trabalhar e se comportar em grupo.

Níveis de Organização do Grupo

Todo e qualquer grupo se organiza e se constitui em dois níveis:

  • Nível Consciente ou Grupo de Tarefa: Tem uma tarefa consciente, explícita, todo mundo sabe qual é.
  • Nível Inconsciente: Vai estar ligado às angústias, às fantasias que estar em grupo nesta situação desperta em cada um de nós.

Bion busca na química um modelo de como é que um grupo se constitui.

Bion vai falar que cada grupo se organiza de maneira inconsciente a partir de 3 valências psíquicas. Mas um grupo uma vez organizado a partir de uma valência, ele permanece nela, não muda.

As Valências Psíquicas (Pressupostos Básicos)

  1. Luta e Fuga

    Movimento automático, instintivo de todos os organismos de, frente a uma ameaça externa, lutar ou fugir. Significa que o grupo se organiza de uma forma extremamente agressiva, sempre disposto e pronto a lutar ou fugir. Então são grupos que não importa qual seja a tarefa a eles definida ou que eles definem, sempre será isso; qualquer dificuldade o grupo ataca, se não puder fugir; ou frente à primeira dificuldade o grupo foge porque não considerou que tivesse condição de atender as necessidades. E Bion vai dizer que grupos com esta valência têm a necessidade de um Líder Tirânico – de um “general”, aquele que vai dizer corre ou fica, mata ou morre. Precisa de um líder autoritário porque senão ele não sabe o que fazer, fica perdido nessa situação.

  2. Dependência

    É aquele grupo que se constitui, que se organiza sempre na dependência de que alguém diga para ele o que ele tem que fazer. É incapaz de tomar uma decisão sozinho e fica todo tempo esperando magicamente que alguém resolva o problema dele. Por isso, o tipo de líder que o grupo dependente precisa e busca é o Líder Mágico – o feiticeiro, aquele que num passe de mágica resolve meus problemas, não vou ter nenhum esforço para fazer tal coisa. Eu preciso que alguém resolva magicamente o meu problema, que diga o que fazer, mas não me cause danos, esforço, dor, angústia. Portanto se ninguém disser o que eu faço, eu fico parado.

  3. Acasalamento (ou Emparelhamento)

    Nesta situação, o grupo fica esperando o salvador, a ideia do messias, daquele que vem para nos resgatar e, portanto, vai ser do encontro entre dois membros do grupo que vai surgir a ideia salvadora. A ideia desse salvador não é UMA pessoa, mas sim o produto do par, é o produto do encontro de dois, pode ser dois membros quaisquer do grupo, um membro do grupo e o líder; daí vai nascer a ideia salvadora que vai resolver o problema do grupo. Aqui está centrado na existência do surgimento de uma ideia, de uma solução, a partir da relação entre dois membros do grupo, por isso que se fala em acasalamento. Portanto esse Líder tem que ser Messiânico, ele tem que ser um líder que promete a salvação. O grupo então fica fixo na ideia de esperar que milagrosamente vai aparecer uma solução.

Quando a gente trabalha a partir da visão de Bion, a primeira tarefa nossa é identificar qual é a valência a partir da qual o grupo se constela, porque aí dá para você intervir no tipo de angústia, no tipo de ansiedade que está por baixo do grupo.

Bion vai falar da Mentalidade Grupal: a forma que o grupo se organiza, atua, em nível inconsciente. O grupo se constitui inconscientemente a partir de uma única valência.

O grupo se une por tarefa e para dar conta desta tarefa ele vai assumir inconscientemente uma dessas 3 configurações. Esta valência vai influenciar nas relações que as pessoas vão estabelecer entre si e com a tarefa.

Quando eu falo de valência são as angústias básicas, ansiedades básicas do grupo – fantasias de natureza INCONSCIENTE.

Cada um de nós tem um conjunto de fantasias que se organizam de uma certa forma. Quando estamos em conjunto, esta organização para Bion adquire uma destas três possibilidades.

9º Autor: Pichon Riviere

Teoria e técnica de trabalho com grupos conhecida como Grupo Operativo, que é uma forma de se trabalhar que usa empresas, escolas, etc.

Ele parte do pressuposto de que toda psicologia é sempre social – ele não consegue compreender a psicologia como um fenômeno individual, porque o indivíduo não existe fora do contexto social dele; o que somos é fruto da nossa interação com esse contexto social.

Se a psicologia é sempre social, para ele o grupo é a unidade básica de estudo, trabalho e transformação – não adianta eu trabalhar o indivíduo se eu não trabalhar o grupo no qual ele está inserido. Ele é o que é na relação do grupo.

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